Enquanto ouvia, com razoável delícia, o Tubo de Ensaio quase a chegar à manhã de trabalho, lembrei-me daquele tipo de pessoas que, aqui na minha zona ainda com a ruralidade num passado muito próximo, eu qualifico como olha-me este é de certeza um dos condutores de boina.
O condutor de boina define-se, antes de mais, em meu aprofundado entender após observação directa de muitos anos, por ser pessoa de uma certa idade, embora a expressão se refira, em regra, a pessoa de idade indefinida, ali para cima da idade da reforma quando a reforma era em idade decente.
O condutor de boina é pessoa de alguns meios materiais, quase sempre conseguidos após venda de prédio rural de dimensão competente para construir uma urbanização de estilo suburbano (ou condomínio a fechar) no final dos anos 80 ou anos 90, ocasião que aproveitou para adquirir um símbolo de estatuto automobilístico, vulgo uma banheira das grandes, em 74,6% dos casos um Mercedes com muita cilindrada, mais raramente um BM e ainda mais raramente outra coisa qualquer, mas sempre alemão que é bom. Nos casos mais recentes há a variante da pick-up para andar nos carreiros a caminho da quinta que restou.
Mas com isso posso eu bem.
O que me irrita um ‘cadito é o facto do condutor de boina andar sempre em 2ª ou 3ª e entre os 40 e 60 km/hora, seja em que circunstância for, seja num cruzamento em que tem o stop do seu lado, seja em plena recta desimpedida de trânsito ou mesmo auto-estrada.
É o símbolo da constância e estabilidade. Meter uma velocidade só mesmo para arrancar e colocar em movimento. A partir daí mete-se a 3ª e é sempre o mesmo, não se olha para lado nenhum, com a pala da boina a tapar a testa toda e olhar fico no destino, nem que o dito cujo esteja a 300 km, sendo de mau tom usar o travão (assim as pastilhas duram mais) ou pisar mais o acelerador (o gasóil está muito caro, assim gasta-se menos e não se estraga a cacha).
Não há hipótese… ou travamos nós ou travamos nós, seja em que situação for, porque aquilo são normalmente carripanas quase blindadas e quem fica com a frontaria toda amolgada somos nós e ainda temos de ouvir um ofendido e zangado custava-lhe muito ter dado um jeitinho para justificar que nos tivesse atropelado a evidente prioridade.
É inútil usar-se qualquer sinalética com o condutor de boina porque ele não vê (parece ter um torcicolo permanente, não vira a cabeça em circunstância alguma), não ouve e mesmo que ouvisse era como se não tivesse ouvido. Ao menos, não nos ofende logo a família toda e ameaça atirar-nos o carro para cima como acontece com o seu filho ou neto mais velho ao volante de um Peugeot 208 todo kitado.
E prontossss, desabafei.
Março 5, 2015 at 6:51 pm
Ou é mulher ou tem chapéu eheheheheheh
Março 5, 2015 at 7:10 pm
#1
Homessa 😦
Março 5, 2015 at 7:25 pm
Outro espécime interessante da nossa fauna rodoviária é o peão suicida. É encontrável em todas os locais e idades mas abunda nas cercanias das escolas; tem o teclado de um “telemóve” colado ao dedo, se fêmea, e cintura ligeiramente acima dos joelhos, se macho. Para ele a “zebra” não indica o local onde a a faixa de rodagem se deve atravessar com prioridade, após certificação de que o condutor do automóvel parou ou reduziu a velocidade; é o sítio onde se passa como se não houvesse mais mundo. Nem vida.
Março 5, 2015 at 9:56 pm
Humor refinado…
Ri com prazer.
Obrigado.
Março 5, 2015 at 10:37 pm
Já há muito que me interrogo por que é que o Paulo Guinote não envereda, também, pela escrita de ficção?
Março 5, 2015 at 10:43 pm
Não olvidar o kü, esse farol sem manutenção sobre os penhascos por ele “bostados”.
Março 5, 2015 at 10:45 pm
#4,
Acho que ando há anos na ficção… agora é melhor ir para a realidade… 🙂