Os alunos do Ensino Básico fazem exames de Português com uma maioria de questões de resposta múltipla no âmbito dos chamados “itens de selecção” que também incluem “associação”, “ordenação” ou “completamento” mais as chamadas questões de resposta curta ou restrita e depois querem que a ortografia e sintaxe sejam determinantes seja no que for?
A sério, sério, sério?
Ainda não perceberam que a cultura do “sucesso” e os modernismos pedagógicos levaram a classificar como retrógrados os gajos que, como eu, recusam aceitar um teste em que @ alun@ nem o rai’s parta do nome sabe grafar sem erros?
É só confirmar na recente informação-exame do enorme Iavé para o 9º ano.
E mesmo a alegada “resposta extensa” que vale 30 pontos (a velhinha composição ou vetusta redacção) só em alguns dos critérios de classificação tem em consideração a sintaxe e a ortografia.
A sério, sério, sério!
Não é nada fora do normal conseguir-se um B/Bom/nível 4 sem distinguir uma vírgula de um camelo. Basta fazer cruzinhas, preencher espaços e dar uma ideia geral que se percebeu as instruções para a “produção escrita”.
E depois querem milagres?
Na loja dos 300?
É que os chumbos estão caros e os trabalhos de casa são uma chatice, as cópias um arcaísmo e os ditados uma verdadeira sobrevivência do Paleolítico Pedagógico que destrói a criatividade infantil e impõe regras e uma disciplina que atrofiam a dimensão lúdica da aprendizagem.
E há imensos psico-pedagogos a defender isso mesmo e eu acho bem, mas depois aguentem-se que na Faculdade dizem que a culpa não é deles e que não são obrigados a ensinar seja quem for a escrever.
No dia em que quiserem fazer qualquer coisa a sério, sem ser demagogia e coreografia baseada em remendos, acordem-me.
Janeiro 29, 2015 at 7:10 pm
“E há imensos psico-pedagogos a defender isso mesmo e eu acho bem, mas depois aguentem-se que na Faculdade dizem que a culpa não é deles e que não são obrigados a ensinar seja quem for a escrever.”
Pimba!
Janeiro 29, 2015 at 7:28 pm
Um exame de Português não devia avaliar as mesmas competências que um de Ciências. mas…
No outro dia, mandei uma colega de Português dar uma volta dizendo-lhe que eu tinha “espirito cientifico”. Ela respondeu logo que isso era bom, porque ser bom observador era a base do espirito critico. Ela também tinha já que na Literatura é necessária essa qualidade para criticar os textos literários.
Assim, fiquei reduzida a mero instrumento da excelentíssima literatura.
Um dia tenho de me lembrar que nos estudos internacionais a literacia cientifica está ao mesmo nível da literacia na língua materna e da famosa Matemática. Talvez a empáfia lhe passe. lol.
Janeiro 29, 2015 at 7:48 pm
Será que esta notícia vai abrir os noticiários da noite? Será que vão entrevistar o senhor IAVE?
Janeiro 29, 2015 at 8:00 pm
É a isto que se chama “colocar o dedo na ferida”. O problema é que quase sempre se prefere a aspirina a determinar a origem da dor.
Janeiro 29, 2015 at 8:09 pm
#2,
O problema é que um professor de Ciências e um de Educação Visual não devem ser avaliados, na componente “generalista”, em conteúdos que acabam por ser irrelevantes para a sua prática.
Janeiro 29, 2015 at 8:14 pm
#0
Completamente de acordo. Há muito.
Janeiro 29, 2015 at 8:15 pm
A sério, sério, sério? Não! É a brincar. A brincar com coisas sérias.
Janeiro 29, 2015 at 8:27 pm
#5 Claro. O problema está no conteúdo da Prova, em se fazer um teste psicotécnico, quando até as empresas já abandonaram o processo. É um processo ultrapassado.
Mas este problema é muito complexo: o que é um facto é que os atuais professores entram com médias muito baixas, saem com médias altas e enfrentam uma concorrência feroz. Depois há também a dualidade público/privado.
Uma prova parece ser uma boa forma de selecionar os melhores. Em teoria. Na prática é esta borrada.
Já reparaste que a maioria silenciosa está mesmo silenciosa?
Janeiro 29, 2015 at 8:56 pm
#5 It pretty much sums the irrelevant nature of the PACC
Ou em português orográfico : Hé memo iço pah! Montanhas de razão ya!
Janeiro 29, 2015 at 10:59 pm
Excelente!
Janeiro 29, 2015 at 11:33 pm
Aínda hoje eu disse exactamente tudo isto na minha escola. Estamos em sintonia ,Paulo !
Janeiro 30, 2015 at 12:32 am
1- A PACC é um teste psicotécnico.
2- Será que o Crato e todos os nomeados do governo fariam a PACC sem erros? E que tal implementar este tipo de prova para candidatos a ocupar cargos governamentais, escolhendo assim os ‘melhores’?
Janeiro 30, 2015 at 1:10 am
Não podia estar mais de acordo. E exactamente o contrario do que faço com o custo de passar horas a corrigir… Eu ainda acredito em ditados , por exemplo
Janeiro 30, 2015 at 2:37 am
Excelente, Paulo! Não andaram anos a fio a estragar o ensino, a obrigar-nos a baixar o grau de exigência, a obrigar-nos a ter 30 alunos numa sala, a obrigar-nos a votar notas nos conselhos de turma do 3° período para os meninos passarem ( sem saberem ler nem escreverem), não nos obrigaram, sem formação especifica, a ter alunos NEE misturados com os outros (por vezes casos complicadíssimos), não nos obrigaram a não exigir muito para não traumatizar criancinhas e para que no final do ano todas possam passar, etc? Agora começa a merda a vir ao de cima: um povo ignorante, que não domina a sua lingua materna, que não tem capacidade de raciocínio, que não tem hábitos de trabalhos, que não sabe reconhecer as suas limitações, ou seja, um povo ignorante, moldado pelos brilhantes politicos portugueses que foram passando pelos últimos governos e que sempre se NEGARAM a ouvir os principais responsáveis pela educação: os professores!
Janeiro 30, 2015 at 1:41 pm
Usar os resultados da PACC, nomeadamente os erros ortográficos e de sintaxe, como justificativo para implementar processos dificilmente justificáveis com argumentos técnicos, é pura demagogia e hipocrisia. Além da tipologia dos exames nacionais do ensino básico não aferirem com maior relevância erros de sintaxe e ortografia, também relembraria que a correcção dos exames nacionais do ensino secundário nas disciplinas científicas, não era objecto de critério rigoroso na área gramatical. Apesar de existirem os descritores para classificar as respostas de acordo com a sua sintaxe e gramática, verbalmente os correctores eram instruídos a não serem muito rigorosos nessa matéria; e como não existe nada escrito, não aconteceu…
O mesmo acontece nas escolas: se um professor de ciências descontava por algum erro ortográfico ou gramatical, era vilipendiado até desistir de o fazer.
Portanto, este espanto hipócrita do ministro só surge por conveniência.