IGE


Será que se está a falar do mesmo relatório (que está aqui)?

Citação 1:

O domínio da Liderança e Gestão é aquele em que a classificação de Muito Bom é mais significativa (42,2%); mas é na Prestação do Serviço Educativo que a soma das classificações de Bom (56,3%) e de Muito Bom (31,5%) é mais alta (87,8%). No que respeita aos Resultados (que incluem, entre outros aspectos os resultados académicos e sociais), as classificações distribuem-se pelo Bom (57,9%), Muito Bom (24%), Suficiente (17,6%) e Insuficiente (0,5%). A classificação de excelente só chegou a ser aplicada pelos inspectores no domínio da liderança e em 0,5% das escolas.

Citação 2:

Os dados da IGEC referentes ao processo de avaliação externa das escolas desde 2011, que hoje são apresentados em Coimbra, num seminário dedicado ao tema, organizado pelo Conselho Nacional de Educação, mostram que é na prestação do serviço educativo que as escolas mais precisam de melhorar (46% das escolas já avaliadas), em aspetos como as práticas de ensino ou o acompanhamento e avaliação do ensino e aprendizagens.

Há uma coisa que a mim parece óbvia: com base no modelo de inspecção que se fazia duvido muito da fundamentação empírica de qualquer considerando sobre a qualidade (ou não) das práticas de ensino.

Até porque a evolução verificada neste domínio tem sido bem favorável:

IGECRel11d

O problema é que isto dá para os dois lados… há pontos fortes aqui que também são pontos fracos acolá e por aí adiante… generalizar é que dá normalmente confusão.

IGECRel11e

Vejamos alguns dos dados:

IGECRel11

Globalmente, a prestação do serviço educativo é 0 3º domínio na soma de MBom/Bom, encontrando-se na mesma posição em termos de Suf/Insuf (neste caso está no último lugar, ou seja é o domínio com menos menções de Insuf).

Eis os valores do domínio, distribuídos por factores. Eu confesso que gostava de saber como foram obtidos estes valores, com base no que as inspecções faziam nas escolas, sendo a sua actividade quase nula quanto á verificação da prática pedagógica.

IGECRel11b

O que parece é que o que se pretende, até mais do que colocar os inspectores a fazer observação de aulas é obrigar as escolas a adoptar práticas de observação de aulas fora do âmbito da ADD.

É isso que deduzo de certas observações dispersas e conversas que andarão a ser feitas em algumas escolas com os inspectores a darem a entender que ou a observação de aulas passa a ser feita de forma sistemática porque isso poderá dar vantagens num futuro próximo.

Só que isso passa mais pelo domínio da auto-regulação do que por qualquer outro… que é aquele onde a menção de Suficiente é mais elevada.

E implica que quem vai observar aulas percebe do assunto mais do que aquilo que acha bem.

Já agora, uma dúvida… como é que a classificação de um domínio, numa determinada menção qualitativa, pode ser superior ou inferior à dos dois factores que são considerados? Nem falo de médias…

IGECRel11c

Sou mesmo um burro de letras, não percebo este tipo de aritmética.

 

Caros colegas
 
      A notícia-artigo do “Público” de  dia 18 , vem publicamente chamar a atenção — parece-nos que pela primeira vez para fora do círculo fechado do nosso quotidiano profissional — para uma das grandes fragilidades deste processo de Avaliação Externa que a IGEC tem vindo a prosseguir: a absurda inexistência da observação de aulas, particularmente no vector da docência. Esta denúncia, porque disso se trata, vem agora a público pela primeira vez — mas o nosso sindicato, desde o início do processo e por diversas vezes, tem vindo a alertar para essa grave lacuna, que, com outras, inquina em grande medida a validade desta avaliação. Acresce que, neste quadro, estamos confrontados com um verdadeiro retrocesso no trabalho da IGEC, uma vez que a observação de aulas constava dos procedimentos e do guião do anterior Programa de Avaliação Integrada das Escolas, da IGE, tendo sido muito bem recebida pelos Professores — pelo que o seu desaparecimento na Avaliação Externa, desaparecimento que ninguém cientificamente defende, só se entende (…) à luz da imposição aos Inspectores de uma lufa-lufa obreirista, ao serviço de estatísticas meramente quantitativistas. Era e é óbvio para toda a gente, gente sensata e conhecedora desta realidade, que a observação de aulas constitui uma vertente indispensável de qualquer avaliação externa, mas, defensável no plano qualitativo, apresentava e apresenta um óbice quantitativo, orçamental e financeiro (a qualidade bem poderia ser deixada no armário!) — ocupava mais tempo, ocupava mais Inspectores, custava mais dinheiro. E era fundamental cobrir muitas muitas muitas escolas…
 
     Esta notícia do “Público” em nada altera a nossa posição sobre esta matéria. Nem sequer nos sentimos reforçados com o facto de Portugal estar na companhia de apenas outros dois países. Poderíamos até estar sozinhos — e estar a fazer bem; poderíamos até integrar uma maioria esmagadora — e estar a fazer mal. Aliás, os ventos que de há uns tempos para cá nos sopram da “Europa” são frequentemente pouco recomendáveis, e a educação não foge à regra. A virtude da notícia do “Público” reside em chamar a atenção para o absurdo da não-observação de aulas — e é irrelevante o saber de há ou não outros países nessa circunstância.
 
     Saudações sindicais!
 
     Pel’A Direcção do SIEE
 
     José Calçada
 
     (Presidente)

Caros colegas

​ ​1. ​No dia 19 de Dezembro de 2014 teve lugar a realização da PACC;
2. Anteriormente, a Comissão Paritária aceite pelas partes — Ministério da Educação e Sindicatos de Professores — decidiu, por unanimidade, que a lei não permitia para esta situação a definição de “serviços mínimos”;
3. Os sindicatos mais representativos do sector docente agendaram greve para o dia da PACC;
4. De acordo com o noticiado na imprensa, o Corpo de Intervenção da PSP manteve-se de prevenção para esse mesmo dia;
5. Os Inspectores da IGEC, por determinação da tutela, desenvolveram nas escolas onde a PACC teve lugar uma acção de controlo e de fiscalização.

A pergunta é: por que é que​,​ neste contexto​,​ os Inspectores da IGEC voltaram a ser enviados para as escolas?​;​ ​o​u: quem é que está interessado em colar a IGEC ao Corpo de Intervenção?​;​ ​ou: quem pretende contribuir para a ​fragilização da IGEC?

​ Pel’A Direcção do S​indicato dos ​I​nspectores da ​E​ducação e do ​E​nsino​

José Calçada

(Presidente)​

GazCaldas

Gazeta das Caldas, 14 de Dezembro de 2012

… por ter citado a passagem transcrita neste post e por ter acrescentado “avaliação, assim, não.”

Não vou continuar a polemizar na ausência da outra parte, limitando-me a remeter para as páginas das actas deste seminário do próprio CNE, em especial as páginas 98 e 105-106 do estudo da autoria de Maria do Carmo Clímaco:

A nova redacção dada ao quadro de referência em 2008, se tornou mais simples para os avaliadores o significado das questões colocadas em termos da sua observabilidade e, portanto, da recolha de evidências em que sustentassem o seu juízo de valor e a comparabilidade dos desempenhos, pode ter tornado a redacção do relatório mais vulnerável a um pensamento e uma visão redutora da realidade escolar, orientados predominantemente para um processo de verificação, ainda que o quantificado não seja mencionado.

(…)

Assim para preparar o 2º ciclo de intervenções de avaliação externa, parece indispensável:

(…)

4 – Reconsiderar o âmbito temporal da intervenção e aumentar o tempo dedicado. É indispensável que na predominância de unidades de gestão em agrupamento se saiba como, em diferentes unidades agrupadas se realiza o serviço educativo nos vários níveis de ensino, e quais os seus resultados em termos de desenvolvimento cognitivo, intelectual, social e de outra natureza, para além da informação global e institucional do sucesso. Ou a avaliação in loco acrescenta algum valor à informação sobre o desempenho, significando processos, meios e resultados, ou não é necessária. Recorre-se a outros meios menos dispendiosos.

Poderia alargar-me com outras passagens, mas acho que isto chega como granada equivalente à que me foi imputada.

Percebo o incómodo pelo meu juízo crítico, o que não entendo é que se tenha querido apresentá-lo como meramente isolado e não fundamentado.

Por acaso, e como explicitei, defendo o alargamento das competências e meios da IGE. Mas… se tivermos questões-tabu, é difícil avançar…

Tese de 2010, de António Manuel Amaral da Fonseca. Pesquisa do Livresco:

Escolas, Avaliação Externa, Auto-avaliação e Resultados dos Alunos

Páginas 123-124:

Esta constatação induziu-nos a concluir que há uma valorização da avaliação de escolas numa “lógica instrumental”, de prestação de contas sobre a verificação do cumprimento dos “procedimentos burocráticos”, revelando subjacente uma exigência do cumprimento formal dos requisitos legais, ou seja, a importância da verificação da existência de um relatório de autoavaliação com referência aos pontos fortes e fracos e recomendações, mais do que a valorização da sua componente de efectiva mobilização dos resultados na promoção de melhoria organizacional e de aumento da qualidade dos serviços.  Não obstante, verificou-se também que escolas “melhor” posicionadas no ranking apresentando um processo de auto-avaliação com fragilidades obtiveram a classificação Bom e, em contra-senso, escolas “pior” posicionadas, apresentando um processo de auto-avaliação mais robusto, este foi também classificado com Bom.

(…)

Este epílogo, ainda que sujeito a limitações ao nível da complementaridade desta investigação com um estudo in loco sobre os processos e o uso e os fins dados aos resultados desses mesmos processos, permitiu constatar nestas escolas uma possível “contaminação positiva” do posicionamento das escolas nos rankings sobre as classificações atribuídas no domínio Capacidade de auto-regulação e melhoria. Como verificado, estas escolas, apresentando debilidades mais significativas, ao nível do uso e fins dado aos resultados do processo de autoavaliação, do que os processos de auto-avaliação das escolas “pior” posicionadas, obtiveram, no entanto, a mesma classificação.

(…)

Uma investigação desta natureza comporta sempre limitações, a nossa não foge à regra. Uma das limitações prende-se, logo à partida, com o facto de somente nos baseamos na perspectiva da IGE. Como já referimos, essa realidade construída pela IGE não deixa de ser um breve vislumbre da realidade, não podendo corresponder à complexa realidade vivida nas escolas relativamente à auto-avaliação. Esta falta de complementaridade entre a imagem transmitida nos relatórios acerca da auto-avaliação e a realidade vivida nas escolas pode ainda estar sujeita a outros factores, em que as escolas, quando visitadas por pessoas exteriores à comunidade educativa, procuram realçar os aspectos mais positivos, deixando os aspectos menos positivos despercebidos. Portanto, ter em conta a perspectiva das escolas daria com certeza outra segurança às conclusões apresentadas.

… para fazer o que as equipas de apoio às escolas faziam, para além das suas funções de avaliação externa e etc? E conseguirá detectar todas as filhas de vereadores e afins metidas em concursos à força? É uma dúvida que se coloca nestes tempos em que se quer implodir muita coisa, com o perigo de se substituir um feudalismo hierárquico por um feudalismo anárquico.