Há uma leitura superficial, que é a do regresso do “mestre” dos truques para efeitos eleitorais, o das jogadas para anular adversários e propagar a mensagem do líder Pedro, mas isso não esgota tudo o que significa o regresso de Miguel Relvas a conselheiro-mor do regime que está.

  • Antes de mais, significa um sinal de fraqueza de Passos Coelho, que reconhece não se aguentar sem o seu puppet master, sendo as alternativas que foi arranjando para o partido e governo, meros remendos que não conseguem os efeitos desejados. O que inclui Poiares Maduro, autor de um chatíssimo discurso no congresso, a avaliar pelo minuto e tal que consegui ouvir. Relvas é um ponto baixo da política por tudo o que sabemos; Poiares Maduro é um ponto baixo por manifesta inépcia.
  • Em seguida, significa que vêm por aí tempos de vingança e reforço das atitudes de vendetta em relação a todos os que tenham sido considerados vagamente responsáveis pelo afastamento do grande conselheiro (e nunca esqueçamos que Relvas tinha ligação directo ao agora esquecido super-espião). O que significa, por exemplo, que Nuno Crato tem os dias contados, para grande satisfação do João Gonçalves do Portugal dos Pequeninos.
  • Se as más notícias já eram suficientes, eu acrescento uma nova: se Miguel Relvas volta é porque não haverá qualquer verdadeira retoma económica ou melhoria da situação da maior parte da população até 2015, pois se existisse não era preciso recorrer ao trambiqueiro para assegurar uma nova vitória nas eleições legislativas. Se a situação invertesse verdadeiramente, para ganhar a Seguro não seria preciso recuperar Relvas para a ribalta.
  • Por fim e por agora, esta recuperação, tão pouco tempo depois do esgotamento e das causas pessoais que levaram Relvas a precisar de retemperar as forças pelos trópicos, significa que Passos Coelho decidiu que o PSD actual é uma facção do velho PSD e que a tomada do poder interno é para durar, não havendo contemplações com os grupos e críticos individuais que andam por aí. Significa ainda que Paulo Portas vai deixar de andar sozinho na intrigas e conspirações e que voltou o homem que, mesmo fora do governo, sabe o suficiente e tem os meios ao dispor para o manter mansinho e sem grandes peneiras de protagonismo.

O regresso de Miguel Relvas é o regresso, em tons mais enfarruscados e vingativos, a três anos atrás, aos tempos dos acordos de bastidores para não se exporem demasiado os podres dos protagonistas políticos (lembrem-se do acordo para não explorar mais o episódio da licenciatura de Sócrates, percebendo-se depois o porquê…) e de convívio entre velhos amigos e compadres das jotas do centrão.

É um tempo de decadência absoluta.