Neste caso à pretensa má fama da blogosfera que tantos gostam de destacar quando lhes apraz e dá jeito, dos opinadores que dizem não passar por cá aos que dela fazem o uso que querem mas sempre com um anojado pela companhia.
A situação é simples e acho que conhecida de muitos.
Há alguns dias circulou um mail (que recebi várias vezes entre 19 e 24 de Setembro) com uma petição em defesa dos azulejos que Maria Keil ofereceu ao Metro de Lisboa e que estariam em perigo de destruição. No texto em anexo, para além das questões de defesa do património, alegava-se que Maria Keil não teria direito a qualquer indemnização pelo acto atentatório da sua arte.
Sinceramente não sei o que me fez hesitar quanto a postar uma petição que me parecia bastante razoável. Falta de tempo, distracção e um pouco a estranheza quanto ao facto de Maria Keil não aparecer citada em lado nenhum como impulsionadora, subscritora ou meramente patrona da iniciativa. Assim como não estava bem a ver do que se trataria, pois não me estava a lembrar de obras recentes nas estações do Metro com azulejos da dita artista
Qual não é o meu espanto (relativo), quando nas páginas do Expresso de ontem aparece Maria Keil a desautorizar veementemente a iniciativa.
E o que é pior, dando o flanco a um parágrafo do jornalista Alexandre Costa do seguinte calibre:
O documento apresenta como recente um caso com mais de uma década. A sua criação é um autêntico fenómeno de ‘bola de neve’ típico da Net e dos blogues. Um pequeno comentário dá origem a um texto inflamado que deturpa os factos e cuja informação todos dão como certa.
E isto irrita, claro que irrita. Porque este parágrafo é típico de um certo jornalismo anti-blogosfera que, partindo da asa do moscardo teoriza sobre todo o reino dos insectos.
Repare-se que o fenómeno é «típico da Net e dos blogues», com a deturpação dos factos a ser dada «como certa» por «todos». Mas quais «todos»? Todos os blogues? Todos os autores de blogues? Todos os leitores de blogues?
É verdade que a iniciativa, depois das declarações de Maria Keil e demonstração dos factos, deveria ser abandonada e os autores deveriam admitir que se equivocaram.
Mas também é perfeitamente abusivo que um jornalista, que certamente nunca se enganou em quaisquer factos e deve ter urticária só por abrir um blogue, pois «todos» dão «como certa» informação deturpada e se inflamam a partir de pequenos comentários, faça este tipo de comentário e passe impune pela mesa da redacção do Expresso.
Porque então teremos – ou encomendaremos a Alexandre Costa a missão – de ir aos blogues alojados no Expresso, de lupa em punho, e detectar todas as «deturpações» de factos e informação tidas por certas pelos seus autores.
Ou então generalizar, a partir de casos específicos de incorrecções em artigos do Expresso e opiniões do seus colunistas, da errada linha editorial do jornal e da falha dos seus mecanismos de verificação dos factos.
Agora que o bom senso aconselharia os promotores da petição a pensarem duas vezes sobre o seu «acto de cidadania» isso é bem verdade. Admitir um equívoco não é vergonha nenhuma, antes pelo contrário.
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