Ainda, a avaliação (!) de professores.
Os Professores da Escola Secundária de Camões vêm, mais uma vez, expressar a sua preocupação pelo modo como o processo de avaliação tem vindo a ser conduzido.
O artigo 40º do Estatuto da Carreira Docente, intitulado “Caracterização e objectivos da avaliação do desempenho” refere, no ponto 3, alíneas a), b) e h), respectivamente: “contribuir para a melhoria da prática pedagógica do docente”; “contribuir para a valorização do trabalho e da profissão docente” e “promover o trabalho de cooperação entre os docentes, tendo em vista a melhoria do seu desempenho”.
Somos induzidos a pensar que a implementação do actual modelo de avaliação não só é exequível, mas sobretudo a esperar que, na prossecução dos seus objectivos, se constitua como um instrumento auxiliar da prática pedagógica, do trabalho docente e, deste modo, contribua para a melhoria do desempenho dos professores da qual beneficiariam os alunos, a instituição e a comunidade escolar. Contudo, a realidade da escola, no decurso do seu labor quotidiano, corre ao risco de comprometer esse objectivo. As tarefas burocráticas exigidas ao professor/relator vêm ocupar o tempo destinado à preparação das actividades lectivas, à construção de materiais didácticos que se querem inovadores, ao acompanhamento de projectos diversos. Além disso, a existência de quotas vai perturbar a vida escolar pois suscita a competição entre pares e põe em causa o trabalho colaborativo. Como poderia este modelo de avaliação – em que se é relator de um seu parceiro e em que se concorre com ele por meio de quotas – contribuir para a melhoria da função docente?
1-A aplicação deste modelo de avaliação tem implicações negativas no funcionamento da escola, nomeadamente a nível das relações interpessoais e da redução das horas de acompanhamento dos alunos.
O modelo envolve, de forma continuada, todos os professores como avaliados e muitos como avaliadores, num processo complexo em que os avaliadores não estão legitimados, e mesmo o questionável critério da senioridade, imposto pela lei, é, por vezes, de impossível aplicação;
A avaliação é feita pelos pares. Avaliados e avaliadores concorrem às mesmas quotas sem que estejam garantidos os princípios da isenção e de ausência de conflito de interesses;
A prioridade estabelecida para este processo e o tempo que inevitavelmente consumirá conduzirá à redução das horas de acompanhamento dos alunos. Na nossa escola apoios a alunos nas disciplinas de Matemática e Física e Química, desenvolvidos em todas as turmas, desde há alguns anos, e de que fazemos um balanço positivo, ficam comprometidos, bem como a Sala de Estudo ou outros apoios e projectos. O tempo necessário para fazer o acompanhamento de todos os professores, tendo em conta padrões de desempenho, definição de instrumentos de avaliação, preenchimento das fichas de avaliação, realização de reuniões da Comissão de Avaliação e Júri de Avaliação, assistências a aulas, entrevistas, etc…, acabará inevitavelmente também por recair sobre a componente de trabalho individual dos professores tão essencial à preparação de aulas, produção de materiais, correcção de trabalhos, etc…
2- Apesar de estarmos a poucos meses do fim do ciclo de avaliação em curso e cuja duração foi fixada em dois anos, existem inúmeras dúvidas, lacunas e incongruências legais:
Sendo as quotas (% de Muito Bons e Excelentes) por escola, como se resolve o conflito de interesses existente quando elementos da Comissão de Avaliação e relatores concorrem à mesma quota dos professores a quem atribuem Excelente ou Muito Bom?
Que padrões de desempenho/critérios estão na base da avaliação do Director e dos outros elementos das direcções das escolas? Os elementos das Direcções, que leccionam, como vêem esse trabalho avaliado? Os elementos das Direcções também concorrem às quotas da escola?
Qual a legitimidade de os coordenadores poderem assistir a aulas dos relatores e o Director dos coordenadores, não avaliando a qualidade científica do trabalho? Faz sentido separar a dimensão pedagógica da científica, quando se observa uma aula?
O Despacho n.º 14420/2010 estabelece em pormenor as regras para o preenchimento da ficha de avaliação nele publicada, define os domínios a avaliar, a escala de classificação (1 a 10) e a forma de determinação da classificação final, calculada pela “média aritmética ponderada das pontuações atribuídas aos domínios avaliados, arredondada às milésimas”. Simultaneamente, exige que a “Proposta de classificação final tem de garantir o cumprimento das percentagens máximas estabelecidas para a atribuição das menções de Excelente e Muito bom”. Como se pode aceitar “mudar” avaliações feitas, falseando classificações nas fichas, para que o valor da média seja o desejado? Como se faz este “ajuste”?
3- A legislação sucessivamente publicada e os esclarecimentos que a DGRHE tem vindo a dar às escolas, por vezes de legalidade duvidosa, não ajudam e confirmam que o modelo não é exequível.
Por exemplo, no que respeita ao tempo, o Decreto Regulamentar nº 2/2010 de 23 de Junho, refere explicitamente no artigo 14º, ponto 3 “Os relatores que não exerçam em exclusividade as funções … beneficiam da redução de um tempo lectivo por cada três docentes a avaliar.” O despacho n.º 11120-A/2010 de organização do ano lectivo, publicado em 6 de Julho de 2010, refere no Artº 8º, ponto 1 “Para efeitos de avaliação do desempenho do pessoal docente deve considerar-se o critério, por relator, de um tempo lectivo semanal para avaliação de três docentes” e a informação da DGRHE – ORGANIZAÇÃO DO ANO ESCOLAR, de 26 de Julho de 2010 – refere “As horas de redução a que os relatores têm direito para o exercício das funções de avaliação de desempenho de outros docentes aplicam‐se em 1º lugar sobre as horas de redução da componente lectiva que o docente beneficia ao abrigo do art.º 79 do ECD e sobre horas da componente não lectiva de estabelecimento e só depois, em caso de insuficiência, na componente lectiva”. A circular B10015847T, só enviada a algumas escolas, estabelece que “a função de avaliação dos relatores pelo coordenador de Departamento curricular integra-se nas funções de coordenação deste, não existindo qualquer previsão legal para uma redução específica de componente lectiva em razão desta função”. Ou seja os coordenadores de departamento não têm qualquer tempo destinado ao desempenho das funções de relator, embora possam ter de avaliar 10, 15 ou mais professores/relatores? Como podem desenvolver, de forma séria, este e todo o trabalho de coordenação previsto na lei e no Regulamento interno da escola? Afinal há ou não direito a redução da componente lectiva de 1 hora para 3 professores avaliados?
Esta última circular da DGHRE vai mais longe e estabelece inúmeras situações de excepção às condições previstas na lei para o exercício das funções de Relator que, por um lado, põem em causa o único (questionável) critério da senioridade defendido no Decreto nº2/2010 (possibilitando que praticamente qualquer professor mesmo de grupo diferente possa assistir a aulas de outro desde que este concorde) e, por outro, provam não ser possível a aplicação do modelo.
4- As recomendações da Comissão de Avaliação podendo, em abstracto, fazer sentido do ponto de vista teórico, não ajudam à concretização da implementação do modelo por não estarem minimamente reunidas condições para a sua aplicação, tornando-se por isso inúteis.
Conclusão
Pelo que foi dito não restam dúvidas que o actual modelo de avaliação é injusto, confuso e não exequível. Em vez de “contribuir para melhorar a prática pedagógica, valorizar o trabalho e a profissão, promover o trabalho de colaboração” fomenta conflitos e, em virtude da sua questionável exequibilidade, tem implicações negativas na prática pedagógica e na qualidade da escola pública.
Parece evidente que o único objectivo atingível é a introdução de quotas para efeitos de progressão na carreira docente. Como mesmo este objectivo está colocado em causa pelo congelamento anunciado, perguntamos porque não se suspende e se procura construir um modelo credível e justo de avaliação de professores?
Subscrito pela maioria dos professores da Escola Secundária de Camões
Lisboa, 2 de Dezembro de 2010
Dezembro 3, 2010 at 12:57 pm
O líder parlamentar do PSD, Miguel Macedo, veio hoje condenar a excepção dos cortes salariais dos funcionários públicos nos Açores, uma situação denunciada ontem pelo antigo líder social-democrata, Marques Mendes.
“As excepções devem ser bem fundamentadas”, defende Macedo (Foto: Daniel Rocha arquivo)
“As excepções devem ser bem fundamentadas. Vão existir funcionários da administração central que vão ter cortes e outros do Governo regional que terão cortes mas que depois serão compensados. Isso é injustificado e inaceitável”, afirmou hoje no Parlamento Miguel Macedo.
O líder da bancada laranja desafiou o primeiro-ministro e o ministro das Finanças a pronunciarem-se sobre o comportamento “injustificável” dos Açores.
Dezembro 3, 2010 at 1:05 pm
Não estará na altura de darmos um murro na mesa?
Dezembro 3, 2010 at 1:07 pm
Está tudo digo. Subscrevo.
Dezembro 3, 2010 at 1:16 pm
Só me ocorre colocar uma fotografia do Pantanal… 😦
http://peroladecultura.blogspot.com/2010/12/ainda-sobre-famigerada-avaliacao-dos.html
Dezembro 3, 2010 at 1:55 pm
o nabarreto já não anda por aí?
está a tempo inteiro no dito cujo? ou já se reformou?
Dezembro 3, 2010 at 2:00 pm
Subscrevo e gostariia que estas acções se propagassem, como um virus, por todo o país.
Dezembro 3, 2010 at 2:09 pm
Também aqui se aplica:
“interessa … manter alguma contestação interna, se possível controlada e domesticada de diversas formas”.
Dezembro 3, 2010 at 2:24 pm
Caros camaradas,
Nós somos um povode brandos costumes! Falamos, falamos e não fazemos nada!!!!
Olhem a GREVE!!!!
Enfim…tristes somos.
Dezembro 3, 2010 at 2:47 pm
Gostamos do charco. Enquanto for o nosso pequeno charco…não é grande coisa – dizemos! Mas é nosso! E vivemos felizes e contentes!AHHHHHH!!! Diz o português- Enquanto for nosso já é bem bom!
Tristes que somos enquanto povo. Fugiu tudo daqui! Os corajosos foram-se nurante os Descobrimentos, espalhando-se por esse mundo fora! Apenas ficando os covardes!
Dezembro 3, 2010 at 3:00 pm
Fale por si! O maior covarde è o que se esconde atrás de uma batina.
Dezembro 3, 2010 at 3:11 pm
#9,
Eu acho que os verdadeiros covardes foram os que fugiram, ou os que se agarraram e não largam…
Dezembro 3, 2010 at 3:21 pm
Èstá aqui bem descrita a realidade. Mas os docentes estão à espera que tudo estale e prove não funcionar para então reagir…
Ah… pois. Há aquilo dos directores e do seu prestígio e cargo em risco e tal. Foi a maior golpada, este modelo de gestão. As direcções passarem a ser um rosto do ME em vez de serem o centro nevrálgico da verdadeira Educação.
Talvez quando as finanças das escolas ficarem mesmo a zeros, se altere esse “papelão” de quem as dirige.
Dezembro 3, 2010 at 3:21 pm
E OS DE BATINA, OU NÃO, OU DE CAPA, EM PELOTA, DE CALÇÕES, DE FATO ARMANI, CUECAS E FRALDAS TAMBÉM!
Os que fugiram fizeram História, exploraram, criaram, povoaram, aventruraram-se. Ficaram os lacaios de D. Manuel I a comer especiarias com alguma carne lá no meio! Enquanto houve, foi à fartazana!
No reinado de D. João V também!O povo alguma vez se fez ouvir?! Naaaaõ!
Depois, foi com a Comunidade Europeia! Ahhhhhh! Desfalques, roubos, ética desonesta, partidarismos clubisticos e tentaculares….até …. até ao Socrates!
O que é feito dos grandes portugueses que fundaram a nação??!?!?!??!??!
Os que se escondem atrás de uma batina??? Estudantes universitários por certo!! Mas normalmente era atrás da capa que, apesar de rasgada, dava para esconder-mo-nos melhor e às meninas que aí se riam….Eh, eh, eh!!!
ENFIM….
Dezembro 3, 2010 at 3:27 pm
Ou os cobardes que se refugiam na conversa da treta, como se está a ver neste post.
ADD: assobiemos para o lado, que ela vai passando…
Dezembro 3, 2010 at 3:28 pm
Verdade. Eu fugi por causa da inquisição.
Dezembro 3, 2010 at 3:34 pm
A Inquisição que foi encomendada pelo rei!
Dezembro 3, 2010 at 3:37 pm
A Inquisição que foi encomendada pelo rei!
Pá!!!
Dezembro 3, 2010 at 3:51 pm
É uma fantochada esta avaliação. Até quando teremos que aturar estas imbecilidades?
Dezembro 3, 2010 at 3:55 pm
Pressupuesto hombre. El rey nos há obrigado a tortura bambinos.
Dezembro 3, 2010 at 4:03 pm
– Parabéns aos colegas da Escola Secundária de Camões!!!
Cá por Ponte de Lima também já começaram as “movimentações”.
E sei que de Braga e Viana teremos novidades para breve.
Vamos lá, colegas:
…………………………….
– TOCA A ACORDAR!!!!
…………………………….
– Porque somos NÓS que temos que fazer a roda girar!
– Porque este modelo continua injusto e inexequível!
– Porque a nossa luta não pode ter sido em vão!
– Porque não temos a obrigação de dar vida a um nado-morto!
– Porque a coerência é demonstrada pelos actos!
– E porque temos que sentir o orgulho de “Ser Professor”!
Colegas: o mote está, novamente, dado.
– POIS JUNTEMO-NOS, TODOS, MAIS UMA VEZ!!!
……………………….
– AVALIAÇÃO SIM: ESTA NÃO!
……………………….
Dezembro 3, 2010 at 4:19 pm
Também gostaria de subescrever este documento, pois detesto que me tratem como imbecil. Como podemos acreditar num sistema de avaliação em que avaliadores e avaliados se encontrem a concorrer ao mesmo lugar (mesmas cotas), isto é, às menções de “Muito Bom” e “Excelente? Como se pode apelar a um trabalho colaborativo, pedagógico, se se desenrola, paralelamente, uma competitividade malsã e destrutiva? E a burocracia inútil?!!Enfim!!!Só “mentes mesmo muito brilhantes” podem continuar a fazer dos professores seres não-pensantes…..Ou será isto uma comédia???!!!
Dezembro 3, 2010 at 5:33 pm
O pior é que o mentor desta trapalhada ainda dá como bonus pôr Pais na banca rôta!
Dezembro 3, 2010 at 6:16 pm
Também subscrevo!
Onde é que ta para eu assinar?
Dezembro 3, 2010 at 7:01 pm
já vi tantas subscrições…tantos abaixo assinado…tantas tomadas de posição…
e depois vi os mesmos que assinaram, com o rabinho entre as pernas a entregar OI´s e a pedir as aulinhas assistidas…
Dezembro 3, 2010 at 7:48 pm
Ouvi dizer que controladores aéreos espanhóis abandonaram os postos de trabalho e fizeram parar os aviões todos.
Onde é que estão os professores pegadores de toiros para pegar a ADD pelos cornos?
Dezembro 3, 2010 at 7:56 pm
Também concordo que a ADD deve cair rapidamente, mas não pelas razões mencionadas.
É um escândalo que se afecte um tão gigantesco número de horas à prática de uma fraude.
Essas horinhas devem ser imediatamente destinadas a apoiar ou tutorar alunos, a produzir materiais didácticos e a dar aulas.
Dezembro 3, 2010 at 7:57 pm
«e depois vi os mesmos que assinaram, com o rabinho entre as pernas a entregar OI´s e a pedir as aulinhas assistidas…»
Mui bien.
Ai que eu também quero aulinhas assistidas! Quem não quiser não é benfiquista nem bom pai de família. E é fracote, tem medo de mostar. Ai, ai… eu quero uns pontinhos, que sou muito bom, muito melhor ca tu e caquele e caquela. Quem organizou o halloween, quem foi? E o dia dos namorados, quem foi? E o dia mundial da água, quem foi? E o dia da Europa, sim, desta Europa que nós amamos e que nos ama ainda mais? Eu!!! Então não mereço uns pontinhos a mais catu? E caquele? E caquela?
Entretanto perdi-me… Ah, já sei… A ADD é o sonho da minha vida e vou aproveitar…
Dezembro 3, 2010 at 8:00 pm
#26
Estamos contigo.
Dezembro 3, 2010 at 8:35 pm
Deixo também os meus parabéns aos colegas da Escola Secundária de Camões.
E, agora, o que fazer?
Dezembro 3, 2010 at 8:36 pm
Talvez fod…
Dezembro 3, 2010 at 8:45 pm
Vira o disco e toca o mesmo…
Dezembro 3, 2010 at 8:47 pm
Como gostaria de ter visto os professores unidos na altura da não entrega dos OI no tempo da outra senhora- marilu).
Poiszé agora não estariamos nesta embrulhada!!!!
Dezembro 3, 2010 at 8:51 pm
Espero que seja o início de uma nova onda de moções e tomadas de posição de radical rompimento com esta palhaçada.
Também na minha escola já houve moçoes e protestos e agora temos professores que pediram aulas assistidas, com o único objectivo de beneficiarem de um ano a menos de permanência no escalão em se encontram, e outros que dizem que, o ano passado, avaliaram os contratados e correu tudo bem. Enfim… Mas, acredito que serão os mesmos a meter o rabinho entre as pernas, no momento em que virem o pessoal com “tomates” a dar um murro na mesa.
Dezembro 3, 2010 at 9:00 pm
O documento desmonta todo este processo. Como muita gente pediu aulas assistidas não será dificil impugnar as ditas cujas avaliaçãoes.
Dezembro 3, 2010 at 9:02 pm
Há escolas, as mais pequenas, em que quase todos os professores são avaliadores. Como mais de metade pediu aulas assistidas a confusão é total.
Dezembro 3, 2010 at 9:35 pm
#35 Maria
😀 😀 😀 Estes casos deveriam ir para os OCS. O resto do país nem sonha.
Isto vai cair de podre, ou antes apodrecemos e enlouquecemos todos nós…
Dezembro 3, 2010 at 9:39 pm
Se quase ninguém concorda com esta ADD, porque é que grande parte tanto está a fazer para que ela consiga “resultar”, nem que seja com quilos de rimel, blush e outra maquilhagem?
Só mesmo da eterna “carolice” dos professores, mas desta vez para algo que em nada beneficia os alunos nem a Educação!
Dezembro 3, 2010 at 9:42 pm
#37
pois eu não estou a perder 1 minuto que seja com a palhaçada…;)
Dezembro 4, 2010 at 6:29 pm
Só me apetece ganir…