ONDE ESTÁ A UNIÃO?

Não acredito em ideologias partidárias, sobretudo nas mãos dos nossos políticos, onde não passam de farsas para embustear eleitores. Até aqui tenho tido tendência para acreditar mais em pessoas do que em ideologias. Mas, nos tempos que correm, devo acreditar em quem?

Disse-se muito por aí que a Ministra da Educação teve o condão de unir os professores. Houve até quem lhe agradecesse por tal. Nada mais ilusório. Os professores nunca foram nem nunca serão unidos. É a nossa sina. Vimos de diferentes formações, de diferentes sensibilidades. Muitos de nós vieram para esta profissão só para experimentar; seria uma coisa provisória, por uns anos, para ver como era. Muitos por cá ficaram, sobretudo por não terem tido garra para daqui fugir. Alguns por cá andam mas têm outra profissão. Muitos se apaixonaram pelo Ensino, é certo, mas também entre esses há muitos que fugiriam se pudessem. Não há paixão que dure tanto.

Os vários sindicatos de professores são uma evidência da desunião que sempre grassou nesta classe. Parecemos unidos entre 100 mil, parecemos capazes de tudo entre 120 mil, parecemos poderosos quando fazemos greve entre mais de 90% dos nossos colegas, parecemos decididos quando em moções assinamos o nosso nome entre centenas ou milhares.

Parecemos unidos quando nos escondemos, mas borramo-nos de medo quando é preciso mostrar a cara e tomar decisões individualmente, sobretudo quando estas envolvem riscos.

Quando as mudanças afectam o nosso bolso e a nossa dignidade, de forma descarada, iludimo-nos de que estamos unidos, de que somos fortes. Mas, se alguns de nós puderem lucrar com certas mudanças, ainda que sejam presentes cujo veneno só mais tarde se fará sentir… não importa, logo nos lançamos.

Onde está a união quando quase todos os que puderam se lançaram ao concurso para titulares? Onde está a união quando metade daqueles que fizeram greves e marcharam entre as multidões acabaram por entregar os objectivos individuais?

Eu, que há muito tempo não acredito em tantas coisas, voltei de novo a não acreditar também na minha classe. Mas ainda andei iludido durante uns bons meses, confesso. Agora me iludo mais, estou de volta à realidade.

Os que fraquejaram, como respondem por tamanhas incongruências? Como explicarão às gerações vindouras terem trocado o ensino público de gestão democrática pelo seu umbigo? Como lidarão com o contributo que deram para tornar o país mais pobre e as pessoas mais tristes?

Confesso que, perante este cenário, é pouco provável que me sinta motivado a participar em mais manifestações ou greves, ou a assinar moções. Não me interessam actos colectivos de efeito meramente catártico no plano individual.

Actualmente, apenas o caminho dos tribunais me parece minimamente promissor. Sobretudo porque aí não estaremos nós para defender o Ensino e a nossa classe. Estarão outros, e ainda bem.

 

 

António Galrinho

Professor