Do Diário do Minho de hoje, enviado pelo autor:

ssousa2jan09

Há atitudes intoleráveis dentro de uma sala de aula

A sala de aula é a razão de ser de uma escola. Tudo converge para ela e todos os agentes educativos conhecem bem o seu papel como local privilegiado de interacção pessoal. O grupo/turma e os professores são os seus principais actores no desenrolar de todo o acto educativo, mas há sempre uma forte pressão exterior na relação interpessoal que poderá influenciar todo o processo para o bem ou para o mal. A turma, sendo a unidade organizacional mais pequena de uma escola, constitui o elemento fundamental de uma instituição escolar em que os professores e alunos desempenham papéis complementares de ensinar e de aprender. Os restantes actores sociais (pais/encarregados de educação, auxiliares de acção educativa, poder político e sociedade em geral) são um peso muito forte nesta relação bilateral que deve ser sempre interventiva, mas dialogante, nunca actuando unilateralmente, impondo princípios sem ouvir os verdadeiros intervenientes no processo.

O que fazer? Há três dimensões que devem estar sempre presentes num professor: científica, pedagógica e humanista, numa perspectiva dinâmica e integrada, tendo em conta todos os participantes no processo educativo. A sala de aula não deve ser desprestigiada com actos que a banalizam constantemente, desautorizando os professores e ridicularizando o real papel do aluno. Já é tempo de se perceber que atitudes dessas não dignificam nada a escola, nem os alunos e será um pesadelo para a vivência em sociedade. O acto educativo está a ser verdadeiramente valorizado?  Não é tempo de pensarmos bem nisso e actuarmos em conformidade? Vamos deixar de fazer dos prevaricadores uns “coitadinhos”, pois passam sempre incólumes a qualquer acto de indisciplina.

Pais e sociedade em geral, ajudem a combater este flagelo que corrói, em muitos casos, silenciosamente o sistema de ensino em Portugal. Vejam o que está mal e ajudem a corrigir. Não acham que os CEF,s estão a causar grandes problemas nas escolas? A via profissional é muito importante, mas há que criar condições para que estes cursos funcionem devidamente, por exemplo, em espaços diferentes com os materiais necessários e não nas instituições que todos frequentam. A exigência, nesta área, também é fundamental, educando os alunos para a cidadania e qualificando-os, sobretudo na parte prática, para que fiquem bem habilitados para o mercado de trabalho que um dia os espera. E as aulas de substituição não terão que ser revistas? Seria muito mais útil haver ofertas nas escolas (sala de convívio, salas de estudo, ludotecas, clubes…) e cada aluno escolheria o melhor para si. Não seria melhor do que passarem esses tempos contrariados nas salas de aula? Por que razão não se criam bolsas de professores, como acontece noutros países, para haver a possibilidade de se convidar docentes da mesma área para darem continuidade à matéria naquelas faltas previsíveis? Assim havia resultados positivos, caso contrário, poderão funcionar como focos de actos de indisciplina. Tantos professores desempregados que receberiam de bom grado esta medida!

O infeliz episódio da escola do Cerco, no Porto, no dia 18 de Dezembro, em que foi apontada uma pistola de plástico à professora de Psicologia, exigindo-lhe nota positiva, é bem o protótipo de cenas verdadeiramente chocantes que acontecem, hoje, nas escolas e que não são comunicadas. As afirmações da Directora Regional de Educação do Norte, que denominou aquele acto como uma “brincadeira de mau gosto”, foram, a meu ver, muito infelizes, porque não podemos chamar brincadeira a um acto que poderia ter consequências muito mais graves. Já foi desviado um avião com uma pistola de alarme, podemos chamar a isso brincadeira de mau gosto ou um crime punível perante a lei? Quando os alunos desrespeitaram a Ministra também foi brincadeira de mau gosto? É evidente que não, porque são atitudes reprováveis e condenáveis numa sociedade livre e democrática.

Colegas, nunca tenham receio de denunciar os casos de indisciplina na sala de aula, não esperem que a Internet os divulgue, porque o caso da escola do Cerco e do Carolina Michaelis ficaram conhecidos por uma via que criminaliza ainda mais esses transgressores que andam nas escolas com objectivos desestabilizadores e que devem ser combatidos. Há certos casos de violência escolar que deviam ser denunciados ao Ministério Público. O Procurador-Geral da República tem sido um grande defensor no combate a estas situações que não podem continuar a existir. Parabéns pelo seu empenho, pois são actuações justas e que dignificam o cargo que ocupa.

* Professor da Escola Monsenhor Elísio de Araújo – Pico de Regalados – Vila Verde – Braga