Mais de dois mil professores em protestos organizados por sms e email
Mais de dois mil professores concentraram-se hoje no Porto, Leiria e Caldas da Rainha, em protestos convocados por sms, correio electrónico e blogs, numa iniciativa à margem das estruturas sindicais destinada a contestar a actual política educativa do Governo.
Na baixa do Porto, a manifestação na Avenida dos Aliados chegou a reunir perto de um milhar de professores, convocados por sms, mas a chuva que caiu durante a tarde levou muitos deles a desmobilizarem pouco depois.
Empunhando lenços brancos, os professores voltaram a exigir a demissão da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. “Chega de humilhação, com esta ministra não”, era uma das palavras de ordem gritada pelos manifestantes, numa altura em que a tutela avança com o polémico processo de avaliação dos docentes.
Já perto do final da concentração, agentes da PSP pediram a identificação de várias pessoas, alegando que estavam a tomar parte de uma concentração ilegal que não foi autorizada pelo governo civil. A iniciativa dos agentes gerou protestos dos presentes, que denunciaram o clima de intimidação promovido pelo actual executivo. “Vamos ficar na lista negra. Estão a querer queimar pessoas”, dizia uma docente a PSP pediu os documentos, enquanto um colega lamentava que a polícia não actuasse da mesma forma quando se realizam manifestações de apoio ao Governo.
Fátima Inácio, que durante a manhã estivera num protesto semelhante nas Caldas da Rainha garantia que “vai haver mais manifestações como estas” nos próximos tempos. “Está-se a criar um sentimento de desmotivação tão grande que os grupos de pessoas estão a organizar-se espontaneamente”, sublinhava.
Quatrocentos manifestantes nas Caldas
Cerca de 400 professores do ensino básico e secundário, oriundos na sua maioria das regiões Norte e Centro, reuniram-se durante a manhã num protesto idêntico na escola secundário Raul Proença, nas Caldas da Rainha.
Na reunião, convocada por meio de emails e de blogues, foi decidido avançar com a constituição de uma associação, que terá entre as suas prioridades a “contestação judicial” de medidas previstas no modelo de avaliação dos professores, nomeadamente as disposições que penalizam, em termos de progressão de carreiras, os professores que faltaram por motivos de doença, adiantou ao Público Mário Machaqueira, professor de Filosofia e um dos organizadores da reunião.
Machaqueira insistiu que a decisão de avançar para a constituição de uma associação não constitui um gesto contra os sindicatos: “Não estamos aqui para dividir, mas sim para acrescentar, para ser um complemento do trabalho dos sindicatos”, disse, embora reconhecendo que existem críticas em relação aos que estes “deviam ter feito e não fizeram”.
Em declarações ao Público, Mário Nogueira, presidente da Federação Nacional dos Professores, saudou estas últimas movimentações de professores. Segundo o dirigente sindical, estas manifestações espontâneas são demonstrativas da insatisfação que reina entre os docentes: “O importante é combater esta política educativa”, frisou.
Em Leiria, seriam cerca de 800 os professores que esta tarde responderam à convocatória e que, à semelhança do que aconteceu na cidade vizinha, decidiram avançar para a criação de um movimento cívico.
Nota: O Mário é Machaqueiro.
E está de parabéns, juntamente com o António, o Francisco Trindade e o Francisco Santos, entre muitos outros.
O mesmo para o grupo do Porto. Parecendo que não, é muito o que conseguiram.
Não estive em lado nenhum, estive apenas em família, mas louvo todos os que se reuniram e manifestaram, que saberão contar com todo o apoio para divulgação das suas iniciativas. Hoje o Umbigo, blogue de um mero professorzeco, está com um nível de entradas acima de quase todos os blogues «de referência», de autores de nomeada, gente mais do que conhecida por aí. Isto serve não apenas como consolo pessoal pelo tempo gasto, mas como forma de encorajar todos os que acham que a resistência é inútil e que as acções de espontâneo protesto não interessa.
Porque não estamos sozinhos e, pelo contrário, somos muitos e devemos fazer ouvir a nossa voz.
Pelo contrário, estas iniciativas interessam tanto mais quanto sejam a expressão de uma vontade imensa de desagravar a pública humilhação a que os professores têm sido sujeitos por uma meia dúzia de pessoas com evidentes questões por resolver na sua forma de se relacionarem com uma classe profissional que tudo tem suportado de forma digna e cívica, apesar das ofensas que repetidamente lhes são dirigidas sem fundamento, com recurso à distorção de factos e números e a constantes atropelos às regras básicas do Estado de Direito.
Fevereiro 23, 2008 at 9:34 pm
Tudo isto indicia já o crepúsculo da D. Lurdes. Vai acabar, e bem, como o Correia de Campos. É lançada às feras do Circus Mediaticus até conseguir sobreviver. Na hora devida César baixará o polegar. A pressão da rua e os abundantes dislates legislativos do ME podem ou não apressar o processo. Fingers cross!
Fevereiro 23, 2008 at 9:40 pm
Eu não creio…se a demitem cai por terra a política de força…já foi um agora irá outro?
Fevereiro 23, 2008 at 10:01 pm
Eu diria que não chega à Páscoa. O Sr. “Engenheiro” é muito sensível à perda de votos.
E noto que estas serão (d)as primeiras manifestações em Portugal – de qualquer classe trabalhadora – que são “espontâneas”, ou seja movidas pela própia classe e não por sindicatos. Isto pesa muito. É que o descontentamento é mesmo geral. Na minha escola, quem se pode reformar, mesmo com as penalizações todas,ou já foi, ou vai-se embora até ao final do ano.
Já pensaram se em qualquer empresa particular, a administração em vez de “trabalhar” com os empregados, procurando que estejam motivados para melhor produção, esteja sempre a insultá-los e a enfernizar-lhes a vida com milhares de papéis para preencher e etc?. Por exemplo, para cada peça feita numa metalomecânica o trabalhador teria que fazer imensos relatórios sobre como e o que fez, e ainda uns tantos relatórios sobre os outros trabalhadores? E isto dentro do horário de trabalho, claro! Lá ia a empresa à falência.
É isto que este governo está a fazer (e se calhar, nem dá conta, por falta de visão e inteligência)
Fevereiro 23, 2008 at 10:27 pm
De José Gomes Ferreira, sai uma “pérola”: este é outro que ainda não percebeu nada de nada!
“Por um lado, tornámo-nos cada vez mais exigentes. Por outro lado, há de facto um divórcio cada vez maior entre o país real e os centros de decisão.
Os sinais de mal-estar não vêm só, nem principalmente, das greves e manifestações. Essas são feitas, em grande parte, por quem beneficia de situações de privilégio que os sucessivos governos não quiseram acabar. Felizmente que este Governo está a resolver algumas dessas situações. “
Fevereiro 23, 2008 at 10:27 pm
António, pergunta se “Já pensaram se em qualquer empresa particular, a administração em vez de “trabalhar” com os empregados, procurando que estejam motivados para melhor produção, esteja sempre a insultá-los e a enfernizar-lhes a vida com milhares de papéis para preencher e etc?.”
Já assisti ao desmantelamento da CELCAT Portugal (empresa que tinha o monopólio da venda de cabos no mercado nacional), por um engenheiro inglês pago pela multinacional com sede no Reino Unido, que utilizou “estes métodos” para pôr simplesmente na rua milhares de trabalhadores. Também utilizaram para o serviço “capatazes” que no caso do Ensino são os presidentes dos conselhos executivos.
“Métodos científicos”!
Fevereiro 23, 2008 at 10:30 pm
“acima de quase todos os blogues «de referência»”
peço desculpa por discordar. este blog é “de referência”.
Fevereiro 23, 2008 at 11:52 pm
“Hoje o Umbigo, blogue de um mero professorzeco, está com um nível de entradas acima de quase todos os blogues «de referência», de autores de nomeada, gente mais do que conhecida por aí. Isto serve não apenas como consolo pessoal pelo tempo gasto, mas como forma de encorajar todos os que acham que a resistência é inútil e que as acções de espontâneo protesto não interessa”
PARABÉNS Paulo e continue apesar de todos os ataques que lhe querem faazer, mas lembre-se “Os cães ladram e a caravana passa”
Fevereiro 24, 2008 at 6:54 am
A analogia do António Carvalhal é óptima. Mas aqui há que juntar a repressão pidesca e o facto de alguns trabalhadores já terem sido assassinados pelas juntas médicas que os mandaram morrer a trabalhar. Este M.E. já fez mártires. Estas manifestações deviam levar as suas imagens. Nunca tal loucura se viu em “democracia”!
Fevereiro 24, 2008 at 8:40 am
Caro Paulo
Obrigado pela transcrição da notícia e pela correcção do meu nome. É sina dos Machaqueiro que os outros raras vezes acertem no raio do nosso apelido!
Agora para os outros colegas: cuidado com os triunfalismos prematuros, que podem ser desmobilizadores! A ministra da educação está muito longe de ter a demissão à vista e, de resto, de pouco importa que ela seja demitida se as políticas do Ministério continuarem todas de pé. É contra as políticas que vamos ter de continuar a lutar, sem esmorecer, num combate que vai ser duro e longo. Não se iludam!
Fevereiro 24, 2008 at 8:57 am
Parabéns!
O melhor a fazer é, de facto,manifestações públicas. Penso que seria mais eficiente por razões de presença noticiária, fazerem-se manifestações em diferentes dias e em diferentes localidades, com um calendário prévio.
Quanto a manifestações gerais deveriam ser escolhidos prazos em que haja visitas de personalidades estrangeiras ou congressos internacionais onde haja a presença de imprensa estrangeira, dado o Governo estar interessado em fomentar, para fora uma boa imagem.
Um abraço solidário.
António Justo
Fevereiro 24, 2008 at 9:23 am
Duvido do optimismo de alguns!
O comportamento do ME tem sistema. No que tenho podido observar quanto à atitude do ME para com os professores de Português no Estrangeiro, apesar das irregularidades sem conta e de arbitrariedades mesmo contra a lei, a tutela permanece sistematicamente surda-muda. O que fazem agora com o professorado em geral, foram-no exercitando durante os últimos dez anos com os professores enviados para o estrangeiro. Têm levado a sua àvante usando da tática do ignorar. Os funcionários do ME comportam-se como autistas. No meu blog, http://justo.blog.comunidades.net
podem certificar-se do que acontece.
cmc
António da Cunha Duarte Justo
Fevereiro 24, 2008 at 10:36 am
Parabéns a todos os que têm mostrado a sua indignação em Leiria, no Porto, em Aveiro, na Marinha Grande, nos blogues, nos jornais e nas escolas do país e estrangeiro.
Parabéns ao Paulo, que vem há anos, a perder horas e horas neste trabalho cívico, proporcionando aqui a união de uma classe que andava tão desunida.
Vais ficar na História da Educação em Portugal, não tenhas dúvidas.
Fevereiro 24, 2008 at 2:32 pm
E da boca do poeta saem palavras de força e incentivo:
O Futuro – José Carlos Ary dos Santos
Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.
O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.
Fevereiro 24, 2008 at 9:45 pm
A Luta dos professores é a Luta de todos os Portugueses !
Solidariedade para com todas as vítimas deste governo de destruidores da nossa Nação.
Luís Cruz Guerreiro