Em algumas trocas de comentários tem surgido a polémica em torno do construtivismo aplicado à Educação. Normalmente evoca-se Piaget, é verdade que nem sempre resistimos à tentação da carcatura de alguns lugares-comuns do construtivismo menos informado que por aí anda e pouco mais.
Ora bem, eu já escrevi que reconheço valor e utilidade a algumas das ideias do construtivismo, só que acho que nem sempre são devidamente compreendidas por alguns dos seus proponetes e que em muitos casos a sua transmissão na formação inicial dos professores – ou mesmo nas profissionalizações mais tardias – é feita com base em vulgatas ultrapassadas ou então aplicadas de forma a crítica a todos os contextos educativos.
Sei disso porque acompanhei a profissionalização da minha caríssima outra metade docente em início da década de 90, assim como depois tive direito à minha dose quando fiz a minha mesmo a acabar o século passado. E confesso que em ambos os casos, a versão que nos foi transmitida foi exactamente aquela que se torna muito fácil caricaturar.
Só que até existem algumas coisas boas, mesmo entre nós, baseadas nas teorias construtivistas. Um dos casos, embora sendo trabalho mais de síntese da teoria existente ao findar o século XX do que de desbravamento de novos territórios, é a obra que aqui se identifica de Jorge Valadares e Margarida Graça e que, mais do que remontar ao Piaget, apresenta um conjunto de conceitos e metodologias construtivistas mais actualizadas.
Na parte teórica eu destacaria três conceitos/instrumentos de trabalho interessantes mas, lá está…, que acho de utilidade diferenciada. São eles o “Vê” epistemológico, os mapas conceptuais e os conceitos-âncora essenciais para basear uma aprendizagem significativa.
- Quanto ao chamado Vê espistemológico de Gowin reconheço-lhe alguma utilidade, mas estou longe de o considerar um «poderoso instrumento de meta-aprendizagem», como é (d)escrito pelos autores, pois a sua complexidade teórica está longe de ser assimilável pela maior parte dos alunos do Ensino Básico, muito menos sem serem claramente guiados na sua aprendizagem de uma forma muito pouco construtivista. Pode ser um instrumento interessante para os próprios docentes organizarem o seu trabalho, ou para aplicação num nível Secundário ou Superior dos estudos, mas é claramente desajustado para os vários níveis do nosso Ensino Básico.
- Relativamente aos mapas conceptuais (de Novak e Gowin) tenho uma crítica semelhante, embora considere que a sua aplicação pode começar a ser feita desde os 2º ou 3º ciclos. No entanto, toda a sua lógica assenta numa capacidade pré-existente de abstracção, assim como de selecção e relacionamento de conceitos e factos pelos alunos que implica uma aprendizagem anterior já bastante desenvolvida. Como instrumento de organização de novas aprendizagens depende exactamente da existência de tais pré-requisitos, pois mapas conceptuais como o apresentado na obra em causa sobre a organização de conceitos feita por um aluno do 8º ano podem ser bem mais confusos do que esclarecedores e clarificadores da aprendizagem realizada.
- Por fim, temos os subsunçores (subsumers para Ausubel, o criador do conceito), ou conceitos-âncora/integradores que são aqueles que eu mais prefiro e a que gosto de recorrer no meu trabalho, embora sinta que o faça de uma forma diversa da defendida pelos construtivistas, onde eu detecto um paradoxo a este respeito: na teoria de Ausubel os subsunçores ou conceitos-âncora permitem enquadrar as novas aprendizagens em estruturas conceptuais interactivas já inscritas/desenvolvidas anteriormente nos indivíduos, que assim permitem uma aprendizagem relacional, dinâmica e verdadeiramente significativa. O que fica por explicar é como lá vão parar esse subsunçores que são a base de toda a rede que depois se vai estabelecendo, assim como os mecanismos através dos quais essa rede se desenvolve de uma forma não caótica. Por mera descoberta por tentativa e erro é muito difícil, só sendo medianamente concebível por descoberta (bem) orientada. A tabuada não se aprende por “descoberta”, nem o mesmo se passa com a relação entre as letras e os sons, daí passando para a leitura. E é aqui que eu considero que o construtivismo não é aplicável em todas as fases da aprendizagem escolar dos indivíduos, sendo útil como metodologia a utilizar depois de ancorados saberes básicos essenciais, onde todo o resto se vem encaixar, ramificando-se e inter-relacionando-se.
Portanto, se em tese o construtivismo é concebido de uma forma que torna quem o ataca quase que um “bárbaro” conservador e tradicionalista, alvo fácil dos eduqueses politicamente correctos e super-bem.intencionados, na prática muitos dos seus conceitos mais sofisticados são dificilmente aplicáveis a todos os contextos educativos. Talvez por isso, o Sizandro e o PJ tenham reconhecido, e muito bem, que entre nós o construtivismo nunca foi verdadeiramente adoptado de forma significativa enquanto prática pedagógica.
No entanto, enquanto ideologia transmitida na formação de professores visando essa tal prática pedagógica a sua presença foi bastante alargada nas últimas décadas, com destaque para os últimos 20 anos. Se depois, os esperados apóstolos da boa prática depararam com a sua impraticabilidade no concreto e foram obrigados a adaptar a formação recebida à realidade é toda uma outra história de bom-senso.
Janeiro 7, 2007 at 5:33 pm
Falar sobre construtivismo e não abordar Bruner é desvalorizar o que de mais positivo se pensou sobre “deixai as crianças trabalharem”. O seu “Processo da Educação”, em bora não compreendido por todos foi geralmente bem aceite, principalmente pelas áreas mais artísticas de 2º e 3º ciclo, Educação Visual e Tecnológica, Educação Visual e Educação Tecnológica.
E já agora, abordar um pouco Vigotsky…fica sempre bem nestas discussões.
Janeiro 7, 2007 at 5:39 pm
OK, João, mas a ideia era abordar um construtivismo ligeiramente menos datado e o Vigotsky ainda é anterior ao Piaget.
Sei que ainda é muito usado em certos ambientes, mas talvez por falta de bibliografia mais actualizada.
Quanto ao que escreves sobre o Bruner (um bocadinho mais chegado à altura em que nasci e com umas ideias que até aprecio, embora aquela construção narrativa da realidade nem tanto), também é válido para o Carl Rogers, o Benjamin Bloom ou mesmo o Skinner, mas o que estava aqui em causa não era uma enumeração dos principais autores construtivistas mas de alguns dos conceitos mais recentes, e mesmo este “recentes” é algo relativo.
Janeiro 7, 2007 at 5:52 pm
Skinner cometeu, para mim, o erro de se colar muito a Bruner e não “engrandecer” o que já estava teorizado.
Em relação aos restantes, recente não é sinónimo de melhor. Pensar em novos conceitos agarrados às velhas terminologias e paradigmas, que nem a Santa Claus interessam (hoje estou muito natalício), leva-me a pensar naquilo que referes como “falta de bibliografia”.
Beijinhos e abraços.
Janeiro 7, 2007 at 5:55 pm
Não há professores construtivistas, ou behavioristas, ou etc..etc… As pricipais correntes pedagógicas e psicoeducacionais são como paradigmas, guiões, linhas explicativas, inspirações… servem para o professor saber o que está a fazer em determinado momento, porque o está a fazer e, provavelmente, o que irá conseguir com isso.
Na prática todos os professores num dia de aulas são tudo. Quando o professor transmite um conhecimento e espera que o aluno o aprenda, avaliando de seguida o resultado, sem olhar ao processo envolvido, ele é behaviorista (ou comportamentalista). Quando o professor se acerca de um aluno e o interpela para que seja ele a chegar a determinado resultado partindo do que já sabe, ele é cognitivista. Quando o professor organiza actividades de grupo, de pesquisa e orienta os alunos na busca e construção mais autónoma de conhecimento, ele é construtivista. E isto tudo pode passar-se numa sala de aula normal em apenas 10 minutos.
Pegando no exemplo do Quadro de Conceitos, este Quadro, por si só, não é cognitivista ou construtivista. O que empresta a linha de actuação é aquilo que o professor faz das ferramentas que possui. Se o professor dá ao aluno um Quadro já feito (como os há nos manuais) e diz para o aluno estudar e saber aquilo e o aluno estuda e depois acerta no teste, estamos numa onda mais comportamentalista. Se o professor constrói o Quadro com o aluno, levando-o a compreender o seu próprio raciocínio, explicitando-o e arrumando-o, fixando-se no processo cognitivo, estamos no cognitivismo. Mas se o aluno ganha autonomia e estuda através da feitura de Quadros de Conceitos, estamos no conctrutivismo.
Não é o Quadro de Conceitos, ou o Computador, ou o lápis, ou o livro… isso são ferramentas. O importante é o que o professor faz delas e como ensina o aluno, no equilíbrio entre, pelo menos, estas três formas de aprender e crescer.
As corrente psicoeducacionais principais e posteriores remendos e acrescentos… são teorias construídas através da investigação. O professor é um homem de ciência, por isso actua de acordo com aquilo que faz da teoria que a cada momento se afigura como adequada.
Neste contexto a minha crítica é:
Há lacunas na formação inicial dos docentes quanto às correntes educacionais, desenvolvimentais e psicoeducacionais. Todos os professores devriam ter um tronco comum alargado de aprendizagem neste ãmbito, ligando-o à didática e práticas pedagógicas. É fundamental que os docentes saibam o que fazem, como fazem e porque fazem. T~em igualmente de saber o que é um ser humano, como se desenvolve, como aprende e como se forma em todas as idades. Não se trata de defender uma corrente de detrimento da outra, mas sim de saber ser competente no seu manuseamento. Eu temo que muitos professores não tenham esta formação e actuem apenas como aprenderam a fazer quando foram alunos, perdendo o contacto com correntes interessantes e que deveriam viver em equilíbrio e não em competição. Por isso se cai num comportamentalismo primário, sem muitas vezes se saber o que se anda a fazer. É o equilíbrio que deve avançar a educação e este bom senso e competência é a perrogativa dos professores. É isto que os distingue de qualquer outra profissão e é isso que os deve preocupar. Mais ninguém sabe ensinar. Só nós. Mas para isso é necessário sabermos o que andamos a fazer, o que queremos e porque queremos. É aí que ganhamos a nossa identidade profissional. Tudo o resto são tretas e políticos neo-liberais fantoches, que não chegam ao calcanhar de um bom professor.
Janeiro 7, 2007 at 5:58 pm
João, substitui aí a falta de bibliografia por preguiça e estamos conversados.
Se como o Sizandro escreve, e muito bem, os professores têm de saber e ser tudo e mais alguma coisa, porque raios quem os forma não deve sabê-lo e sê-lo?
Porque não há nada como ver um professor directivo a apregoar o construtivismo na sala de aula.
Então comecemos por criticar a falta de qualidade de quem forma professores ou o faz de forma mecânica.
E como sabes, eu tive direito a um ou dois que até conheces.
Chatos e desinteressantes como tudo, mas a apelarem à beleza do mundo da aprendizagem e a cheirarem a requentado (e não era da transpiração do trabalho).
😀
Janeiro 7, 2007 at 6:38 pm
“Eu temo que muitos professores não tenham esta formação e actuem apenas como aprenderam a fazer quando foram alunos.”
Isto não é apenas uma boa intuição. Existe investigação ao nível da educação que demonstra isto mesmo.
“É o equilíbrio que deve avançar a educação e este bom senso e competência é a perrogativa dos professores. É isto que os distingue de qualquer outra profissão e é isso que os deve preocupar. Mais ninguém sabe ensinar. Só nós. Mas para isso é necessário sabermos o que andamos a fazer, o que queremos e porque queremos.”
Esta é marca da profissionalidade docente.
E quando sublinhamos somente a parte “é necessário sabermos o que andamos a fazer, o que queremos e porque queremos”, então podemos considerar esta expressão como o símbolo da maturidade de qualquer profissional.
“Porque não há nada como ver um professor directivo a apregoar o construtivismo na sala de aula.Então comecemos por criticar a falta de qualidade de quem forma professores ou o faz de forma mecânica.”
Este sempre foi o calcanhar de Aquiles do sistema educativo português: a fraca qualidade da formação inicial dos professores, que conhece, naturalmente, algumas excepções.
Recordo aqui as palavras do Professor António Nóvoa no Parlamento a propósito do
Debate Nacional sobre Educação:”As escolas de formação [de professores] estão,
hoje, numa situação de grande fragilidade e não se vislumbra qualquer saída. Portugal tem
de decidir se quer, ou não, apostar seriamente na qualificação dos seus professores. E isso
implica um reforço dos conhecimentos disciplinares, mas também a aquisição de uma
cultura profissional, no quadro de uma relação próxima com as realidades escolares
concretas.”
Sábias palavras…
Janeiro 7, 2007 at 6:59 pm
Não sei se serão assim tão sábias as palavras de alguém que critica as escolas de formação de professores, quando sabemos que Nóvoa criticava claramente as Escolas Superiores de Educação, deixando num “limbo” a formação de professores nas universidades.
Como se tem verificado cada vez que se discute a formação de futuros docentes, os Politécnicos são sempre o elo mais fraco e os primeiros a se vaticinar a sua caída.
Claro que todos desejamos melhor formação (científica e pedagógica) para os docentes. Mas para tal é necessário permitir uma maior formação ao corpo docente formador, algo que há alguns anos a esta parte tem sido cada vez mais visado negativamente nos orçamentos. Basta recordar os cortes de bolsas Prodep para docentes do ensino superior em formação superior-mestrado, e os cortes que se perspectiva serem realizados nas bolsas para doutoramento.
Poderíamos também falar dos cortes orçamentais que levam muitas universidades e politécnicos a admitirem estarem sem verba para pagar a docentes…mas de angústias falo no meu blog.
Beijinhos e abraços.
Janeiro 7, 2007 at 7:05 pm
“Porque não há nada como ver um professor directivo a apregoar o construtivismo na sala de aula.”
Poderemos então afirmar que “a mulher de César não basta parecê-lo”?
Eu não generalizava dessa forma.
Janeiro 7, 2007 at 9:29 pm
Ensinar o construtivismo ou outras estratégias “modernas”, que muitas vezes são tão modernas como o passevite, de uma forma tradicional, é o mesmo que o Papa apregoar a castidade aos solteiros e a fidelidade aos casados e anunciar que o Vaticano vai abrir um bordel.
Janeiro 7, 2007 at 10:24 pm
Ena, esta fez-me mais do que sorrir.
Quanto à formação de professores ela é razoavelmente fraca a todos os níveis, umas vezes porque os formadores só conhecem as teorias e nunca tiveram que as aplicar na prática e testá-las, em outros casos porque nem as teorias conhecem muito bem.
Mas, principalmente, porque em ESE’s ou em Faculdades a formação é feita na sua larga maioria por docentes sem conhecimento efectivo daquilo que estão a querer ensinar a fazer.
Ora, se as pessoas em causa nunca – ou quase nunca, ou há muito tempo – fizeram uma cadeira, podem explicar como se faz, mas dificilmente poderão ajudar a fazê-la.
Não vale a pena dizerem-me que como não vivi em Roma não posso explicar o que lá se passava.
A essência do argumento é outra, como é óbvio.
Dar uma aula a um grupo de 25 crianças ou jovens (pré-)adolescentes não se ensina/aprende de cátedra.
E a ideia de que muitos professores dão aulas como as tiveram é, no mínimo, algo paradoxal porque das duas uma: ou gostaram e estão a decalcá-las como caminho certo ou então estão a aplicar algo com que não concordam e isso é no mínimo estranho como forma de vida.
Se existe, é bem possível que exista, mas não a uma escala verdadeiramente significativa.
Janeiro 7, 2007 at 10:59 pm
Eu gosto muito de discussões teóricas e costumo ler sobre teorias e práticas pedagógicas. No entanto, a minha prática de 29 anos de ensino serve-me para dizer o seguinte:
1. A qualidade da formação contínua dos professores foi degenerando progressivamente para a imbecilidade.Para além da bem-vinda formação em TIC, foram aparecendo acções como O Professor Actor, O jogo do Pau, A Vela, e O DT e tudo, tudo o que possa estar relacionado com ele;
2. Alguém disse, e subscrevo, que numa só aula o professor é “comportamentalista”, “cognitivista” e “construtivista”, dependendo da turma e dos alunos que tem perante si e/ou dos objectivos que pretende que os alunos atinjam;
3. Discordo quando se disse que muitos professores ensinam como foram ensinados.Pelo contrário, muitos tentam fazer diferente.E sabem, entre outras razões, porquê? Porque o que hoje temos à nossa frente são alunos completamente diferentes.E porque a maioria dos professores quer perceber o modo como eles aprendem melhor;
4. Se alguns professores exageram no “comportamentalismo”, isso também se deve ao facto dos programas serem extensos, das turmas serem grandes e, essencialmente, de serem cada vez mais heterogéneas.
Por isso, perco uma enormidade de tempo a preparar materiais, a variar estratégias e modos de trabalho em cada sala de aula.
A empatia, o respeito, um tempo para o humor e para se falar de outros assuntos ajudam qualquer professor. E termino por aqui porque hoje tenho os meus adolescentes doentinhos e , por osmose, fico sempre doentinha também. Dois filhos com modos de aprender diferentes e que me têm dado muitas dicas sobre como “ensinar e aprender”, sem terem lido sobre o assunto.
Janeiro 7, 2007 at 11:01 pm
O grande paradoxo da formação de professores em Portugal é o facto de, por um lado o Estado como empregador exigir profissionais competentes, preparados, a seguir determinadas linhas pedagógicas etc…, mas por outro lado, o mesmo Estado como formador não forma profissionais de acordo com aquilo que depois quer contratar. Confuso?
É o mesmo que o Vaticano defender que os padres devem ser castos e depois ensinar nos seminários como se usa o preservativo.. (dedicada ao PJ) 🙂
Janeiro 7, 2007 at 11:02 pm
Subscrevo os dois comentários anteriores e já agora também o meu.
😉
Janeiro 8, 2007 at 12:27 am
Como os caros comentadores estão mais frescos nestes assuntos de correntes pedagógicas, não podem dar informações sobre as mais recentes correntes pedagógicas (resultado de novos conhecimentos científicos, linguísticos e tecnológicos)? Mas mesmo muito recentes, tipo para lá do e-learning e do pós-construtivismo.
Não estou a brincar.
Gostaria mesmo de saber.
Janeiro 8, 2007 at 10:18 am
Algumas das correntes mais recentes (e mais recentes não implica necessariamente melhores) têm enfatizado, na sequência de vários autores (exp. Ausubel) a importância do pensamento e aprendizagem visuais. Vários programas informáticos têm sido propostos com esse objectivo (ver, por exemplo, http://www.inspiration.com/productinfo/index.cfm).
Outros têm finalidades mais específicas. Este, por exemplo, http://www.goreason.com/, tem como objectivo promover o pensamento crítico. Um exemplo do funcionamento do programa pode ser encontrado no lado direito da página com a questão (deve a Austrália tornar-se uma República?).
A utilização de quadros interactivos pode, igualmente, constituir uma ferramenta muito interessante ao nível da aplicação da sala de aula.
Evidentemente que estas aplicações são apenas exemplos de ferramentas que podem utilizadas, desde que as respectivas condições existam nas escolas. Não transformam um mau professor num bom professor ou ultrapassam as deficiências de um programa deficientemente estruturado.
Janeiro 8, 2007 at 10:57 am
Todos esses programas são óptimos, mas aplicá-los em escolas com 700 alunos e uma única sala de informática pode ser complicado.
E com apenas um data-show para dezenas de salas é o mesmo.
Podemos ser inovadores de vez em quando.
Tenho a sorte de leccionar TIC este ano (como há uns anos atrás) e ter uma turma com acesso á sala de Informática em 2 blocos de 90 minutos, onde as aulas são tudo menos directivas e por vezes a liberdade individual até ultrapassa o que é achado razoável por outros colegas.
Lembro-me de há uns anos, em outra Escola, onde coordenava o funcionamento do dito espaço, uma colega que se achava muito moderna, criticar-me por eu deixava os alunos “brincar” demasiado e explorar a net e alguns jogos excessivamente.
A verdade é que a dita sala estava aberta à segunda-feira para quem a quisesse frequentar em contra-horário e estava sempre cheia.
Janeiro 8, 2007 at 11:57 am
Claro que tudo depende das condições materiais existentes nas escolas. Mas a existência destas não é condição suficiente para elas serem usadas ou, no caso de o serem, a sua utilização conduzir a resultados eficazes.
Os quadros interactivos são muito caros, mas existem escolas públicas onde eles são utilizados e, aparentemente, com bons resultados. A Escola Secundária de Valadares em Vila Nova de Gaia é uma delas.
Janeiro 8, 2007 at 1:17 pm
Esta discussão está muito interessante para os “iniciados” nas profundezas das ciências da educação. Os leigos como eu podem aprender bastante. Podem por exemplo apreciar em primeira mão o delicioso Vê epistemológico de Godwin e outras preciosidades (potencialmente) inúteis aqui citadas.
Para uma discussão da educação e pedagogia prefiro fontes talvez mais improváveis mas mais úteis para mim, nas áreas da psicologia evolutiva e neurologia. As ciências da educação não possuem as ferramentas para chegarem aos melhores métodos porque lhes falta a compreensão da natureza humana. Controem o edificio teórico a partir do nada e nisso são elas próprias construtivistas (há que lhes reconhecer a coerência).
São as investigações nas áreas científicas que referi que têm permitido verdadeiros avanços na compreensão de processos fundamentais como a aprendizagem, emoção e memória. E só através deste conhecimento de base se podem chegar a melhores teorias de educação.
Deixo uma citação recente de Frans de Waals que acho muito interessante. Publicada aqui: http://www.newscientist.com/channel/opinion/science-forecasts)
“…we need a deeper understanding of human nature, and this can be achieved only if the social sciences replace their ideology-laden, fragmented approach with objective science grounded in a unitary theory of behaviour. There is only one such theory around, which is why I predict that 50 years from now every psychology and sociology department will have Darwin’s portrait on the wall.”
Janeiro 8, 2007 at 2:10 pm
Uma teoria unitária do comportamento pode levar exactamente ao que muita vezes se critica: um monolitismo na resposta mecânica a situações muito diversas. É meio caminho andado para o positivismo numa das áreas em que ele é mais contestável.
Janeiro 8, 2007 at 2:22 pm
ManyFaces,
Eu também penso que os novos conhecimentos e desenvolvimentos nas áreas da psicologia evolutiva e neurologia serão fundamentais para a evolução a nível das ciências da educação. Vários artigos têm saído sobre o funcionamento do cérebro a vários níveis, tais como a memória ou o raciocínio lógico-abstracto.Isto para não falar dos desenvolvimentos diferentes entre géneros, o que já levou peritos a referirem a hipótese de se voltar a turmas só para rapazes e turmas só para raparigas….
Janeiro 8, 2007 at 2:55 pm
Caro Paulo,
A sua interpretação de “unitary” está demasiado influenciada pela conotação política da palavra. Penso que a utilização que o de Waals faz da palavra está muito mais ligada à idea de uma teoria de comportamento que se baseia (fundamenta) na teoria da evolução. Ou seja, uma teoria em que a medida (unit), ou base, é procurada nos resultados da teoria da evolução.
“Unitary” em sentido estrito e não-político significa isso mesmo:
http://www.thefreedictionary.com/unitary
Janeiro 8, 2007 at 8:04 pm
Parece-me que vai aqui uma certa confusão entre teorias e estratégias. PJ afirma, em resposta ao meu comentário que “Ensinar o construtivismo ou outras estratégias “modernas”, que muitas vezes são tão modernas como o passevite,…” Mas meu caro PJ, o construtivismo não é uma estratégia, é uma teoria da aprendizagem, com aspectos positivos ou negativos como qualquer outra.
Se quiser falar em estratégias de ensino baseadas no construtivismo, podemos então discutir os aspectos inerentes ao Blended Learning (b-learning) que vai estar muito na “moda” quando da implementação a 100% do processo de bolonha no ensino superior. Em resposta a Fernanda, talvez queira observar o que este sistema/estratégia de ensino pode trazer de novo a um currículo formal estanque como o caso português, em que se pede aos alunos uma implementação das Tic mas obriga-se à presença na sala de aula.
O b-learning vem conciliar o ensino presencial e on-line, numa perspectiva centrada no formando, em que o docente passa a ser por si só mais um elemento de uma comunidade de aprendizagem, aprendendo e ensiando, partilhando e descobrindo.
E sim, teorias podem ser ensinadas sem recorrer a si próprias como exemplo pragmático daquilo que pode ser ou não realizado. A formação de professores peca por falta de contacto com a realidade e por uma quase inexistência de rejuvenescimento dos seus quadros.
Beijinhos e abraços.
Janeiro 8, 2007 at 9:03 pm
“meu caro PJ, o construtivismo não é uma estratégia, é uma teoria da aprendizagem, com aspectos positivos ou negativos como qualquer outra.”
O construtivismo não é uma teoria da aprendizagem. Na sua acepção psicológica é uma teoria do desenvolvimento. Na realidade, em termos de construtivismo clássico, a aprendizagem subordina-se ao desenvolvimento. Quando referi a palavra estratégias encontrava-me a pensar estratégias educativas inspiradas na abordagem construtivista.
O ManyFaces afirma:
“Os leigos como eu podem aprender bastante. Podem por exemplo apreciar em primeira mão o delicioso Vê epistemológico de Godwin e outras preciosidades (potencialmente) inúteis aqui citadas.
Para uma discussão da educação e pedagogia prefiro fontes talvez mais improváveis mas mais úteis para mim, nas áreas da psicologia evolutiva e neurologia. As ciências da educação não possuem as ferramentas para chegarem aos melhores métodos porque lhes falta a compreensão da natureza humana.”
Ahh, já cá faltava o perfume das ciências biológicas, aquelas que pretendem ser o que a Física foi há um século atrás…Tenho a certeza que muito poderemos aprender com a psicologia evolutiva, o estudo do cérebro, a neurobiologia, etc. E seguramente muitas aplicações educacionais irão surgir para além daquelas que já existem.
Mas pensar que tudo isto é isento de polémicas e questões problemáticas é ser ingénuo. Tomemos a psicologia evolutiva, por exemplo. Parte do pressuposto de que a evolução moldou o sistema nervoso humano e que, por exemplo, as diferenças entre homens e mulheres são em parte devidas a essa longa história evolutiva. As mulheres, por exemplo, possuem capacidades verbais mais desenvolvidas do que os homens porque quando os nossos antepassados eram caçadores-recolectores os homens iam à caça e as mulheres ficavam a tratar da prole. E toda a gente sabe que para matar algo que se coma não é necessário falar muito, enquanto que tratar de crianças e fazer comida constitui uma óptima oportunidade para dar à língua. Ao longo de muitas gerações, mantendo esta divisão do trabalho, o cérebro humano ficou diferente em homens e mulheres.
Faz sentido? Faz. Esta é uma hipótese falsificável? Não! Não existem fósseis como acontece com a paleontologia. E desculpem, perante isto, a minha costela popperiana faz-me sentir desconfortável.
Janeiro 8, 2007 at 9:29 pm
Essa parte dos caçadores-recolectores tem a sua graça. Fundamentalmente transforma os homens nuns grunhos, o que tem a sua razão de ser, mas então o que fazer aos vegetarianos?
😉
Agora mais a sério, a Psicologia Evolutiva tem a sua graça, mas é extremamente limitada pelo facto de não sabermos praticamente nada do que se passou há 10.000 anos, quanto mais há 100.000.
Temos umas ideias.
Por isso, por exemplo, a Arqueologia e a Paleontologia me interessaram apenas do ponto de vista teórico e nunca como prática de investigação porque aquilo é um teia cheia de buracos.
Pode ser fascinante mas é tudo muito frágil.
E a Psicologia Evolutiva leva por tabela…
Janeiro 9, 2007 at 11:58 am
Caro PJ,
Não há fosseis mas há o cérebro. Estamos nos primórdios do seu estudo. Será concerteza possível no futuro saber quais as características cerebrais que são ancestrais e aquelas que são mais recentes…
Os psicólogos evolutivos têm um ponto muito forte: se nós evoluimos de acordo com as melhores teorias evolutivas, o cérebro não foi concerteza excepção. Ora a menos que se ache que existem características comportamentais, emocionais ou outras que são exógenas ao cérebro-máquina (o Mito do “Ghost in the Machine” desmontado pelo Steven Pinker), então tudo, mas mesmo tudo o que nos diz respeito, foi sujeito aos processos evolutivos e às suas regras.
Já as teorias de desenvolvimento/aprendizagem de inspiração construtivista são um balão de hélio sem qualquer sólida base científica. E quando começaram a ser confrontadas com a realidade….
Foram aqui ditas coisas como que a psicologia evolutiva é “extremamente” limitada ou ainda que “já cá faltava o perfume das ciências biológicas”, que para mim revelam preconceito em relação a uma das áreas científicas mais importantes e promissoras para a construção de uma teoria do corportamento humano de base verdadeiramente científica.
Pois então tenho de voltar a recomendar a leitura de um livro que acho que já recomendei por aqui:
“Blank Slate – Modern Denial of Human Nature” do Steven Pinker.
Outubro 18, 2007 at 10:34 am
eu achei esse comentario muito legal, pois nos ajuda a qualificar nossos pensamentos……..
Maio 29, 2008 at 3:35 am
Pesoal, alguem poderia me ajudar,uuum breve resumo referente aos pontos +e pontos-na avaliação da abordagem comportamentarista
grata
Ba
Maio 29, 2008 at 3:37 am
Pessoal, alguem poderia me ajudar,uuum breve resumo referente aos pontos +e pontos-na avaliação da abordagem comportamentarista
grata
Ba
Setembro 19, 2010 at 7:58 pm
Esse site é super inteligente, mas não consegui obter uma resposta para minha duvida.
Será que alguem pode me ajudar?
Preciso explicar, baseando-me na leitura “A Epistemologia do professor”, porque é difícil para os professores aplicar as teorias construtivas na sala de aula?
Me ajudem por favor….
Setembro 19, 2010 at 7:59 pm
Leilahardoin@yahoo.com.br
Setembro 19, 2010 at 8:00 pm
#29,
Não é difícil, apenas não é sempre a melhor hipótese.
As teorias são “construtivistas”, porque construtivas podem ser muitas outras.