O senhor Almeida continua zangadíssimo com o «snr Guinote» a quem dirige, agora a ritmo diário, diversos impropérios. Mentiroso compulsivo, cobarde, grotesco, caricato, todo o poder de fogo a que é capaz de lançar mão. Que sou fundamentalista, dirão colegas meus de profissão. Acredito. Devem ser os mesmos que o reverenciam e mandam mails quando lhe tocam, ao de leve, muito levemente, na emplumada sabedoria.

Diz que eu escrevo mentiras criminosas e que mostrou documentos que provam o contrário. Não percebo do que fala, pois só me lembro de ser eu a mostrar documentos. Considera-me incompetente e indigno do salário mensal que o Estado me paga.

Apesar disso, acha que deve aceitar um pretenso convite que lhe foi proposto para debater comigo, perante a Comunicação Social, as questões da Educação. O estranho é que a seguir recomenda que eu não aceite o repto. O senhor Almeida deseja esmagar-me com a sua sapiência estridente e os seus comentários espirituosos em off. Mas como é magnânimo abre-me a porta para que eu não aceite ser demolido perante testemunhas. O senhor Almeida é, pois, alguém com bom coração.

A verdade é que ele sabe que o «snr Guinote» não gosta muito de usar fato e gravata (casamentos, defesas de tese e foi porque me avisaram a tempo desta vez) e pode ter receio de ficar mal na fotografia perante o garbo e porte altivo do senhor Almeida. Que intimida quando dá aquele balanço de corpo de quem vai partir à desfilada. Já eu sou um tipo desgrenhado, nada fotogénico.

Mas sabe ainda o senhor Almeida, por certo, que o «snr Guinote» aprendeu com os seus ascendentes a distinguir o trigo do joio e uma provocação de questões sérias. E não se deixa levar por tácticas arruaceiras.

A verdade é que aqui o «snr Guinote» espera agora ansiosamente pelo seu correio todas as noites à espera de nova mensagem de escárnio e maldizer. Porque são estes ataques de irritação descontrolada, à beira da apoplexia verbal, que acabam por dar um pouco de colorido ao final de um dia de trabalho. São, no fundo, a prova de que uma parte da minha missão está a ser cumprida. A de revelar a verdadeira face daqueles que querem a toda a força «dar a cara», aparecer, ser vistos, mas depois não percebem que não devem medir os outros pela sua escassa medida.