Chamo-me António Morais. Sou professor. Aquele professor doido que percorreu 947 km de bicicleta unindo as escolas nas quais teve o privilégio de leccionar e trabalhar com o intuito de chamar a atenção para o que se está a passar na educação.
Há muito tempo que percebi que a educação não está na moda. Quem é que se importa com ela? Talvez o governo se importe um pouco, mas só na justa medida em que possa cortar e limitar os gastos com ela. Eu importo-me muito, e acho sinceramente que este ministério com a sua obsessiva avalanche de mudanças norteadas por princípios exclusivamente economicistas delapidou e destruiu o património da classe docente: a sua dignidade e o seu empenho; e assim deu uma estocada mortal na escola pública. Queria denunciar esta triste realidade e por desgraça descobri algo ainda mais horrível: a existência de indícios muito fortes de que a liberdade de expressão já não mora aqui! Ao longo desta legislatura foram surgindo sinais que pareciam fortuítos e pontuais do cerciar da liberdade de expressão. Agora configuram, para mim, uma clara estratégia sistemática e bem urdida para calar as vozes dissonantes. Foi uma anedota sobre o Primeiro Ministro, que custou o lugar na DREN e um processo disciplinar ao professor que a contou. Lembro que tal piada não foi escutada pela pessoa que sentenciou e pronunciou a pena. Presumo que a anedota deveria ser péssima para ser premiada com tal castigo!!! Foi uma simpática visita realizada por dois amáveis polícias ao sindicato da Fenprof na Covilhã na véspera da visita do Primeiro Ministro àquela cidade, que apenas queriam tomar café. O café dos sindicatos tem outro sabor!!! Foi a preocupação das autoridades em encontrar estacionamento em Lisboa no dia 8 de Março (o dia da Marcha da Indignação) que fez com que fossem às escolas previamente inteirar-se dos professores que iriam para a capital protestar. É excelente termos um governo preocupado com o nosso bem-estar no trânsito lisboeta!!! Foi a proibição dos professores se deslocarem para outras escolas para participarem em reuniões sindicais. Nessas deslocações podem acontecer acidentes, deve ser essa a preocupação que fundamentou esta proibição. A tutela preocupa-se connosco!!! Foi a pretensão da tutela em diminuir a representatividade dos sindicatos e, certamente, continua a ser. Afinal numa altura em que tudo o que pedido pelos trabalhadores é imediatamente concedido pelas entidades patronais… para que são necessários os sindicatos?!!!
Agora os factos estranhos que aconteceram na última etapa da minha viagem “No Trilho da Esperança”, que uniu Alcoutim a Vila Real de Santo António…
Primeiro: duas cadeias de televisão enviaram duas jornalistas e dois operadores de imagem respectivamente que me acompanharam durante uma grande parte desta última jornada e que filmaram a conferência de imprensa improvisada na rua pela impossibilidade de ser realizada dentro da escola.
Há muito tempo que percebi que a educação não está na moda. Quem é que se importa com ela? Talvez o governo se importe um pouco, mas só na justa medida em que possa cortar e limitar os gastos com ela. Eu importo-me muito, e acho sinceramente que este ministério com a sua obsessiva avalanche de mudanças norteadas por princípios exclusivamente economicistas delapidou e destruiu o património da classe docente: a sua dignidade e o seu empenho; e assim deu uma estocada mortal na escola pública. Queria denunciar esta triste realidade e por desgraça descobri algo ainda mais horrível: a existência de indícios muito fortes de que a liberdade de expressão já não mora aqui! Ao longo desta legislatura foram surgindo sinais que pareciam fortuítos e pontuais do cerciar da liberdade de expressão. Agora configuram, para mim, uma clara estratégia sistemática e bem urdida para calar as vozes dissonantes. Foi uma anedota sobre o Primeiro Ministro, que custou o lugar na DREN e um processo disciplinar ao professor que a contou. Lembro que tal piada não foi escutada pela pessoa que sentenciou e pronunciou a pena. Presumo que a anedota deveria ser péssima para ser premiada com tal castigo!!! Foi uma simpática visita realizada por dois amáveis polícias ao sindicato da Fenprof na Covilhã na véspera da visita do Primeiro Ministro àquela cidade, que apenas queriam tomar café. O café dos sindicatos tem outro sabor!!! Foi a preocupação das autoridades em encontrar estacionamento em Lisboa no dia 8 de Março (o dia da Marcha da Indignação) que fez com que fossem às escolas previamente inteirar-se dos professores que iriam para a capital protestar. É excelente termos um governo preocupado com o nosso bem-estar no trânsito lisboeta!!! Foi a proibição dos professores se deslocarem para outras escolas para participarem em reuniões sindicais. Nessas deslocações podem acontecer acidentes, deve ser essa a preocupação que fundamentou esta proibição. A tutela preocupa-se connosco!!! Foi a pretensão da tutela em diminuir a representatividade dos sindicatos e, certamente, continua a ser. Afinal numa altura em que tudo o que pedido pelos trabalhadores é imediatamente concedido pelas entidades patronais… para que são necessários os sindicatos?!!!
Agora os factos estranhos que aconteceram na última etapa da minha viagem “No Trilho da Esperança”, que uniu Alcoutim a Vila Real de Santo António…
Primeiro: duas cadeias de televisão enviaram duas jornalistas e dois operadores de imagem respectivamente que me acompanharam durante uma grande parte desta última jornada e que filmaram a conferência de imprensa improvisada na rua pela impossibilidade de ser realizada dentro da escola.
Segundo: a Escola Básica 2,3 D. José I de Vila Real de Santo António, à hora da minha chegada, que ocorreu por volta das 13.30, estava encerrada, mesmo estando lá dentro pessoal administrativo e auxiliares de acção educativa que se escondiam quando chamávamos para que nos abrissem a porta.
Terceiro: a Direcção Regional de Educação do Algarve não autorizou a que se fizesse a conferência de imprensa no interior da escola.
Quarto: os telejornais das respectivas televisões que se encontraram presentes não deram qualquer notícia referente ao que tinha acontecido durante e no fim desta jornada.
Explicações para estes factos: Primeiro, os jornalistas e os operadores de câmara das respectivas televisões foram filmar-nos com a intenção de passar o tempo e não de veicular qualquer informação. É um bom passatempo!!! Segundo: a escola estava fechada porque era a hora de almoço, mesmo tendo sido avisados e tendo conhecimento que a hora prevista da minha chegada era as 13.00, e os funcionários iam-se escondendo, porque gostam de jogar às escondidas!!! Terceiro: a Direcção Regional de Educação do Algarve não gosta de professores ciclistas e jornalistas dentro da escola, sobretudo em tempo de férias, podem perturbar o normal funcionamento das aulas inexistentes!!! Quarto: a última jornada de uma viagem de protesto de bicicleta pela educação não tem nenhum interesse jornalístico, sobretudo quando a escola está fechada e quando a tutela não autorizou que se fizesse a conferência de imprensa lá dentro. É tudo muito comum e banal para ser notícia!!!
Num regime ditatorial sei que não sou livre para dizer o que quero, mas ao contrário, pensava eu, ingenuamente, num regime democrático tenho liberdade de expressão e as minhas ideias podem ser veiculadas pelos meios de comunicação social. Estava enganado!!! O que é feito do significado da palavra “democracia” e da “liberdade de expressão”? Parece que estou a viver numa “diz que é uma espécie de democracia”, com muito de “espécie” e pouco de “democracia”.
Bom, devem ser tudo coincidências estranhas e eu devo estar num estado de alucinação e ver o que em realidade não existe. A nossa democracia não está bem mas recomenda-se! Recomenda-se um tratamento eficaz para a profunda doença que padece!!!!
Terceiro: a Direcção Regional de Educação do Algarve não autorizou a que se fizesse a conferência de imprensa no interior da escola.
Quarto: os telejornais das respectivas televisões que se encontraram presentes não deram qualquer notícia referente ao que tinha acontecido durante e no fim desta jornada.
Explicações para estes factos: Primeiro, os jornalistas e os operadores de câmara das respectivas televisões foram filmar-nos com a intenção de passar o tempo e não de veicular qualquer informação. É um bom passatempo!!! Segundo: a escola estava fechada porque era a hora de almoço, mesmo tendo sido avisados e tendo conhecimento que a hora prevista da minha chegada era as 13.00, e os funcionários iam-se escondendo, porque gostam de jogar às escondidas!!! Terceiro: a Direcção Regional de Educação do Algarve não gosta de professores ciclistas e jornalistas dentro da escola, sobretudo em tempo de férias, podem perturbar o normal funcionamento das aulas inexistentes!!! Quarto: a última jornada de uma viagem de protesto de bicicleta pela educação não tem nenhum interesse jornalístico, sobretudo quando a escola está fechada e quando a tutela não autorizou que se fizesse a conferência de imprensa lá dentro. É tudo muito comum e banal para ser notícia!!!
Num regime ditatorial sei que não sou livre para dizer o que quero, mas ao contrário, pensava eu, ingenuamente, num regime democrático tenho liberdade de expressão e as minhas ideias podem ser veiculadas pelos meios de comunicação social. Estava enganado!!! O que é feito do significado da palavra “democracia” e da “liberdade de expressão”? Parece que estou a viver numa “diz que é uma espécie de democracia”, com muito de “espécie” e pouco de “democracia”.
Bom, devem ser tudo coincidências estranhas e eu devo estar num estado de alucinação e ver o que em realidade não existe. A nossa democracia não está bem mas recomenda-se! Recomenda-se um tratamento eficaz para a profunda doença que padece!!!!
António Morais (recebido através de mail da São Carneiro)
Setembro 2, 2008 at 7:27 pm
Parabéns ao António pela iniciativa e pela coragem… Nem sei bem se este país merece esse esforço… Mas ficam as conclusões que retirou para ajudar à resposta…
Setembro 2, 2008 at 7:30 pm
Nunca pensei em dizer isto de alguém mas hoje ao ouvir aquele oh daquela vaca,,só me apetrece dizer isto que morra cheia de metástases ósseas num sofrimento tão atroz que peça para a matarem com as dores que sente ..tenho dito.
Setembro 2, 2008 at 7:37 pm
Deixa lá, António, já somos dois:
http://videos.sapo.pt/iZB2g9IHmrUhlny46gWG
O mais divertido é que, logo a seguir, os meus alunos ganharam o prémio Escola Solar RockinRio (por falar nisso, os tipos ainda não tiveram tempo de instalar a central fotovoltaica devidamente merecida) e, batata frita!, as televisões ficaram aborrecidas.
Setembro 2, 2008 at 7:53 pm
Não lhe olho pra tromba, nem que a “vaca tussa”. É essa mesma, BB.
Setembro 2, 2008 at 8:02 pm
As hienas do PS estão contentes, a começar pelo chefe da matilha que não consegue esconder a sua satisfação.
A Noite das Facas Côr-de-Rosa poderá estar em marcha, a partir do momento em que conseguirem montar uma armadilha ao actual Procurador, de forma a poderem cilindrar a Justiça e os Juízes, como fizeram com a Educação e os docentes.
Setembro 2, 2008 at 8:07 pm
Fafe, a revelar-se para o «grande público»?
Setembro 2, 2008 at 8:24 pm
Será o mesmo!? Frente às camaras da TV é mais suave e agradável.
Setembro 2, 2008 at 8:28 pm
Ele já se tinha revelado aqui neste blogue, em Março, não se lembram?
Setembro 2, 2008 at 8:42 pm
Parabéns ao António!
Custa ver esta “democracia”.
Setembro 2, 2008 at 9:24 pm
As hienas do PS estão contentes ( … )
Não sei não. Pelo que vou ouvindo de fonte que considero perfeitamente credível, as reuniões do PS estão a aquecer e bem e o chefe não fica lá muito bem na fotografia.
Setembro 2, 2008 at 9:43 pm
Seria mais interessante promover uma campanha em que todos os professores fossem de bicicleta ou transporte público para o trabalho …
Mas o esforço individual conta e o colega conseguiu.
Cumprimentos,
M.
Setembro 2, 2008 at 10:58 pm
Paulo Guinote Diz:
“Fafe, a revelar-se para o «grande público»?”
Ilustre, não se esconde o que pode revelar-se; e quando não se ilumina o resto até se constituirá nas escrituras a manifesta falta de fé dos crentes. Em tempo, o único “grande público” que vale a pena são os meus alunos, aos quais não me importo de provocar tudo. Mas é um processo com estudada contenção.
Setembro 2, 2008 at 11:02 pm
Seria mais interessante promover uma campanha em que todos os professores fossem de bicicleta ou transporte público para o trabalho …
E depois o Governo viria acusar os professores de não contruirem para o imposto sobre os produtos petrolíferos e, desta maneira, serem os responsáveis directos pelo agravamento do défice 😆
Setembro 2, 2008 at 11:04 pm
Sim, mas por aqui tirou o manto sobre o mistério.
Afirmaram-se pergaminhos.
Coerências.
Não fosse alguém suspeitar da falta dessas insignificâncias.
😉
Setembro 2, 2008 at 11:56 pm
…às vezes faz falta alimentar o romantismo para não perder, completamente, a inocência!… Um agradecimento imenso ao António, pelo esforço e convicção.
Setembro 3, 2008 at 12:36 am
‘Dass, ainda hei-de descobrir o que é que se passa com este país. Ainda sou novo, mas já me apercebi que o 25 de Abril conquistou menos do que se publicitou. Muito me engano ou o socrates mexe cordelinhos em todo o lado. e nas estações de televisão, é dentro das escolas, é na polícia. Tem de acabar. Para quando um movimento que se faça ouvir (é pena eu ser menor) (e eu sei que é fácil falar)
Setembro 3, 2008 at 1:02 am
Macintosh, bom ponto (nos saíste)!
Setembro 3, 2008 at 1:02 am
E para finalizar esta grande noite:
– Ó Nuno, o teu pai chama-se Albino?
Setembro 3, 2008 at 10:23 am
Talvez não, embora transporte genes adesivos.
Setembro 3, 2008 at 6:15 pm
#7
O que é que perfilava, um aspecto de alucinado género “Clockwork Orange” ou “Apocalipse Now”?
Lamento a desilusão.
Setembro 3, 2008 at 6:44 pm
António Morais e Fafe
Tive conhecimento das vossas lutas pela tv e desde o início senti um imenso orgulho pelas vossas acções. Disso falei aos colegas na escola e divulguei.Deu o mote a debates e reflexões sobre o nosso mal estar como docentes. Talvez o mesmo deva ter acontecido um pouco por todo o País.
Por isso obrigado. Os resultados das vossas iniciativas vieram dar coragem a muitos profs, embora vocês não tenham conciência do seu alcance.
Um abraço de Bragança
Setembro 6, 2008 at 4:55 pm
Caros colegas,
Devo dizer com lamento e muito desgosto que n´s, professores, (generalizando) temos alguma culpa. Acabo de chegar do encontro FISICA 2008, a inauguração contou com o discurso político conhecido de todos nós do dr. Valter Lemos e assembleia de professores presentes não só evidenciou indignação como no fim até aplaudiu, como aplaudiu as intervenções dos organizadores do congresso. Fiquei desiludido, triste, revoltado e com vontade de não voltar a participar em mais nenhuma manifestação.
Jacinto Castanho
(Prof. do distrito de Santarém)
Setembro 6, 2008 at 4:58 pm
Caros colegas,
Devo dizer com lamento e muito desgosto que nós, professores, (generalizando) temos alguma culpa. Acabo de chegar do encontro FISICA 2008, a inauguração contou com o discurso político conhecido de todos nós do dr. Valter Lemos e assembleia de professores presentes não só não evidenciou indignação como no fim até aplaudiu, como aplaudiu as intervenções dos organizadores do congresso. Fiquei desiludido, triste, revoltado e com vontade de não voltar a participar em mais nenhuma manifestação.
Jacinto Castanho
(Prof. do distrito de Santarém)
Setembro 6, 2008 at 5:20 pm
Jacinto,
Não sei que lhe diga.
Há muito adesivo e há gente que gosta de ser muito polida nessas ocasiões, para não ficar mal na fotografia.
Setembro 6, 2008 at 5:23 pm
Assim não vamos a lado nenhum… com esta adesivagem cheia de “Super Cola 3”.
Setembro 7, 2008 at 9:35 am
[…] Posted by Paulo Guinote under Coisas Boas, Imprensa O texto do António Morais, postado no Umbigo na 3ª feira, tem hoje honras de ocupar todo o espaço das cartas ao director na pághina 36 do Público (mas […]