… para o Ensino Profissional no 3º ciclo tenho algumas reservas.

Vejamos aquilo que se conhece sobre a dita cuja, citando de memória porque me esqueci do jornal e estou com preguiça de ir buscá-lo:

  • Alunos com 2 retenções seguidas ou 3 intercaladas até ao 6º ano, devem enveredar obrigatoriamente por essa via profissionalizante, alegadamente para aprenderem um ofício até ao 9º ano. No 10º ano poderão reingressar na via regular (científico-humanística).
  • Essa via contemplará uma carga lectiva de tipo “geral” igual ao ensino regular em Língua Portuguesa, Inglês e Matemática, sendo o resto adaptada à oferta profissionalizante.
  • Os alunos que queiram ingressar nesta via, mesmo sem aquele historial de insucesso, poderão fazê-lo.
  • A experiência vai iniciar-se numa dúzia de escolas para posterior generalização a toda a rede pública.

Vejamos as críticas sistémicas à coisa:

  • Discordo de todas as medidas que, em termos de gestão do currículo e combate ao insucesso, apostam em soluções únicas e obrigatórias. A diversidade e a autonomia não passam por aqui?
  • A experiência-piloto não deve passar de 12 escolas para 1000 num único ano, pois isso faz lembrar outras (más, em muitos casos) experiências de generalização, a partir de poucos casos, de alegados sucessos em finais dos anos 90, nos tempos áureos do benaventismo e das teorias dos especialistas acolhidos no IIE.

Agora algumas, não exaustivas, críticas mais específicas:

  • Será que um aluno com duas retenções seguidas no 1º ciclo ou no 5º ano, mas que consegue recuperar e superar as suas dificuldades deve, à saída do 6º e tendo sucesso nesse final de ciclo, ser obrigatoriamente empurrado para uma via profissionalizante?
  • Será que a manutenção de uma carga horária semelhante à regular nas disciplinas que são, por regra, das que provocam maior insucesso n0 2º ciclo é uma boa ideia? Não seria mais adequado reduzi-la ou adaptá-la às características de cada curso? Sendo curso é mais ligado à electricidade e mecânica reforçar os conteúdos da Matemática, reduzindo as Letras e fazendo o inverso em cursos ligados, por exemplo, à hotelaria e turismo ou animação social? Será essencial ter a mesma carga horária em Inglês para toda a gente, por exemplo? Em profissões ligadas ao turismo e património local reforçar a História e a Geografia e não tanto a Matemática não faz mais sentido? Em suma, ser mesmo flexível…
  • Desta forma não se afastam muitos alunos com sucesso e vocação de um Ensino profissional associado aos maus alunos e mais velhos? Que pais vão colocar um filho com 12 anos, saído do 6º sem problemas, mesmo que não seja com níveis muito bons e tenha interesse em aprender uma profissão, em turmas onde se espera uma larga maioria de alunos, eventualmente problemáticos, com 15 anos ou mais?
  • Estão as empresas (onde existem…) interessadas neste perfil de mão de obra?
  • Será preciso ter uma formação específica de 3 anos para se ser, por exemplo, talhante?
  • De que forma se relacionará esta oferta com a já existente de CEF e PCA? Irá substituí-las, como parece?
  • Em que moldes funcionarão estes cursos, com que meios técnicos e humanos. Virão para aqui verbas do QREN como nos anos 90 do Prodep III para os chamados “9º+1”? A formação mais especializada será feita fora da escola’ Que critérios para a selecção de formadores e empresas? Apenas a disponibilidade?

E agora uma dúvida final…

  • Se estes alunos vão ingressar, pelo menos, com 14-15 anos nesta via (com 8, 9 ou mais anos de escolaridade já cumpridos, dependendo do número de retenções) e vão demorar, pelo menos, 3 anos nesta via (cumprindo 11, 12 ou mais anos de escolaridade), será que o objectivo é que estes alunos cumpram apenas o 9º ano e ingressem no mundo do trabalho, contornando habilmente aquela coisa dos 12 anos de escolaridade obrigatória, que não significam concluir o Secundário?