Depoimento pessoal do estado lastimoso do ensino
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Lecciono numa escola E. B. 2,3 do interior, que mostra a realidade do ensino português. Para grande parte dos alunos dessa escola, ter muitas reprovações e 7 ou 8 negativas, é perfeitamente normal. O sistema de ensino não representa nada para eles e só andam na escola, porque a isso são obrigados. A indisciplina tem aumentado assustadoramente, desde que este Desgoverno começou a «malhar» nos professores e desde que começou a rebaldaria chamada «aulas de substituição». «A gente passou a portar-se pior, com as ‘aulas de substituição’», – reconhecem os alunos. Por maior esforço que um professor faça, nas aulas não se consegue avançar na matéria, já que, maioritariamente, os alunos revelam total alienação e desinteresse pelos conteúdos lectivos e têm muita dificuldade em fazer a distinção entre as aulas e o recreio. A imagem que têm dos professores é, visivelmente, negativa, como sendo de uns coitados que não mandam nada. Vários deles são insolentes e mesmo arruaceiros em relação a professores. O sentimento de impunidade é total. Já um aluno comentou que não queria ir para determinada escola, porque «lá, os professores mandam mais e aqui não mandam nada!» A localidade em que se situa esta escola é «sociologicamente socialista», onde, desde há muito, há mães que passam o tempo a falar mal dos professores e que agora se sentem protegidas pelo Desgoverno do sr. Sócrates. Eu e outros professores deixámos de ir a certo pequeno restaurante, porque o dono passava o tempo a falar mal dos professores e dos funcionários públicos! Que se pode esperar dos filhos desta gente?
Neste contexto, verifico que, entre estes alunos, reina uma noção muito negativa em relação ao sr. Sócrates e ao respectivo Desgoverno, que justifica muito da postura deles. De vários comentários depreciativos, passo a referir alguns:
Certo aluno fez este comentário, durante uma aula: «Andamos nós aqui a esforçar-nos e o Sócrates tirou o curso daquela maneira!» Disse outro aluno que não valia a pena esforçar-se, porque, quando tivesse 18 anos, faria tudo num ano, nas «Novas Oportunidades». Outro disse que, quando começassem as aulas assistidas, se iriam vingar dos professores. Outro, ao referir-se ao sr. Sócrates de forma muito negativa, acrescentou: «Mas esses é que se safam! E se aparece alguém a fazer-lhe frente, ele acaba com ele! Os vigaristas é que se safam!» Na turma mais indisciplinada que tenho, vários alunos justificam o comportamento deles, usando afirmações como estas: «Uma pessoa a trabalhar nas obras ganha tanto como um professor!» «Uma pessoa estuda para professor e depois vai trabalhar nas obras». «A minha mãe estudou para professora e está no desemprego!» «A justiça portuguesa é injustiça!» «O que está a dar é ir para gatuno: com a justiça portuguesa, faz quanto quer! Se for para a cadeia, ao fim de 8 dias está cá fora outra vez!» «Somos obrigados a andar aqui, senão o tribunal vai-nos buscar a casa. Só quando tivermos 18 anos é que podemos ir trabalhar para as obras!» Certa vez, um aluno fez este comentário: «Como é que o ensino pode estar bem em Portugal, com aquela ministra da Educação?» Até agora, todas as referências que conheço, feitas por alunos desta e doutras escolas, em relação ao sr. Sócrates, são de conteúdo depreciativo, salientando-se o mau exemplo que vem de cima e as referências depreciativas ao Magalhães.
Perante tudo isto, que mais se pode esperar da escola portuguesa, senão que se tenha transformado num despejo de filhos, para os pais se livrarem deles e poderem trabalhar como escravos? Estranho seria se a criminalidade violenta cometida por jovens não aumentasse! Que ensino se pode esperar, quando os alunos encaram os professores como os exemplos de que estudar não dá estatuto nenhum?
Adriano P.
Abril 28, 2009 at 11:02 am
ESpera até a escolaridade obrigatória ser até aos 18 anos… coisa totalmente diferente do que apregoam por aí que é ser até ao 12º Ano… Como? Só se for com passagens administrativas…
Mais, a maioria dos pais ainda não compreendeu a lógica dos profissionais, perguntam ao filho: passaste? passei. Ah!, então estás de parabéns… Contudo esquece-se de dizer que passou só porque não se chumba e que deixou a maior parte das cois por fazer… Vai ser lindo quando os pais acordarem… Claro que a culpa vai ser dos professores.
Abril 28, 2009 at 11:27 am
Este tipo de “testemunho” revela várias coisas.
Mas uma delas é claramente mais chocante do que as outras:
A demissão da autoridade por parte dos docentes e a submissão à “vontade popular”.
Por isso eu acrescentaria que o estado dos docentes que alinham e jogam com este tipo de clima, pensando assim chamar a atenção e capitalizar a compaixão dos outros, é tão lastimável quanto as situações que apontam, uma vez que também são co-autores do guião que apresentam.
Aliás é referida a comparação com outra escola em que os professores “mandam mais”. Como justificar então as diferenças? Falta qualquer coisa por certo que ajude a explicar melhor o triste panorama de demissão e resignação por parte dos docentes…
Abril 28, 2009 at 11:36 am
> um aluno comentou que não queria ir para determinada escola, porque «lá, os professores mandam mais e aqui não mandam nada!»
O comentario do aluno explica bem as consequencias do “deixa-andar” transversal na sociedade portuguesa.
Quem se queixa da indisciplina escolar pode tomar duas atitudes:
(a) queixar que a culpa e’ da 5 de Outubro.
(b) O CE e os docentes impoem na escola regras muito claras de comportamento e aplicam sancoes para quem as nao cumprir.
Na primeira e’ muito comodo, a segunda – bastante mais eficaz – exige trabalho e organizacao!
Nos EUA e no Canada’, a partir dos 14 anos os alunos sao incentivados a trabalhar um numero limitado de horas semanais (calculo que ate’ 6) em locais como nos super (ex: ajudar os clientes a levar os sacos de compra para os carros) ou como balconistas. O objectivo e’ aumentar a maturidade e que aprendam o dinheiro custa a ganhar.
Seria bom que em Portugal seguisse a mesma estrategia em vez dos pais se limitarem atirarem dinheiro – situacao que torna os jovens cada mais mais mimados, irresponsaveis e violentos.
Abril 28, 2009 at 11:39 am
#2 já deste CEFs?
Abril 28, 2009 at 11:40 am
#2 já imaginaste CEFs obrigatórios até aos 18 anos?
Abril 28, 2009 at 11:41 am
Haverá disto e muito mais!
Abril 28, 2009 at 11:43 am
#2
Queres um exemplo por que em algumas escolas os professores “mandam mais” e noutras “mandam menos”?
Dou-te o meu exemplo: quando fui coordenador de escola e era mais interventivo nas questões disciplinares (resolvia os problemas de imediato e a contento de todos… ou “quase todos” – a excepção eram duas mães de alunos extremamente indisciplinados), o meu PCE desautorizou-me numa reunião de pais, afirmando que eu ia para além das minhas competências! Que eu não era “Director”… etc e tal… o que levou, a posteriori, a um aumento da indisciplina, já que, desde logo, os alunos sentiram que eu era uma “figura decorativa”!
Noutras escolas, onde os PCE’s deixam que os professores “mandem mais”, até está escrito, preto no branco, nos Regulamentos Internos, que uma das competências dos Coordenadores é “zelar pela disciplina”! Ora, no meu RI isso não está escrito… e, mais curioso ainda, é um RI que nunca foi homologado pela Direcção Regional!
Sintomático? Esclarecedor?
Para mim o texto faz todo o sentido e é verdadeiro na maior parte das escolas!
Abril 28, 2009 at 11:44 am
Uma escola onde os professores “mandam mais” – ou, desejavelmente, têm um efectivo controlo do processo de aprendizagem, disciplina, obviamente, incluída – é uma escola com um elevado grau de consciência profissional. Essa consciência só pode ser construída de forma global, implicando portanto, para além da consciência individual e global do corpo docente, uma direcção que, contrariamente ao que sucede em muitos casos, saiba e queira construir esse profissionalismo, esclarecido e com bases muito sólidas.
As utopias são sempre belas.
Abril 28, 2009 at 11:45 am
Na minha escola havia um ou dois projectores de video. Ontem cheguei lá e, no fim de semana, colocaram tantos que creio que até na casa de banho deve haver um… Porém, como não há funcionários, esses equipamentos devem começar a ser roubados antes de acabarem de os montar…
Abril 28, 2009 at 11:48 am
#7 Em última análise e em casos de força maior, haverá que responsabilizar pessoalmente quem, de forma evidente e facilmente comprovável, contribuir para a desestabilização de um clima propícío ao cumprimento dos objectivos da escola – mesmo que – e se sobretudo se – estes se encontrarem formulados em eduquês puro e duro. Questões de retórica profissional que não conviria desleixar.
Abril 28, 2009 at 11:55 am
#5 já imaginaste CEFs obrigatórios até aos 18 anos?
E o que e’ que o comportamento tem a ver com a estrutura curricular dos cursos?
Um aluno pode estudar ciencias para tirar um curso de Engenharia, ou pode ter uma formacao aplicada para Cabeleireiro. Em ambos os casos deve saber comportar-se em sociedade, respeitando as regras de convivencia!
Eu digo aos meus alunos que ha’ um tempo para tudo. Ha’ horas para dormir, alturas especificas do dia para comer, horas para divertir e noutras alturas e’ para estudar! Se o aluno fizer barulho, uma palmada na cabeca relembra-o como se deve comportar.
Tal como no campo de jogos e’ para correr e nao ficar sentado a estudar, na sala de aulas e’ para formacao e nao para ter comportamentos irresponsaveis.
Se um aluno quiser expandir a energia acumulada, que va’ na altura apropriada jogar football ou squash (ou, como no Japao, gritar e atirar pratos ‘a parede numa sala isolada! ;-).
Abril 28, 2009 at 12:09 pm
#11 “Palmada na cabeça”?!!! Espero que seja em estilo figurado. É que há meninos que são de tal forma “espertinhos” que, se lhes der na bolha, lá vão choramingar ao papá:”o professor bateu-me”.
Abril 28, 2009 at 12:19 pm
NO 1º Ciclo pelo 3º, 4º ano começam muitos dos problemas com alguns alunos.
Em geral vão rapidamente para o 2º ciclo, pois são essas as ordens. Está à vista o facilitismo que eles começam desde logo a adivinhar. Os desabafos de “isto é uma seca” começa cedo. Vou passar de qualquer maneira para quê esforçar-me.
Casa sem alicerces vai ruir mais tarde ou mais cedo.
Abril 28, 2009 at 12:23 pm
#12 “Palmada na cabeça”?!!! Espero que seja em estilo figurado.
Nao, e’ mesmo assim (mas o toque e’ leve)!
Ja’ fiz mais do que uma vez em anfiteatros do Tecnico, com 150+ alunos em aulas de 90 minutos. Eu tenho 1.75m de altura, mas dou pelo ombro de varios alunos.
Nos casos mesmo extremos, basta olhar para os olhos do aluno em causa e com o dedo apontar para a porta de saida. Em 22 anos como docente, fiz isso apenas umas 3 ou 4 vezes.
Antes que comentem aqui que os alunos universitarios sao diferentes, relato que alguns alunos sao publicamente arrogantes (felizmente uma minoria). Os alunos sao tambem muito imaturos e irrequietos nas aulas (infelizmente a maioria deles, especialmente nos anos iniciais :-().
Abril 28, 2009 at 12:55 pm
A tentativa de destruição da Escola, como local de gente pensante, tem vindo a ser uma característica deste governo, que julga ser mais fácil domestificar ignorantes e acéfalos. É importante que os professores não adormeçam no meio do cansaço e da frustração.
Pensando bem…. há vários instrumentos que a legislação coloca nas mãos dos professores e que nem sempre eles. É possível “passar” alunos de ano sem que eles estejam “aprovados”, ou seja, sem se dizer que eles atingiram as competências mínimas. O Conselho de Turma pode fazê-lo, justificando….
Os alunos podem “passar” mantendo os níveis negativos, em vez de alguns professores fazerem os seus jeitinhos, atribuindo níveis satisfatórios fictícios.
O aluno chegará ao final do 9º Ano com os vários níveis negativos correspondentes ao seu não empenhamento e depois irá com eles para o mundo do trabalho.
Claro que ressalvo aqui a atribuição de níveis satisfatórios a alunos com dificuldades de aprendizagem…. e que terão de ser sujeitos a avaliação específica.
Salvo raras excepções, e por vários motivos, não acredito nas virtualidades das retenções.
Mas, o mais importante será explicar aos pais e à sociedade em geral que o futuro das crianças e jovens se constrói com empenhamento, com hábitos de trabalho, com exigência e disciplina, ou seja, num ambiente em que haja condições de aprendizagem.
A exigência por parte da Escola não diminui a democratização e o respeito pelas diferenças individuais. A falta de exigência apenas prolonga e reforça as “marcas” e as desigualdades sociais.
A Utopia exige muito esforço e imaginação por parte dos vários intervenientes educativos mas
É IMPORTANTE ACREDITAR!!!!!
Abril 28, 2009 at 12:56 pm
ADRIANO:
– No interior é assim, agora imagina no Litoral…
Abril 28, 2009 at 1:06 pm
#15
Subscrevo.
É importante a denúncia de certas situações, mas não deixa de ser desesperante cair-se no discurso do “coitadinho”, como se nada pudéssemos fazer. E este texto parece-me um exemplo claro disso mesmo.
Abril 28, 2009 at 1:36 pm
#14 RG Crespo é pena o ano ir tão adiantado e já lá não estarem as melhores pérolas, mas se quiseres ir experimentar dar uma aula a CEFs isso arranja-se já. Depois falamos… Entretanto esquece lá a palmadinha porque eles mordem…
Abril 28, 2009 at 2:09 pm
#13
Queres matulões de 12/13 anos nas EB1.
Por favor, ficavam com ambiente de EB23.
Sobre o post.
Esta escola chegou a este esta situação, pela vizinhança não parece ser assim, com a bendita gestão democrática.
Abril 28, 2009 at 2:26 pm
19#Parece-me bem que sigam para o 2º ciclo, só que alguns vão com pouca preparação. A seu tempo o 1º e 2º ciclo estarão unidos, caso os desejos de alguns dirigentes se concretizem.
Abril 28, 2009 at 2:33 pm
Para mim, o grande problema é que os pais dos alunos normais têm que os pôr nos privados por causa dessas merd@s… Assim, é impossível aguentar…
Abril 28, 2009 at 3:44 pm
#21
Claro, essa é a ideia. Nada é inocente!
Comecei a pensar que seria um bom negócio abrir um Colégio Privado aqui, na zona onde resido e trabalho. Quando comecei a trabalhar seriamente para esse projecto, fui aconselhado a desistir, pois uns colegas ligados ao sindicato e ao PS já estavam a fazer o mesmo, e não haveria garantias de sucesso para todos.
Abril 28, 2009 at 4:07 pm
Na minha escola há muitos alunos de 13 e 14 anos a frequentar o 4ºano de escolaridade.
#11
Por menos do que “uma palmadinha leve na cabeça” apresentaram, pais da minha escola, queixas na polícia contra os professores.
Será que os alunos do técnico(tenho um irmão que foi lá professor muitos anos) estão lá por ser ensino obrigatório?
Será que não deveria haver aulas sobre o que é educação, para a grande maioria dos pais?????????????
Abril 28, 2009 at 4:33 pm
Em nome da estatística estão a condenar alunos com capacidades e vontade a uma fasquia que descerá aos limites do absurdo. A um ambiente insuportável para quem deseja aprender. Estão a lançar gerações no abismo e a torná-las completamente indefesas e reféns da sua própria ignorância. Este projecto é demoníaco.
Paralelamente, cada vez menos famílias terão oportunidade de optar por um ensino(privado, claro) de melhor qualidade. Junta-se uma ponta à outra e teremos um exército de formiguinhas a quem deram 12 anos de brincadeira que, alienadas e pouco instruídas, serão presa fácil para meninos de bons colégios privados(os futuros políticos/empresários)como o que ontem vaticinou, no Prós e Contras, que Portugal só será governável com maiorias absolutas.
Os futuros ex-alunos da escola pública serão os primeiros a fazer destes argumentos uma religião.
Por estas e outras razões, não me coíbo de mandar bardam*rda quem, além de provocar e criticar quem se opõe, aplaude que se parta as pernas, em directo, aos jovens do meu País.
Abril 28, 2009 at 5:25 pm
Só não concordo com umas poucas de vírgulas… semeadas…
Abril 28, 2009 at 5:43 pm
Perante este espectáculo degradante como podem os professores desistir?
Abril 28, 2009 at 5:50 pm
Parabéns, Adriano P.
O teu texto é de uma hiper-realidade assustadora em que a verdade é apresentada de uma forma cruel.
Professores, acordem!
Abril 28, 2009 at 6:03 pm
#25
Não estou minimamente preocupada com as vírgulas. Se lhe faz muita impressão não leia. Ouvi dizer que é um bom remédio.
#26
Não é mais fácil, para a maioria, não fazer nada e culpar os políticos? Para além disto, muitos estão à espera que os outros colegas entrem na luta, para daí retirarem dividendos.
Abril 28, 2009 at 6:49 pm
Parabéns Adriano!
O texto diz muito sobre realidades que conhecemos de perto.
Os professores que são completamente desautorizados não podem fazer nada mais que textos de alerta.
Abril 28, 2009 at 7:07 pm
#29
E quem é que desautoriza os professores? OUTROS PROFESSORES!!
Nas escolas “onde se manda mais” reina o trabalho de equipa e o espírito solidário. Há uma diferença enorme entre “bater naquela prof” ou “bater no corpo docente inteiro”. os alunos, quando sentem que os docentes são unidos e se dão ao respeito, não se esticam muito.
Somos nós que cavamos a nossa própria cova.
Parem de atirar as culpas aos outros.
Abril 28, 2009 at 7:14 pm
E é bastante fácil detectar quem é que são os “profs” frágeis de uma determinada escola:
1- São sempre vistos sozinhos no bar ou na biblioteca;
2- Quando estão no bar e aparece o presidente do CE (e agora futuro director), ele não lhe dirige a palavra;
3- Nunca é convidado para visitas de estudo;
4- Uma vez que há sempre professores que têm os seus filhos na própria escola onde trabalham, os pimpolhos têm acesso a uma série de informações confidenciais entre docentes. Basta só a mãe ou o pai ou os dois desabafarem à hora do jantar. Obviamente que estas crianças passarão aos seus colegas e amigos todas estas notícias fresquinhas e suculentas.
5- Não lhes dão quase cargos nenhuns.
6- Têm uma postura derrotista.
Acham mesmo que os alunos são estúpidos, e não se apercebem de nada? Se nessa escola o CE não criar um clima de autoridade, os discentes irão descarregar a sua crueldade no elo mais fraco.
Abril 28, 2009 at 7:17 pm
De que vale andarmos para aqui numa postura de patinho Kalimero (it’s an injustice, it is…) se, no fim, obedecemos sempre?! Quem é que leva a sério uma classe que não se dá ao respeito?
Abril 28, 2009 at 7:17 pm
Finalmente são referidas, de novo, as aulas de substituição, depois de tanto tempo passado sobre a sua implementação. Mas nunca vão acabar, o garrote que aperta a opinião pública é muito forte. Muitos erros cometidos nunca irão ser corrigidos.
Abril 28, 2009 at 7:22 pm
#33
Somos nós com a paranóia da opinião pública e os governos com o défice.
Viu-se onde levaram uma e outra. Não se aprende mesmo nada com os erros? Você tb faz parte da opinião pública, ou não?
Abril 28, 2009 at 7:34 pm
#34
Sou independente, ao ponto de me aperceber que a opinião pública tem sido completamente manipulada, sem quaisquer indícios de ética.
Abril 28, 2009 at 7:38 pm
Sou professora no litoral. Agora, pela comemoração do 25 de Abril, num 5º ano, falou-se do antes e pós a “revolução”. Foram buscar livros à biblioteca, viram um filme. Foi-lhes pedido que fizessem um desenho sobre o assunto… A maioria dos alunos retiveram a cena da PIDE a disparar sobre a população, outros desenharam armas, soldados e guerra. Quem olhasse para aqueles trabalhos pensaria que eram, no minimo, sobre a 2ª ou 3ª Guerra Mundial. Até desenharam suásticas!! Os professores perguntavam-se se tinham estado na mesma sala e viram o mesmo filme. Perguntei aos alunos se deram conta que os soldados que sairam dos quarteis e participaram em todo o filme, não dispararam uma única bala, nem queriam e nem gostariam de usar a força para resolver as situações. A resposta foi… Bem! Fiquei convencida que terem visto aquele filme ou terem jogado ao “Contra srtique”, os resultados eram idênticos. As crianças, na sua maioria, vivem e respiram violência todos os dias, começando pelos desenhos animados, passando pelos jogos e filmes. Se não tem violência não interessam e isto não é culpa dos professores! Os pais têm muita responsabilidade na gestão do tempo dos seus filhos e das suas vivências.
Abril 28, 2009 at 7:58 pm
Sobre alguns comentários, sou contra a mistura de alunos “normais” com os “anormais”.
E também sou favorável a especialização das escolas no secundário, de forma a existirem escolas capazes de responder às diferentes aptidões dos alunos.
Quanto às aulas de substituição, por favor…
Os únicos que podem dizer que antes das substituições de portavam melhor são os do 9.º ano, os dos anos anteriores já não do tempo dos furos.
Abril 28, 2009 at 7:59 pm
#35
Se não podemos desfazer equívocos, só temos um caminho: seguirmos a “opinião pública” que temos de nós mesmos e ignorarmos a opinião pública manipulada.
Abril 28, 2009 at 8:03 pm
Os únicos que podem dizer que antes das substituições se portavam melhor são os do 9.º ano, os dos anos anteriores já não são do tempo dos furos.
Abril 28, 2009 at 8:04 pm
E aposto que o(a) PCE desta escola vai continuar Director.
Abril 28, 2009 at 9:55 pm
O comentário diz mais sobre quem escreve do que sobre o que descreve. Aplaudem-se os alunos quando dizem mal do governo e desaprovam-se quando desconsideram os professores.
Abril 28, 2009 at 10:47 pm
A “composição” do Adriano é deprimente. Em todos os sentidos.
Abril 28, 2009 at 11:00 pm
Estranho ninguem ter comentado a afirmacao de um aluno que «Uma pessoa a trabalhar nas obras ganha tanto como um professor!»
Nas obras, como em muitos lugares, o vencimento bruto depende do nivel de escolaridade e da experiencia.
* Com o 9o ano, nas obras apenas trabalha como servente, carregando material de um lado para o outro, ou armando ferro. O vencimento e’ o minimo, abaixo de 500 EUR, e a cor do capacete e’ do trabalhador indiferenciado – amarelo.
* Com formacao profissional, por exemplo electricista, ja’ tem conhecimentos para executar um plano das instalacoes. Pode contar com 900 EUR no dia 30. Reconhece-se ‘a distancia pelo capacete azul.
* Se continuar a estudar essas coisas “chatas” como matematica e fisica, consegue tirar o curso de Engenharia civil. Se o fizer numa Universidade reconhecida (ex: FEUP, IST) obtem a inscricao na Ordem dos Engenheiros, se for noutros estabelecimentos (ex: antiga Independente) tera’ de fazer um exame. Uma vez inscrito na ordem pode fazer projectos e dirigir as obras. Apos anos iniciais podera’ ganhar mensalmente 4000 EUR mais os “fringe beneficts” (ex: automovel e telemovel) – e anda de capacete branco.
Ate’ as continuas nas escolas e as funcionarias da secretaria sabem que a licenciatura de um docente permite um vencimento bruto superior (depende do nivel, mas na ordem dos 1500 EUR/mes) ao que recebem, respectivamente 500 e 800 EUR. Isto sem falar que um docente tem sempre prestigio superior a uma continua.
E’ por isso que, frequentemente, andam em cima dos filhos (estranhamente, com mais efeito nas raparigas, mas essa e’ outra discussao) para que estudem e metem cunhas para os filhos serem colocados nas turmas “especiais” formadas por alunos e professores seleccionados.
Abril 28, 2009 at 11:03 pm
[…] Depoimento pessoal do estado lastimoso do ensino […]
Abril 29, 2009 at 1:52 am
#42
Deprimente, é verdade.
Mas transmite o sentir de muitos colegas para os quais os executivos:
– são o eco do ME,
– defendem os interesses dos alunos,
– vêem os “colegas” como meros piões neste processo no qual são sempre os arguidos.
Acredito que muitos colegas já nem na sala de aula se sente realizados.
Pergunto-lhe, o que lhes aconselha para vencerem essa depressão?
Abril 29, 2009 at 11:51 am
Caros professores,
Vocês são os Calimero de Portugal. Sempre a fazer queixinhas, sempre resignados e sempre impotentes para resolver o que quer que seja. O mais trágico nesta situação é que estou inteiramente de acordo convosco.
A corja assentou rabo na Assembleia da República. Não há nada que vocês possam fazer. Antigamente era preciso saber fazer contas e saber escrever. Agora é preciso saber ser chico-esperto. Deitem os vossos catrapázios fora, convertam as vossas bibliotecas em salas de chuto, desistam e deixem que tudo o resto continue na mesma. O que está a dar não é a formação, mas sim a degradação!
Vejam o lado bom de tudo isto: já não precisam de preparar aulas! Os valores que vocês cultivam amolecem os instintos naturais (egoísmo, prepotência e violência dominadora). Deixem que os energúmenos que se sentam à vossa frente sejam boas bestas. Quando nas vossas aulas houver cabeças partidas e olhos arrancados tereis cumprido a vossa nova tarefa. Nessa altura os alunos estarão preparados para viver na selva!
Eis a vossa nova tarefa: desistir!
Abril 29, 2009 at 11:01 pm
#45
Aconselho prozac… e uma boa gramática.
Abril 30, 2009 at 2:00 pm
Como formadora do RVCC posso dizer que os filhos malcriados têm a quem sair! Quanta boçalidade! Mas há boa gente, educada e que merece ser certificada. Só que há uma grande fatia de gente, da qual o menor dos males é e será sempre a ignorância!
Maio 10, 2009 at 1:10 pm
12 anos de escolaridade obrigatória
Os Equívocos
Recentemente, o 1º ministro José Sócrates anunciou a implementação da obrigatoriedade de frequência escolar de 12 anos, aplicável a partir de 2009/2010 e seguintes, a todos os jovens que se inscrevam no 7º ano.
A medida é correcta e já tinha sido apontada como necessária pelos governos de coligação PSD-PP anteriores ao actual.
O primeiro equívoco não é do Governo. É dos jornalistas e de – curiosamente – muitos responsáveis que comentam a decisão: a confusão entre uma escolaridade de 12 anos e a conclusão do 12º ano.
Até hoje, a escolaridade básica eram 9 anos (1º ao 9º ano) e a escolaridade obrigatória de 9 anos. Daí adveio a confusão. Entre os dois 9 (noves). A verdade é que nunca foi obrigatório que todos concluíssem a escolaridade básica (o 9º ano). Mas tão só que ficassem 9 anos, aí sim, de forma obrigatória, no sistema. Os alunos ficam “livres” de o deixar, ao completarem 16 anos antes do início do ano lectivo.
O 9º ano só é concluído em 9 anos nos casos em que a carreira do aluno é imaculada. Sem “chumbos”. Assim, é só nesse caso, que a conclusão da escolaridade obrigatória é simultânea com o termo do 9º ano.
A verdade é que esses casos seriam apenas alguns. Sempre cada vez mais, mas ainda longe de números que pudéssemos considerar como razoáveis.
E ali estava o problema. Muitas vezes, apesar da escolaridade obrigatória estar cumprida, a conclusão do 9º ano ficava muito longe para uma grande fatia dos alunos. Devido aos anos “repetidos” que originava atrasos na frequência. O que não é bom para os alunos e para o País.
Agora, a Escolaridade Básica vai continuar a ter 9 anos (1º ao 9º ano) mas passará a ser obrigatório ficar na escola (ou em formação), durante 12 anos.
Chegamos então, ao segundo equívoco. Este já de uma maioria considerável dos intervenientes, onde se incluem os responsáveis governativos: ao contrário do que vêm referindo, o alargamento da escolaridade obrigatória a 12 anos pouco irá influir no Ensino Secundário e não terá absolutamente nada a haver com o 12º ano…
Os grandes problemas estão bem identificados, nas situações de abandono precoce. Ou seja, no grupo de alunos que, ao atingir os 16 anos optavam por sair da escola. Encontrando-se, estes, nos 6º, 7º, 8º ou 9º anos. Ou seja, acumulando insucessos no ensino básico pelo que, muito longe de poderem almejar atingir (e muito menos concluir) o Secundário.
Esta saída precoce, destes alunos, do sistema (no qual não se identificavam) era, muitas vezes, uma benesse para as Escolas. E por razões entendíveis: afinal, esses alunos eram referenciais pouco interessantes para os restantes alunos e focos de instabilidade e problemas para o estabelecimento.
Mas são estes jovens que, agora, sentirão a mudança da lei: terão que ali (nas escolas) “penar” mais 3 anos. Não no Secundário, mas no Básico. Onde estão agora, sem perspectivas de ir muito mais longe. Com as óbvias implicações ao serem impedidos, antes dos 18 anos, de aceder ao mercado de trabalho. Serão mais problemas para as escolas e professores que os terão que aguentar mais 3 anos. Mais velhos, maiores, menos “controláveis”, mais frustrados, mais incompreendidos.
A notícia que a idade de empregabilidade se manterá nos 16 anos é contraditória. A não ser que esses jovens (16-18 anos) se mantenham em simultâneo, no mercado de trabalho e em frequência escolar/formativa.
O que nos leva ao 3º equívoco. A bolsa de estudo. Para os alunos no Secundário com aproveitamento. O que constitui um “tiro” completamente ao lado. Como vimos, o que esta nova lei vai acrescentar (e manter mais 3 anos no sistema) são alunos no Básico e sem aproveitamento regular. E são estes alunos os que terão que ser apoiados. Caso contrário, teremos um “inferno na Terra” para eles, para os outros alunos, para os professores e para as suas Escolas.
A bolsa de estudo para os alunos do Secundário, com aproveitamento, servirá para aqueles que, sem ela, estariam ali mesmo. Não acrescentará nada ao crescimento da escolaridade, sem prejuízo da oferta ser-lhes (a esses alunos) pessoalmente interessante (afinal é-lhes dado dinheiro).
Ainda não se entendeu se a atribuição da bolsa será feita juntamente com o Abono de Família, pelo sistema da Segurança Social (deverá ser assim, para simplificação administrativa) ou através do sistema da Acção Social Escolar (processo muito mais complicado).
Escrevi no início que a medida é boa. E é.
O grande impacto será vivido na possibilidade de mais alunos concluírem a escolaridade básica. Pois 9 anos obrigatórios, para estes alunos com insucesso acumulado, não chegavam para, sequer, concluir a Escolaridade Básica. Agora com 12 anos, isso passará a será possível.
Mas isto não é suficiente. Fazer a lei é fácil. Assegurar os resultados objectivados, é mais difícil.
Mas é possível. E como:
Assegurando a multiplicação de ofertas de formação profissional de nível II (e não de nível III, conforme é usual se ouvir falar), de preferência nas Escolas de Ensino Secundário onde as idades dos alunos agora “retidos” no sistema se equivalerão às dos restantes, facilitando a sua integração. Nas zonas de população mais rarefeita, será necessário garantir transportes regulares para garantir o acesso desses alunos aos locais e escolas devidas. A idade (mais avançada) dos alunos facilita o processo (distâncias maiores a percorrer).
Por outro lado, haverá que incrementar os Cursos de Educação Formação que atribuem profissionalização de nível II a fim de os disponibilizar aos alunos, que, já perto dos 18 anos, concluem o Básico mas já não estão dispostos a continuar no sistema ao longo dos mais 3 anos que constituem o Secundário. Aí entram esses cursos com durações de 1 ano que acrescentam uma componente profissional ao Ensino Básico já concluído.
Realmente, como diz a Ministra, não deverá haver grande acréscimo imediato de alunos no sistema. Daí não se dever esperar grandes incrementos na oferta de trabalho docente. Gradualmente haverá mais alunos, mas contrabalançados com a redução demográfica, o seu número deverá manter-se mais ou menos estável ou com uma variação gradual positiva reduzida.
As ofertas prévias na Educação Pré-Escolar (alargamento da sua frequência) e numa Escola a Tempo Inteiro de qualidade, reduzirão o insucesso e permitirão, primeiro, que a conclusão da escolaridade básica possa ser, efectivamente, generalizada e que, depois, então, se aumente o mais possível e de forma sustentada o nível médio formativo dos jovens portugueses para além do Ensino Básico.
Finalmente:
A bolsa de estudo anunciada é um tiro falhado. Que custará 150 milhões de euros anuais dentro de poucos anos. Ora, não se entende para que serve.
Afinal, aqueles alunos são apoiados pela Acção Social Escolar para efeitos de acesso a livros, material escolar, transportes, alimentação, acesso à banda larga. Já quase tudo gratuito. Antigamente, a bolsa de estudo (e bem) justificava-se para os casos em que a escolaridade obrigava à frequência escolar em estabelecimentos distantes, servindo para financiar uma morada de recurso.
Assim, para que servirá este dinheiro dado assim, de forma avulsa? Não quero nem sugerir algumas aplicações (tão erradas quanto possíveis).
Muito mais correcto seria aplicar esse dinheiro no reforço dos apoios ASE, aplicáveis a todos os alunos com mais de 16 anos (sim, também do básico e sem considerar o facto do aluno não ter obtido, pontualmente, aproveitamento) de forma muito mais criteriosa (criar crédito para determinados usos) e, talvez, suportar estágios – por inteiro – nas empresas que aceitem alunos a frequentar cursos de nível II. Incluindo compensação às empresas e aos alunos (neste caso, substituindo-se ao emprego agora impossibilitado).
O acesso precoce destes jovens, já nesta fase (estágios nas empresas) ao sistema da Segurança Social (habilitando esses jovens aos benefícios correspondentes) também poderia ser analisado e financiado pelo Estado (ao invés da atribuição inútil das bolsas).
Considero que é aqui que se deverá centrar o esforço máximo a fazer nos próximos anos. Mesmo que, ganha a primeira aposta e ultrapassada a primeira fase, tudo se possa transferir para o nível seguinte: secundário e formação de nível III. Mas por agora, ainda estaremos longe (talvez 10 anos) disso.