Dizem todos os defensores do politicamente correcto em Educação que está e deve estar no aluno. Que sem alunos não há professores e não há Educação.

Isto está certo até ao ponto em que não está. E onde não está? Não está quando se esquece que alunos e professores existem em função da necessidade de transmissão do Conhecimento e aqui uso o termo num sentido lato e não restritivo, que poderei melhor definir em outra ocasião. Portanto, para mim o verdadeiro umbigo ou centro nuclear da Educação passa pelo Conhecimento e pela melhor forma de o transmitir às novas gerações.

Centrando a Educação apenas no Aluno, podemos estar a prestar-lhe um mau serviço, mesmo se com as melhores das intenções, em especial se optarmos por aquele caminho que parece achar necessário baixar drasticamente os padrões de transmissão dos conhecimentos de acordo com o perfil cognitivo dos alunos. Esta perspectiva peca por pouco ambiciosa. É como aquele aluno que luta apenas para o nível três ou para os dez valores. Faz-se só o que parece indispensável.

Pelo contrário, se nos centrarmos no Conhecimento e se almejarmos mais alto, poderá ser que mesmo aqueles alunos que teoricamente poderão aparentar menos potencial atinjam mais do que os meros e tradicionais “objectivos mínimos”, patamar rasteiro a que muitas vezes nos querem habituar.

É verdade que esta perspectiva nem sempre é muito fácil de fazer passar pela verdadeira parafernália de argumentos “eduqueses”, quase consolidados no imaginário das teorias educacionais em voga nos anos 60 e 70 algures e cá com uma década de atraso. Muitas das vozes que defendem um ensino centrado no Conhecimento recebem rapidamente a acusação de elitismo, insensibilidade, indiferença pelo ritmo de aprendizagem dos alunos, etc, etc. Eu sei porque já ouvi muito disso, mesmo se na maior parte dos últimos anos em que tenho leccionado o tenho feito com alunos com Necessidades Educativas Especiais ou com turmas de currículo dito “alternativo”.

Nada de mais errado do que baixar a fasquia com receio de sermos tidos por elitistas, pois se nos centramos no conhecimento e na melhor forma de o transmitirmos aos alunos, seremos obrigados a buscar as estratégias mais eficazes para o fazermos, sem perda do que é essencial no processo de ensino/aprendizagem que é a transmissão de um saber, sob a forma de competência mas se possível, e idealmente, de mestria.

Infelizmente, nem sempre a pesquisa educacional parece ter tido espaço para demonstrar o contraditório do que se convencionou aceitar como certo e quase inquestionável. Mas sempre vão surgindo experiências que desalinham do carreiro estreito para que nos querem conduzir como se fosse o único.

Graças à indicação do Júlio Redondo, tomei conhecimento desta matéria publicada no último número da revista Sciences Humaines sobre o projecto americano Follow Through – a sua história de 3 décadas (1967-1995) é aqui sumariada – que apresentou resultados surpreendentes sobre o desempenho comparativo dos alunos submetidos a nove modelos diferentes de ensino, pois o modelo “directivo” ou das Instruções Directas obteve os melhores desempenhos nos vários parâmetros, incluindo o afectivo. Como as conclusões foram, à época, controversas em relação às teorias dominantes, os resultados foram várias vezes reanalisados, mas as conclusões originais resistiram ao impacto.

Mas, como de costume, quando a pesquisa e a realidade não se adaptam aos “paradigmas” dominantes, ou se retorce ou se ignoram os dados das pesquisas. Eis como um autor colocou a questão da surpresa gerada pelos factos e que levou a que as conclusões do maior estudo educacional de sempre fossem ignoradas por irem ao contrário dos clichés instalados:

Project Follow Through, America’s longest, costliest and perhaps, most significant study of public school teaching methods quietly concluded this year. The good news is that after 26 years, nearly a billion dollars, and mountains of data, we now know which are the most effective instructional tools. The bad news is that the education world couldn’t care less.
(…)
It may come as a shock to the layperson, but school policymakers haven’t adopted Direct Instruction because they have an aversion to scientific research. Educators throw their weight behind the latest fad, then refuse to abandon it when it doesn’t work.

A verdade é que os políticos e os cientistas da educação (e outros em muitas áreas do saber) que se gostam de mostrar mais sofisticados e cosmopolitas não suportam estudos que não provem o que está antecipadamente decidido como sendo o caminho certo.

Não interessa verdadeiramente saber o que é eficaz, mas apenas o que parece bem. E então pelas nossas bandas o que parece bem, revestido de alguma retórica demagógica, faz maravilhas tanto na opinião pública leiga como em alguma opinião publicada que se afirma especialista. E então entre os aspirantes a subsídios para pesquisas educacionais dificilmente estão para arriscar ir por caminhos polémicos. Nada como ir pelo seguro.

Não digo com isto que se volte ao método directivo, puro e duro, de palmatória em riste e púlpito para a prelecção do professor.

Apenas chamo a atenção para o facto de, no auge das teorias críticas sobre a Educação e de afirmação das pedagogias de tipo construtivista (anos 60 a 80), o maior estudo (e mais caro, com um bilião de dólares de custo) jamais desenvolvido sobre desempenho escolar nos EUA ter provado, após diversos contrafactuais dos mais cépticos, que essas teorias serão provavelmente mais articulados ideológicos do que outra coisa.

E como devemos pensar e não recusar ou ignorar as investigações só porque elas não encaixam nos nossos esquemas preconcebidos – em especial quando isso é feito por quem acusa os outros de terem preconceitos datados – talvez fosse interessante questionarmo-nos sobre aquilo em que acreditamos ou que nos esforçamos por acreditar como verdades inamovíveis e imunes ao questionamento.

Ora como o que eu pretendo é proporcionar o melhor ambiente de aprendizagem aos meus alunos, tenho mais do que o direito, o dever de estar suficientemente informado sobre aquilo que é o melhor para eles.