Disseram-me que era melhor dar tempo a que o texto, assinado por 61 dos 70 professores do Agrupamento Vertical de Escolas da Areosa, chegasse à destinatária. Considerando que já passaram mais de 8 dias, entendo já poder partilhar os motivos da nossa tensão e mal estar ( nada mais do que isto se passa nas escolas, segundo MLR) e por isso envio o texto em que comunicamos não ir entregar os Objectivos Individuais.
Não sei se há colegas que vão preencher a aplicação online, mais uma ilegalidade, mas o medo pode muito e aqueles que se escandalizam com os deslizes da Drª Manuela Ferreira Leite são especialistas em promover estratégias de pressão nada democráticas.

Maria Amélia Vieira, professora
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Exmª Senhora Ministra da Educação,

Com o devido respeito e porque, a avaliar pelas declarações de Vª Exª, tememos que não lhe sejam dadas a conhecer as reflexões/ tomadas de posição da maioria dos estabelecimentos de ensino sob a tutela de Vª Exª, enviamos-lhe as preocupações e resoluções dos docentes abaixo-assinados deste Agrupamento Vertical de Escolas da Areosa.

As preocupações que nos afligiam quando em Fevereiro deste ano elaborámos o texto que agora remetemos em anexo, basicamente mantêm-se e em muitos pontos agravaram-se. È certo que a equipa ministerial autorizou a atribuição ao avaliador de 1 hora de redução por cada quatro docentes a avaliar. Esta medida é manifestamente insuficiente, pois só para a elaboração, discussão, formalização e aprovação dos materiais de registo de evidências já foram gastas as horas previstas para reuniões até ao fim do 2º período e ainda estamos em Novembro. Disse Vª Exª que tal se deve ao facto de as escolas não saberem trabalhar e esse aspecto dever ser melhorado. Nós respondemos que trabalhámos a fundo, pesquisámos, discutimos, elaborámos materiais, reformulámos fichas e calendários, sempre na procura de cumprir os princípios previstos para a ADD. Com o devido respeito, consideramos que é Vª Exª quem não ponderou devidamente o peso da máquina que quis pôr a funcionar ao não experimentar, e ao não avaliar a pequena amostra que o processo simplificado, executado no último ano lectivo, proporcionou. O importante não foi que “ apenas 7% dos avaliados” atingiu Muito Bom ou Excelente, o importante é que a maioria foi avaliada administrativamente e classificada sem qualquer diferenciação. Poucas reclamações? Naturalmente. O processo não é transparente, terminou quando muitos professores já tinham mudado de escola, alguns ainda hoje não sabem o seu resultado e, além disso, será que manteriam os seus lugares se reclamassem?

É certo que se realizou alguma formação sobre o tema, embora entendamos que o mais correcto seria dizer que se realizou formatação sobre o mesmo. Uma percentagem mínima de professores ( avaliadores, avaliados, elementos de conselhos executivos e de CCADs) teve acesso a essas acções. Realizaram-se em tempo oficial de férias, ou em horário pós-laboral a terminar às 22 horas, depois das aulas e das reuniões e reuniões que todas as semanas assolam os docentes. Os formandos saíram delas com uma enorme sensação de vazio ( sugerimos que Vª Exª peça para ler as reflexões efectuadas no final das mesmas acções ), com a mensagem máxima que era preciso simplificar. O mesmo dizem as “ brigadas de apoio”. Mas simplificar como? Simplificar o quê?

Como se simplifica uma definição de objectivos individuais ( até o termo é contraditório quando tanto se apela à partilha e ao trabalho de equipa em cada conselho de turma/ departamento) em que somos obrigados a comprometermo-nos com percentagens de sucesso? A um atleta olímpico, que depende de si próprio a 80%, não se podem exigir medalhas ( palavras do senhor Secretário Geral do Desporto) a um professor pode-se exigir que garanta um sucesso real de x%, quando o seu trabalho é afectado pela qualidade da massa humana que tem pela frente, pelo apoio que ela recebe no seu nicho ecológico, pelas condições sociais que a rodeiam, pela escolaridade anterior que já tem. Neste aspecto, a única saída correcta, seria aplicar a resolução do CCAP e não incluir os resultados escolares dos alunos.

Como se pode exigir a definição de metas relativas ao abandono escolar, quando temos alunos que só vêm à escola esporadicamente, de maneira a conseguir o código de acesso para o programa e-escola e o rendimento social de inserção dos pais?

Como se simplifica o assumir que se vai fazer formação em determinada área, quando os centros de formação de professores estão paralisados e esse direito, consagrado no ECD, não é garantido?

Como observar as aulas previstas para cada avaliado, concentradas em dois períodos sem afectar a monitorização da nossa própria componente lectiva? E não se diga que um colega nos vai substituir e lhe deixamos o plano de aula. Então o nosso compromisso principal não é para com os nossos alunos?

Como iniciar o próximo ano lectivo sem terem terminado as diligências da ADD deste? Ir para férias ( não falamos de interrupção lectiva, falamos de férias ) preencher uma ficha de auto-avaliação com 14 itens de uma abrangência inaudita !!!?

Não, Senhora Ministra!

Não temos ligações a nenhuma cor específica nem somos manipulados. Temos pelo menos uma coisa em comum com Vª Exª: não nos deixamos intimidar. Queremos com isto dizer que a não progressão na carreira não nos aflige. Claro que se a opinião pública pensar, porque Vª Exª lho diz, que os professores são os únicos profissionais do estado que progridem sempre, o Governo fica em posição confortável, mas Vª Exª sabe que não é assim. Vª Exª esquece que muitos de nós não progredimos para lado nenhum? Quem está no último escalão de Professor ou no último de Professor Titular progride para onde?

Queremos ensinar, preparar bem não 3, 4, 5 ou 6 aulas observadas, mas sim a quase totalidade das que ministramos ao longo do tempo que falta deste ano lectivo. Queremos aprender a usar as melhorias tecnológicas a que começamos a ter acesso e utilizá-las de forma rentável. Queremos ser professores a tempo inteiro, vir para a escola com um sorriso e a disponibilidade que um espartilho, como o que nos quer impor, anula por completo.

Por todos estes motivos não iremos desencadear o processo de Avaliação de Desempenho com a entrega dos Objectivos Individuais.

Qualquer professor deste agrupamento que opte por uma posição diferente verá garantidos os seus direitos e será avaliado conforme o disposto no Decreto-Regulamentar 2/2008. Não pretendemos pressionar ninguém.

Em nome do futuro, do interesse dos alunos e da sociedade em geral, pedimos-lhe que reconsidere, que valorize o “trabalho notável que é feito na escola pública” ( palavras suas), se calhar mais ainda em TEIPs como o nosso, e considere a hipótese de avaliação simplificada séria este ano lectivo, efectuada pelos Conselhos Executivos e a reformulação do Decreto- Regulamentar 2/2008, com base nas propostas elaboradas por tantos e tão diversificados grupos de trabalho ( do Conselho de Escolas aos sindicatos e às próprias escolas).

Escola E. B. 2,3 da Areosa, _____________________

Os professores, ( nome, escalão, cargo)