Um dos insurgentes decidiu presentear-me com uma reacção típica de blogger da boa blogosfera. O esquema é: ai que um bárbaro professor desconhecido (leia-se, de fora das tertúlias habituais) me atacou, sem argumentos, ad hominem (da mesma forma que os insurgentes sempre fizeram em anos de actividade) e eu tenho aqui bué de coisas a dizer sobre o assunto, porque sou dos que têm muitas sinapses funcionais.
Vamos lá, meu caro Miguel Botelho Moniz, de que também desconheço o currículo, nem estou interessado por aí além em saber.
A vossa teoria é: há menos crianças nas escolas, são necessários menos professores, ergo, ide-vos passear para outra freguesia.
O problema é que a realidade não é essa, os dados não confirmam o que dizem e o alargamento da escolaridade para 12 anos não se pode ignorar.
Vou transcrever o comentário que deixei lá no post, versão alargada de outro que deixei no meu post abjecto (de acordo com os padrões da boa blogosfera):
Estou emocionado com a fraquinha reacção dos insurgentes.
Esperava coisas mais fortes por parte de quem acusa os outros que deles discordam de terem apenas “uma sinapse funcional”.
Não gostam dos ataques ad hominem, mas praticam-na quando lhes dá jeito. Melhor… praticam-na sobre todos os que deles discordam, se possível a corja maldita dos “professores” a quem antes batiam palmas quando o lema era derrubar José Sócrates.Dizem que não desmontei os argumentos dos autores visados. Bom,,, mas como se desmonta um post cuja linha de raciocínio é chamar “meninos e meninas que não querem sair do regaço da mamã”?
Dizem que eu fui abjecto.
Sorte vossa que escrevi muito menos do que pensei, porque quem escreve um post daqueles pode ter muitas sinapses funcionais, o problema é a atitude de sobranceria e o argumentário vazio.Quando ao texto que se dá ares de sabedoria matemática, cujo autor nem percebeu a ironia da sua alegada “juventude”, eu recomendaria que, para crianças em idade escolar, seguisse as estatísticas disponíveis sobre matrículas:
http://estatisticas.gepe.min-edu.pt/cat.jsp?id=220&edit=false
Entre 2005/06 e 2008/09 a evolução dos do pré-escolar é a seguinte:
128 754
127 602
131 502
131 765Estou daqui a tentar vislumbrar a descida, mas deixei cair as lentes.
No 1º ciclo:
417 204
420 353
420 716
408 923Pronto, perderam-se menos de 8500 alunos, ou seja 2% do total… (uma catástrofe!)
Quanto ao total de alunos no ensino até ao 12º ano (ainda sem escolaridade alargada):
1 347 456
1 360 851
1 386 200
1 525 420
Aumento de quase 180.000 alunos, ou seja, mais de 10%!!!E agora?
Se espreitarem para aqui http://www.gepe.min-edu.pt/np4/?newsId=611&fileName=EE2009_2010_JOVENS.pdf terão a hipótese de constatar que, logo a abrir os quadros se refere a contabilização de mais de 1.700.000 alunos.
Claro… sou eu que não uso argumentos, não me baseio em factos e os insurgentes multisinápticos é que estão carregados de razão!
E agora?
Ou a realidade atrapalha a teoria?
Adenda para leitores e comentadores distraídos: eu não estou a utilizar os dados das NO/RVCC que estão num volume diferente, que é este. Truques à Sócrates é para os spin-doctors mirins do actual governo.
Dezembro 21, 2011 at 4:25 pm
Mas simíos têm multisinapses: Olha o que as se descobre na blogoesfera..um admirável mundo novo de simíos..
Dezembro 21, 2011 at 4:25 pm
QUE NÃO ESTE O FARAGE…
Dezembro 21, 2011 at 4:29 pm
Eh pá!, com tantos números dás cabo das conexões sinápticas desses betos.
Eles estão habituados à sua zona de conforto, que é onde mandam patacoadas para o ar, entre gentinha que professa os mesmos credos ou métodos, sem que algo substancial os venha contrariar – e, assim, perdem o pé.
Estes zecos são mesmo incómodos!
Fora com eles!!!
Dezembro 21, 2011 at 4:41 pm
Quando nos insurgimos, ao menos que nos insurjamos por coisas que façam sentido…
E nem são precisas grandes elocubrações teóricas ou ideológicas.
Quando um país é pobre e não tem recursos naturais abundantes, aquilo que é mais racional e sensato fazer é privilegiar o investimento no seu capital humano.
Quando esse país atravessa momentos de crise, mandam mais uma vez a razão e o bom senso, o mais aconselhável é socorrer-se dos seus cidadãos mais qualificados – em que o país já investiu tanto do seu tão pouco – e aproveitar ao máximo os seus parcos recursos.
Quando um governo, em vez de procurar, com a sua palavra e a sua acção, resolver com êxito os problemas nacionais, aponta o Êxodo como solução para os seus cidadãos – mormente para os mais jovens e qualificados da sua população activa -, tal governo não se coloca manifestamente à margem do que é razoável e sensato?
Dezembro 21, 2011 at 6:16 pm
#3
Concordo! è muita areia para os SUUV comprados pelos papás desses meninos insurgentes, que só saem dos regaços das mamãs para escrever umas frases feitas nesses blogues.
Dezembro 21, 2011 at 6:17 pm
Votei no PSD. E, é seguro, voltaria a fazê-lo. O que me diferencia dos ditos betos é que não vou em queridos líderes. Ademais, é recorrente que os insurgentes, quando toca a contar até mais do que dez…
Dezembro 21, 2011 at 6:21 pm
# = Paulo.
O menino diz “não faço ideia quem é Paulo Guinote”?!
Bem, o que me parece é que tens de começar a ir às festas da Caras, ou concorrer à “casa dos Segredos”, para entrares na linha de visão cultural do moço! 😀
Olha, pede para a SIC te remodelar a casa. Quanto ao concurso dos gordos, ainda estás longe de somar os quilos suficientes!
Dezembro 21, 2011 at 6:29 pm
#4
Os que têm mais dificuldade de arranjar emprego são os desempregados de longa duração e não os jovens. Para esse é que foi dado o conselho de emigrar.
Dezembro 21, 2011 at 6:39 pm
“Não faço ideia quem é o Paulo Guinote.”
Resumindo, é um ignorante.
Dezembro 21, 2011 at 6:45 pm
Paulo:
Tens de levar em conta o seguinte, ou pelo menos pensar nisso: nos números do último ano (os tais mais de 180 000) olha que neles já devem estar contabilizados os frequentadores (e digo frequentadores/inscritos) nos Centros Novas Oportunidades. O mesmo se passa quanto aos badalados 1 700 000 em 2010. É pessoal das NO. E para não falar naqueles EFA financiados, CEF’s e quejandos. Quanto ao incremento do pré-primário trata-se claramente do alargamento da rede.
Não quero fazer de advogado do diabo, mas alguma frieza na análise dos números e da sua envolvente torna-se necessária.
Dezembro 21, 2011 at 7:48 pm
Uma das graças idióticas é matar o mensageiro à nascença, “Não faço ideia quem é o Paulo Guinote.” é um mero exemplo. Tudo o que vem depois pressupõe o califa do divã, despindo-se do excesso e dinasticando-se.
Dezembro 21, 2011 at 8:13 pm
O Paulo Guinote está a contar com a evolução do número de alunos de RVCC/Novas Oportunidades que estarão mais relacionados com factores políticos do que demográficos (olhando para a sua história, não deixa de ser irónico que utilize um truque estatístico inaugurado por Sócrates).
A verdade é que se olhar apenas para os números do ensino regular, o número de matriculados baixou em todos os ciclos, excepto o 2o ciclo. Mas os impactos de evoluções demográficas não se revelam em períodos tão curyos. Experimente comparar o número de alunos matriculados no ensino básico em 95 e agora.
Dezembro 21, 2011 at 9:35 pm
#10,
Em vez de um “suponhamos” seria mais útil reparar que eu linkei para as estatísticas dos “jovens”.
As dos “adultos” estão aqui:
Click to access np4
Eu não ando aqui para enganar ninguém.
E se é “alargamento” da rede ou mais bebés, a verdade é que são mais e implicam mais gente.
Certo?
Também serve para #12.
Muita distracção no uso das fontes e da acusação de “truque”.
Dezembro 21, 2011 at 9:37 pm
286241 alunos em regime de RVCC/NO.
Página 23 do volume dos “adultos”.
Click to access np4
Vou ser mesmo sarcástico: na Católica há professores que no meu tempo de Faculdade eram anedotas como alunos e carpiam para conseguir uma nota que os dispensasse de exame.
Está aqui a correr-me um caso notório, professor de insurgentes e afins.
Dezembro 21, 2011 at 9:39 pm
Tanto!
Dezembro 21, 2011 at 9:51 pm
#12,
Tendo eu feito uma tese sobre a evolução da Educação em Portugal (na perspectiva da Educação Feminina mas usando os dados globais para óbvias comparações) durante todo o século XX, tenho à distância de poucos cliques os dados para 1895 se quiser estender um “pouco mais” a série…
Lá por isso…
Dezembro 21, 2011 at 10:40 pm
Deixo esta série interessante à consideração. Os dados são do próprio GEPE:
Anos Modalidade de ensino
Total Regular Recorrente e outras
1961 1.066.471 965.299 101.172
1962 1.082.665 970.231 112.434
1963 1.100.471 975.968 124.503
1964 1.110.577 974.259 136.318
1965 1.141.982 995.390 146.592
1966 1.152.799 1.000.368 152.431
1967 1.165.415 1.010.439 154.976
1968 1.182.345 1.022.628 159.717
1969 1.262.285 1.094.179 168.106
1970 1.316.279 1.129.365 186.914
1971 1.347.887 1.147.082 200.805
1972 1.378.582 1.161.776 216.806
1973 1.412.768 1.173.810 238.958
1974 1.444.883 1.191.477 253.406
1975 1.466.815 1.186.304 280.511
1976 1.519.725 1.318.252 201.473
1977 1.533.351 1.392.956 140.395
1978 1.560.791 1.482.534 78.257
1979 1.547.467 1.505.446 42.021
1980 1.538.389 1.497.095 41.294
1981 1.574.568 1.528.011 46.557
1982 1.583.910 1.539.397 44.513
1983 1.617.450 1.575.655 41.795
1984 1.615.312 1.568.309 47.003
1985 1.636.458 1.589.777 46.681
1986 1.639.405 1.590.552 48.853
1987 1.606.932 1.553.549 53.383
1988 1.583.661 1.534.500 49.161
1989 1.555.573 1.503.849 51.724
1990 1.531.114 1.476.131 54.983
1991 1.484.256 1.425.620 58.636
1992 1.509.182 1.443.961 65.221
1993 1.441.889 1.377.616 64.273
1994 1.429.824 1.370.675 59.149
1995 1.408.449 1.320.738 87.711
1996 1.339.749 1.275.210 64.539
1997 1.305.723 1.238.067 67.656
1998 1.276.376 1.210.331 66.045
1999 1.259.473 1.195.602 63.871
2000 1.240.836 1.176.436 64.400
2001 1.223.151 1.162.535 60.616
2002 1.192.931 1.139.218 53.713
2003 1.174.412 1.125.164 49.248
2004 1.166.277 1.118.071 48.206
2005 1.153.057 1.105.934 47.123
2006 1.145.234 1.112.625 32.609
2007 1.155.181 1.112.719 42.462
2008 1.187.184 1.095.609 91.575
2009 1.283.193 1.078.081 205.112
2010 1.256.462 1.071.021 185.441
Dezembro 21, 2011 at 10:42 pm
É ensino básico, note-se. Masa a quebra existe, claramente. Não foram os anos 2008 a 2010 com a inclusão do pessoal do RVCC e os números seriam bem mais pequenos.
Dezembro 21, 2011 at 10:46 pm
Para que não fiquem dúvidas (decomposição da série de acordo com o próprio GEPE):
A categoria “regular” inclui os Ensinos Regular e Artístico Especializado.
A categoria “recorrente e outras” inclui: Ensino Recorrente até 1994/95; Ensino Recorrente e Cursos Profissionais entre 1995/96 e 1998/99; Ensino Recorrente, Cursos Profissionais e Cursos CEF entre 1999/00 e 2005/06; Ensino Recorrente, Cursos Profissionais, Cursos CEF e Cursos EFA entre 2006/07 e 2007/08; Ensino Recorrente, Cursos Profissionais, Cursos CEF, Cursos EFA, Cursos de Aprendizagem, processos RVCC e Programa Oportunidade/PERE em 2008/09; Ensino Recorrente, Cursos Profissionais, Cursos CEF, Cursos EFA, Cursos de Aprendizagem, processos RVCC e Programa Oportunidade/PERE e Formações modulares a partir de 2009/10.
Dezembro 21, 2011 at 10:58 pm
Os número sque o Paulo indica incluem RVCC. NOte-se que o RVCC é para adultos >23 anos.
Ensino secundário Ensino regular 202 404 200 199 182 248 176 099
Ensino artístico especializado (regular) 1 345 1 729 1 706 2 087
Cursos profissionais 3 607 13 951 34 414 53 637
Cursos de aprendizagem 13 584
Cursos CEF 2 411 3 628 6 244 2 890
Ensino recorrente 54 277 53 068 24 749 13 317
Ensino artístico especializado (recorrente) 603 418 455 342
Cursos EFA 14 281 38 019
Processos RVCC 61 182
Sub-Total 264 647 272 993 264 097 361 157
Total 1 347 456 1 360 851 1 386 200 1 525 420
Tá tudo desalinhado mas vê-se de onde sairam os dados globais e o que incluem
Dezembro 21, 2011 at 11:44 pm
Contam os anões Nees e falecidos?
Dezembro 21, 2011 at 11:48 pm
[…] Paulo Guinote respondeu ao post do Miguel Botelho Moniz com a evolução do número de alunos nos diversos níveis de ensino num […]
Dezembro 22, 2011 at 12:52 am
#20,
Francisco, os relatórios são distintos para jovens e adultos…
Já reparou nisso?
Acima de 23 anos não são “jovens” na acepção do termo para a Educação…
Dezembro 22, 2011 at 1:13 am
Se o duelo fosse com o meu insrgente de estimação: André Azevedo Alves, ainda metia a colherada. Assim…
Dezembro 22, 2011 at 2:01 am
Paulo: olhe que os dados de 2011/2012 já ao dar linha diferente. Assiste-se a uma grande saída de imigrantes de regresso aos seus países e que tinham filhos em idade escolar. Pode não ser por todo o lado mas nos últimos dois anos verifica-se uma quebra em muitas cidades. Lagos tinha uma nova escola para iniciar re-construção (a escola EB23 até fechou e foram ter aulas numa nova escola) mas depois foi decidido (antes dos cortes) não a fazer pois os alunos afinal já podiam ser distribuídos por todas as escolas sem problema no próximo ano 2012/2013.
Mas a questão não está só se existem mais ou menos alunos, a questão está em saber quantos alunos pro turma, por professor e efeitos do regresso às escolas de professores destacados.
Dezembro 22, 2011 at 2:20 am
E tomem lá a desconstrução do argumentário da “Sinceridade” etc e tal:
http://margarida-alegria.blogspot.com/2011/12/sinceridade-um-louco-pre-natal-2.html
(com figurinhas, para os meninos entenderem melhor e não cansarem muito a cabeça!)
Dezembro 22, 2011 at 11:03 am
[…] uma resposta do Miguel Botelho Moniz, o PG é forçado apresentar alguns números para tentar negar que dada a evolução demográfica existiu uma diminuição da população […]
Dezembro 22, 2011 at 12:33 pm
[…] dinásticos e até, pasme-se, as minhas eventuais opiniões sobre os professores. Por isso, a sua insistência na técnica de vitimização ao sugerir que eu penso que ele é «um bárbaro professor desconhecido» reflete mais a sua […]
Dezembro 22, 2011 at 6:49 pm
[…] agora, também não conheço o Paulo Guinote pessoalmente, e também não leio blogues. Constato é que os socretinos manipulavam números mas […]