Isto é sempre tudo muito giro, muito bem planeado, tudo a favor das famílias e contra os “interesses” alheios.
Mas adoptam-se metas de aprendizagem, diferentes dos programas em vigor, numa calendário que atropela o da adopção de manuais e os períodos em que eles deveriam manter-se.
No caso de Português e Matemática do 2º ciclo foi logo no ano a seguir.
E vai de surgirem manuais com a chancela “de acordo com as metas de aprendizagem” a substituir os anteriores, descontinuando-se os anteriores e forçando a uma nova vaga de compras, bem como à inutilização da possibilidade de reaproveitamento dos manuais de um ano para o outro.
E a coisa atinge tanto os cidadãos “privados” como a A.S.E. que tem de adquirir novos manuais e não pode reutilizar os que os alunos devolveram.
Ganhar, ganhar, só ganham as editoras.
Com a colaboração, por inépcia (?), do MEC, que parece desconhecer o que é um cronograma articulado de aplicação de novos conteúdos, programas ou metas com a adopção de novos manuais.
Assim é tudo ao molho e que se lixem os mexilhões, desde que paguem novos manuais e se deitem fora os que deveriam durar meia dúzia de anos no activo.
Setembro 3, 2014 at 7:29 pm
Sou autor de manuais escolares. Lamento, já o disse publicamente em muitas escolas, esta horrorosa situação. Ganho com ela. As editoras ganham com ela. Agora, Dr. Guinote, acredite que quem dera à editoras não ter passado por tudo o que têm passado neste âmbito. E aos autores também. Não se dorme em paz há anos. Tem de estar dentro para entender. As editoras nada fizeram para provocar esta situação inacreditável, própria de um país governado por anormais. Culpas têm, em primeiríssimo lugar, os autores das Metas, que, na sua cegueira, não perceberam que era perfeitamente possível manter os mesmos manuais – refiro-me ao Português. Bastava não terem imposto os textos que impuseram. Essa gente é a primeiríssima culpada. E digo-lhe mais: há ali gente muito, muito reles: estiveram na formação dos novos programas, não abriram nunca a boca!!!, e quando se apanharam com a vaidade do curto poder, toca a provocar tudo isto. Está no Antigo Testamento: sepulcros caiados ou branqueados. Estão connosco também.
Setembro 3, 2014 at 7:50 pm
Mas se o Secretário de Estado Casanova Almeida é coautor de manuais escolares da Raiz Editora, como é que querem que acabe a negociata dos manuais escolares?
Setembro 3, 2014 at 7:56 pm
#1,
No post, em nenhum momento culpo os autores dos manuais… e apenas faço a identificação de quem ganha, objectivamente, com a parvoíce do MEC e que são as editoras.
Já fiz manuais – com escasso sucesso – e não pretendo voltar a fazer, pois o processo tornou-se algo que raramente compensa o esforço colocado na produção de uma miríade de materiais.
A responsabilidade por este descalabro é do MEC, em particular nas disciplinas de Português e Matemática.
Setembro 3, 2014 at 8:15 pm
Sei que muita gente não concorda comigo, mas a minha opinião há muito tempo acerca dos manuais (de editoras privadas) é que, efetivamente, não são sequer necessários (salvo raríssimas excepções)… Os apontamentos e/ou sebentas deveriam ser elaborados por professores designados, autorizados e validados pelos ministério e associações de cada disciplina permitindo o maior consenso possível, por exemplo, em muitos casos vendidos e seguramente vários de forma gratuita. Isto não invalida a coexistência com os manuais atuais, mas as escolas teriam oportunidade em conjunto com os pais (se possível) de escolher a opção que consideram melhor (pedagógica e financeiramente). Para isto é preciso vontade de todos, o que não há, duvido que alguma vez haja. Somos um país de ricos com mente pobre, todos os anos se ajuda grupos privados a enriquecer sem necessidade alguma (às vezes com recurso a dinheiro público). Quanto à pertinência de sucessivas alterações de metas e/ou programas, mesmo que ela exista, devem ser pensadas e evitar grandes revoluções. Além de não serem tão necessárias assim (algumas delas) a instabilidade provocada no sistema é inútil. Corro riscos por ter esta opinião, pode ser boa ou muito provavelmente má, considero me leigo em assuntos da educação o que não ajuda, mas quanto aos manuais para mim é evidente desde que fui aluno até agora que já não tenho qualquer ligação direta com a escola. Espero não ter ofendido nenhuma consciência, não é a minha intenção. Bom trabalho para todos os professores, o meu sobrinho agradece!
Setembro 3, 2014 at 8:44 pm
# 3
Apraz-me que tenha sentido a necessidade de clarificar o conteúdo do post inicial, pois nesta matéria, ao contrário de muitas outras que, com grande interesse, têm circulado no seu blogue, tenho de discordar do que diz.
Quem conhece os meandros do meio editorial escolar sabe desde o início deste processo que, como reconhece, a “responsabilidade por este descalabro é do MEC”, muito embora se tenha tentado passar a imagem de que as editoras eram os grandes interessados, com “a colaboração do MEC”. Neste caso, a explicação não pode servir-se de forma arbitrária da referência aos fatores envolvidos, pois eles têm de ser enunciados de forma inversa: o MEC, impondo alterações à revelia dos principais intervenientes no processo educativo (professores, alunos e encarregados de educação), impôs, conseguindo, posteriormente, a colaboração das editoras, que assim agiram de forma a minimizar as suas perdas. Tratava-se de optar por uma solução menos penalizadora para o meio, atendendo a que o prejuízo para os pais seria inevitável face à intransigência ministerial. Optou-se pelo mal menor – refazer manuais em função das metas e não forçar a elaboração de novos livros, com a subsequente abertura de um novo período de adoções e revisão de prazos de vigência dos manuais. Ninguém ganhou, em termos humanos, com a solução, e só a manutenção dos documentos em vigor durante o prazo inicialmente estipulado teria evitado os transtornos que refere e que reconheço. Revejo-me parcialmente nas palavras do primeiro comentário, pois os autores – em que me incluo – prefeririam mil vezes não ter de refazer trabalho de alguns anos e de grande exigência em poucos meses. Não considero que ganhe mais com a situação (a não ser trabalho e preocupações).
É óbvio que se percebe que o “interesse das famílias” não foi tido em conta, lamentavelmente. Mas não se percebe, afinal, de quem é o “interesse” – explorando a conotação economicista do termo.
Creio que é simples e oportuno fazer das editoras e dos autores dos manuais os bodes expiatórios da questão. Sinceramente, esperei que ela tivesse tido mais divulgação e suscitasse maior indignação no ano letivo passado. Não houve as reações que imaginei. Talvez com o alargamento das reformulações e a perceção, por parte dos pais, de que é muito difícil reaproveitar manuais a um maior número de disciplinas a discussão assuma outros contornos.
De qualquer modo, o estabelecimento de programas, metas e calendários de adoções não faz parte das competências das editoras, pelo que, procurando, como qualquer empresa, manter o seu negócio, se limita a corresponder à procura do mercado, regulado, no caso, pelo MEC.
O que é facto é que, neste país e no domínio da educação, é, e cito-o, “tudo ao molho e que se lixem os mexilhões”. Mas permito-me discordar da associação metafórica do infeliz molusco a um único elemento desta cadeia…
Setembro 3, 2014 at 9:24 pm
“Metas curriculares” pois as de aprendizagem também foram para o caixote do lixo, logo a seguir ao CNEB e aos programas “ultrapassadíssimos” de Português e Matemática.
E quanto aos assuntos de Matemática, a Associação de Professores dessa disciplina até interpôs uma providência cautelar pois este processo contrariava a lei que estipulava a vigência dos manuais por 6 anos… de nada valeu e rapidamente as leis foram substituídas. Tudo para salvaguardar as famílias e os interesses das crianças, claro está.
Mas arrumar, em Setembro de 2012, com um programa que tinha sido generalizado em 2012, mudando metas e fazendo com um país inteiro adquirisse novos manuais pelo segundo ano consecutivo, só foi possível com a conivência das editoras. Enquanto os professores colaboravam no processo de discussão pública dos programas, quais idiotas envolvidos numa das maiores fachadas deste ministro, já as editas faziam ajustes para esse programa que havia de sair!
E é assim que se governa.
Setembro 3, 2014 at 9:35 pm
# 6 Creio que devia informar-se antes de fazer afirmações tão convictas mas tão infundadas como “Enquanto os professores colaboravam no processo de discussão pública dos programas, quais idiotas envolvidos numa das maiores fachadas deste ministro, já as editoras faziam ajustes para esse programa que havia de sair!”. Só o puro desconhecimento da situação pode justificar a assunção de que as editoras e respetivos autores conhecem (ou, pior, interferem n’) os programas antes de os mesmos serem homologados.
Setembro 3, 2014 at 10:05 pm
Eu recebi hoje o manual adoptado para o 7º ano no meu agrupamento, devidamente “actualizado” e com a recomendação de que deveria verificar se todos os meninos o compram, porque o antigo já não vigora e já não se fabrica.
A desculpa das metas curriculares tem as costas largas, pois o que eu verifiquei é que aproveitaram para expurgar o manual dos numerosos erros científicos e gralhas que continha a versão inicial…
Setembro 3, 2014 at 10:23 pm
#8
“A desculpa das metas curriculares tem as costas largas, pois o que eu verifiquei é que aproveitaram para expurgar o manual dos numerosos erros científicos e gralhas que continha a versão inicial…”
O manual com erros científicos e gralhas foi escolhido (ou imposto) por quem?…
Setembro 3, 2014 at 10:42 pm
#5,
Percebo que a posição dos autores dos manuais refeitos ou por refazer seja diferente da minha.
A verdade é que nada do que diz altera de forma substancial o que afirmo… a culpa do MEC em não articular os prazos para adopção das metas e dos manuais.
Em termos humanos – e eu sei o trabalho que envolve fazer um manual – talvez ninguém ganhe, mas em termos materiais, as coisas vão para além da minimização das perdas.
O MEC não conseguiria forçar nada, caso as editoras não aceitassem manuais “refeitos”… aliás, houve mesmo alteração de datas de adopção de manuais em algumas disciplinas por pressão das editoras.
Em nenhum momento digo que algumas editoras foram as responsáveis pelo processo, apenas que foram elas as únicas que, em termos materiais, mais terão ganho…
#6,
Correcto.
Metas curriculares e não de aprendizagem, que essa era a designação dos tempos da ministra Alçada.
Setembro 3, 2014 at 11:43 pm
# 10
“O MEC não conseguiria forçar nada, caso as editoras não aceitassem manuais ‘refeitos'”
A alternativa seria a produção de novos manuais. Seria certamente melhor para muitos autores/editoras, que poderiam ver acrescida as suas taxas de adoção. As editoras aceitaram, continuo a acreditar, o mal menor, que, embora “menor”, reconheço, foi/é um “mal”…
Setembro 4, 2014 at 12:49 am
#9
Os manuais são escolhidos pelos professores, obviamente, de entre os que estão disponíveis.
Pela minha parte, assumo que, de há uns bons anos a esta parte, colaboro na escolha do menos mau, pois nem disponho de tempo para fazer uma análise exaustiva de todos os que nos são propostos nem me identifico com a política de manuais escolares imposta por sucessivos governos e critérios subjacentes.
Continuo a achar que seria perfeitamente possível termos manuais com metade do custo actual, metade do peso e dispensando quase toda a tralha pseudo-pedagógica que nos impingem associada ao “projecto”…
Setembro 8, 2014 at 11:38 am
#7
Não é uma afirmação infundada. É um facto.
No dia 20 de Maio de 2013, a SPM e o DM do IST organizaram um debate sobre o novíssimo programa de matemática, que estava em discussão pública até ao final do mês, para ser homologado em Junho seguinte.
Nesse debate participaram duas autoras de manuais de editoras diferentes. Segundo uma dessas senhoras, que trabalha para um dos maiores grupos editoriais do país, os manuais estavam prontos naquela data. Tinham sido ajustados às metas curriculares.
Então para que servia a “discussão pública” do programa? Que uso fariam os autores do programa das contribuições que iriam receber? Nenhum. E foi o que se viu.
#12
Concordo inteiramente consigo, mas há um aspeto que é preciso frisar: nos últimos anos essa escolha nem sempre tem sido possível e é exemplo disso o caso da Matemática.
Os professores que fizeram a escolha de manuais para o anterior “novo” programa (o de 2007 que se generalizou apenas em 2012) fizeram-no para um período de 6 anos. Com a mudança de metas e o novíssimo programa, os manuais foram todos alterados mas os professores não tiveram oportunidade de analisar esses “novos” manuais! As editoras enviaram os novos manuais para as escolas, sem que os professores pudessem espreitar o seu “novo” conteúdo e avaliar se se adequa ou não aos seus alunos e ao seu tipo de trabalho.
Nada neste processo foi rigoroso, nem tampouco, teve honestidade.
O MEC só conseguiu levar avante esta loucura (e ultrapassou todas as questões ilegais) com a conivência das editoras.