A Velha História do Ovo e da Galinha
O País anda obcecado com a Educação. Há anos que se tenta diminuir o abandono e o insucesso escolares, mas sem resultados significativos. Para atestar a preocupante, e mesmo ridícula, preparação média facultada pelo nosso Ensino, transmito o conteúdo de uma mensagem que me foi enviada pelo responsável de uma empresa de gestão de resíduos, que se encontrava em processo de selecção de colaboradores. Apareceram candidatos licenciados em diversas instituições públicas e privadas.
Relata ele: “Perguntámos a uma engenheira do Ambiente como calcularia o volume de um contentor do lixo, supondo ser um paralelepípedo? Resposta (R): Assim de momento, não estou a ver….bem…a gravidade é igual a…..9,8 …não é? Perguntámos a outro engenheiro, quanto pesa um contentor de 800 litros cheio de água? R: Deve ser à volta de 10 kg! Noutro caso: Qual a densidade da água? R: Não me lembro dessa fórmula”. Termina o empresário: “E muitas outras aberrações que me coíbo de apresentar aqui!”. Um problema de um exame meu recente envolvia o cálculo do aumento de 20% de uma grandeza. Para meu espanto, mais de metade de 120 alunos não foi capaz de calcular o novo valor! Acrescente-se que uma boa parte dos alunos que chegam ao superior redige com falhas gritantes, inaceitáveis numa antiga 4ª classe. Aquele empresário apontava o dedo ao Ensino Superior, mas é óbvio que este tipo de problemas vem de trás, dos níveis Básico e Secundário.
Perante isto, cabe analisar os currículos e programas destes graus de Ensino. O currículo do 3º ciclo do Básico, engloba, nada mais, nada menos, do que 14 disciplinas diferentes! É óbvio que tantas actividades distintas põem a cabeça dos miúdos num rodopio! Mais surpreendentes são os conteúdos programáticos e a filosofia a eles subjacente.
Tomemos o programa do 3º ciclo em Ciências Físicas e Naturais. Em poucas palavras, ele tem como objectivo uma compreensão global e integradora do Universo, vivo e inanimado! Todo o documento é «lunático». A parte inicial faz considerações sobre o ensino das Ciências, dizendo (sic.) “Entende-se aqui currículo como a indicação de um processo cognitivo e social contextualizado, em que as oportunidades de aprendizagem são resultantes da interacção do professor com os seus alunos. […] O currículo é o que professores e alunos vivem, pensando e resolvendo problemas sobre objectos e acontecimentos tornados familiares. As experiências vividas no contexto da escola e da sala de aula devem levar à organização progressiva do conhecimento e à capacidade de viver democraticamente.” Depois tenta-se especificar os conteúdos, que varrem toda a Ciência (talvez exceptuando os cálculos de percentagem ou do volume de um cubo).
Não resisto a mais um excerto, relativo ao Electromagnetismo e Electrónica, que obviamente não ficam de fora: “Pretende-se que os alunos identifiquem componentes electrónicos e compreendam as suas funções de controlo e regulação nos sistemas de que fazem parte. Montar circuitos electrónicos simples com díodo, transístor, potenciómetro, condensador e termístor de modo a estudar as características e a função de cada um destes componentes. Pesquisar sobre diferentes sistemas de comunicação baseados na electrónica e sobre o modo como a informação é enviada e a que distâncias (por ex., comunicação através de satélite ou comunicação espacial, entre as estações orbitais e a Terra). Sugere-se a utilização de componentes electrónicos para construir brinquedos, alarmes contra incêndios, alarmes contra roubos, termóstatos…A realização de uma feira da electrónica a nível da escola para os alunos mostrarem e explicarem o funcionamento dos diferentes aparelhos produzidos….”
Julgo que isto é surrealismo, não só na Terra, como em qualquer galáxia distante em que as pessoas já nascem doutoradas. O que se pode ensinar às crianças com base nestas directivas? Se estamos a «falar chinês» para elas, como é que vão perceber algo, ter aproveitamento e manterem-se nas escolas? Faço uma sugestão: vejam-se os Cadernos de Iniciação Científica de Rómulo de Carvalho, que muita gente conhece e reconhece como um génio na divulgação de Ciência, ou releiam-se os programas escolares de há 30 anos atrás, e compare-se com o documento anterior.
Estes erros repetem-se provavelmente noutras disciplinas, quer no nível Básico, quer no Secundário. Não será esta uma forte raiz dos males da nossa Educação? E de onde vêm esses princípios e programas? Então, por onde deve começar a reforma?
João Paulo M. Ferreira
professor auxiliar
Abril 12, 2009 at 10:20 pm
Pois, isto é tudo verdade mas não interessa nada, porque não se pode por em causa as cabeças dos iluminados. Os incompetentes são os professores, não são os currículos e quem os pare.
Passará pela cabeça de alguém que em Portugal se comece alguma coisa pela base mais terrena? Só se esse alguém andar de cabeça para baixo.
Abril 12, 2009 at 10:28 pm
Estou farta de dizer que com tantas disciplinas acaba-se por não se aprender nada .E só quem tem filhos pequenos é que se apercebe que eles andam num verdadeiro rodopio! E é verdade que os programas apresentam grandes lacunas ,que são muitas vezes muito extensos .Os professores contestam em actas mas o ME não se interessa por nada disso .
Abril 12, 2009 at 10:36 pm
E aínda semana passada fui falar com a professora da minha pequena que está no 4º ano .E foi a professora que me disse que não era preciso saber a tabuada de cor …e eu respondi-lhe que não estava nada de acordo com essa visão do ensino da matemática .Sou eu em casa que obrigo-a a saber a tabuada.A professora aínda acrescentou que ninguem sabe a tabuada ,que não serve para nada ,nos níveis de ensino superiores .Respondi-lhe que eu aínda sei a tabuada .Foram estes conceitos pedagógicos que formaram milhares de professores mais jovens .Concordo em absoluto com as ideias do Nuno Crato.
Abril 12, 2009 at 10:38 pm
Ora, isso é que seria uma reforma do ensino!!
Alguém neste ME se dá ao trabalho de estudar todas as incongruências dos programas desde o 5º ano ( e não falo do 1º ciclo pq não sei)?
Não há articulação, não há continuidade, há uma misceLãnea de “coisas” soltas, baseadas em retalhos de pedagogias que já foram abandonadas nos outros países, de uma pseudo-intelectualidade própria do “novo.riquismo” de países do 3º mundo.
Qto mais incompreensível, melhor para os senhores da educação!
Há qtos anos anda o Nuno Crato a falar da miséria em que se tornou o ensino da matemática?
Alguém do Ministério o ouve?
Não! A Educação continua nas mãos dos senhores psicólogos das ESEs!
Os novos programas reforçam estas pedagogias da treta!
Porqueê??????
Abril 12, 2009 at 10:42 pm
#3, aconselha a professora da tua filha a ler o “Eduquês em discurso directo” do Nuno Crato, ou outro livro qq dele. Há um que ele escreve com um neurologista que explica as consequências da não utilização da memória em idades precoces.
O problema é que os professores do 1º ciclo continuam a ser formados nas ESEs que defendem essas parvoeiras pq se recusam a fazer balanço da aplicação dessas metodologias
Abril 12, 2009 at 10:43 pm
Há uma luta entre a APM e a SPM.
Vence a Associação.
Abril 12, 2009 at 10:45 pm
Eu ando a dizer isto há muito tempo. Estou no ensino há 33 anos. Já passei por tantas reformas de currículos que já nem sei quantas! Cada ministro é um iluminado e todos querem deixar a sua marca, e infelizmente têm conseguido.
Actualmente, no 3º ciclo, as 14 disciplinas existentes obrigam a que, por exemplo, a Ci~encias Fisico-Químicas e a Geografia e penso que também a C Naturais,correspondem 90 minutos semanais de aula. Algumas escolas resolveram dividir este tempo em dois espaços de 45 minutos, outras optaram por um só tempo de 90min. Seja qual for o caso eu pergunto o que se pode exigir de professores e de alunos com esta carga horária? O que é possível ensinar/aprender? Retirando o tempo de entrar, de sentar, de estabilizar, de escrever o sumário, o que resta de 45 min? Se se tratar de 90 min semanais, que continuidade existe entre aulas espaçadas de uma semana, para não falar quando há um feriado ou o professor ou o aluno tem de faltar.
E a dispersão de conteúdos provenientes das 14 disciplinas! E os alunos entram nisto aos 12 anos!
Oh, desculpem, a culpa é dos professores…
Abril 12, 2009 at 10:51 pm
Esta frase ou algo parecido aparece também na Matemática:
“Entende-se aqui currículo como a indicação de um processo cognitivo e social contextualizado, em que as oportunidades de aprendizagem são resultantes da interacção do professor com os seus alunos. […] O currículo é o que professores e alunos vivem, pensando e resolvendo problemas sobre objectos e acontecimentos tornados familiares”
São com estes disparates que os professores fazem a sua formação. Já estamos com a “injecção por detrás da orelha” com a doutrinação pedagógico do ME. Há colegas nossos que usam estas frases pomposas sem qualquer significado.
O único aspecto positivo do Consulado de Maria de Lurdes foi o facto dos professores se aperceberem que foram “mentalizados” por uma pseudo-ciência que levou à destruição do ensino.
Abril 12, 2009 at 10:53 pm
#7, Maria, eles entram nisto aos 10 anos!!
Eu estou no 2º ciclo.
Sabes que a discilpina de história tem apenas 90 minutos semanais??
Isto para que eles tenham Estudo Acompanhado, área de Projecto e Formação Cívica.
Na minha escola, até este ano os 90 minutos eram uma vez por semana. Este ano, passaram a ser duas aulas de 45.
Chegou a acontecer os profs de História pedirem aos de Estudo Acompanhado para que fizessem trabalhos da sua disciplina pq não tinham tempo!
O horário dos meus miúdos tem dias de 8 horas de aulas ( 9 para quem tem apoios)
Isto não é incrível??
E dizem que estão a fazer uma reforma do ensino!!
Como não vão às escolas, não falam com professores que estejam no terreno nem com alunos, só fazem disparates!
Abril 12, 2009 at 10:54 pm
É falso que os professores do 1.º Ciclo não obriguem a memorizar a tabuada, aliás essa é uma prática comum. O referido em #3 é um caso isolado. Cuidado, não confundam a floresta com a árvore…
Abril 12, 2009 at 10:58 pm
A reforma deverá começar por programas elaborados por gente pragmática!
Depois é resolver o problema da indisciplina com solidez e não com farfalhadas ideológicas de cariz pseudo pedagógico!
Depois é por esses intelectuais das “pedagogias”, das “sociologias”, das pe(i)do-pedo-psiclogias, das “ciências da educação” e afins, todos a apanhar tomate no Alentejo ou a dedicarem-se à pesca!
Depois…é simplificar o sistema, e o Estado dar-se ao respeito relativamente aos alunos.
Depois…CORRER com as associações de pais da escola e só solicitar a colaboração obrigatória dos pais se esta servir para resolver problemas reais!
Depois…depois é por esta gente toda a remar na mesma direcção e os governos terem a coragem de por no ministério da educação dirigentes competentes e não esta gente politicamente incapaz e tecnicamente incompetente.
Abril 12, 2009 at 11:00 pm
Conheço uma professora que é formadora de matemática do 2º ciclo. Tem os mais altos pergaminhos na matéria, nas novas, novíssimas metodologias, via ESE. Nestes últimos anos tem orientado os cursos de formação e também acções de formação no âmbito do novo programa. Este ano voltou à escola. Numa turma de 6º ano os alunos não a entendem, não percebem o que ela quer com as actividades/questões que lhes propõe. Há alunos que adoravam matemática e que estão a ficar desencantados e desiteressados. Os pais já passaram por várias fases e agora já estão na fase de pedir “socorro” a outros professores, aos tais que ainda não aplicam as novíssimas metodologias!
Abril 12, 2009 at 11:08 pm
De facto o currículo do 3.º ciclo é um absurdo. Uma imensidão da áreas curriculares.
Ensinava muito melhor Geografia quando a disciplina era leccionada apenas nos 7.º(3 horas) e 9.º(4 horas) anos, isto até 2002. Ano em que chegou ao 7.º ano a Reforma Benavente.
Sobre a matemática no 1.º ciclo, não me parece que seja regra a prática referida pela Anamaria [3], até porque não há método pedagógico mais fácil e seguro do que obrigar os alunos a decorar a tabuada.
Sobre o ensino da matemática no Básico aconselho o livro Aritmética para Pais de Ron Aharoni, um professor universitário que foi dar aulas para uma escola básica israelita.
Abril 12, 2009 at 11:10 pm
#10, não digo que não há professores que ensinam a memorizar. Digo que as directrizes continuam a não ir nesse sentido.
E, como diz a #12, os novos programas ainda são mais “eduqueses” do que o anterior.
Digo isto, apesar de não ser de matemática, mas tenho colegas na escola a fazerem formação nos novos programas e o que elas me mostram brada aos céus!
Não consigo entender pq razão a Sociedade de Prof de Matemática, a que o NUno Crato pertence, não tem voz neste país!!
Ele até recebeu prémio lá fora, mas aqui é simplesmente ignorado.
Porquê???
Que interesses há por trás disto?
Abril 12, 2009 at 11:14 pm
Sou professora no 3ºCiclo e Secundário desde 1991. Já leccionei nove anos no ensino particular e os restantes no oficial. E de uma coisa tenho a certeza, quer os alunos do particular quer do oficial sofrem com a divisão do saber/ apender em tantas frentes (logo após o 1ºciclo), tendo depois dificuldades em interligar os conteúdos e aplicar realidades aprendidas noutras situações.
Mais, tenho duas filhas, uma no 2º ano e outra no 6º ano, e confirmo que os problemas começam a surgir no 2º ciclo, sobretudo com a separação dos saberes, que deve existir, note-se, mas não desta forma. Penso que o primeiro ciclo, pela minha experiência e observação, não é aquele que deve ser objecto de alterações. Estas sim, devem ocorrer a partir do 2ºciclo, continuando para o 3º ciclo.
Sei que há quem não concorde, mas sou a favor da existência de áreas nucleares de saberes e competências, sobretudo na fase em que se deixa o professor único e em que se compreende que tudo está interligado porque o professor que ensina é sempre o mesmo!Por outro lado, existem conteúdos que se repetem ao longo dos ciclos e quando os requisitamos aos alunos, por exemplo, do secundário, eles não estão lá! Algo está mal, e não penso que seja só por culpa dos alunos! A meu ver, está relacionado com o contexto em que os aprendemos.
Gostaria de dar um exemplo: a minha filha mais velha adora ler sobre História de Portugal, sabe factos,datas e reconhece situações melhor que todos os da casa. No entanto, o seu desempenho em HGP não é mais do que Médio. Aqui está a dificuldade em integrar e relacionar o que se sabe!
Espero não ter saído muito fora do assunto do post!
Abril 12, 2009 at 11:16 pm
“A Luta dos Professores e a Defesa da Escola Pública”
http://passapalavra.info/?p=2525
Abril 12, 2009 at 11:27 pm
É verdade que há uma considerável desarticulação entre ciclos. Por norma tende a culpar-se o ciclo anterior pelas lacunas apresentadas pelos alunos, quando a realidade aponta para uma grande deficiência nos programas. Parece não haver uma noção global do que se pretende, funcionando, na prática, tudo um pouco compartimentado. Há tanto por fazer!!!
Abril 12, 2009 at 11:28 pm
Ora viva!
Voltei e venho ver as novidades!
São muitas. Até nos comentadores houve mudanças…
Sim senhores, muito animados como sempre!
Quanto ao debate que vai neste post, as seguintes questões (ver 1 e 2) já têm sido alvo de outros debates e conferências, mas tudo acaba no discurso situacionista, laudatório e em versão “eduquês”.
1
O desenho curricular do ensino básico, sobretudo nos 2º e 3º ciclos, é aberrante e estupidificante; está uma lástima vai para mais de 10 anos.
2
A Formação Inicial de Professores é péssima.
Ninguém percebe como é possível fazer tanto mal a tantos jovens candidatos a professores e não prestar contas a ninguém sobre a falta de qualidade dos planos curriculares da formação que se faz, igual há anos e anos…
Enfim, o que me intriga é o facto de neste consulado MLR não ter havido qualquer gesto ou medida para saber o que se passa nas ESEs.
Não é esquisito que ninguém mexa nesse sector sacrossanto?
Porque será?
Porque estão lá os gurus que nos arrastaram para este abismo?
Porque é aí que se vem procedendo deliberadamente à proletarização dos candidatos a professores… Que reproduzirão o modelo de proletarização na escola e isso dá muito jeito à malta que toma conta dos bancos, das empresas, etc…
Baixar a qualidade da educação permite tormar amorfos aqueles que passarão a ser a força de trabalho dentros de algum tempo.
Aqui reside uma parte substancial da justificação para o que estão a preparar desde há alguns anos.
Quanto mais pobres (culturalmente) forem os jovens, mais fácil será dominá-los e sujeitá-los.
Uma crise vem mesmo a calhar para dar um empurrão a estas coisas!
Mas… E se de repente a agitação social rebentar e lhes trocar as voltas?
Abril 12, 2009 at 11:30 pm
#15, sempre que pergunto aos meus alunos ( 6º ano) o que andam a dar em Hiatória, eles respondem-me “o ciclo do açúcar” 🙂
Qdo lhes faço alguma pergunta de História a propósito de um texto que estejamos a dar em Português, não sabem responder.
A História cronológica, como dávamos nos nosso tempo de estudantes, estruturava os conHEcimentos. Não se pode relacionar sem se pERceber patavina do que vEm antes e depois.
Dou Port e Inglês.
Se alguém imaginasse como é dada a gramática ( agora chama-se “funcionamento da língua”) em Português…
Salta-se de umas coisas para as outras, passa-se da morfologia para a sintaxe e vice-versa e pretende-se que eles “apanhem no ar”.
Por isso, de há uns anos a esta parte, “construí” a minha própria gramática.
Até papagueiam os verbos, como nós fazíamos.
A verdade é que se orientam melhor, há um fio condutor.
Abril 12, 2009 at 11:34 pm
Este texto mostra aquilo que andamos a dizer por cá há muito tempo. Os programas têm de ser adaptados à realidade e à faixa etária dos alunos. Não é possível cumprir programas com métodos eduqueses pensados em gabinetes e desajustados à escola real.
Abril 12, 2009 at 11:39 pm
Não se esqueçam que é precisamente no 2.º Ciclo que esta malta do ME quer introduzir os tais professores generalistas, que já estão a ser formados pelas ESE’s.
Abril 12, 2009 at 11:40 pm
Ou seja, vamos ter um reforço do eduquês!!!
Abril 12, 2009 at 11:45 pm
#21 e 22, é verdade: vamos ter um reforço do eduquês!
Só não entendo como estas coisas se perpetuam, apesar de todas as pessoas que estão no terreno saberem que estão erradas.
Não percebo. Ultrapassa-me.
O que faria cada um de nós se fosse ME?
Não faríamos inquéritos a professores, a alunos, para saber o que está bem e o que está mal?
Como se pode intervir naquilo que não se conhece?
Abril 12, 2009 at 11:47 pm
Se analisarmos os relatórios da IGE respeitantes à avaliação externa das escolas, é sempre assinalado este ponto fraco:
” a inexistência de uma gestão vertical do currículo entre os diferentes ciclos e níveis de ensino com carácter permanente.”
Problemas do currículo? Problemas com o tempo que escasseia nas escolas para essa gestão?
Ambos?
Ou outros ainda?
Abril 12, 2009 at 11:47 pm
#21, os profesosres das ESEs há muito que chegaram ao 2º ciclo.
Nós, os que andaram na universidade e t~em estágio, já somos uns dinossauros.
Qdo nos reformarmos, deixarão de existir professores de 2º ciclo.
Abril 12, 2009 at 11:48 pm
Calma, que os generalistas também já estão previstos para o 3º ciclo.
Abril 12, 2009 at 11:48 pm
#23
Só não entendo como estas coisas se perpetuam, apesar de todas as pessoas que estão no terreno saberem que estão erradas.
Não percebo. Ultrapassa-me.
Analisa o currículo dos comissários políticos que andam pelas estruturas do ME ou grupos de estudo/trabalho à sua volta. Tens a resposta.
Abril 12, 2009 at 11:49 pm
Gostaria tambem de referir que a segunda língua estrangeira no 8º e no 9º ano costuma ter uma aula por semana de 90 minutos .Por isso mesmo os jovens portugueses são os que falam menos bem as L.E.,segundo um estudo Europeu .
Abril 12, 2009 at 11:50 pm
#24, essa articulação é difícil.
Farto-me de pedir na minha escola para reunir com professores do 1º ciclo.
Parece que vivemos de costas.
O ano passado tivemos uma única reunião com 1º ciclo no âmbito de português.
Gostei muito e compreendi muitas coisas que já pressentia…
Abril 12, 2009 at 11:51 pm
#28, em relação ao francês é uma calamidade.
Nenhuma das minhas filhas fala uma palvra de francês..
Abril 12, 2009 at 11:53 pm
#27, mas achas que eles não sabem destas coisas ou não querem saber?
A mim parece-me que a única coisa que os preocupa é o sucesso rápido, o que só é possivel através de estatísticas.
mudanças de fundo demoram a conceber e a implementar
Abril 12, 2009 at 11:54 pm
Olinda, generlaistas para o 3º ciclo acho pouco possivel…
Abril 12, 2009 at 11:54 pm
A explicação para a introdução de professores generalistas é muito simples: económica! Vão poupar imeeeenso dinheiro, enviando muita gente para fora do sistema.
Abril 12, 2009 at 11:57 pm
Vais ver Reb, daqui a uns anitos saem das tocas.
Abril 13, 2009 at 12:00 am
#15,
A experiência que a Pat refere também já a vivi.
Não tenho ainda uma opinião formada sobre como solucionar essa grande clivagem entre o 1º e o 2º ciclos.
Mas vindo uma “solução” deste ME, fico sempre muito desconfiada.
“Aqui está a dificuldade em integrar e relacionar o que se sabe!”, escreve a Pat.
Esta dificuldade também está relacionada com a idade dos alunos e vai evoluindo e melhorando com a sua maturidade.
Abril 13, 2009 at 12:03 am
#33,
A minha desconfiança passa por aí.
Abril 13, 2009 at 12:08 am
A História é das disciplinas mais afectadas com as “novas pedagogias”(!?). Os alunos até gostam da disciplina mas queixam-se que é preciso estudar muito. Têm que fazer uso de uma série de competências que estão em desuso: ler, interpretar, memorizar, contextualizar,contruir um discurso oral e escrito, expor e debater ideias…tudo muito difícil para os dias que correm.
Abril 13, 2009 at 12:11 am
No 3.º ciclo e Secundário, com o regime de habilitações para a docência aprovado por este governo, um único curso é suficiente para leccionar história e geografia.
Exemplo:
http://sigarra.up.pt/flup/cursos_geral.FormView?P_CUR_SIGLA=MEHG
Abril 13, 2009 at 12:12 am
A lógica que se desenha na construção do edifício educativo, ao nível dos docentes, não privilegia a vertente pedagógica, mas sim a económica. Aliás, o cenário previsto pra daqui a alguns anos é aterrador: todas as escolas dependentes das autarquias, havendo sempre ´muita gente disponível para trabalhar com recibos verdes…
Claro, a pedagogia fica para segundo plano.
Abril 13, 2009 at 12:15 am
E Matemática, CFQ e CN.
Abril 13, 2009 at 12:16 am
Gostámos imenso desta música no passado:
“We don’t need no education
We don’t need no thoughts controlled
There is no sarcasm in the class room
Teachers leave them kids alone
(yells) hey teachers leave them kids alone!”
Pois é! É uma questão geracional.
Fomos mentalizados para a aprendizagem por divertimento em vez do esforço para a aprendizagem, para a cultura do “ser” e “aparentar” ser novo.
O Bom Selvagem de Rousseau fez escola.
Agora estamos a pagar caro.
Eu diria que a civilização ocidental está a pagar bem caro!
Não tenhamos memória curta!
Abril 13, 2009 at 12:16 am
#37
Pois é.
E das mais importantes para a construção do pensamento.
No final do meu secundário (início dos anos 90) já tinha um professor (de Sociologia, formado em Direito… ) que dizia que a história não devia ser ensinada. Estava nos livros, para quê ensinar?, bastava abri-los para saber história. 🙄
Abril 13, 2009 at 12:24 am
Há uma coisa que cada um de nós pode e deve fazer: utilizar as metodologias que nos pareçam mais correctas e eficazes. Claro que há as condicionantes dos programas, mas há sempre uma forma de dar a volta à questão.
Duma coisa eu tenho a certeza: os alunos nunca se esquecem dum bom professor.
Abril 13, 2009 at 12:27 am
42
Estou sempre a ver quando desaparece do currículo…
Abril 13, 2009 at 12:29 am
Só agora li o 2º parágrafo do artigo. Na primeira leitura devo ter saltado do 1º para o 3º §.
Não entendo. Como é possível 2 engenheiros não terem resolvido o problema?
Então, ao fim de 5 anos no superior, num curso de engenharia, ainda se vai buscar a lacuna ao básico e secundário?
Também não é preciso exagerarmos!
Até já pareço eu a dizer que a culpa foi do D. Afonso Henriques.
Abril 13, 2009 at 12:29 am
Meus caros venho por este meio informar que dou por encerrada a participação do nosso confrade amanuense neste blog, mais informo que o facto de ele ser pesporrento e sofrer de diarreia epsilaica torna-o algo verborraico e violento com as pessoas em especial com a classe docente e afins -ainda não foi possivel descortinar a razão de tal ódio.
Lamento deste modo o incómodo que o mesmo causou nestas 72 horas neste blog; a nossa comunidade decidiu enviá-lo para uma ordem silenciosa onde só poderá expressar-se por gestos .
Boa noite e que a paz esteja , agora, convosco.
Abril 13, 2009 at 12:30 am
43
Eu sempre defendi a ideia que pedagógico é aquilo que resulta. Mas isto era eu a pensar quando não havia grelhas a monotorizar-me ao segundo (salvo seja).
Abril 13, 2009 at 12:34 am
Sou professora de Mat e infelizmente concordo com o facto de muitos alunos e adultos revelarem iliteracia matemática.
As causas deste problema são complexas e não estão apenas relacionadas com a Matemática enquanto domínio do conhecimento.
Vou deixar aqui simples questões que me preocupam enquanto professora da disciplina:
– O meu trabalho com os alunos está centrado na construção com compreensão dos conceitos. Só podemos utilizar conceitos na resolução de problemas se os entendemos. E aqui está 1 foco problemático, ensinar para a compreensão é tarefa quase impossível quando se tem 120 alunos. Aprender com compreensão exige muito trabalho aos alunos (nem todos estão disponíveis para o ter). O ano passado os meus alunos (já crescidinhos) tiveram de construir 1 metro quadrado em papel depois de eu ter percebido que eles não faziam a miníma ideia da superfície ocupada por 1m^2.
– Não se aprende Matemática como se aprende as outras disciplinas. A Matemática tem uma linguagem própria e não se resume aos cálculos e procedimentos (o que é visível e fica escrito na folha), há um domínio que é o raciocínio ao qual só se acede pela comunicação. O raciocínio por ser algo não visível nem sempre é valorizado mas é aqui que os professores devem devotar todo o tempo necessário. 3h de Mat semanais não chegam para trabalhar tudo isto.
– Há alunos que passam horas em salas de estudo, onde pessoas que desconhecem os programas acabam por não os ajudar quando contrariam o modo como se trabalha na escola.
– O Crato é uma pessoa que tem acesso aos media, tem um discurso fácil para a população menos conhecedora de tudo o que envolve o ensino e a aprendizagem da Mat. Na minha opinião o seu discurso nem sempre é coerente, por exemplo, durante várias entrevistas ele defende a Matemática pura, mecanização de procedimentos, memorização, etc. e recentemente veio apresentar o livro “Aritmética para pais”, no qual o autor advoga uma aprendizagem inicial partindo da experiência com materiais concretos de forma a que os alunos compreendam os que estão a fazer. (É claro que defendo que os alunos devem saber a tabuada mas também devem saber que a tabuada não termina no 10 e que se não souberem quanto é 8×7 podem encontrar o valor através 8x(4+3)=8×4+8×3.)
– Em Portugal temos alguns matemáticos e educadores matemáticos com alguma notoriedade na comunidade nacional e internacional. Infelizmente não lhes é dado espaço nos media para discutir a aprendizagem/ensino Matemática. Penso que ajudariam bem mais que o Crato.
Abril 13, 2009 at 12:35 am
#47 E essa ideia é para defender, independentemente de todas grelhas que eles inventarem. Só assim faz sentido ser professor.
Abril 13, 2009 at 12:44 am
Excelente texto. O excerto do programa que é transcrito, tal como tudo no eduquês, é uma completa aberração.
Abril 13, 2009 at 12:45 am
“48 Como refere, as causas deste problema são bastante complexas, ultrapassando as especificidades de cada disciplina. Mesmo centrando apenas aí a questão, repare que, mesmo em pessoas da mesma área (atente-se no que referiu acerca de Nuno Crato) não há consensos. A sensação que sinto é que há tanto, tanto, por fazer na educação em Portugal…!!!
Abril 13, 2009 at 12:45 am
49
Pois, mas para se pensar assim é preciso ser professor e na 5 de Outubro professor não entra.
Abril 13, 2009 at 12:46 am
… mas como o sucesso é “obrigatório” lá vamos passar uns alunos de CEF, que mesmo perante uma fórmula dada , à frente dos olhos, que os levaria a dividir 75 por 230 ( por exemplo para calcular a intensidade de corrente numa lâmpada), vão dividir 230 por 75, porque – ” então não é o maior a dividir pelo mais pequeno ? ” – e isto não é uma situação singular…
Abril 13, 2009 at 12:48 am
#52 🙂
Abril 13, 2009 at 12:56 am
53
E quem lhe manda pôr os CEfs a dividir?
Abril 13, 2009 at 12:58 am
53
Ainda os assusta e vão-se embora. Depois, lá vai a escola ter que responder pelo abandono escolar…
Abril 13, 2009 at 1:08 am
#53
… inegenuidade de quem vem do tempo da régua de cálculo… imperdoável, eu sei !!! mas a senilidade transforma os ingénuos em atrevidos…
Abril 13, 2009 at 1:09 am
* ingenuidade
Abril 13, 2009 at 1:22 am
Até que enfim! O post presta-se à reflexão daquilo que (também) interessa discutir, a conversa está boa… Que saudades eu já tinha.
Merci, Madame.
Abril 13, 2009 at 1:23 am
57
E a escola de hoje lá se podem dar ao luxo de ter “ingénuos” ainda por cima “atrevidos”!!!
Abril 13, 2009 at 1:27 am
PG
Estou um bocadinho desorientada …não sei se está a gozar comigo ou a falar a sério.
Abril 13, 2009 at 1:31 am
#51 Tem razao quanto à falta de consensos e no facto de haver muito a fazer nas questões da didáctica (não sei o que é o “eduquês”).
Eu penso que a falta de consenso pode ajudar a caminhar no contexto das ciências não positivistas, mas temos de ser pragmáticos sobre aquilo que sabemos e estar disponíveis para ouvir as ideias dos outros.
Não me parece que determinados argumentos que aparecem na comunicação social sejam para tomar em conta.
O que vale um opinion maker que não é formado em Matemática? O que vale a opinião de um opinion maker que não é professor do básico e secundário e “de longe” pretende dar instruções? O que vale um opinion maker que não faz investigação em ensino da Matemática no básico e secundário? O que vale a opinião de um opinion maker que não trabalha nas situações difíceis da escola actual (indisciplina, turmas enormes, gestão que esconde os problemas)?
O problema maior é estas ideias aparecerem na comunicação social sem haver possibilidade de contra-argumentar!
Não estou a julgar ninguém. Simplesmente me preocupa a ligeireza como determinados sujeitos abordam as questões da aprendizagem da Matemática.
Também me preocupa a forma como as ESEs são tratadas. Tenho colegas bons profissionais cuja formação inicial foi feita nas ESEs e nas Faculdades mas o inverso também se verifica para as duas instituições. Mais uma vez isto parece ser ideia de opinion maker ou de um estudo sem quadro técnico.
Abril 13, 2009 at 1:35 am
#61 suponho que concorda com o facto de não os pôr a dividir.
Abril 13, 2009 at 1:40 am
62
Hoje estou um bocadinho ” básica”, continuo a defender que pedagógico é aquilo que resulta. Aprendi com o tempo e não há quem me tire isto da ideia.
Abril 13, 2009 at 1:42 am
64
Desde que não os assuste…pode ser.
Abril 13, 2009 at 1:46 am
Na base também concordo consigo. Tudo depende do resultado pretendido.
Abril 13, 2009 at 1:54 am
Elisabete
“Na base”, que não foi concebida por nós, o que importa, pelo menos no básico,é manter os alunos na escola, “dar-lhes” o nono ano e garantir o sucesso estatístico. Já não é pouco, mas devia ser dito que era assim. Não se deve enganar as criancinhas. E os portugueses também não.
Abril 13, 2009 at 1:58 am
Ora, assim estamos entendidas e sabemos do que falamos. Bem me parecia que era tudo uma questão de bases…
Abril 13, 2009 at 2:17 am
68
Não me leve muito a sério. Às vezes apetece-me brincar um bocadinho. É a minha maneira de lidar com a “desgraça” em que se transformou a Escola Pública.
Abril 13, 2009 at 2:48 am
Não sei se este vírus ‘eduquês’ já chegou às licenciaturas (aliás, agora já são mestrados) mas que o perfil traçado no ‘post’ assenta como uma luva na grande maioria dos alunos de 11º ano das escolas aqui do burgo, lá isso assenta. Quanto aos programas, pelo menos no que à Física e à Química diz respeito, têm conteúdos que não lembram ao diabo. As metodologias sugeridas são tão divergentes do mundo real que nem vale a pena gastar o latim com elas.
Abril 13, 2009 at 10:49 am
#59 e etc.
… é isso mesmo que vai acontecer, conforme a previsão, vão sair diplomadinhos… tudo a bater muito mais certo que qualquer previsão económica…
… aquele discurso , dos CEF fazerem técnicos para o futuro do país, também se sabia que era só ” cartaz”… a previsão continua a bater certinho…
… voz popular : “albarda-se o burro à vontade do dono”… ( sentido conotativo, não vá o diabo tecê-las)
Abril 13, 2009 at 11:00 am
A questão do ensino da electrónica em CFQ, no 8º ano do básico, revela o desacerto com a realidade nas escolas revelado pelo ME. Sendo eu formado em Física e tendo alguma formação em circuitos electrónicos, não me foi difícil adaptar à reforma curricular de então, no que diz respeito aos conteúdos teóricos. O mesmo não se pode dizer dos colegas formados em Química, a maioria dos Profs de CFQ do 3º ciclo. Passou-se algo semelhante com a introdução da Astronomia nos currículos. No reverso, estava a componente laboratorial de Química, tendo eu procurado inúmeras vezes acções de formação na área, sem sucesso. O problema é que a reforma não foi acompanhada de formação massiva para actualização científica dos docentes.
Por outro lado, as escolas não possuiam os componentes electrónicos necessários para a realização dos tais circuitos previstos no programa, como os alarmes ou termóstatos, nem foram previstas verbas para os adquirir, o que inviabilizava logo à partida a componente prática exigida, fundamental para o sucesso da aprendizagem e para o cumprimento das directrizes programáticas.
Em suma, fez-se uma reforma no papel, burocrática, ignorando-se as condições no terreno, como se algo se tornasse real só por estar escrito num decreto.
Abril 13, 2009 at 11:25 am
#48, yesican, discordo da sua perspectiva.
Apesar de não ser de Matemática, estou num projecto de Português/ Matemática e trabalho com as colegas do seu grupo.
Não é uma questão de poucas horas. Na minha escola, ao abrigo do Plano da Matemática, eles têm 7 horas por semana!! Oferta de Escola e E.A são dedicados à Matemática.
O problema está exactamente nessa concepção de “ensinar a compreender”.
Nessa perspecitva, excluiram-se os automatismos e, com isso, é impossível progredir.
Se, de cada vez que se tem que saber qtos são 8 vezes 7, se tem que decompor ( é apenas um exemplo básico) nunca mais lá chegamos.
Um dia, assisti, numa aula, a esta coisa maravilhosa: a prof de matem. tentava explicar qq coisa relacionada com fracções e uma aluna, esperta, disse : “Já percebi” e disse qual a forma de efectuar a operação através daquilo que todos fizemos: o “truque”.
As vossas pedagogias não têm surtido efeitos, terá que concordar. Há coisas que simplemsente se aprendem, memorizam e mais tarde se compreendem.
As provas de aferição de matemática de 6º ano são uma aberração: apelam apenas ao raciocínio ( só problemas), deixando de fora alunos que tenham outros mecanismos de aprendizagem.
Claro que a aprendizagem no concreto é indispensável e, por isso, o Nuno Crato a defende nos 1ºs anos de escolaridade.
Não há qq contradição nisso.
Abril 13, 2009 at 12:03 pm
#62 A questão que levanta, na generalidade, é bastante pertinente. No fundo, constatamos que a opinião de quem está no terreno pouco tem importado, o preponderante tem sido definido nos gabinetes, longe do local onde tudo se passa, sem ter em conta as especificidades e realidades de cada escola.
Concordo quando diz “…mas temos de ser pragmáticos sobre aquilo que sabemos e estar disponíveis para ouvir as ideias dos outros.”
É um bom ponto de partida, pelo menos para quem está interessado em construir. E, creio eu, está na hora de começarmos a falar mais destas “coisas menores” que são a nossa prática pedagógica.
Abril 13, 2009 at 3:49 pm
#73
Não vou comentar o contexto da sua escola. E penso que os projectos são de louvar.
Contudo, face a alguns projectos PAM que conheço, penso que nem sempre o número de horas dadas à Matemática são vistas como Mat. pelos alunos porque são dedicadas a actividades com forte cunho lúdico. Logo, isto não significa um retorno positivo na aprendizam.
Sobre a Matemática, discordo por completo consigo, as estuturas matemáticas são construídas sobre um conjunto de propriedades passíveis de justificação e prova. É para mim é inadmissível que o conhecimento seja um “truque”. Quem transmite esta ideia está a dar indicações erradas aos alunos, passando a ideia da Matemática para o domínio do conhecimento ilógico, com consequências negativas como as relatadas por João Ferreira. Os alunos infelizmente pensam que só podem calcular o volume de um prisma através de uma fórmula.
Também defendo a utilização de materiais concretos no 1.º ciclo com alguma dose de formalismo. Mas também a defendo nos 2.º e 3.º ciclos porque em termos de desenvolvimento mental não há nada que diga que estes alunos são capazes de abstrair com facilidade. E porque no 2.º ciclo eles vão começar a trabalhar, por exemplo, com nº racionais, logo os alunos vão ter de usar materiais concretos para “voltar a aprender” a adicionar, subtrair, multiplicar e dividir.
Acrescento que os números racionais são porventura um dos assuntos mais problemáticos para ensinar e aprender pois uma só representação encerra vários significados, isto é, a fracção pode representar a parte de um todo, um quociente, um operador, a razão (ex:parte:parte). Uma enorme complexidade numa aparente simplicidade.
Se no 2.º ciclo os alunos devem saber a tabuada? Penso que sim. Mas também sabemos que nem todos aprendemos ao mesmo tempo. E a “decomposição” como estratégia que refuta não é mais que aplicação das propriedades da multiplicação leccionadas com frequência no 5.º ano, que os professores tanto pressionam para os alunos “saberem os nomes” mas que pelos visto não apostam em fazer usar como forma de flexibilizar o raciocínio.
Obrigada por podermos discutir assuntos sobre a nossa prática.
Abril 24, 2009 at 7:22 pm
Sou brasileira e por aqui acredito que os problemas da educação sejam bem piores que em Portugal.Entretanto, pelo que li, a base do problema parece ser a mesma: o modo como o conhecimento é transmitido aos alunos. Sou leiga no assunto, mas quando aluna ja percebia que o sistema educacional brasileiro era e continua sendo muito deficiente. Para começar,não se leva em conta as diferenças pessoais de cada aluno,sejam sociais, intelectuais, morais etc… todos somos nivelados como se iguais fóssemos,e isso não é verdade, pois cada um foi criado de um modo diferente e possui intelecto e habilidades também diferentes e ademais cada um tem seu tempo.não obstante, usa-se um método de ensino para todos e isto não pode resultar em aprendizagem satisfatória,a qual aliás, por aqui, geralmente é aferida por uma mera prova.Privilegia-se assim a memorização,principalmente em matemática,uma vez que temos que reproduzir fórmulas, as quais não sabemos sequer como se chegou a ela, automatizando a aprendizagem e tolhendo a criatividade. Há ainda uma agravante peculiar que é a desvinculação entre o conteúdo ensinado e a realidade em que o aluno esta inserido, o que devido ao tamanho do Brasil e a enorme difersificação cultural por vezes dificulta a observação e aplicação prática dos conteúdos dados em sala.
Sempre me preocupei com a questão educacional e por isso, procuro para meus filhos escolas com propostas mais modernas,nas quais os conteúdos são passados levando-se em consideração as especificidades de cada um e visando uma aprendizagem na qual se estimule mais o raciocínio do que a mera memorização. Percebo que eles sentem prazer em frequentar a escola e possuem uma base satisfatória, óbvio que considerando a realidade brasileira.