Ainda bem que não fixei o nome do homem. Estava ontem no Expresso da Meia Noite, naquele estilo dos negociadores que dizem 50 palavras quando chegam 20, a contar como tinham sido as negociações entre o governo e a Gilead.
E, se bem percebi, porque foi mesmo quando lá chegava em manobra de zapping, falou no famoso algoritmo que se aplica aos doentes para decidir a que tratamento têm direito.
Como faz qualquer seguradora, daquelas a que querem que compremos seguros de saúde e que nos EUA enviam para a morte quem não cabe nos critérios do “algoritmo”.
Só que há aqui duas ordens de considerações a afazer:
- O Estado (mesmo que representado por governantes e burocratas de terceira ordem) não pode agir como uma seguradora.
- Muitas pessoas com hepatite C podem, graças aos tratamentos, salvar-se aos 40 ou 50 anos de uma morte certa. Não se está a falar de alguém a quem um tratamento caríssimo prolonga a vida um par de meses, para fazer os 87 ou 92 (e mesmo assim temos muitas questões éticas envolvidas num país que não legalizou a eutanásia ou morte medicamente assistida).
Portanto, calma lá quando se fala disto como se estivéssemos a falar de mercadorias estragadas em stock para abater…
Fevereiro 7, 2015 at 12:35 pm
Estes mercadores de saúde um dia também vão adoecer, e é pena que não lhes sejam aplicados algoritmos para ver se têm direito a ser tratados, e se não tiverem, que não haja ninguém que os olhe nos olhos e lhes explique que são as leis do mercado a funcionar e que por isso não adianta reclamar.
É uma pena que esta gente iluminada pelas maravilhas dos cálculos do excel não seja corrida à pedrada dos cargos que ocupa.
Fevereiro 7, 2015 at 12:39 pm
Não há também um algoritmo para políticos “fora do prazo de validade”? Ouvi dizer que sim…
Fevereiro 7, 2015 at 1:30 pm
O Algoritmo revelou vantagem : cada vez que abria a boca…os outros convidados ficavam a olhar com ar espantado ( a pensar se o algoritmo era/tinha sido NEE ).
Inacreditável !
Fevereiro 7, 2015 at 4:57 pm
Vi hoje à tarde quase o mesmo excerto de ontem e a náusea manteve-se.
Fevereiro 7, 2015 at 6:12 pm
Ora bem, com ou sem algoritmo, tudo funciona segundo as regras de uma economia de capitalista que é aquela que tem sido a preferida da maioria da população.
Se usamos os direitos de propriedade intelectual (neste caso, a patente de um medicamento) para proteger legalmente um monopólio, então teremos de optar entre pagar ao monopolista o preço que nos pedir ou prescindir do remédio porque é demasiado caro.
E a empresa, que existe não para praticar a caridade mas para maximizar o lucro do accionista, até poderá baixar o preço, mas apenas movida pela necessidade de vender o produto a um preço a que um número significativo de clientes o consiga comprar, preço esse que será sempre muito mais elevado do que os custos reais do fabrico e desenvolvimento.
Soluções para isto são, por um lado, um maior investimento dos estados, universidades e laboratórios públicos na investigação científica, de forma a evitar a privatização excessiva do conhecimento e da tecnologia que permite salvar vidas e, por outro, a adopção de regras que limitem claramente os direitos inerentes às patentes quando estão em causa questões humanitárias e de saúde pública.
Temas que nalguns países do Terceiro Mundo são há muito tempo discutidos, mas que por cá só reparamos neles quando começamos a ver morrer estupidamente pessoas de 50 anos por causa da ganância das farmacêuticas e do fundamentalismo ideológico e economicista de um governo que nos diziam ser de homens sérios.
Fevereiro 7, 2015 at 6:29 pm
As emoções são algoritmos complexos. Aqueles que têm números imaginários.
Por isso não digam mal dos algoritmos.
Como dizia FP “A Vénus de Milos é tão bela como o Binómio de Newton!
Há, é pouca gente a dar por isso”
So, arranjem lá outro conceito para bater.
Fevereiro 7, 2015 at 7:33 pm
Ora aqui está um ponto interessante que vejo finalmente relevado . A hipocrisia de um país. De um país sim, não apenas do Estado.Sou a favor da eutanásia devidamente pedida pelo doente na plena posse das suas capacidades e na presença de prognóstico fatal A eutanásia não pedida é assassinato puro e duro. Eu que rezo para nunca ficar na dependência dos outros, vejo assim um grande aliado para evitar que tal me aconteça. uma vez que posso não estar capaz de recusar cuidados, mas, assim sendo, estou descansada, na minha idade já vou entrando no algoritmo, Há outro segmento que incomoda muito pouca gente: os animais de companhia que estão nos canis no corredor da morte, uma semana apenas, seja doente seja saudável, se não for adoptado , leva a injeção letal. Mas não é por isso que relembro esta hecatombe , é porque nos canis há também um algoritmo bárbaro que alguns veterinários pouco dignos desse nome aplicam que é o seguinte: este cão (ou gato) está doente, mas daqui a uma semana vai ser abatido para quê gastar dinheiro em cuidar dele? E deixam o animal a sofrer ….. Ora isso não fazem nos hospitais, ou fazem? Deixam a malta sofrer? É que acho que no meu caso, se alguma vez me virem a sofrer, me fariam um favor grande se me dessem a injeção do cão..
Fevereiro 7, 2015 at 8:07 pm
#7 Não chore. As emoções são algoritmos com muita compaixão. Um dia vamos todos esquecer isto dos números e voltar ao Estado Social, Pessoa de Bem. Deve ser já nas próximas eleições.
Fevereiro 8, 2015 at 12:31 pm
#8. Quem disse que choro? Leia com atenção o que eu escrevi. está um pouco encriptada a minha mensagem mas está lá e não eatá nublada pelas emoções, tem muito mais a ver com a razão (no sentido kantiano ). Acrescento que acho que separar a razão da emoção é um exercício apenas teórico, o cérebro da maioria das pessoas, tanto quanto sei , não elimina toda a emoção mesmo quando resolve um sistema de equações ou calcula o determinante de uma matriz…. Aproveito para a alertar quanto aos seguros de saúde que calculo que tenha: leia com muita atenção as exclusões de doenças, o período de carência, se é vitalício ou acaba aos 70…. e escolha muito bem a companhia de seguros, algumas , na hora de pagar, salvo seja, podem conseguir provar que já há muito a doença existia , antes do seguro ter sido contratado…. cuidado muito cuidado , nem todas as seguradoras são “pessoas de bem”.
Fevereiro 8, 2015 at 2:31 pm
As questões são: 1-como é que a Índia conseguiu fazer frente às multinacionais farmacêuticas 2- Afinal a UE só serve para lixar os cidadãos e ajudar as grandes empresas?