Neste momento a «negociação» em torno da avaliação dos docentes (reunião hoje pelas 17.30, já terá terminado?), se afastarmos o imenso ruído em seu redor, conduziu a situação para um ponto de compromisso quase aceitável pelas partes, não tivessem sido extremadas as posições institucionais de ambos os lados:
- O ME afirmou que não suspenderia a avaliação.
- A Plataforma Sindical que só aceitaria a suspensão da avaliação.
O que vivemos agora é uma situação perfeitamente híbrida, em que a avaliação nem existe verdadeiramente, nem deixa de existir. Não estando suspensa oficialmente, este ano vai ser aplicada a muito menos de 10% dos docentes. Ou seja, mesmo não o admitindo, o ME está a usar este final de ano como período experimental do modelo nos contratados e em alguns docentes dos quadros que estão com aquelas colocações atípicas que muitas vezes ocorrem, em virtude das asperezas do «sistema».
O chamado método simplificado da avaliação, que aligeira procedimentos e dá autonomia ás Escolas para desenharem a sua variante do modelo original, embora sem qualquer cobertura legal, é apenas a admissão pública, perante todos os que querem perceber, que o modelo como foi apresentado era inexequível nos processos e prazos propostos, hoje já completamente pulverizados na esmagadora maioria das escolas.
No entanto, com força de lei, o que está em vigor é ainda o decreto 2/2008. Ou seja vivemos neste momento uma absoluta ficção: o decreto vai ser aplicado numa escassa minoria de casos e escolas e mesmo assim de forma pouco respeitosa em muitos desses casos e escolas. E não existe qualquer diploma legal, com valor jurídico efectivo, que permita cobrir as soluções simplificadas propostas.
Entretanto, a proposta do ME apresentada esta semana aos sindicatos é algo que também contempla pontos que, desde o início deveriam ter estado previstos no decreto 2/2008 e em outros diplomas legais, incluindo o próprio ECD (no que respeita à definição da componente não lectiva). A contra-proposta da Plataforma Sindical é, por seu turno, um documento que eu acho bastante equilibrado.
O que significa que só não existe acordo se algum dos intervenientes (ou ambos) não estiver(em) interessados.
Acho eu.
Em circunstâncias normais isto permitiria a todos salvar a face.
O problema é que esse compromisso desagradaria a duas facções opostas: os que querem a imposição da avaliação dos docentes completamente de acordo com o 2/20008 e que criticam qualquer cedência como uma derrota perante os sindicatos e os que não querem qualquer avaliação decorrente do 2/2008, considerando qualquer acordo com o ME uma «traição».
As duas posições padecem, obviamente, de algum fundamentalismo porque apostam numa vitória incondicional de uma das partes sobre a outra.
O que (já) não é possível.
Num país normal, as partes chegariam a um acordo, o decreto se não fosse revogado seria revisto, e todos voltariam para casa, se não satisfeitos, pelo menos calados sem declarações provocatórias.
Por cá, não sei. É tudo muito improvável e dinâmico.
E querendo tanto mostrar que alguém ganhou, todos poderão acabar por perder.
Abril 10, 2008 at 7:24 pm
Dou-lhe razão!
“Nesse caso, terás de te julgar a ti próprio, disse o rei. Isso é o mais difícil de tudo. É muito mais difícil julgares-te a ti próprio do que julgar outros. Se fores bem sucedido ao julgares-te a ti próprio, terás encontrado a verdadeira sabedoria.”
Saint- Exupery em “ O Principezinho”
Abril 10, 2008 at 7:32 pm
Colega Paulo: de acordo na generalidade mas existe por resolver a “questão dos 100.000”;
Os professores estão pelos cabelos com esta sinistra e até em escolas que têm andado adormecidas as coisas estão a mexer e é preciso que mexam!
Dou um exemplo: era uma vez uma escola sec de Almada onde a PCE punha e dispunha, também no cons pedagógico que aprovou os super departamnetos de forma ilegal; eis se não quando um grupo de profs convoca um plenário de escola para as 18H30 de ontem e aprova uma proposta por larga maioria onde se manifesta contra este modelo de avaliação e propõe que os contratados sejam avaliados através de um relatório!
Derrota estrondosa do CE que no final quis identificar os profs que votaram maioritariamente através da sua assinatura num papel…. o que foi obviamente recusado.
Acha que com esta gente nos CE´s se podem fazer acordos ???’
António
Abril 10, 2008 at 7:35 pm
Ou ter a serenidade para aceitar aquilo que não se pode mudar, a coragem para mudar aquilo que se pode, e a sabedoria para saber distinguir.
Vai faltar a sabedoria. Digo eu.
Abril 10, 2008 at 7:42 pm
Mas quem os colocou nos CE’s?
Para além de que esses abusos têm forma de ser travados, desde que o pessoal não se “encolha”.
Abril 10, 2008 at 7:50 pm
Resumo das reivindicações da Plataforma Sindical:
1.Não aplicação, este ano, do modelo de avaliação previsto no Decreto Regulamentar n.º 2/2008 e de qualquer procedimento de avaliação aos docentes dos quadros que este ano não progridem na carreira; uniformização de procedimentos em todas as escolas, aplicável aos docentes contratados e aos que, sendo dos quadros, progridem este ano. Tais procedimentos limitar-se-ão à autoavaliação, enquanto instrumento de reflexão crítica da sua actividade, e ao registo de assiduidade;
2.Consideração das classificações de “Regular” e “Insuficiente”, em 2008 e em 2009, exclusivamente para fins de experimentação do modelo de avaliação, com vista à sua revisão;
3.Elaboração, pelas escolas, em Março de 2009, de relatórios de avaliação do modelo e sua aplicação;
4.Elaboração de relatório-síntese pelo conselho científico para a avaliação de professores (já com participação sindical) em Abril de 2009;
5.Alteração do modelo de avaliação no final de 2008/2009, na sequência de negociações com as organizações sindicais de docentes;
6. Não aplicação, no próximo ano lectivo, do novo diploma de gestão;
7.Inclusão da formação contínua na componente não lectiva;
8.Um número de horas da componente não lectiva para trabalho individual dos Professores, tendo em conta o número de alunos, turmas e níveis atribuídos, não podendo, em caso algum, ser inferior a 9 horas semanai
Abril 10, 2008 at 7:51 pm
Pois….mas há que fazer isto em todas as escolas; uma coisa é a posição dos CP´s até por imperativos legais e outra a posição da ESCOLA.
façamos os plenários sem medo, tomem-se posições de escola, de muitas escolas, até dar 100.000 ou mais e depois vamos ver o que acontece… com o final do 3º período a aproximar-se.
Querem tentar?’ Só depende de nós.
António
Abril 10, 2008 at 7:52 pm
Swan princess: a sabedoria adquire-se nas lutas justas, estamos pelos cabelos! TODOS!
António
Abril 10, 2008 at 7:58 pm
Concordo consigo António, o problema é mesmo as pessoas “encolherem-se” e não agirem, efectivamente, de acordo com os seus ideias, mas sim de acordo com os seus interesses (leia-se dos PCE)
Abril 10, 2008 at 8:25 pm
E o famoso concurso para titulares? Afinal, desde que se dê um “jeitinho” a deputados, sindicalistas,destacados e autarcas, já fica tudo bem? A questão não era a fractura da carreira docente? E o modo arbitrário (7 anos) como foi feita?
Tenham uma boa noite.
Abril 10, 2008 at 8:27 pm
Os plenários sem medo fazem-se. Esse não é o problema maior. Esperemos, porém, o resultado das negociações…
Abril 10, 2008 at 8:30 pm
http://sinistraministra.blogspot.com/2008/04/bem-mais-descansada-ii.html
Abril 10, 2008 at 9:17 pm
E já vão quase 4 horas de reunião.
Sintomático, não?
Abril 10, 2008 at 9:22 pm
Sempre que há divergências enormes, os consensos acabam sempre por ser deprimentes. É o que me parece esta proposta sindical…
Abril 10, 2008 at 9:32 pm
Então a reunião ainda não acabou?
O que o Paulo aqui escreve , cheio de bom senso , é uma análise realista, acho eu. Agora o problema é que o ME nunca deu um sinalzinho sequer de boa vontade. Ou deu e eu não o li??? Outro problema é que o descontentamneto dos Professores não se resume à avaliação. De qualquer modo, por algum lado , se tinha que começar a conversar a sério e a ponderar nos riscos, aceitando a realidade…
Também me parece que estamos num período de faz de conta: faz de conta que simplificamos , faz de conta que não, faz de conta que aceitamos, faz de conta que não e por aí fora…
Abril 10, 2008 at 9:33 pm
Há muito que defendo que a avaliação este ano deve ser feita como no ano passado: relatório de auto-avaliação (ficha dá no mesmo) e assiduidade.
Não entendo nem nunca entendi que isso constituisse qualquer forma de cedência à ministra, uma vez que significa reconhecer que sempre se fez avaliação de professores, tanto antes do novo ECD como depois (veja-se o que aconteceu com os contratados em 2006/07).
Quanto ao resto, continuo a defender a revogação de vários aspectos do ECD, nomeadamente a divisão da carreira. Isto significa a recusa liminar do “rebuçado” do 4º escalão de titular, ao qual seria candidato natural uma vez que actualmente sou titular no 3º escalão (10º antigo).
Também sou visceralmente contra o novo decreto de gestão, o que significa que terei que olhar com muita atenção para um eventual acordo, para perceber se me sinto bem representado ou, pelo contrário, traído.
Abril 10, 2008 at 9:40 pm
Do blog A Sinistra Ministra
Colega,
Acredite que não é necessário pensar, sequer, uma vez, pois não está colocada qualquer hipótese de Acordo com MLR. Só se essa revogasse o ECD, a Gestão, a legislação sobre Educação Especial e, qual cereja em cima do bolo, se demitisse.
Quanto a alguma solução que desbloqueie a actual situação de conflito, passa pela aceitação, pelo ME, das propostas que hoje levaremos (hoje no nosso site).
Quanto ao “capitularem mais uma vez”, sinceramente, não consigo lembrar-me qual foi a vez anterior, o que recordo, isso sim, é que em 8 de Março estiveram 100.000 colegas na rua, convocados pelos seus Sindicatos. Como é evidente, não deixaremos de honrar os nossos compromissos. Não por qualquer razão que pudesse ditar o “nosso” fim, mas porque esse fim, enquanto Professores que somos, seria o de todos nós Professores.
Com os melhores cumprimentos
Mário Nogueira
Abril 10, 2008 at 9:56 pm
A avaliação está a ser alpicada só a alguns neste ano lectivo porque as cabeças pensantes(?) lá do ME finalmente descobriram que era impossível, nesta altura do campeonato, avaliar todos os profs sem prejuízo das aulas dos avaliadores e/ou sem terem que lhes pagar horas extraordinárias! A avaliação simplificada e selectiva seria sempre inevitável neste momento e eis que é apresentada como flexibilidade, recuo, o que lhe queiram chamar!
Abril 10, 2008 at 10:17 pm
E que tal outra manif em Lisboa? Não eram necessários aqueles autocarros todos fretados pelos sindicatos, nem o esforço logístico que isso acarreta. Bastava um sindicato qualquer convocá-la e os professores deslocar-se-iam nos próprios carros, partilhando a gasolina com colegas. Teria a vantagem de congestionarmos os acessos à capital. Muitos colegas podem não ter dinheiro para uns dias de greve, mas ainda devem poder dispor de uns cobres para partilhar a gasolina.
Abril 10, 2008 at 10:21 pm
jaime gosto da sua sugestão congestionar o transito, que tal num dia de jogo de futebol europeu para ter melhor visibilidade internacional
Abril 10, 2008 at 10:40 pm
Angelica
Creio que seria ouro sobre azul. Só que agora parece-me que já não há equipas portuguesas nas competições europeias. Os últimos, os do sporteng foram à vida há um par de horas.
Abril 11, 2008 at 12:11 am
Sobre a CNL, todo o debate à sua volta está condicionado pela forma, errada, como são organizados os nossos horários lectivos, em que 45 minutos correspondem a 1 hora.