Grupo de professores reclama anulação de concurso
Cento e quinze docentes da Escola Secundária Eça de Queirós escreveram à ministra da Educação e ao Presidente da República. Em causa, critérios de avaliação de desempenho no concurso de acesso a professor titular.
(…)
Foi numa reunião que a ideia da carta surgiu. “Decidimos que não devíamos receber de braços abertos o decreto” que regulamenta o concurso de acesso a professor titular. A exposição acabou por ser assinada por 115 dos 162 professores da Eça de Queirós. O documento, que ainda não obteve resposta da ministra da Educação, foi enviado em meados deste mês. “Será que o insucesso escolar passa pelo mau desempenho das escolas? Não passa por aí”, conclui Maria Eduarda Luz.“Em muitas escolas, os professores fazem milagres.” É desta forma que termina a carta que coloca várias interrogações. “Será que o mérito só conta a partir de 1999?”. “Será que a função principal do professor não é ensinar/educar? E o futuro?”. “A distinção, estranha, entre professor e professor titular vai desmotivar os professores e trazer graves problemas à organização e consequente funcionamento das escolas”, acrescenta-se. Os docentes vincam a sua posição: “Acreditamos que a melhoria do ensino só é possível dignificando a carreira docente, mobilizando os professores, os alunos, os pais e restante comunidade educativa.” (Educare)
Junho 27, 2007
Afinal Há Coisas Para Dizer Bem
Posted by Paulo Guinote under Concursos, Lutas, Titulares?[9] Comments
Junho 28, 2007 at 12:27 am
Só posso lamentar que a lucidez, o espírito crítico e uma onda de solidariedade não tivessem varrido todas as escolas de Portugal. Foi esta mensagem que tentei veicular quando referi, por diversas vezes e em vários sítios, que a legitimidade do poder depende da sua aceitação. Se os comportamentos forem contra o que está preceituado, a lei perde a sua eficácia. Porque será que tantos delegam o seu poder em tão poucos? Lá diz o povo, “a união faz a força”…
Quanto aos sindicatos, a sua actuação deixa transparecer que, ao invés de lutarem pelos interesses que lhes dão razão de ser, estão ao serviço do governo! Jamais, repito, jamais deveriam ter permitido acontecer um concurso que vai contra os VALORES fundamentais de um Estado de Direito: a Justiça e a Segurança.
Junho 28, 2007 at 9:04 am
O concurso – ou concursos – ainda podem ser inviabilizados na sequ~encia da publicação das listas de excluídos ou da não existência de vagas para os candidatos.
É verdade que essa onda de solidariedade seria óptima, caso houvesse possibilidade de ter existido, mas infelizmente a fragmentação da classe docente existe e as estratégias pessoais ou de grupo minam há muito tempo a possibilidade de levantamentos gerais como o que aconteceu na greve de Outubro passado.
Por ter essa percepção é que acho que a “luta” se deve desenvolver em dois planos:
a) Impugnação judicial das regras gerais o concurso – pois mudaram já com ele em dsenvolvimento – e de situações particulares em concursos locais.
b) Enquanto o sistema não implode, qum passar para “dentro” fazê-lo no espírito de o transformar e não de a ele aderir de forma excessivamente zelota, como já acontece em muitos locais. A partir de dentro é sempre mais fácil abrir os portões da fortaleza.
Junho 28, 2007 at 12:53 pm
Tens razão Paulo. Penso que se os que estiverem por dentro da gestão intermédia pugnarem pela transformação do sistema e não aceitarem de bom grado a informação “mastigada”, colocando a sua experiência e os valores ao serviço do saber pensar e do ter ideias próprias, o sistema acabará por mudar.
Junho 28, 2007 at 12:54 pm
Parabéns por aderires ao “dizer bem”.
Junho 28, 2007 at 1:10 pm
Os professores da Eça de Queirós lutam pelo ensino. A ministra e o ministério não lutam pelo ensino – pelo contrário, fogem dele como o diabo da cruz.
E faz a ministra muito bem. Ninguém a nomeou ministra do ensino: nomearam-na ministra da educação. E se a educação é uma coisa vaga e ambígua que ninguém sabe o que é, o problema não é dela. É do País.
Mas esse anda ocupado com a Floribela e com a Ota. E se lhe dá para reflectir sobre as escolas, defronta-se logo com o eduquês, que lhe tira logo as veleidades de pensar.
Junho 28, 2007 at 3:54 pm
Completamente de acordo com José Sarmento.
Julho 1, 2007 at 12:13 am
Não sei onde é a Escola Eça de Queirós. Como conseguir o texto que enviaram? Porque não divulgá-lo e assiná-lo noutros estabelecimentos?
Julho 1, 2007 at 9:07 am
Acho que o documento se encontra disponível em alguma imprensa, sendo que no Educare está uma apanhado das posições daqueles colegas.
Mas há sempre a possibilidade de o tentar encontrar na íntegra, apesar de já enviado ao ME.
Agosto 9, 2007 at 8:51 pm
Sou professora na Escola Secundária Eça de Queirós,em Lisboa.
Junto envio o documento (na íntegra):
Quem somos?
Somos uma Escola. Uma Escola que acompanha as transformações na sociedade portuguesa, que se preocupa com a inclusão social, que cria Cursos de Educação Extra-Escolar de Português para Estrangeiros, visando a integração dos imigrantes (121 alunos de 41 nacionalidades). Uma Escola que sente que a educação tem de se adaptar e potenciar as novas tecnologias e acabar com a “info-exclusão”, que constitui um novo factor de exclusão social. Portugal é um dos países da UE com mais elevada taxa de analfabetismo informático. Por isso, criámos Cursos de Educação Extra-Escolar de Informática (47 alunos).
Porque a Globalização é uma realidade e é fundamental dominar uma segunda língua, apostámos em Cursos de Educação Extra-Escolar de Língua Inglesa (64 alunos).
Porque concordamos que o desafio da qualificação dos portugueses (determinante para a produtividade e competitividade) deve ser uma prioridade, aderimos ao Programa Novas Oportunidades – Aprender Compensa, criando um Centro de Novas Oportunidades (RVCC – Reconhecer, Validar e Certificar Competências e EFA – Cursos de Educação e Formação de Adultos).
Na Sociedade da Informação e do Conhecimento, o conceito de aprendizagem está a ser repensado. Apostámos no e-learning e b-learning como formas e ferramentas que podem potenciar a aprendizagem e a inovação. Mas a modernização tecnológica das escolas deve ser acompanhada de acções formativas que mudem os comportamentos e a forma de trabalhar dos docentes. Temos cerca de 40 professores em Acções de Formação de e-learning.
Somos uma Escola que sabe que a Organização e a Racionalização são fundamentais. Para optimizar os recursos existentes e atingir os objectivos, definimos estratégias, aliando, sempre, Competência e Humanismo.
As escolas não podem alhear-se do Meio, da Comunidade, onde se inserem. As escolas devem ser promotoras de políticas/estratégias que promovam a aproximação das Famílias à Escola.
Temos um Projecto Educativo que aborda a Diversidade (Eça Diversidade/ Eça Alternativa), muito patente na nossa escola. Sabemos que o insucesso escolar é uma realidade que urge mudar. Mas o sucesso não se avalia, exclusivamente, através de rankings. Nós acreditamos na motivação e valorização do aluno visando a sua integração e participação na vida activa.
A organização e funcionamento da nossa escola assenta na experiência dos docentes com mais anos de serviço e no encantamento e vontade de aprender dos mais novos.
Temos professores que gostam mais de ensinar, outros de desempenhar determinados cargos. Essa diversidade enriquece a Escola.
A Coordenadora do Curso de Português para Estrangeiros está no 7º escalão. O coordenador do Secretariado de Exames no 6º. Da restante equipa, 55% está abaixo do 8º escalão. Dos Coordenadores Pedagógicos do Ensino Nocturno, 60% estão em escalões inferiores ao 8º. O Coordenador do Projecto Plurália (Estratégias de Metodologias Promotoras da Integração de Alunos de Países e Culturas Diferentes) está no 4º escalão. O Coordenador das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) está no 7º escalão.
Este é o nosso presente de que tanto nos orgulhamos.
Mas, a Escola tem um passado. Muitos professores deram o seu contributo, exerceram funções de Presidente, membros do Conselho Executivo, Delegados de Grupo, de Departamento, etc. Há professores que, pelo facto de não desempenharem cargos nos últimos anos, agora não atingem os ” pontos” necessários para se candidatarem a professor titular. E os professores do 7º, 8º e 9º escalões que deveriam ter mudado de escalão em 2005 e, embora reunindo todos os requisitos para aceder a professor titular, ficam pelo caminho? E todos os outros, anónimos e excelentes professores?
Será que o mérito só conta a partir de 1999?
Será que a função principal do professor não é ensinar/ educar?
E o futuro?
A distinção, estranha, entre Professor e Professor Titular vai desmotivar os professores e trazer graves problemas à organização e consequente funcionamento das escolas.
Acreditamos que a melhoria do ensino só é possível dignificando a carreira docente, mobilizando os professores, os alunos, os pais e a restante Comunidade Educativa.
A função social do professor é crucial para o desenvolvimento de um país. É necessário, é fundamental prestigiá-la.
Temos de aproveitar as potencialidades, diferentes, de cada professor.
Em muitas escolas, os professores fazem milagres todos os dias.