Depoimento pessoal do estado lastimoso do ensino

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Lecciono numa escola E. B. 2,3 do interior, que mostra a realidade do ensino português. Para grande parte dos alunos dessa escola, ter muitas reprovações e 7 ou 8 negativas, é perfeitamente normal. O sistema de ensino não representa nada para eles e só andam na escola, porque a isso são obrigados. A indisciplina tem aumentado assustadoramente, desde que este Desgoverno começou a «malhar» nos professores e desde que começou a rebaldaria chamada «aulas de substituição». «A gente passou a portar-se pior, com as ‘aulas de substituição’», – reconhecem os alunos. Por maior esforço que um professor faça, nas aulas não se consegue avançar na matéria, já que, maioritariamente, os alunos revelam total alienação e desinteresse pelos conteúdos lectivos e têm muita dificuldade em fazer a distinção entre as aulas e o recreio. A imagem que têm dos professores é, visivelmente, negativa, como sendo de uns coitados que não mandam nada. Vários deles são insolentes e mesmo arruaceiros em relação a professores. O sentimento de impunidade é total. Já um aluno comentou que não queria ir para determinada escola, porque «lá, os professores mandam mais e aqui não mandam nada!» A localidade em que se situa esta escola é «sociologicamente socialista», onde, desde há muito, há mães que passam o tempo a falar mal dos professores e que agora se sentem protegidas pelo Desgoverno do sr. Sócrates. Eu e outros professores deixámos de ir a certo pequeno restaurante, porque o dono passava o tempo a falar mal dos professores e dos funcionários públicos! Que se pode esperar dos filhos desta gente?

Neste contexto, verifico que, entre estes alunos, reina uma noção muito negativa em relação ao sr. Sócrates e ao respectivo Desgoverno, que justifica muito da postura deles. De vários comentários depreciativos, passo a referir alguns:

Certo aluno fez este comentário, durante uma aula: «Andamos nós aqui a esforçar-nos e o Sócrates tirou o curso daquela maneira!» Disse outro aluno que não valia a pena esforçar-se, porque, quando tivesse 18 anos, faria tudo num ano, nas «Novas Oportunidades». Outro disse que, quando começassem as aulas assistidas, se iriam vingar dos professores. Outro, ao referir-se ao sr. Sócrates de forma muito negativa, acrescentou: «Mas esses é que se safam! E se aparece alguém a fazer-lhe frente, ele acaba com ele! Os vigaristas é que se safam!» Na turma mais indisciplinada que tenho, vários alunos justificam o comportamento deles, usando afirmações como estas: «Uma pessoa a trabalhar nas obras ganha tanto como um professor!» «Uma pessoa estuda para professor e depois vai trabalhar nas obras». «A minha mãe estudou para professora e está no desemprego!» «A justiça portuguesa é injustiça!» «O que está a dar é ir para gatuno: com a justiça portuguesa, faz quanto quer! Se for para a cadeia, ao fim de 8 dias está cá fora outra vez!» «Somos obrigados a andar aqui, senão o tribunal vai-nos buscar a casa. Só quando tivermos 18 anos é que podemos ir trabalhar para as obras!» Certa vez, um aluno fez este comentário: «Como é que o ensino pode estar bem em Portugal, com aquela ministra da Educação?» Até agora, todas as referências que conheço, feitas por alunos desta e doutras escolas, em relação ao sr. Sócrates, são de conteúdo depreciativo, salientando-se o mau exemplo que vem de cima e as referências depreciativas ao Magalhães.

Perante tudo isto, que mais se pode esperar da escola portuguesa, senão que se tenha transformado num despejo de filhos, para os pais se livrarem deles e poderem trabalhar como escravos? Estranho seria se a criminalidade violenta cometida por jovens não aumentasse! Que ensino se pode esperar, quando os alunos encaram os professores como os exemplos de que estudar não dá estatuto nenhum?

Adriano P.