Estou longe, mesmo muito longe, de apreciar o anterior PM.
Mas… não posso deixar de reparar que muitos dos que defendem que toda a sua vida financeira e fiscal deve ser do domínio público, mesmo com as investigações sobre ele em segredo de Justiça, são os mesmos que defendem que qualquer detalhe sobre a vida financeira e fiscal do actual PM e outras “personalidades” deve ser mantida sobre reserva em nome do “direito à privacidade”.
A favor da teoria de MST no Expresso de ontem está a sua coerência nos últimos anos, a qual passa por defender a maioria dos poderosos-mesmo-poderosos com problemas com a Justiça (Sócrates, Salgado, Passos Coelho), apenas se continuando a mostrar feroz como outrora com os varas miúdos.
No meu caso, acho que a casta política que se perpetua e reproduz no poder nas últimas décadas deve estar sujeita ao mesmo tipo de escrutínio público que existe em outras democracias que nos apontam como modelares. Lá fora, até republicanos empedernidos como o Jeb Bush se afastam de todos os cargos que ocupam no sector privado quando se decidem por uma eventual candidatura presidencial. E atenção que estamos a falar de alguém que representa mesmo uma das linhagens políticas mais conservadoras da sociedade americana.
Por cá, quem vai para a “vida pública”, gerir a “coisa pública”, faz tudo por manter-se em todos os seus poisos habituais, por manter “privada” a sua vida profissional e fiscal, não compreendendo que é isso que nos faz suspeitar quase de imediato que algo de estranho se passa, em especial quando a implementação de “filtros” coincide no tempo com a revelação de pormenores maiores sobre incumprimentos diversos das obrigações de certas figuras que se querem exemplares e que afirmam que os “pol+iticos não são todos iguais”.
Se não são, demonstrem-no.
Março 22, 2015 at 3:35 pm
MST estudou Direito, não para apoiar a aplicação da Justiça, antes para conhecer os furos da lei que lhe permitam tirar vantagens. Algo semelhante àquilo que, na gíria futobolística, se designa por “fazer anti-jogo”. Pelo menos foi assim que eu entendi a sua última intervenção.
Mas o destaque dado às divergências insanáveis entre MST e outros opinadores tem uma consequência mais importante. Vai servindo para escamotear a capitulação do PS, PSD e CDS.
Março 22, 2015 at 3:45 pm
Na história da carochinha, havia uns subalternos que, por sua iniciativa – o apelo do empreendedorismo… -, resolveram criar um sistema de “alarme fiscal” (já cá tínhamos o “alarme social”, mas este agora parecia destinado a funcionar ao contrário…) que protegeria os figurões, mormente os da política, de verem os seus dados fiscais eventualmente devassados.
E, incompreensivelmente, tanto zelo não comoveu o PM – por coincidência, um dos protegidos do sistema e que, para cúmulo dos azares, já tinha razões de queixa nessa matéria – que, em conformidade, esticou a corda para ajudar ao linchamento público dos funcionários-vítimas-sacrificiais.
O problema, o grande problema destas historietas – incluindo aqui as trafulhices contributivas de PC, claro – é que mexem com aquilo que cala mais fundo nas pessoas: sentirem que não existe Justiça, que a Lei não é igual para todos (coisa que para MST é incompreensível – mas que nos faz compreendê-lo cada vez melhor… ).
E, desse modo, provocam, primeiro, uma sensação de estupefação e de impotência e, depois, um sentimento de raiva, que é aquilo que torna a reacção das massas mais efectiva e contundente na política (não, não são as questões ideológicas, as fracturantes ou até as sociais: olhem para a História), razão pela qual estes casos são aqueles que causam os danos maiores nos governantes e no sistema.
Março 22, 2015 at 4:03 pm
Março 22, 2015 at 5:10 pm
Eu acho, e a não ser que o AKM me contradiga, que o problema é os decisores tornarem privadas coisas públicas ou institucionais. Não são os jornalistas que as não separam. Trabalho é trabalho e bagaço é bagaço. Pão, pão, queijo e fiambre. Quem tem vícios vai para Roma e galinha da vizinha não se chama para a cozinha. Já lá dizia o Jesus Jorge. Começam por pedir ao motorista para ir comprar flores para a amante e acabam a meter água nos submarinos. Começam como pedintes e acabam com os cofres cheios. Metem-se a comprar duplexs nas avenidas e acabam a viver num T0 em Évora. Escutam o que não devem e não ouvem a voz da consciência. Entram pela via sacra da Opus Dei e saem pelas ruas da amargura. E os outros? Os outros estacionam em 3ª fila mas exigem franciscanos a vigiar a baixela.
Março 22, 2015 at 5:36 pm
Vai uma aposta que o MST consta na lista?