O prazer que me dá publicar este texto, depois das minhas trocas de mimos com o autor, só eu sei.
😉
A minha recordação de Manuela Ferreira Leite
Em 1993, se a memória não me trai, integrei uma delegação de um sindicato que foi recebida por Manuela Ferreira Leite, então Ministra da Educação do XII Governo Constitucional. Era a primeira vez que me encontrava com um membro do governo e, preocupado com questões protocolares, tratei de perguntar ao presidente do sindicato como é que se devia tratar um ministro. Ele sorriu perante a pergunta e com toda a experiência acumulada ao longo de muitos anos respondeu: “Nada mais simples meu caro. Quando nos dirigimos a um ministro dizemos ‘Sr. Ministro’ para frente, ‘Sr. Ministro’, para trás.” Depois fez uma pausa e acrescentou: “Quando estamos muito zangados usámos a expressão Vossa Excelência”.
No dia aprazado subimos ao último andar do Ministério da Educação e fomos conduzidos a uma sala com uma enorme mesa. Fomos informados de que a senhora ministra em breve iria ter connosco. Ficámos de pé a aguardar. Passado algum tempo Manuela Ferreira Leite entrou na sala. Vinha sozinha, sem assessores, e vestia um simples casaco de malha. Sorriu, cumprimentou todos os presentes e convidou-nos a sentar. Da sua figura e posteriormente do seu discurso emanava uma sensação de força. Ela era, pelo menos aos meus olhos e naquele instante, a imagem do poder político em todo o seu esplendor.
O que estava previamente combinado é que o presidente do sindicato faria uma breve introdução genérica às preocupações que nos levaram a solicitar uma audiência e depois passaria a palavra aos outros membros da delegação que abordariam assuntos mais específicos. A ministra da educação ouviu atentamente o presidente do sindicato e este, a certo momento, disse algo do género: “Temos a percepção de que existem algumas áreas em que o Ministério da Educação não funciona muito bem.” Manuela Ferreira Leite interrompeu-o e retorquiu: “O Ministério da Educação não funciona mal. O ministério não funciona de todo.” E continuou contando as inúmeras resistências que estava a enfrentar para solucionar os problemas com que se tinha deparado, partilhando connosco exemplos de muitas batalhas que tentava desesperadamente vencer. Na minha ingenuidade e inexperiência em termos sindicais comecei a ver a ministra como uma espécie de heroína a lutar contra a máquina burocrática da 5 de Outubro.
O presidente do sindicato passou então a palavra a um dos membros da delegação que expôs um problema concreto relacionado com a Inspecção-Geral da Educação. Pouco tempo antes Manuela Ferreira Leite tinha nomeado para Director Geral uma pessoa, da sua confiança política, oriunda do Ministério das Finanças. Temia-se que aos Inspectores da Educação fossem atribuídas funções de inspecção financeira subalternizando funções relacionadas com a área educativa. A ministra ouviu com atenção as preocupações do sindicato e, posteriormente, começou por afirmar que não tinha intenção de mexer nas competências dos inspectores mas somente de alargar o seu leque de intervenção. Os receios agravaram-se perante esta declaração.
Manuela Ferreira Leite prosseguiu afirmando que por vezes as primeiras impressões são determinantes na condução política. Quando chegou ao ministério, disse, teve que tomar uma das suas primeiras decisões relacionadas com um caso disciplinar. Um determinado aluno numa escola, que não identificou, dirigiu palavras obscenas a uma sua colega de turma, comportamento que deu origem a um processo disciplinar e à correspondente sanção. Dessa sanção houve recurso para instâncias superiores e de recurso em recurso, que envolveu dezenas horas de trabalho por parte de diversos inspectores na hierarquia do ministério, o enorme dossier aterrou na sua secretária para que tomasse uma decisão final sobre o incidente.
Depois de discorrer um pouco sobre este caso parou, olhou-nos a todos, e exclamou: “Se fosse com uma das minhas filhas eu saberia o que fazer. Esperava o aluno à porta da escola e espetava-lhe um par de bofetadas que era o que ele merecia desde o início!”
Fiquei pregado à cadeira e não consegui articular uma palavra. O seu ideário político em matéria educativa tinha sido exposto com uma transparência absolutamente esclarecedora.
Kafkazul
Setembro 24, 2009 at 8:53 am
Ficou pregado à cadeira porque era ele o tal aluno.
Setembro 24, 2009 at 9:24 am
E o que tem de escandaloso o que a MFL disse?! Muitas vezes certos comportamentos de alunos, devem-se à falta de uma bofetada dos E.E. na altura certa!
Setembro 24, 2009 at 9:29 am
Embora a passagem da Senhora pela função não me tenha ficado na memória como algo de positivo, o certo é que, comparando com o que vimos nestes quatro anos, valha.me Deus…
Você, caro amigo KAF… Que nem nome tem…Acaba de escrever um SIMPLES E INÓCUO “FIT DIVERS”
Setembro 24, 2009 at 9:31 am
Perdão: “FAIT DIVERT”
Setembro 24, 2009 at 9:38 am
fight divers…
Setembro 24, 2009 at 9:56 am
E “par de bofetadas” ainda é muito simpático. Comigo, era uma arrochada nas trombas.
Setembro 24, 2009 at 10:06 am
Sou pai de três rapazes (4, 6, 15 anos)
As correntes educaconais e psicológicas, que estão em voga, não me são estranhas.
Quando era adolescente e o mecanismo desarticulava, o meu pai, de quando em vez, repunha-o no devido lugar com um par de bofetadas . Na altura detestava, hoje estou-lhe, imensamente, grato.
Setembro 24, 2009 at 10:19 am
Se fosse com uma filha minha, faria o mesmo que MFL.
Talvez não tivessemos tantos problemas de indisciplina.
É politicamente incorrecto dizê-lo mas é eficiente.
Setembro 24, 2009 at 10:37 am
Se ela disse isso, então ganhou uns pontos na minha consideração. Agora ao votar PSD já engulo menos um elefante.
…Mas o mais importante é arrumar com o “Socas” de vez.
Setembro 24, 2009 at 11:18 am
Obrigado pelo testemunho, Kafkazul. Acabaste de me convencar a votar PSD! 🙂
Setembro 24, 2009 at 11:44 am
Há muitas formas de dar “um par de bofetadas” e eu como mãe já usei este método “pedagógico” algumas vezes com os meus filhos e cá estamos vivos, saudáveis…
Parece-me que como todas as famílias temos uns dias melhores que outros mas existe o essencial – respeito mútuo.
Se em casa houvesse a atenção necessária talvez à escola fosse mais fácil lidar com a diversidade de alunos.
Mas a vida tb não é fácil para muitos pais e nós sabemos que um adolescente em grupo tem um comportamento diferente do que tem em casa.
São muitos os factores que interferem dando muitas vezes origem a uma amalgama explosiva de comportamentos. 😦
Setembro 24, 2009 at 12:32 pm
Um par de bofetadas bem aplicado na altura devida (a chamada “pedagogia directa”) faz melhor que qualquer psicólogo e as suas teorias-de-não-tocar-nos-meninos-que-se-recalcam…
Setembro 24, 2009 at 12:42 pm
é…se não existisse esta corrente de pedopsicologia bacoca oriunda dos anos 90 em que não se pode contrariar o menino, menino não brinca na rua, menino não pode levar palmadas…se calhar, digo eu, se calhar…não tinhamos agora que suportar esta geração Morangos com Açucar cujos melodramas quotidianos giram em torno de ter um mp4 sem marca enquanto o colega do lado tem um ipod.
Uma palmada mereciam os paizinhos que se escandalizam com tão pouco e que alimentam esta “geração rebelde” por não ter tido uma playstation aos 5 anos.
Setembro 24, 2009 at 12:47 pm
Abençoada MFL.
Setembro 24, 2009 at 12:48 pm
Por norma sou avesso a este tipo de atitudes.
Mas há momentos em que, como último recurso e na altura certa, uma palmadinha não faz mal a ninguém e pode ter efeitos profiláticos.
Com tanta imagem de violência pura e dura que grassa pelos meios audiovisuais, essa palmadinha acaba por parecer uma carícia um pouco mais enérgica.
E sinal de que nos preocupamos com os nossos filhos.
E eles compreendem.
E não deixa sequelas psíquicas (nem físicas, claro!)
Chamo a isto “psicologia aplicada”.
Setembro 24, 2009 at 12:50 pm
Mas estão assim tão estupefactos perante um par de bofetadas? Não me digam que nunca puxaram as orelhas aos vossos filhos…E não me digam que se eles fizerem uma coisa grave, não ficam com vontade de lhes pregar um bom par de bofetadas? Depois… do dizer até ao fazer…cada qual reage conforme o seu temperamento.
Setembro 24, 2009 at 12:56 pm
Chiça, o meu bonequinho já é outro e até parece que tem um olho à Belenenses.
Foste tu Guinote. Vai um processozinho por difamação visual?
Outra coisa. Então o José Pinto de “Susa” anda a comer Figos ao pequeno almoço?
Só espero que o seu pequeno almoço na próxima segunda-feira seja mais parco e rançoso.
Setembro 24, 2009 at 12:59 pm
Muito bem.
Setembro 24, 2009 at 1:00 pm
Aconselho a leitura da primeira página …
http://www.fenprof.pt/Download/FENPROF/M_Html/Mid_176/Anexos/PropostaDaFENPROF.ECD.pdf
… e ligar a isto …
ROBERTO ARTUR DA LUZ CARNEIRO 17 de Agosto de 1987 a 31 de Outubro de 1991
DIAMANTINO FREITAS GOMES DURÃO 31 de Outubro de 1991 a 19 de Março de 1992
ANTÓNIO FERNANDO COUTO DOS SANTOS 19 de Março de 1992 a 7 de Dezembro de 1993
MARIA MANUELA DIAS FERREIRA LEITE 7 de Dezembro de 1993 a 28 de Outubro de 1995
Setembro 24, 2009 at 1:24 pm
#17,
À Camões.
Setembro 24, 2009 at 1:36 pm
Kafkazul,
Porque será que o seu testemunho induz uma grande vontade de votar Ferreira Leite?
Setembro 24, 2009 at 2:03 pm
“Todo mundo” – #21
“Porque será que o seu testemunho induz uma grande vontade de votar Ferreira Leite?”
Quiçá … pela mesma razão que a sua pergunta/comentário induz uma grande vontade de não votar em Manuela Ferreira Leite …
Setembro 24, 2009 at 2:15 pm
#22
??????
Setembro 24, 2009 at 2:56 pm
#22,
Quiçá… Mas na verdade não sei, ao certo, porquê.Isto é, não sei, com segurança, qual será essa “mesma razão”.Não me ilucidou. Será que será mesmo “a mesma razão”? Pode explicar melhor?
NB. Distingamos: tenho em grande apreço os seus comentários que tenho lido com regularidade.
Setembro 24, 2009 at 3:10 pm
Abençoada Nelinha! Só se perdem as que caem no chão! Se os pais de certos alunos os mimassem, de quando em vez, com um par de estalos bem dado, nem professores, nem colegas, nem os auxiliares teriam de aturar alguns comportamentos verdadeiramente imbecis e sem justificação. Mesmo fora da escola, estes miúdos dão lições de falta de civismo e de educação.
No entanto, parece que, hoje em dia, tudo traumatiza os meninos. Assim, se eles são caprichosos e mal educados, arranjam-se logo desculpas do foro psicológico para justificar esses comportamentos. Por vezes, quem tem verdadeiros problemas é ignorado e estas criaturinhas “gentis” passam a ser o centro das preocupações de uma escola. Chega a uma altura em que já não há paciência para isto…e dá-nos também a vontade de distribuir pares de estalos. Isto cansa.
Setembro 24, 2009 at 3:24 pm
Grande senhora.
Obrigado Kafka.
Esta foi a tua melhor participação.
A Manuela Ferreira Leite, faria o que eu faria a um filho meu.
De facto, ela é mais esperta do que pensava.
O ME não funciona. Concordo
Obrigado pelo contributo.
Viva MFL.
Setembro 24, 2009 at 3:25 pm
Guinote, não tens mais destas do Kafka.
Adorei ler.
Setembro 24, 2009 at 3:28 pm
“Todo …” # 21
Peço desculpa por meu comentário 22.
Pensava tratar-se de um “xuxa avençado” (…)
Setembro 24, 2009 at 3:41 pm
Este relato fez com que manuela Ferreita leite subisse uns pontos na minha consideração. Não o suficiente para votar PSD, isso nunca; mas um pouco.
E isto por duas razões. A primeira é que Manuela Ferreira Leite compreendeu, ao contrário de Maria de Lurdes Rodrigues, que o Ministério é o problema. A segunda é que, se eu fosse ministro da educação e me caísse sobre a secretária um enorme dossiê sobre um aluno que tivesse dito obscenidades a uma aluna, também eu ficaria com vontade de dar um par de estalos a alguém. Talvez não ao aluno envolvido, mas a alguém.
Setembro 24, 2009 at 3:57 pm
Lá que a protagonista deste romance (biográfico?) é de convicções, isso não o poderemos negar. A apologia do estalo consiste no recurso à tal psicologia aplicada (pelo menos ouvia-se tal designação lá por casa nos tempos de juventude)…
Também ouvi a um seu ex-vizinho(da retratada neste excerto literário) que, quando estudava na escola secundária, o então jovem não tinha uma tarde livre. Numa dessas ocasiões, cruzou-se com a protagonista deste ‘rimance’ no elevador que lhe perguntou, em tom de comando: ‘ então, jovem, a faltar às aulas? E os seus pais sabem disso?’.
Setembro 24, 2009 at 4:09 pm
Tem semelhanças com o discurso de Raskolnikov.
Setembro 24, 2009 at 4:18 pm
#28,
Boa piada na 2ª frase.
Há duas coisas que não dispenso na arte: a subtileza e a ambiguidade, no sentido de possibilitar a reflexão e a abertura para a escolha de um qualquer significado entre muitos.
Por isso, achei interessante a maior parte do texto do Kafkazul.
Por isso, acho a interpretação que ele acrescentou no último período do último parágrafo (e que já não considero testemunho)destruidor do testemunho que bem escreveu.
Também por isso, acho que a política não deve, não pode ser uma arte.
Por isso,também, acho que as teatralizações que o 6º armani anda a exibir por todo o país são canhestras, enganadoras, vazias de valores. São fogos-de-artifício que se extinguem no momento em que se exibem. O problema é que são caros e nós pagá-los-emos. Inevitalmente.
Não será preferível uma chapada espontânea da MFL, a uma calculada e encenada carícia “com delicadeza” e com “a melhor explicação” na boca de cena para depois apunhalar nas teias ocultadas dos bastidores em que este país tem sido governado?
A escolha é livre.
Setembro 24, 2009 at 4:28 pm
PIB Portugal 1976-2009, com enquadramento político
http://www.fliscorno.blogspot.com/2009/09/pib-portugal-1976-2009-com.html
Setembro 24, 2009 at 4:38 pm
Pois e, mas o problema e esse mesmo:
A senhora, tratando-se das filhas, daria um par de bofetadas nos prevaricadores.
Mas logo a seguir, provavelmente iria assinar um despacho que proibiria as bofetadas dentro, e a entrada da escola.
Para os filhos dos politicos, o tempo parou na decada de 60.
Para os outros, e so modernidades e afectos.
Setembro 24, 2009 at 4:39 pm
O ME não tem saneamento fácil – são sucessivas camadas – boys e girls, sobrinhos e afilhados – fossilizadas.
Mas o José Luis Sarmento diz bem – que raio de “metodologia” conduz a um tal processo disciplinar? A escola não está também infetada?
Setembro 24, 2009 at 5:14 pm
Este texto do Kafka é favorável à imagem de MFL.
Fico satisfeito por ela detestar as estruturas do ME, logo eu que sonho com o fim do Monstro.
Setembro 24, 2009 at 5:35 pm
Tens a certeza que foi o nosso Kafka a escrever este texto laudatório de MFL?
Setembro 24, 2009 at 5:44 pm
#37
Deve ter sido, levou estes anos todos, mas deve ter sido. Admiro o sofrimento do besta: se não fosse esta oportunidade que os Professores lhe deram, o melhor podia ter acontecido. Assim continuará a penar, o cianodepenado
Setembro 24, 2009 at 5:52 pm
Conclusão: O KAF deve continuar a escrever coisas assim… São muito comentadas a raça das coisas assim.
Setembro 24, 2009 at 6:03 pm
Aconselho a ler o texto que se segue (até ao fim), relacionando-o com a informação que introduzi nos m/ comentários 19 e 33.
http://www.sol.sapo.pt/blogs/arrebenta/archive/2009/08/29/Na-urna_2C00_-com-Ferreira-Leite.aspx
Setembro 24, 2009 at 6:26 pm
Gostei do texto do Kafka. Julgava-o muito mais crítico da MFL.
A parte que mais gostei foi esta:
“e vestia um simples casaco de malha”
Apenas? 🙂
Setembro 24, 2009 at 9:07 pm
GRANDE MANUELA FERREIRA LEITE!
Fiquei a gostar, ainda mais, dela!
Setembro 24, 2009 at 9:18 pm
Já agora, foi com Manuela Ferreira Leite que foi concluído o nosso 1º Estatuto.
Comparem-no com o actual do ps do sócrates… pois é, pois é… são incomparáveis!!!
NUNCA esta Senhora, maltratou, humilhou, subalternizou ou denegriu os professores (ou as outras classes profissionais), reconhecendo-lhes a importância do seu papel e a especificidade da sua profissão!!!
Setembro 24, 2009 at 10:04 pm
Pois se fosse a minha filha eu faria exactamente o mesmo. Quanta ritalina se pouparia se, desde cedo, as regras de convivência fossem claras.
Setembro 24, 2009 at 10:14 pm
Os comentários ao meu texto sobre o episódio sobre Manuela Ferreira Leite (MFL) foram muito diversos e procurarei agora ser menos descritivo e mais opinativo. Dou alguma razão a Todo mundo quando ele afirmou que o último parágrafo era diferente dos anteriores. Se ele destrói o que antes escrevi caberá a cada um julgar. Mas existe uma diferença clara de registo. A frase que termina o meu texto reflecte a minha estupefacção perante o que tinha acabado de ouvir da boca de MFL, enquanto que a parte que a antecede é de natureza mais factual.
Comecemos pela parte política, que me parece particularmente importante. Conforme afirmei, à medida que MFL ia discorrendo sobre a sua luta contra a máquina burocrática do ME comecei a sentir uma enorme empatia para com a ministra. Ali estava uma responsável política que reconhecia as enormes disfunções do seu ministério, ao invés de atirar as responsabilidades para cima de terceiros, e que se encontrava a enfrentá-las com coragem e determinação. Depois da audiência ter terminado, e mesmo tendo em conta a apologia da “estratégia do par de estalos”, à qual voltarei, não deixei de comentar com o presidente do sindicato como esse facto me tinha impressionado favoravelmente. Este era uma pessoa que conhecia MFL há muitos anos e que, inclusivamente, era militante do PSD, tendo integrado, anos mais tarde, a comissão política do partido quando Marcelo Rebelo de Sousa assumiu a presidência. Teria, pois, todas as razões para apoiar a sua “companheira partidária”, para usar uma expressão tradicional no PSD. Na realidade não foi assim. Ele disse-me qualquer coisa como isto: “Não se deixe embalar por essa história em que a Sr.ª Ministra lamenta como o seu ministério não funciona. A função de um ministro é precisamente a de colocar o ministério que dirige a funcionar e não usar esse expediente para captar a simpatia de terceiros, em particular a dos sindicatos.” Soube mais tarde que MFL usava sistematicamente essa estratégia enquanto esteve à frente do ME. Ainda há alguns anos atrás Nuno Crato dizia, numa entrevista: “Conta-se aquela história sobre Manuela Ferreira Leite ter dito, batendo com o pé no chão, no seu gabinete: “Daqui para baixo [do 13° andar para baixo] não mando nada”.
No que respeita ao processo disciplinar que subiu até MFL para que ela tomasse uma decisão não posso deixar de lhe dar razão. Não deveria caber a um ministro do governo tomar decisões desta natureza. Ele tem coisas muito mais importantes para decidir do que estas. Não sou jurista, mas mandaria o bom senso que este tipo de assuntos coubesse a outras instâncias.
De qualquer das formas, o que me chocou foi a solução que MFL apontou para solucionar o problema: um par de estalos ao miúdo mal educado dados à porta da escola. Se todos os pais optassem por esta estratégia sempre que os seus filhos fossem insultados ou fisicamente agredidos por colegas da escola teríamos uma pequena guerra civil em frente dos estabelecimentos de ensino portugueses todos os dias.
Poder-se-á argumentar que as palavras de MFL não deveriam ser tomadas pelo valor facial. Um pouco à semelhança de episódios recentes quando afirmou que para fazer reformas em Portugal seria necessário suspender por 6 meses a democracia ou que o objectivo do casamento é a procriação, manifestando, desta forma, a sua oposição ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Talvez… Caberá a cada um julgar as intenções profundas de um discurso político desta natureza.
Isto nada tem a ver com a utilização de castigos físicos dados por pais aos seus filhos. Sou pai de duas crianças e, como a esmagadora maioria dos pais, já os castiguei fisicamente. Embora isso tenha sucedido raramente, estou convencido que talvez em 80% dos casos quem falhou fui eu. Normalmente isso sucedia quando estava muito cansado, stressado, pouco tolerante e incapaz de usar outras estratégias punitivas do mau comportamento. Nos restantes 20% as palmadas foram bem merecidas e surtiram um efeito dissuasor. Por isso partilho da opinião da anatobo quando escreveu: “Há muitas formas de dar “um par de bofetadas” e eu como mãe já usei este método “pedagógico” algumas vezes com os meus filhos (…). Parece-me que como todas as famílias temos uns dias melhores que outros, mas existe o essencial – respeito mútuo.” De igual forma, identifico-me com o professorix quando afirmou: ” Por norma sou avesso a este tipo de atitudes. Mas há momentos em que, como último recurso e na altura certa, uma palmadinha não faz mal a ninguém e pode ter efeitos profiláticos.”
Coisa completamente distinta é defender, como parece transparecer das palavras de alguns comentadores, a aplicação de castigos físicos aplicados por professores a alunos em contexto escolar. Nessa matéria sou intransigentemente contra qualquer forma de punição física ou humilhação psicológica. Já tive a minha conta quando fiz a escola primária antes do 25 de Abril de 1974. O que prevalecia na altura era o medo, não o respeito.
Fazendo talvez uma comparação abusiva defendo que cabe aos pais o monopólio da violência através da aplicação de castigos físicos quando estes se justifiquem (e mesmo estes devem ser fortemente limitados pelo bem estar da criança), tal como cabe ao Estado o monopólio da violência sobre os cidadãos (e o grau de violência também deve ser limitado sob pena de vivermos numa ditadura despótica e não num estado de direito).
Setembro 24, 2009 at 10:37 pm
“tal como cabe ao Estado o monopólio da violência sobre os cidadãos (e o grau de violência também deve ser limitado sob pena de vivermos numa ditadura despótica e não num estado de direito).”
WHAT?!!!!!!!!!!!!
Setembro 24, 2009 at 10:41 pm
O pior era se vinha o pai do menino e enxertava a mãe da menina…
Setembro 24, 2009 at 10:47 pm
Tempestade num copo de água. Muita parra, pouca uva.
Setembro 24, 2009 at 10:51 pm
Coisa completamente distinta é defender, como parece transparecer das palavras de alguns comentadores, a aplicação de castigos físicos aplicados por professores a alunos em contexto escolar. Nessa matéria sou intransigentemente contra qualquer forma de punição física ou humilhação psicológica. Já tive a minha conta quando fiz a escola primária antes do 25 de Abril de 1974. O que prevalecia na altura era o medo, não o respeito.
Fazendo talvez uma comparação abusiva defendo que cabe aos pais o monopólio da violência através da aplicação de castigos físicos quando estes se justifiquem (e mesmo estes devem ser fortemente limitados pelo bem estar da criança), tal como cabe ao Estado o monopólio da violência sobre os cidadãos (e o grau de violência também deve ser limitado sob pena de vivermos numa ditadura despótica e não num estado de direito).
Simplesmente soberbo.
É a escola que deve dar conhecimento antecipado do regulamento interno onde estejam claramente previstas as penalidades em caso de transgressão; assim como possuir um organismo expressamente formado para tratar de todos esses casos. Sem necessidade de violência física.
Setembro 24, 2009 at 11:00 pm
…o sentido d texto está mt para além d episódio das bofetadas…
…
Setembro 24, 2009 at 11:06 pm
«…o sentido d texto está mt para além d episódio das bofetadas…»
O Kafka bem tenta pôr o pessoal todo a votar PS para este chegar à maioria absoluta e ele garantir um lugarzito ao sol.
Domingo, quando confirmar que o PS perdeu com 25% até muda de cor…
Setembro 24, 2009 at 11:25 pm
Kafka, escreves bem.
Mas este texto, tal como está, beneficia MFL.
Setembro 24, 2009 at 11:26 pm
Viva o Kafka, gostei deste relato sobre MFL.
Mas afinal ele adora a MFL. Enquanto ela ameaça, o Kafka já acertou nos filhos quando estava stressado.
Coitados dos meus filhos, este ano andei stressado, cansado e se … . Nem quero pensar, já os tinha mor…
Credo, Jesus!!!
Setembro 24, 2009 at 11:38 pm
“José Luiz Sarmento Diz:
Março 15, 2008 at 5:30 pm
Deixo aqui o comentário que fiz no EXPRESSO ao artigo de Miguel de Sousa Tavares:
Sempre que o poder político ou mediático convoca um “pogrom” contra as corporações (”corporações” é o nome que se dá à sociedade civil quando se quer demonizá-la) lá está Miguel de Sousa Tavares, de chuço e tocha na mão, disposto a incendiar, a espancar, a demolir. O Governo só respeita uma “corporação” – a dos banqueiros. Miguel de Sousa Tavares, nem essa.
Diz o nosso “hooligan” das letras que a ministra da educação tem razão no essencial, quando é precisamente no essencial que ela não tem ponta de razão. Poderá tê-la ocasionalmente no acessório; mas quando chegamos aos três grandes vícios do sistema educativo, aqueles que estão a montante de todos os outros e dos quais todos os outros decorrem, o que vemos em Maria de Lurdes Rodrigues não é a governante determinada da propaganda oficial, mas uma política acobardada e inerte que não mexe em nada que lhe possa queimar as mãos.
O sistema educativo português sofre duma burocracia bizantina que quase não deixa margem ao ensino. Atacou a ministra alguma vez esta burocracia? Não, antes a favoreceu, porque para a atacar teria que desmantelar uma grande parte do seu próprio ministério e tirar assim poder a muitos bonzos em relação aos quais se pela de medo.
O sistema educativo português sofre dum incivismo endémico que quase não deixa margem à aprendizagem. Atacou a ministra alguma vez este incivismo? Não, antes o ampliou, ao desautorizar os professores e ao elaborar legislação como o aberrante Estatuto do Aluno que está pronto para entrar em vigor.
O sistema educativo português sofre duma ideologia pedagógica delirante que despreza o conhecimento e o pensamento racional. Atacou a ministra alguma vez esta ideologia? Nunca. Pelo contrário, move-se nela como peixe na água porque é ela o seu habitat natural.
Miguel de Sousa Tavares reconhece, a certa altura do seu artigo, que Maria de Lurdes Rodrigues tem contra si não só os professores medíocres, mas também os melhores professores. Como pode ele afirmar isto e não se perguntar logo porquê?! Se Maria de Lurdes Rodrigues tem contra si os melhores professores, por alguma razão há-de ser. E se Miguel de Sousa Tavares não sabe qual é a razão, eu digo-lhe: é porque todas as acções desta ministra atacam, não só os direitos, prerrogativas e privilégios dos professores, mas também e sobretudo o núcleo irredutível da deontologia docente, que é o ensino.
Aqui, sim, é que está o essencial. Quanto ao discurso dos privilégios, há milénios que serve para justificar “pogroms”. Um homem que se pretende de cultura, como Miguel de Sousa Tavares, não devia alinhar nestas coisas.”
A Educação do Meu Umbigo
Setembro 25, 2009 at 11:12 am
DA disse:
“Kafka, escreves bem. Mas este texto, tal como está, beneficia MFL.”
Admito que sim. Mas a minha intenção não era apelar ao voto em ninguém nem creio que um episódio deste natureza mude o sentido de voto das pessoas.
Setembro 25, 2009 at 11:51 am
Opss. Parece que me enganei. Entrei num blog do PSD.
As minhas desculpas
Setembro 25, 2009 at 12:55 pm
Belém
Cavaco Silva mantém confiança em Fernando Lima
Fernando Lima deixou de ser o responsável pelas relações de Belém com o exterior por se considerar que, depois da polémica à volta do seu nome, não poderia assegurar o lugar com eficácia. Mas continua a trabalhar em Belém, mantendo a confiança do Presidente da República, avança a edição do SOL desta sexta-feira
http://www.sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=148902