O medo começa a instalar-se nos olhares… Não há resultados do PISA que sarem as feridas que recomeçam a sangrar. E o medo e mágoa são maus conselheiros. Mas há quem promova o medo… porque em ambiente de medo, sobrevivem aqueles que parecem destemidos e falam alto… os que fazem bluff… os que nada arriscam…
Um dia disseram-me que iam despedir os professores provisórios. Não quis saber, não era comigo.
Mais tarde disseram-me que iam pôr 5000 professores de EVT no desemprego. Não quis saber, não era comigo.
Mais tarde disseram-me que iam pôr não sei quantos funcionários das escolas no desemprego. Não quis saber, não era comigo.
Depois soube que iam despedir os professores de EMRC. Não quis saber, não era comigo.Depois soube que iam despedir todos os professores das artes. Não quis saber, não era comigo.
De seguida foram os professores de educação musical e educação física despedidos. Não quis saber, não era comigo.Um dia disseram-me que iam acabar com as aulas de História e reduzir o Português, indicando-me a porta de saída. Senti-me mesmo mal e resolvi pedir ajuda aos colegas. Mas não tinha ninguém a quem pedir ajuda e lutar ao meu lado. Tinham sido despedidos debaixo da minha indiferença.
Parece-me que a situação da nossa classe está bem pior do que estava no tempo da D. Lurdes, anestesiados com as falinhas mansas da senhora que está como ministra apenas a colher material para escrever Uma Aventura no Ministério da Educação. Não sei o que vamos fazer, mas temos de fazer algo. Temos que começar a conversar e a lutar.
Dezembro 15, 2010 at 11:19 am
Bela introdução.
Dezembro 15, 2010 at 11:19 am
Embora me sinta traída, pelos meus colegas, embora não me sinta pertencente a uma classe coesa, embora esteja sozinha, embora seja orfã de sindicatos, da tutela, do estado…
Ainda tenho forças para esbracejar e espernear.
Dezembro 15, 2010 at 11:40 am
Amanhã já é tarde! Temos que começar JÁ! Há Directores que estão já a prevenir os docentes das consequências que estes “cortes” vão proporcionar, dizendo a cada grupo disciplinar quantas baixas irão ocorrer. É catastrófico! Ainda ontem comentava, com outros colegas, que assusta-me que haja um grande número de professores demasiado distraídos com todas estas medidas. A verdade é que temos que começar por algum lado, mas talvez pelo desânimo e pelo desgaste não sabemos muito bem por onde. Está mais do que na altura de dizermos basta!(Espero que não seja tarde)Confesso que as minhas energias foram abaixo, depois de me aperceber que gritei, muitas vezes, quase sozinha, nas escolas por onde passei, mas navegar por este blogue ainda me faz acreditar que há muitos professores como eu. Portanto, vamos unir esforços, mesmo que alguns colegas noutros tempos nos tenham deixado sozinhos.
Vamos ter que pensar com urgência em novas formas de luta, sem medo, porque quem outrora quebrou a corrente por medo, entregando objectivos, pedindo aulas assistidas, devem já ter constatado que, na maioria dos casos, de nada adiantou, porque de uma forma ou de outra, uns mais outros menos: TODOS SEREMOS AFECTADOS.
Cumprimentos
Dezembro 15, 2010 at 12:08 pm
Eu acho que só quando “doer” mesmo é que as pessoas vão acordar (e mesmo assim tenho dúvidas em relação a algumas…)
Quanto aos bem colocados, adesivados e preferidos dos directores também alguns vão passar um mau bocado.
Solidariedade zero.
Dezembro 15, 2010 at 12:48 pm
[…] This post was mentioned on Twitter by Luis Azvdo Rodrigues, Paulo Guinote. Paulo Guinote said: A Circular Por Mail http://bit.ly/fi4gzt […]
Dezembro 15, 2010 at 1:47 pm
Para a cultura geral… o texto tem o estilo do
“First they came…” de Martin Niemöller
http://en.wikipedia.org/wiki/First_they_came%E2%80%A6
Dezembro 15, 2010 at 2:05 pm
Não é com argumentos deste género que os professores, sejam eles de que grupo disciplinar for, vão levar a mensagem aos colegas adormecidos. E confesso que me desgosta esta mensagem fatalista. Penso que não é assim que se resolvem os problemas!
Lembro que nas manifestações, os professores presentes eram na sua maioria aqueles a quem hoje muitos designam por instalados! E lembro o agradecimento aos colegas que se reformaram porque assim aumentavam o número de horários!
Sei que na escola onde lecciono os primeiros a “querer agradar” não tiveram capacidade para perceber que estavam a legitimar medidas injustas, grelhas idiotas e tudo o que foi feito sem transparência! (a culpa não é só dos directores!) Se legitimaram agora é tarde e não se venham queixar… Estas atitudes foram bem lidas pelo ME para continuar o desvario, quebraram o potencial da contestação e a esperança de um grupo profissional…
Agora só a via jurídica e o voto fora do centrão. Serão poucos a ter a coragem de o fazer mas são para esses toda a minha solidariedade e apoio.
Dezembro 15, 2010 at 3:12 pm
A história está cheia de indiferenças, assim gritaram poetas como Brecht, Mayakovsky e tantos outros…
O que é certo é todos (sem excepção e a seu tempo) pagaremos bem caro se nada fizermos.
A indiferença
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
Bertolt Brecht(1898-1956)
…………………
Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.
– Mayakovski (1893-1930)
Dezembro 15, 2010 at 3:17 pm
Muitas pessoas estão à espera qie tudo rebente, que se chegue ao limite, como em 2008. E esquecem que cada qual terá a sua atitude a tomar. Mas concordo com o último apelo desse mail. Só que não será “começarmos” (?!?!)a falar e a lutar. Há quem todo este tempo não tenha desistido e que pelo menos individualmente tenha recusado colaborar com este sistema perverso. Agora temos de juntar esforços, tomar posições conjuntas.
http://umaaventurasinistra.blogspot.com/2010/10/e-siga-vidinha-abram-os-olhos.html
Dezembro 15, 2010 at 3:18 pm
Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis
Miedo
Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da
El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
Tenho medo de ascender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se aprieta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo… que dá medo do medo que dá
Miedo… que da miedo del miedo que da
Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis
Dezembro 15, 2010 at 3:28 pm
da CIP, com amor
(dá para perceber? Dá? Não dá?)
“… os processos de negociação colectiva poderão ser alargados a outras estruturas, como comissões de trabalhadores, isto “em empresas com mais de 200 ou 300 pessoas”, uma vez que “os sindicatos se têm mostrado pouco disponíveis para acolher novas ideias e soluções””
http://economia.publico.pt/Noticia/patroes-preveem-reducao-das-indemnizacoes-por-despedimento_1471092
Dezembro 15, 2010 at 3:52 pm
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O Medo vai ter tudo
que se tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
____Alexandre O’Neill
Dezembro 15, 2010 at 3:57 pm
Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in ‘Cântico do Homem’
Dezembro 15, 2010 at 4:00 pm
Vai-te, Poesia!
Vai-te, Poesia!
Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.
Vai-te, Poesia!
Não quero cantar.
Quero gritar!
José Gomes Ferreira
Dezembro 15, 2010 at 4:01 pm
Adesivados/as para a Venezuela.
Março, já é tarde.
Dezembro 15, 2010 at 4:16 pm
Promover o medo?…
Não será antes confrontar as pessoas com a realidade que as assusta, a ver se elas acordam?…
Dezembro 15, 2010 at 4:18 pm
já é oficial a fuga de informação referida em #11
Portanto, como, tecnicamente, cada escola é uma empresa, toca lá a negociar escola a escola. 😛
Dezembro 15, 2010 at 4:21 pm
“entre 200 e 300 pessoas” é exactamente 250 pessoas
Dezembro 15, 2010 at 4:24 pm
Traditores:
http://www.profblog.org/2010/12/mais-uma-transferencia-de-peso-de-um.html
Dezembro 15, 2010 at 4:30 pm
Isto está a ficar lindo…e o pessoal continua sereno.Pensa que é só fumaça!
Dezembro 15, 2010 at 4:40 pm
só nos têm tratado mal…o desespero é enorme…ontem uma colega desabafou a chorar dizendo que não tinha de tomar comprimidos para poder exercer a profissão…já não aguenta tanta humilhação…não esquecer que há professores que têm CEF e Profissionais que são literalmente massacrados pelos alunos…
bela música para animar…
Dezembro 15, 2010 at 4:53 pm
#21
Denúncia pública dos massacres que não tenho dúvida que são verdadeiros.
Pedido de indemenização cível sobre danos morais e profissionais se a escola não actuar! Já há processo a correr.
Dezembro 15, 2010 at 4:55 pm
Temos o que merecemos! Confiámos nos sindicatos, continuamos a pagar as quotas e agora choramos???? Vamos mas é à luta! Tive um momento de fraqueza e entreguei pedido de observação de aulas. Hoje fui retirá-lo e senti-me outra vez EU!!!
Dezembro 15, 2010 at 5:04 pm
#22
claro que não…os professores estou todos com muito medo…muita angústia…na minha escola nestes últimos anos os casos de doenças têm sido alarmantes…acho que está tudo relacionado…até já se comenta…mas nada se faz…e o problema é que os directores querem é resultados…nada de abandono escolar, nada de insucesso…custe o que custar…a minha colega, que por sinal é uma excelente profissional, só se interroga por que é os profesores com o seu nível cultural têm de ser maltratados por alunos tão mal educados e sem nenhuma formação e ninguém nos protege…não se vê isso nas outras profissões…
Dezembro 15, 2010 at 5:06 pm
#23
excelente exemplo…consciência tranquila é o melhor do que MB e EXC…
Dezembro 15, 2010 at 5:20 pm
Dezembro 15, 2010 at 5:28 pm
#24
Quem cala, consente! Os directores só querem resultados enquanto os professores calarem. Tirem cópias de todos os documentos, apresentem toda a informação por escrito e não por boca como é comum nas escolas. E recorram ao apoio judicial dos sindicatos, da ordem dos advogados e de advogados paticulares… E peçam sempre indeminações monetárias!
Os professores não voltaraõ a ser respeitados enquanto não fizerem por isso! Deixam que deves façam gato e sapato! Lamento dizer isto mas é o que eu penso!
Dezembro 15, 2010 at 5:34 pm
Pois eu acho que continuam a navegar em círculos.
Entontecidos, claro!
Ou concentrados na “vidinha”, à espera que outros façam a luta em vez de assumir cada um a sua quota parte.
Quando acordarem já será muito tarde!
Dezembro 15, 2010 at 6:03 pm
Há quem ande a leste do que ainda há de alguma resistência.Não se informam, a não ser que lhes entre pelos olhos adentro.
Paulo, e que tal um anúncio ao Umbigo na TV, no intervalo das telenovelas?
Há uns anos, qualquer cidadão que quisesse anunciar a publicação do seu livro ou de outro produto cultural, tinha direito a uns preços muito razoáveis na publicidade. Se sobrar algum das verbas do Parecer…:D
Um anúncio sugerindo a consulta do blogue, a quem etivesse contra a ADD . Que tal?
Dezembro 15, 2010 at 7:22 pm
Se os professores que pediram aulas assistidas retirassem esse pedido e não se entregasse nenhuma ficha de auto-avaliação, isto ia estourar.
Dezembro 15, 2010 at 7:46 pm
Estes, até na fofotanga seguem a política do ME.
Canalhas!
Lembram-se, em algum momento anterior, de alguma manifestação de solidariedade para com os mais fracos, os contratados?
Esta postura de indiferença sempre foi promovida e cultivada por esses estercos dos sindicatos. Colham-lhe agora os louros e não sejam hipócritas.
Dezembro 15, 2010 at 8:30 pm
Metam na cabeça que não é a conversar que se resolve seja o que for.
A situação requer medidas drásticas, nunca antes vistas no sector da Educação.
Mas, como vejo todos os dias, está tudo anestesiado e concentrado só na candidatura ao muito bom e excelente e na convicção de que vão mudar de escalão nos próximos anos.
Eu confesso, às vezes penso que é deixar andar porque estas pessoas só acordarão quando estiverem a cair do precipício!!!
Dezembro 15, 2010 at 10:41 pm
para quem quiser saber a origem do dito.
http://en.wikipedia.org/wiki/First_they_came…
Martin Niemöller merece ser conhecido http://en.wikipedia.org/wiki/Martin_Niem%C3%B6ller
Vale a pena ler também a resposta que deu à pergunta sobre porque chegou a ser apoiante de Hitler.
“After his former cell mate, Leo Stein was released from Sachsenhausen to go to America, he wrote an article about Niemöller for The National Jewish Monthly.[2] Stein reports that having asked Niemöller why he ever supported the Nazi Party, Niemöller replied:
I find myself wondering about that too. I wonder about it as much as I regret it. Still, it is true that Hitler betrayed me. I had an audience with him, as a representative of the Protestant Church, shortly before he became Chancellor, in 1932. Hitler promised me on his word of honor, to protect the Church, and not to issue any anti-Church laws. He also agreed not to allow pogroms against the Jews, assuring me as follows: “There will be restrictions against the Jews, but there will be no ghettos, no pogroms, in Germany.”
I really believed, given the widespread anti-Semitism in Germany, at that time—that Jews should avoid aspiring to Government positions or seats in the Reichstag. There were many Jews, especially among the Zionists, who took a similar stand. Hitler’s assurance satisfied me at the time. On the other hand, I hated the growing atheistic movement, which was fostered and promoted by the Social Democrats and the Communists. Their hostility toward the Church made me pin my hopes on Hitler for a while.
I am paying for that mistake now; and not me alone, but thousands of other persons like me.”
Dezembro 16, 2010 at 12:35 am
Chegou a hora de dizer basta.
Ontem já era tarde. Temos de começar já. Amanhã talvez já seja tarde!…
Dezembro 16, 2010 at 12:01 pm
Forma muito inteligente de recordar o que em tempos passados, mas não tão distantes como isso ocorreu no mundo.Brecht soube alertar as consciencias para os crimes e arbitrariedades do poder. Saibamos nós, professores, também cerrar fileiras e não permitir que tempos desses voltem a acontecer.(mas que estamos perto isso estamos!).
Festas Felizes.