Estratégia


A área da Educação é aquela em que o desgoverno PSD/CDS – à excepção de um cheque-ensino às claras, embora ele vá avançar de modo indirecto – mais parece determinado em levar o seu anti-PREC ao máximo das suas possibilidades, por forma a tornar muito complicado desmontar toda a asneira feita.

Foram aproveitadas todas as portas abertas por Sócrates e foram escancaradas de par em par, ao mesmo tempo que se foram e vão abrindo outras, por onde todo o folclore fandango irá entrar de armas e bagagens.

O objectivo é tornar o sistema educativo de tal modo desregulado nas matérias que mais interessam a certos grupos de interesses que será muito difícil fazer regressar alguma sanidade a um sector que está a saque há coisa de uma década.

Nisso, desenvolveram bastante a prática dos governos do engenheiro, em especial na área da Educação.

A aposta foi fazer, sendo legal ou não, apostando na morosidade da Justiça e na chantagem feita sobre os juízes do TC. O PR colaborou, por omissão, na forma como a Justiça foi sendo amesquinhada.

O Presidente é parcial com o Governo e não acrescenta nada ao sistema

O constitucionalista Jorge Reis Novais considera que o Chefe de Estado e o Governo tiveram uma estratégia de facto consumado durante os anos da troika.

Não tendo bastado a tentativa de relativizar os problemas do arranque do ano lectivo com números cozinhados acerca das falhas, percebe-se que a ideia do MEC é ir começando a, de fatia em fatia, esvaziar o número de queixosos por esta enorme palhaçada. Com colocações aqui ou ali, mais ou menos distantes, efeitos a 1 de Setembro, etc, etc, até poderem dizer que são apenas 0,1% os que estão a fazer barulho, assim tentando que a opinião pública se desinteresse do assunto.

Não deixa de ser curioso que o principal esforço para fragmentar o concurso nacional e a lógica tradicional de graduação para efeitos de concurso esteja a culminar neste enorme fiasco.

E há que encobrir isso.

… quando se pretende transformar uma rendição numa vitória, prometendo-se que a luta continuará.

Pois, é possível.

Só que eu estou cansadinho de vitórias destas.

Mesmo sendo do Sporting cansa tanta vitória deste tipo.

Vamos ser sinceros, pode ser?

Ou será que dói onde não devia?

De há seis anos para cá… o mais que se conseguiu foi limitar danos e fazer recuar aquilo dos titulares. E isso não foi uma vitória. Foi um empate, porque deixou as coisas como estavam antes da derrota.

Estive a ler um livrinho que há dias aqui postei sobre as campanhas na Rússia em 1944-45 e como Hitler procura, para efeitos de propaganda interna, transformar a defesa de algumas posições em tremendas vitórias sobre os seus inimigos.

Mas o que se passava é que apenas ia adiando a derrota, à espera de uma salvação ex nihilo que nunca apareceu.

E como se diz no tal livrinho, defender uma fortaleza não constitui vitória, quanto muito significa uma ausência de derrota.

Mas nem foi este o caso.

Como o Adolfo algum sindicalismo docente comemora vitórias sobre vitórias após entregar metade do território ao adversário.

Até agora não havia professores a fazer qualquer prova da treta, agora existirão uns 20.000 ou mais…

Isto é uma vitória?

Só se a FNE aprendeu bem e incorporou a forma como a Fenprof alinhava vitórias sobre vitórias até ao descalabro final.

O acordo que a FNE lavrou deixou 20.000 professores no campo de batalha, sob fogo inimigo (para eles, claro, que para a FNE são meros ciscos), com a promessa que a prova que vão fazer talvez outros não venham a fazer no futuro.

Lamento, mas é escasso consolo.

E é uma derrota.

Mais uma.

Servida a solo pela FNE sob o comando altaneiro do bigodes da UGT que fala grosso mas sai de fininho.

Mais um tretas para a colecção.

 

… é a que a qualidade da Educação está em causa de forma muito evidente e não apenas um interesse corporativo dos professores que, neste caso, é uma peça (importante, claro) numa luta que não é contra alunos, famílias, seja quem for que não um governo de putos desgovernados e outros políticos de ocasião que parecem não perceber bem ao que andam.

Não que me incomode a acusação de corporativo.

O que me incomoda é que se esteja a passar a ideia – com um beneplácito alargado – de que os professores estão prontos a “prejudicar os alunos” apenas por não quererem mudar de lugar para outro.

Não é isso que está em causa, mas as k7 e mp3 estão em pré-programação e isso chateia.

É como em 2008-09 quando se quis reduzir tudo a “os professores não querem é ser avaliados”, quando o que estava em causa era, antes de tudo, a divisão na carreira e, de forma secundária para muitos, eu sei, um modelo único e concentracionário de gestão.

Não é segredo que entre os tanques de pensamento que orbitam este governo e estiveram na origem de algum do seu ideário Margaret Thatcher é uma espécie de mãe espiritual.

Ora… aquela singular e mítica sucessão de vitórias eleitorais esteve quase para não acontecer, em virtude do que estava a ser o descalabro económico do seu primeiro mandato. Tudo acabou por ser salvo pelos argentinos, quando decidiram tomar as Malvinas/Falkland e a Maggie se tornou uma warlady. Só que por cá não temos ninguém que nos invada as Berlengas, sendo que a Madeira nem oferecida com dote a querem com o jardinesco lá instalado com o seu séquito. Então há que ir buscar uma lição diferente na governação da Dama de Ferro.

E os liberaizinhos de tertúlia encontram esse exemplo de firmeza e “liderança” na guerra travada pela sua idolatrada Margaret com os mineiros e os seus sindicatos, em particular com o então muito influente Arthur Scargill. Entre nós não há nenhum sindicato assim tão forte, nem o Arménio Carlos tem um estilo capilar tão arrojado, nem existe uma classe profissional tão vasta e determinada como era a dos mineiros britânicos quando os conservadores decidiram dizimá-los para mostrar como não temiam o movimento sindical.

Mas há os professores, em especial do ensino público. Que parecem ser (ainda) muitos e cujo rasto de demonização, iniciado há meia dúzia de anos por Sócrates/Maria de Lurdes Rodrigues, parece ser fácil de retomar, até porque muitos dos meninos-guerreiros assessores do actual governo parecem nutrir por eles um ódio muito particular, como se sentissem especial prazer em apoucá-los, acusando-os, conforme os momentos, de serem privilegiados mas igualmente incompetentes, uma espécie de aristocracia proletária, qualificada como que por engano, mas no fundo uns inúteis, se bem que relativamente perigosos.

Sei que não faz muito sentido, mas naquelas cabecinhas engomadinhas é tudo assim, muito elaborado mas na base da pobreza intelectual franciscana, alimentada a preconceito, ignorância factual mas muita prosápia e peneirice de quem leu umas coisas e teve aulas em estrangeiro.

(ahhhhh… este parágrafo, embora curto, fez-me libertar uma boa quantidade de toxinas… e ainda não adjectivei tudo o que me apetece)

E então devem ter convencido o actual PM – pessoa que cada vez me aparece abundar mais em convicções que entram pelos ouvidos ou em pastinhas finas – que os professores poderiam ser os seus mineiros, a sua guerra particular, capaz de o mostrar um líder forte, capaz de enfrentar os poderosos sindicatos e interesses corporativos e assim iludir a catástrofe económica em que nos vai rapidamente afundando.

E vai daí o homem chega a Paris e decide dizer umas parvoíces, retomando a tese demográfica que uns imbecis (mmm… a adjectivação de quando em vez alivia a tensão…) insistem em metralhar como se fosse um mantra inescapável, só faltando que recuperem os dados do aldrabado estudo tipo-fmi.

Ora… todos nós sabemos que ele sabe que nós sabemos que… ele disto não percebe nada.

E que mais valia estar calado… até porque os mineiros entraram em guerra aberta, o que termina sempre com uma vitória ou derrota total de uma das partes, enquanto que os professores, se conseguirem ser inteligentes e os seus representantes e líderes (sindicais ou a nível de escola) souberem estar à altura das suas responsabilidades, ganharão muito mais em optar pela guerrilha.

Que, como sabemos, sendo cirúrgica, pode moer quase indefinidamente até à queda do adversário.

É o que espero. E o que desejo.

O que é diferente de ser um post anti-sindicalista. Mas há quem confunda porque dá jeito apontar o dedo. O facto de eu ser crítico azedo de muitos políticos e deputados não me torna anti-democrata, a menos que da democracia tenhamos uma visão muito peculiar.

Dito isto…

… gostava de chamar a atenção para algo que já todos percebemos mas que gostaria de aqui deixar explícito.

  • A UGT tem todo o direito de ir fingir que discute alguma coisa com o FMI e a FNE de servir de gabinete de consultores do MEC.
  • A CGTP tem todo o direito de clamar que a rua é sua e tentar enquadrar todo o tipo de protestos com outros seus, para os esvaziar, assim como a Fenprof de ser uma peça operacional dessa estratégia.

Só que não venham dizer que estão, cada uns de sua maneira, a defender mais do que os seus interesses posicionais. Aos trabalhadores nenhuns estão a defender, seja em forma de soft ou de hard power.

Vou ler a entrevista de Nuno Crato ao Sol e tentar perceber se a forma como ela é apresentada pelo jornal se destina a exacerbar a situação de conflito, se é (duvido…) apenas algo profundamente desastrado. Duvido que o tom belicoso da primeira página seja obra e graça apenas da redacção ou direcção.

O tom e a argumentação são muito próximos do habitual em Maria de Lurdes Rodrigues. A aparente confiança na intocabilidade, a arrogância, a provocação. O que corresponde a uma mudança evidente em relação aos primeiros tempos de governação e mesmo a algumas posições públicas relativamente recentes, em Julho e mesmo Agosto.

A argumentação demográfica parece saída de um manual de jota laranjinha liberal, isolando uma variável quantitativa para explicar tudo.

Já a forma como descarta a contestação nas ruas baseia-se numa combinação de factores que avalia (ou a equipa política do Governo por ele) como favorável à finalização do processo de domesticação da classe docente.

Aposta num movimento sindical dividido, entre uma Fenprof acantonada ao seguidismo arménio que caiu em descrédito nas escolas e uma FNE entalada pelo papel de muleta, em que a declaração de alegria dos últimos dias é ridicularizada pelos factos e por esta entrevista. Aposta ainda na fragmentação das alternativas que se tentam criar, agora com plataformas e coisas assim no lugar dos movimentos independentes de 2008-09. Aposta ainda no medo. Medo dos que estão fora de nunca mais terem emprego e dos que estão dentro de perderem o lugar.

Esta é a parte mais indecorosa. A declarada aposta política no medo como arma de dissuasão.

Mas…

Mas as coisas podem mudar, mesmo que lentamente.

Como já disse, mais em off do que em on, o papel a que se prestou a FNE, uma mistificação evidente sobre a hipótese de uma vinculação extraordinária de contratados este ano correu mal e só acirrou os ânimos. E esta entrevista, preparada certamente com antecedência, não vai ajudar nada a que mesmo os moderados e menos adeptos das passeatas pela Avenida comecem a rever a sua atitude.

Maria de Lurdes Rodrigues despertou a imediata aversão e o conflito foi permanente. É verdade que resistiu.

Nuno Crato beneficiou de um longo estado de positiva expectativa. Foi, mantenho-o, uma excelente escolha para que os professores sentissem que no MEC estaria alguém que os compreendesse, que denunciou a instrumentalização política da Educação até 2010 e que criticou com justeza aquilo que agora faz. Até nisso foi uma excelente escolha, pois parece quase mentira vê-lo a fundamentar decisões pedagógicas com médias aritméticas. Sei que muitos achavam que assim iria ser, mas acredite que Nuno Crato conseguisse ir além disso e não se tornasse indistinto daqueles assessores apatetados que pululam no universo dos aparelhos partidário, à cata de lugares em gabinetes.

Provavelmente é tempo de inverter em definitivo a atitude e tratar o actual MEC decididamente como alguém hostil, que preferiu entrincheirar-se no ministério e começa a usar algo parecido ao “perdi os professores, mas ganhei a opinião pública”. Quando se ouve ou lê frases como “os portugueses não iriam entender que…” entrámos nesse domínio.

Vou ler a entrevista toda com cuidado, desmontar aquilo que já me aparece evidente manobra de spin e de provocação gratuita e decidir se, engolindo mais ou menos sapos, é tempo de passar para uma contestação mais clara e radical, para além das vigílias ou romarias com os amigos do costume, exigindo que os representantes profissionais representem os professores e não outros interesses.

E é tempo para, de uma vez por todas, Mário Nogueira e João Dias da Silva decidirem de que lado estão. E se andam apenas em busca de prazeres negociais.

Como é que, sublinhando positivamente o seu carácter profissional e (sem pudor) corporativo e reforçando fortemente a identidade de uma profissão sem a deixar diluir em estratégias frentistas que desmobilizam cada grupo específico, será possível fazer sair novamente a classe docente do acantonamento a que a levaram as estratégias sindicais das maiores federações que, cada qual a seu modo e tempo, preferiu entender-se com o ME(C) do que com aqueles que dizem representar?

Há quem diga que sou idealista ou utópico ao reclamar um sindicalismo de proximidade e em que os representantes sirvam de exemplo para os representados e que não andem sempre a queixar-se da má qualidade da classe de que emanam e que lhes justifica a profissionalização sindical.

Eu sabia que eles iam gostar de alterar tudo.

 

Scènes de guérilla urbaine à Athènes

E por cá? Até onde estão dispostos a ir os lutadores? Ainda há partidos revolucionários, defensores do levantamento popular ou apenas se circunscrevem à chamada luta política?

Assim sendo, quais são as modalidades aceitáveis de luta? Apenas as de rua. ,as com horário marcado? As parlamentares? As negociais?

Mas todas pacíficas e ordeiras, certo?

Assim sendo, por favor, não sejam, garganeiros e fanfarrões.

Na sequência da reunião de hoje com Sócrates, Passos Coelho fez divulgar a carta que terá entregue ao PM, destinada a também ser entregue à equipa do FMI em Portugal.

A divulgação da carta, quase em tempo real, é consequência de um estado de enorme degradação da confiança existente entre os chamados actores políticos, nomeadamente entre JS e PPC que, neste momento, faz lembrar velhas quezílias de Eanes com Pinto Balsemão e Soares, ou Soares e Cavaco Silva.

No entanto, talvez seja por aqui que alguma coisa se possa endireitar. E é importante que contra Sócrates seja usada a única arma que ele domina mal: a Verdade.

Quem entrar pelos truques, pelas ambiguidades, pelas habilidades, pela manipulação grosseira ou subtil dos factos, será trucidado por Sócrates e a sua equipa que têm uma enorme vantagem neste campo e uma prática de anos. Perante um problema, os homens atrás dos bastidores buscam a fórmula, Sócrates aparece com ar de ofendido, Silva pereira faz de eco mais calmo, Santos Silva dá substância teórica e – afastado Ricardo Rodrigues da lides das respostas acintosas – Francisco Assis surge a dar uma certa aura de respeitabilidade e amaciamento ao primeiro ataque. Pelo caminho, poderemos ainda ter um Lacão a dizer qualquer coisa ou um qualquer outro elemento útil para estas coisas (Lello nos dias maus, Vieira da Silva nos bons).

Passos Coelho cometeu o erro de, com aquela história do telefonema e encontro antes de Sócrates levar o PEC4 a Bruxelas, ter cedido à tentação do truque. Como se viu, não correu bem. Os seus spin-doctors são neófitos. Não chega brincar aos blogues ou ás tertúlias para ganhar o traquejo de anos de governação servidos com um aparato profissionalizado de manipulação/distorção da realidade.

Contra Sócrates só mesmo a kryptonite da Verdade poderá ser eficaz, sem véus, algo que na política é uma quase total novidade – relembre-se como Manuela Ferreira Leite foi mal recebida nessa matéria –  mas que é possível usar sem o manto algo bafiento que envolveu a tentativa anterior. Nem sequer os truques de um Marcelo ou as habilidades retóricas de um Pacheco Pereira estão à altura da máquina de produção de realidades alternativas de Sócrates.

Sócrates reage mal à verdade, abespinha-se mesmo, não é encenação. Enraivece-se. Torna-se mal educado, brusco e prepotente: perde a compostura e o escasso verniz.

Era bom que PPC aprendesse isso. E, já agora, que à Esquerda usassem a mesma táctica, não se deixando embalar por sonhos de uma união das esquerdas que será impossível com o engenheiro como guia.

Ataquem-no com a Verdade. Mesmo quando for aparentemente menos confortável. É (quase) a única maneira.

… mas se calhar estas acções deveriam ter sido interpostas logo há dois meses, sem aquela coisa dilatória das reclamações. Agora, por justas que sejam, entram em contraciclo evidente a vários níveis.

Fenprof exorta professores a contestar cortes salariais

A Fenprof exortou hoje os professores a contestar judicialmente o corte dos salários, dizendo que este é um “tempo de protesto e não de silêncio”.

Não tenho qualquer esperança no actual Provedor de Justiça a quem me queixei (o qual já deve ter esquecido o belíssimo texto que escreveu no Expresso no Verão de 83 ao PM de então, Mário Soares… ainda vou ver se o digitalizo…), nem na eficácia, neste momento, desta contestação judicial da Fenprof. Até porque os cortes salariais são anteriores ao FMI e quer-me parecer que já teriam sido aflorados há mais de um ano atrás, quando… enfim…

“Hoje, o que queremos aqui dizer, é que as pessoas não podem resignar-se, não podem dar como inevitável a vinda destes abutres que vêm à procura da carne”.

Da estratégia do SPGL de concentrar a contestação jurídica num único processo?

Adianto duas razões:

  • Não foi isto que foi prometido e amplamente noticiado. Se dá trabalho e é difícil a logística de muitos processos? É! Não sabiam disso antes?
  • Desta forma, basta uma derrota para tudo ficar perdido. Não defendo 10.000 processos, mas era essencial que fossem mais, que até deveriam ser de dirigentes, no sentido de se obterem decisões suficientes para se estabelecer jurisprudência como no caso das aulas de substituição.

Na minha modesta – e externa – opinião – isto é um erro estratégico crasso.

Sorte que amanhã tenho teste marcado com uma turma mesmo para as 10.05, ou acabava expulso da minha segunda reunião sindical, quando o de serviço tentasse explicar isto.

Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
Para ver quem é,
Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas
Despertas;
Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
Órfãos de pais e mães,
Andarem acossados pelas ruas
Como matilhas de cães;
Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
Num silêncio de espanto
Rasgado pelo grito da sereia estridente;
Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
Amassando na mesma lama de extermínio
Os ossos dos homens e as traves das suas casas;
Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA

[António Gedeão]

DEI O CORPO, A ALMA NÃO DOU – Despedida da luta. Para mim acabou!

Estive no Campo Pequeno, posso falar. Fui acabar na outra, já meio a desmobilizar, o que mais uma vez me permite falar. Tive pena de chegar no fim, mas valeu a pena.

Isto, ao contrário da ‘concentração’ no campo pequeno, autenticamente desmobilizadora. A manifestação ‘à rasca’ foi um sucesso, as canções ‘roubadas a 74’ trouxeram a lágrima ao olho. O Campo pequeno foi de uma tristeza monocórdica, discursos mil vezes repetidos, à procura dos seus óculos de aumento (8.000?, afinal os professores não eram 120.000?)

Conclusão de um itinerante: Assim não dá.

Até eu, que tentei mobilizar o mais possível para o Campo Pequeno (apesar do apesar… dos sindicatos), porque entendo que é preciso estarmos todos unidos e porque entendo que só juntos conseguiremos vencer, digo: CHEGA.

CHEGA do autismo dos nossos sindicatos que desiludiu os professores, talvez de uma forma irremediável. Mas também CHEGA do autismo dos professores.

Gostei quando Mário Nogueira, num aparente exercício de humildade e de quase mea culpa, apelou à união da classe e também à união partidária em torno da educação. Disse que apenas com os sindicatos não era possível vencer, mas que sem eles também não.

Mas não foi suficiente. A sensação foi de enjoo e de derrota antecipada. De comiseração…

De momento, continuo firme nesta luta, dada a sua justeza a meu ver inquestionável, mas, de agora em diante individualmente. Apesar das palavras de Mário Nogueira, e porque palavras leva-as o vento, considero que os sindicatos, assim fosse a nossa classe profissional menos reactiva e mais activa, estão a precisar de um manifestação interna ou externa de ‘Professores à rasca’. Uma bofetada. Mas uma bofetada activa e que encha ruas – não a que esvazia touradas, que também não leva a lado nenhum.

Mas, infelizmente, deixei de acreditar nos professores.

Durante muito tempo fiz tudo para ‘capitalizar’ este imenso sentido de desgaste e revolta dos professores. Valeu a pena?

Ou, uma hipótese a começar a ter em consideração, estou eu enganado, vocês enganados, e os professores, afinal, estão mesmo acomodados e a lutar por menções de mérito e prémios do Professor do Ano, completamente desinteressados da ruína da escola pública e da qualidade da formação das gerações futuras? Do seu próprio futuro?

Se assim for, se mais não formos do que insatisfeitos e remelosos velhos do Restelo, eu e outros como eu que continuam a lutar, nós os que persistimos em apontar o dedo à destruição da escola pública de qualidade, ao desinvestimento na educação e à exploração de uma classe profissional, em moldes nunca antes imagináveis, se assim for, é só dizerem-no-lo.

Por mim, sei quando saio derrotado.

Como Catulo, limitar-me-ei a argumentar que ‘a causa vencedora agradou aos deuses, mas a perdedora agradava a Catulo’.

E seja o que vocês quiserem… desunhem-se.

Deitem-se nos vossos sofás em frente às vossas dilectas novelas, todos contentes por serem relatores e por poderem vir a ser excelentes bestas, ah, desculpem-me, bestiais de mérito.

Por mim, CHEGA. A partir de agora tudo o que fizer – e continuarei a fazê-lo – fá-lo-ei sozinho e de acordo com a minha consciência. O Carlos Marinho Rocha que perdeu horas a trabalhar pelo que considerava ser o bem comum e uma ideia comum de defesa da escola pública e que chateava toda a gente com mails, MORREU.

De mim não se ouvirá nem mais uma palavra.

Pelo menos até esse momento, em que já não acredito, em que a nossa curvada classe profissional e seus sindicatos se mostrem de outra estatura.

Assim me despeço desta luta

Carlos Marinho Rocha

… que recebi um telefonema, pouco tempo depois de se saber que, em conjunto com um grupo de colegas, tinha pedido um parecer ao doutor Garcia Pereira sobre a obrigatoriedade ou não da entrega dos OI. Faz coisa de dois anos e um mês, ou algo assim. Eram os finais de Janeiro de 2009

Se bem me lembro já ia bem depois das onze, a descair para a meia-noite.

A ideia transmitida era simples – isto está morto, porque insistes em querer fazer ressuscitar o que já é cadáver? Por cadáver, entenda-se a luta contra a ADD. Quem me telefonava – bem como o aparato por trás – considerava que aquele era um assunto que, infelizmente, estava arrumado e era necessário começar a pensar numa nova fase da luta, partir para outras pradarias guerreiras, que a ADD estava mais ou menos resolvida.

O objectivo do contacto – que se alongou, com variações em qualquer coisa menor – era sensibilizar-me para a política real, essa coisa que tenho dificuldades em sentir por perto. A ADD era uma batalha perdida, deixemos a sua alma em paz, era o conceito.

Como ando habituado a amnésias esquisitas, a pessoa é capaz de já não se lembrar. Ou fazer que não se lembra.

Na altura respondi qualquer coisa como, mesmo que seja necessário fazer boca-a-boca para o cadáver ressuscitar, eu não dou o tempo por perdido.

E as coisas foram o que foram.

Mais de dois anos depois – com um acordo a intercalar isto tudo – ainda temos a ADD como espinho cravado na carne da maioria da classe docente, por muito que alguns assumam, na prática, o acomodamento.

O cadáver tem custado a enterrar.

E há muita gente interessada em enterrá-lo, mesmo quando é obrigado a voltar atrás, de tanto que ele esperneia.

Não sei porque me lembrei disto hoje. Não foi, como o Maurício dirá, porque o Sporting (previsivelmente) perdeu. O cadáver de uma equipa de futebol poderia ter-me feito lembrar essa outra conversa de cemitério.

Ou melhor… até sei. É porque deparei a meio do dia com outro ensaio de cadáver, mas este defunto ainda antes de respirar.

Mas a culpa, claro, a culpa será sempre dos que não compreendem a densidade e profundidade do conceito.

Apesar da evidente contrariedade nos parceiros preferenciais de há um ano, a ADD volta a estar na ordem do dia.

Hoje no DN e I o assunto volta a ser tratado, pois a contestação – mesmo se ainda não com a onda e a firmeza de há 2-3 anos na opção pela suspensão dos procedimentos – vai aumentando e se adivinha um crescendo no 3º período, quando as escolas estarão sob maior pressão, com exames, provas de aferição, antecipação de horários-zero e definição das classificações de mérito.

Enquanto o ME ameaça com a demissão dos directores que optem por tomar medidas práticas contra a ADD – o que poderia ser um rastilho poderoso para a revolta global dos docentes -, há escolas onde se fazem exigências disparatadas aos professores que não concorreram a classificações ditas de mérito.

Não tenho divulgado alguns documentos que tenho recebido, incluindo instruções com dezenas de páginas e fichas a requerer evidências ao nível de um novo estágio, por falta de tempo para tratar e apresentar a informação de modo legível.

Ao mesmo tempo realizam-se reuniões de tipo sindical de tipo surreal, onde dirigentes (não estou a falar de delegados) afirmam que a ADD não é complicada e que os sindicatos só não a contestaram abertamente porque os professores não estavam mobilizados. Tenho uma espécie de acta sumária de uma reunião recente aqui perto de mim, onde o zé do costume fez o seu número habitual de ataque aos blogues e outros sindicatos e de defesa da falta de verticalidade sindical nesta matéria, esquecendo-se que o seu sindicato não apresentou qualquer iniciativa concreta de apoio a quem fizesse pedido de escusa de relator e não tem dado qualquer suporte efectivo a quem pretende contestar a ADD no terreno.

Isto significa que esta ADD só está de volta à agenda mediática por pressão das bases. De novo. Desta vez será necessário que, mesmo com arranque lento, a contestação se desenvolva sem dar muita atenção aos ruídos exteriores às escolas, que o tentarão instrumentalizar ou desmobilizar com promessas sem eficácia (é o caso de iniciativas parlamentares que valem o que valeram outras no passado, pois há sempre aguiaresbrancos disponíveis para…).

A retomada da iniciativa pelas bases, se for unida e firme em alguns pontos-chave, pode forçar as cúpulas (ME, sindicatos, direcções) a reagir e isso permitirá aclarar posições. Permitirá, por exemplo, que a estratégia, com um ano de atraso, de negociar directamente com o MFinanças, não seja apenas mais uma almofada. Ao lado de encher o Campo Pequeno, com menos de 10% dos professores que outrora desfilaram em conjunto. Permitirá ainda perceber até que ponto certas plataformas ocasionais não passam de cortinas de fumo.

A retomada da iniciativa pelas bases – com os relatores a unirem-se contra o que lhes é exigido, assim como os próprios relatados, com aulas assistidas ou não – permitirá colocar os chamados dirigentes escolares perante a necessidade de explicarem ao que andam e – quiçá – a demitirem-se para não serem demitidos e assim recuperarem para o seu lado a maioria dos colegas que ainda o são.

A retomada da iniciativa pelas bases, pela sua disseminação e pulverização dos focos de instabilização, assusta as cúpulas. Todas. Todos os poderes instalados se assustam com isso. Quer os que são directamente contestados (Governo), quer aqueles que querem formatar a contestação em requerimentos de 25 linhas, com direito a lugar à mesa das negociações e monopolização da representação. Até porque Gonçalo Castilho dos Santos não me parece rapaz para partilhar confidências com façanhudos sindicalistas e, muito menos, tenha autonomia que outros aventurados pensaram ter.

Exmos. Senhores,

Caros colegas,

Porque continuo a pensar que é a união que faz a força e que SÓ TODOS JUNTOS podemos fazer a diferença perante este violento ataque à escola pública e aos professores, uso este meio ao meu alcance para, a um nível puramente pessoal:

a) pedir encarecidamente que, de momento e perante a ameaça que a todos atinge, se esqueçam as indeclináveis e salutares divergências, os eventuais conflitos, e se trabalhe conjuntamente e por todos os meios ao nosso dispor para o bem comum, pela dignidade da nossa profissão e CONTRA:

. A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE – dada tonalidade kafkiana e o mal-estar que introduziu nas escolas, o rastilho ideal

. A REORGANIZAÇÃO CURRICULAR – e, sobretudo, a defesa por razões pedagógicas do par pedagógico em EVT

. O PROJECTO DE DESPACHO DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NAS ESCOLAS – e o descalabro que se lhe seguirá.

. OS MEGA-AGRUPAMENTOS – numa altura em que, nos países outrora exemplares e agora até nos EUA, se regressa à pequena escala e à escola familiar

 

b) manifestar o desapontamento pela demarcação da FNE da presente contestação, porventura um sinal do que poderão vir a ser as políticas educativas do PSD em próximo governo (e gostava de estar enganado).

 

c) pedir aos destinatários deste e-mail a divulgação/publicitação, pelos meios considerados possíveis, de todas as Moções/Tomadas de Posição contra a ADD, a Reorganização Curricular e o Projecto de Despacho de Organização do Trabalho nas Escolas, bem como que, empenhada e militantemente, se incentivem mais escolas a fazê-lo (por pequeno que seja o acto, estou convencido da sua maior força na congregação do maior número de professores).

 

Pela minha parte, tratei de compilar as Escolas e Agrupamentos + Moção da ANDE, quer nos blogues – com destaque para o Umbigo, onde são mais que muitas, e para o Octávio Gonçalves – quer nas páginas da FENPROF e do SPN. Esta lista de 46 Escolas e Agrupamentos segue abaixo (infelizmente nem todas têm link).

Os melhores cumprimentos

Carlos Marinho Rocha

(professor ‘contratado por tempo indeterminado’, Escola Secundária/EB2.3 Clara de Resende, Porto)

 

Já são 46 Escolas e Agrupamentos …

(entre a contabilidade dos Blogues e a da Fenprof)

As últimas:

Moções Do I Encontro De Dirigentes De Escolas PúblicasMoçoes_do_Porto

Conselho Pedagógico do Agrupamento Vertical Fernando Casimiro Pereira da Silva, Rio Maior, (ADD)

Escola Secundária Filipa De Vilhena, Porto – Tomada de Posição dos Relatores (ADD)

Escola Secundária de S. Pedro,  Vila Real (ADD)

Agrupamento de Escolas de Alpendorada, Alpendorada Tomada de posição dos relatores (ADD)

 

… as outras:

Agrupamento de Escolas de São Silvestre, Coimbra (ADD)

Escola Secundária Infanta D. Maria – Coimbra – Tomada de Posição (ADD)

Secundária Augusto Gomes, Matosinhos (ADD)

Agrupamento Vertical Clara de Resende, Porto, 2 Tomadas de Posição, ADD e Reorganização Curricular

Escola secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, Lisboa,  Posição dos professores sobre a actual situação da escola, as propostas de alteração organizacional e curricular do sistema educativo e a avaliação do desempenho docente

Esc. Secundária de Camões, Lisboa, (avaliação de desempenho ADD)

EB1 Bairro da Ponte – Agrupamento de Santo Onofre – Caldas da Rainha, Tomada de Posição – Reunião de Conselho de Docentes

Agrupamento de Escolas de Vila Nova de Poiares – Tomada de Posição – Conselho Pedagógico

Escola Secundária com 3º Ciclo Quinta das Palmeiras – Tomada de Posição

Escola Secundária com 3º Ciclo Nuno Álvares – Tomada de Posição

Escola Secundária Frei Heitor Pinto – Tomada de Posição

Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã – Tomada de Posição – Departamento de Línguas

Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã – Reunião de disciplina de Língua Portuguesa

Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã – Tomada de Posição – Departamento de Ciências Sociais

Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã – Tomada de Posição – Departamento do 1º Ciclo do Ensino Básico

Agrupamento de Escolas do Teixoso – Tomada de Posição

Agrupamento de Escolas de João Franco do Fundão – Tomada de Posição

Agrupamento Escolas do Atlântico, Conselho Geral, Viana do Castelo, (ADD)

Agrupamento de Escolas de Freiria – Reunião de CEF – Electricidade

Agrupamento de Escolas de Freiria – Reunião de CEF – Informáticos

Agrupamento de Escolas de Freiria – Professores do 1.º CEB – Informação adicional à posição aprovada

Escola Básica 2.3 de Freiria – Informação adicional à posição aprovada

Agrupamento de Escolas de Freiria – Departamento Curricular de Educação Pré-Escolar – Informação adicional à posição aprovada

Agrupamento de Escolas Dr. Augusto Louro, Seixal (EVT)

EB1 de Serrado, Agrupamento de Buarcos – Informação adicional à posição tomada

Escola EB 2/3 D. Carlos I, Sintra (ADD)

EBI de Montenegro – Faro – Grupo disciplinar de História

EBI/JI de Montenegro – Faro – Educação Física

Escola de Framil – Posição aprovada em reunião de Departamento Curricular

Agrupamento de Escolas de Salir – Informação adicional à posição tomada

Escola Secundária Dr. António Granjo – Informação adicional à posição aprovada

Escola Secundária Com 3º CEB De Ferreira Dias, Cacém, Posição do CCAD

Escola Secundária de Amares – Posição aprovada em Departamento Curricular de Educação Física

Escola Secundária de Amares – Informação adicional ao texto aprovado

Agrupamento de Escolas D. Pedro I, Gaia: Conselho Pedagógico (ADD)

Escola de Canelas – Vila Nova de Gaia – Posição aprovada em reunião sindical

EB 2, 3 de Cabreiros – Barcelos – Posição aprovada em Departamento Curricular

Escola Secundária de Barcelos, Barcelos (ADD)

Agrupamento de Escolas D. José I – Vila Real de S.to António – Informação adicional ao texto aprovado

Agrupamento de Escolas de Castro Daire – Informação adicional ao texto aprovado

Agrupamento de Escolas de Mogadouro – Posição aprovada em Departamento Curricular

Agrupamento de Escolas de Soure 3/S Martinho Árias – Informação adicional ao texto aprovado

Agrupamento de Escolas nº1 de Portalegre – Informação adicional ao texto aprovado

Escola D. Manuel I – Pernes – Posição aprovada 10 (dez) reuniões de Departamentos Curriculares

Agrupamento de Escolas de Esgueira – Informação adicional à posição aprovada

Agrupamento de Escolas de Gondifelos, V.N. de Famalicão, Posição Professores do Departamento do Primeiro Ciclo

Agrupamento de Escolas de Vila Nova de Foz Côa – Reunião Sindical

EB 23 da Maia – Declaração de Protesto dos Relatores

Escola Secundária Padre Benjamim Salgado – Posição de Departamento Curricular

 

Página seguinte »