Quando dizem que os professores não querem ser avaliados. Quando os professores são avaliados. Quando os professores são mal avaliados. Quando os professores não chegam a ser avaliados.
Quando os professores fazem coisas boas. Quando os alunos fazem coisas boas. Quando os professores fazem coisas más. Quando os alunos fazem coisas más.
Quando os alunos têm más notas nos exames. Quando têm boas notas nos exames. Quando têm notas nos exames, mas nem se percebe se foram boas ou más.
Quando há escolas novas, quando há escolas velhas. Quando há escolas novas que metem água. Quando há escolas velhas que metem água.
Quando os professores ficam à espera do concurso. Quando os professores ficam fora do concurso. Quando os professores reclamam do concurso. Quando nada se sabe do que se passou, afinal no concurso.
Quando os professores se manifestam. Quando os sindicatos se manifestam. Quando os professores não se manifestam.
Quando os professores são desrespeitados na sala de aula. Quando os professores reagem. Quando os professores são agredidos na escola. Quando os professores são agredidos fora da escola. Quando colocam processos, quando são processados. Quando nada se resolve.
Quando os alunos batem em alunos. Quando os pais de uns alunos batem em outros alunos.
Quando os alunos têm fome. Quando os alunos têm muita fome,
Quando o ministro diz que é azul, quando diz que é verde. Quando diz que é para fazer assim. Quando desdiz que é assado. Quando é para cortar, quando não é para cortar. Quando quer dialogar, quando já não quer dialogar.
Quando os sindicatos dizem que vão lutar. Quando os sindicatos dizem que é para acordar e pacificar. Quando os sindicatos dizem que é para voltar a lutar.
Tudo isto, em si mesmo, é bom, positivo, informa.
Mas também se vai tornando cacofónico, caleidoscópico, perde-se uma noção de conjunto, uma perspectiva. Sobram olhares, quantas vezes comprometidos com algo.
Mas, de forma perversa ou não, é este o espelho fiel da Educação, cada vez menos apenas a Básica ou Secundária, tal como ela está. Uma desorientação, alimentada todos os dias por novos elementos que é necessário encaixar, desmontar, assimilar, rejeitar.
Após o terramoto MLR, o mandato (curto) de Isabel Alçada trouxe a pacificação entre o ME e os sindicatos e a forçada domesticação dos professores.
O mandato de Nuno Crato poderia ter trazido a pacificação dos professores mas, pelo contrário, trouxe a perturbação, uma agitação insana, que alguns dizem ser por causa da troika e que não podia ser de outro modo.
Poder, podia, mas o novo ministro não foi capaz, não está a ser capaz e parece não vir a ser capaz de mobilizar os professores para enfrentarem um período de enorme instabilidade. Pelo contrário, quando fala, é hesitante, dá o dito anteriormente por dito de outra forma, parece desconhecer a realidade terrena. Quando fica em silêncio, deixa o rumorejar dos boatos disseminar-se.
Já são seis meses no lugar. Com os anos anteriores de análise, já deveriam existir mais ideias, se possível boas ideias. Não há.
O que há? Espaço para teorias da conspiração, teorizações variadas, parangonas jornalísticas sem substância. Como a do I de hoje. Que tem escassa fundamentação na notícia que se lê nas páginas interiores e que fica aqui: I7Nov2011Professores.
A Educação vende.
E todos se querem aproveitar disso. Mesmo se com os truques mais rasteiros.
As vítimas: quem vive todos os dias nas escolas.
Novembro 7, 2011 at 6:34 pm
Excelente, Paulo!
Novembro 7, 2011 at 6:53 pm
Eu não diria que a educação vende ao nível dos títulos dos jornais, ou melhor, que qualquer tema educacional venda jornais. Porque se um título se reportasse à desresponsabilização dos Encarregados de Educação, esse mesmo título não teria qualquer tipo de impacto. O que vende, usando as palavras de um certo “fulano” socretino, é “malhar nos professores”. Além do mais, não é inocente a notícia em si, nem os meios usados para a produzir. Cheira-me a “chitices” e “chiteiros”.
Essa da amostra de dimensão 3… Ui!
Novembro 7, 2011 at 6:56 pm
Parece que os únicos protagonistas vivos deste país estão na escola. Tudo o resto, à volta, desaparece ou deixa de ter interesse.
Novembro 7, 2011 at 6:57 pm
[…] A Educação Vende. Share this:PartilharFacebookGostar disto:GostoBe the first to like this post. […]
Novembro 7, 2011 at 7:02 pm
Não entendem a diferença entre um professor excelente e um excelente professor…
Novembro 7, 2011 at 7:04 pm
#0
Acutilante análise.
Novembro 7, 2011 at 7:07 pm
Nota 10 Colega,
Em 2000 a EDUCAÇÃO era uma PAIXÂO. Em 2005 os Professores precisavam de MÉRITO!!!!!!!!!!!!!!! Passaram a TITULARES…(alguns), cometendo-se INJUSTIÇAS sem paralelo na História da Educação para com profissionais que na sua grande maioria são excelentes .Mais, tentou-se denegrir uma classe para obter vantagens políticas como é do conhecimento de todos. E agora ????? Onde estão as medidas que não custam dinheiro? só falta a machada final e acabar com o Ensino Público.
Novembro 7, 2011 at 7:07 pm
O que mais me preocupa é a circunstância de, sendo a educação a mais nobre e importante tarefa para o homem – nunca se deve perder este ponto de vista -, ela não suscitar uma preocupação global e uma acção mobilizadora por parte da nossa sociedade. É como se esta de tivesse demitido em bloco dessa exigência básica, como se não soubesse muito bem o que fazer ou como responder a ela – deixando-a entregue apenas à escola e aos seus profissionais -, mas, ao mesmo tempo, nutre uma má consciência provocada pela noção do dever não cumprido, que procura compensar reactivamente descarregando sobre aqueles uma pressão obstinada e, muitas vezes, rancorosa. O recalcado quando retorna tende a assumir uma forma traumática…
Se dúvidas subsistissem sobre isto, bastaria ver o modo como alguma comunicação social e respectivos comentadeiros se fazem sistematicamente eco desta posição, já que abordam este tema sempre por ângulos que enfatizam as falhas ou os incidentes supostamente atribuíveis ao principal rosto das escolas: os seus docentes.
É claro que essas notícias vendem. Porque isso tem repercussão junto da sociedade – até talvez mais do que ela gosta de admitir. E foi isso que a iscteiana (as tecnologias sociais dão uma ajuda…) MLR muito bem percebeu, pois não afirmou ela: “perdi os professores, mas ganhei a população”?…
Novembro 7, 2011 at 7:17 pm
100% de acordo!
Novembro 7, 2011 at 7:18 pm
Aquilo que sei, e desabafando no único sítio onde sei que sou entendida, é que este ano não estou a conseguir aguentar: sete turmas, DT, duas FC e dois EA. É demais. Tenho dois PITs para implementar, vou acompanhar uma visita de estudo o dia todo e ainda tenho de deixar plano de aula para a turma que não vai, tenho 3 relatórios para o SPO, organizar as avaliações intercalares para os pais, papéis, papéis, papéis, grelhas, relatórios, reuniões, não estou a conseguir dar conta de tudo…
Se é para cortar, porque não se corta nisto?!
Eu só queria ENSINAR!! Eu só quero ENSINAR!!!
Desculpem o desabafo mas isto hoje está muito bera…
Novembro 7, 2011 at 7:19 pm
Excelente reflexão. Parabéns!
Uma lufada de ar fresco.
Fiquei impressionado com a avaliação de tipo “régua e esquadro” que a notícia deixa transparecer. Infelizmente, o que se joga no xadrez societal e na escola em particular é precisamente a defesa da acção racional e da racionalidade técnica das decisões, contra a racionalidade ética, que é empurrada para a gaveta, atomizando ou reduzindo o humano à sua mensurabilidade, pois o que conta é o contável.
Novembro 7, 2011 at 7:22 pm
pq estás a fazer publicidade ao i e ao ionline num blog que supera as vendas e as entradas online todas juntas do pasquim?
Novembro 7, 2011 at 7:24 pm
Mais uma vez «5 estrelas» ou melhor «6 estrelas» Paulo!É por isto e muito mais que tu incomodas alguns! Parabéns pela tua entrega à EDUCAÇÃO.
Novembro 7, 2011 at 7:33 pm
A educação vende.
Há diretores de escolas que efabulam e sabem vender.
Há jornalistas que se deixam “comprar” para venderem a educação do “establishment”.
O PG “vendeu” uma reflexão que deu prazer ler.
Novembro 7, 2011 at 7:41 pm
Ai que tenho que ler isto mas cheguei agora e tou arrasadinha…
Novembro 7, 2011 at 7:41 pm
e 1º fui mandar vir c’os jardins do fafe.
Novembro 7, 2011 at 7:42 pm
Não percebi nada do que aconteceu, mas não vou ler o artigo linkado, pq pelo título percebi que se relaciona com a inverosímil invenção socratina…
Fico satisfeita e esclarecida com este intenso relato.
Novembro 7, 2011 at 7:42 pm
é uma espécie de religião: tipo tenho que embirrar como há aqueles que rezam ….percebem? Eu não.
Novembro 7, 2011 at 7:43 pm
Estás inspirado Paulo. Eu ia agora para ler a coisa, mas parei quando vi a autoria: Katia Catulo, esse modelo do jornalismo de causas.
E se por um lado nem li mais nada, por outro compreendo a tua inspiração; tive muito menos que o talento não toca a todos, mas já me ocupei das suas investigações aqui:
Novembro 7, 2011 at 7:56 pm
Mais um texto inspirado. E com alma. Digo eu, que sou ateu.
Novembro 7, 2011 at 7:59 pm
Excelente texto.
Quanto ao artigo e à escola de Sesimbra/Qta do Conde um embuste total.
Lamentável.
Novembro 7, 2011 at 8:31 pm
Pois, eu procurava o avatar o MEC tem de procurar ideias caso contrário é toda uma geração que vai à viola.
Novembro 7, 2011 at 8:45 pm
Acrescentaria que houve quem nem tivesse proposta de nota e que não reclamou porque…enfim.
Mas há prodígios neste país. Levaram esta árdua tarefa à exaustão com régua esquadro e escopro. Já que não podem ser professores do ano, o crato talvez crie “avaliadores do ano”.
RIDÍCULO
Novembro 7, 2011 at 8:46 pm
#19,
Mas olha que a KC não é responsável pelo show-off da 1ª página…
Novembro 7, 2011 at 8:48 pm
Se vende!!!!!!
“10% dos professores no país fazem ‘bico’
Docentes procuram uma segunda ocupação mais do que padeiros, corretores de imóveis e PMs, segundo estudo
Para especialistas, média salarial não é única explicação para impulsionar o professor à dupla função”
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0711201110.htm
Novembro 7, 2011 at 9:01 pm
[…] A Educação Vende […]
Novembro 7, 2011 at 9:07 pm
Excelente, em cheio no alvo!
# 8 Subscrevo.
Novembro 7, 2011 at 9:22 pm
Para levar até ao fim o raciocínio que apresentei no meu comentário anterior – e acentuar o seu pendor politicamente pouco correcto -, sublinho que, se as notícias sobre educação vendem é, sobretudo, porque elas, em muitos casos, oferecem ao público um alvo fácil – os zecos – que pode arcar com a culpabilidade difusa mas insidiosa que aquele sente por descurar a educação dos seus jovens. “Os nossos jovens estão cada vez mais malcriados e ignorantes, mas não admira, com os professores que têm…”.
É um fenómeno societal conhecido, este: a eleição de um bode expiatórios para canalizar e apaziguar as frustações e culpas colectivas. MLR compreendeu-o bem e executou-o melhor…
Novembro 8, 2011 at 2:08 am
Muito boa reflexão. Parabéns mais uma vez pela tua lucidez.
Novembro 8, 2011 at 3:40 pm
# 24 Claro que não. Mas parece-me uma discípula da metodologia de trabalho do seu director.
Novembro 8, 2011 at 8:49 pm
Exactamente!!! A Educação vende… e nós também compramos… também pagamos para que assim seja… também nos deixamos vender arrastados no meio de todo o entretenimento da leitura vendida…
Novembro 9, 2011 at 6:31 pm
[…] Fonte: https://educar.wordpress.com/ Gostar disto:GostoBe the first to like this post. Deixe um Comentário […]