Não se percebem bem açgumas leituras produzidas na noite de ontem… em especial o regozijo da Aliança Portugal por ter perdido por poucos e do PS por ter ganho, mas sem conseguir capitalizar metade da perda de votos dos partidos do actual desgoverno.
Enquanto em 2009, estes três partidos concentravam cerca de 76,5% dos votos, agora nem aos 60% chegaram.
Se esse fenómeno – de perda de influência eleitoral dos partidos do centrão governamental, enquanto sobem os votos das propostas mais populistas e “extremistas” de direita e esquerda – não foi exclusivo de Portugal?
Não, não foi, o que agrava ainda mais as coisas, pois é algo global que demonstra até que ponto a desconfiança se instalou em relação aos senhores do rotativismo governativo.
Se é preocupante?
Depende.
Enquanto as propostas “centrais” se ficarem por Duponds e Duponts, é porque continua a aprofundar-se uma enorme incompreensão entre as cliques e clientelas partidárias e o resto da população.
Enquanto as diferenças forem entre tons da mesma cor base (o cinzento apastelado, com mais goma ou menos goma no cabelo), é porque o solipsismo político atingiu níveis próximos da ruptura.
Mas alguém se sente motivado para votar num assis ou num rangel, que daqui a semanas só se distinguirão porque um decidiu ter ar de saudável raquítico e o outro ainda não?
Menos de 60% de um terço dos votantes inscritos (estou-me cada vez mais nas tintas para o argumento dos “eleitores-fantasma” que, a existirem, só existem porque o poder político assim o permite por incúria ou incompetência) significa que os “grandes partidos” do “arco da governabilidade” convenceram menos de 20% dos eleitores inscritos.
É demasiado escasso para que seja quem for possa reclamar qualquer vitória.
Com jeitinho… começamos a ter um colégio eleitoral mais curto do que a velha democracia esclavagista e misógina de Atenas, sendo que no caso presente não se vota por opção e não por proibição.
Maio 26, 2014 at 10:15 am
A questão magna é a convocatória e a perna do Ronaldo. Foi uma pena o Camarinha não se ter candidatado. Era o mais apetrechado para o cargo.
“Eu arranjei nesta praia passaportes para toda a Europa! Sou como os jogadores da bola, trabalho no Verão, para ir a Europa no Inverno! As camones quando chegam ao aeroporto de Faro, já trazem a minha foto na mão, aconselhadas pelas amigas!” (TVI; 2000)
Maio 26, 2014 at 10:27 am
Resultados com uma mensagem muito clara:
não gostamos de ver reduzidos os nossos rendimentos e níveis de vida, de perder o emprego e ter que imigrar mas a verdade é que reconhecemos que a este governo não restaram muitas alternativas. Não nos esquecemos que foi o PS que levou o País à ruína e que assinou um Memorando em 2011 com objetivos de ajustamento a troco do dinheiro que já não tínhamos.
O PS ficou entre a espada e a parede. O resultado não foi mau ao ponto de Seguro ter que sair nem atingiu níveis que garantam seja o que for nas legislativas dentro de um ano. Nem justificou o desejo socialista da sua antecipação.
Marinho Pinto cavalgou a insatisfação com o status quo e a abstenção foi a reação mais forte dos portugueses. Não gostam mas … não haverá alternativas.
Consideramos até que a abstenção revela mais insatisfação para com o PS do que para com o Governo. Ou seja, o PS é o causador de tudo isto e não merece confiança no processo que se segue. Ou seja, ainda não é o tempo da cigarra…
Quanto ao Governo, não gostamos do que aconteceu nos últimos 3 anos. Mas a verdade é que talvez não houvesse mesmo alternativa. E, nessa ordem de ideias, o Governo até trabalhou bem e tem seguido o seu caminho no sentido da anulação do défice (só chegados aí é que a dívida fica contida e, por isso, será gerível).
Há mudanças a fazer? Sim. E em toda a Europa. Basicamente, duas coisas:
1)Alterando a típica unidade de trabalho de 8 horas para 6 horas. Com redução de rendimentos de 25% mas dando trabalho a quem não o tem, reduzindo a emigração e potenciando o aumento da natalidade.
2)Alterando por completo o sistema fiscal vigente. Mantendo o IVA (mesmo que crescendo até os 40%), eliminando totalmente os impostos sobre o rendimento e os custos sociais sobre o trabalho. Tudo, mas tudo seria financiado pelo IVA, consignando fatias para cada fim de intervenção estatal.
Maio 26, 2014 at 10:38 am
Não se preocupe: os custos sociais do trabalho vão desaparecer. Tal como o trabalho. Não estou a ver os robots a pagar IRS.
Maio 26, 2014 at 10:38 am
De facto a democracia está em coma e os partidos vencedores são meras agremiações de zombies. O que não abona nada em favor dos que ainda continuam a votar, uma vez que se revêem no vazio e no pechisbeque.
Por outro lado, as alternativas que apareceram também não primam pela inteligência ou pela credibilidade das propostas, e o BE revelou que não passa de um centro de dia de alienados das modas ideológicas.
O caminho vai sendo asfaltado para a passagem dos tanques e dos “libertadores”.
Maio 26, 2014 at 10:44 am
#2
Os portugueses são conservadores e não suportam as rupturas, por isso temos o surf, os livros-do-saramago, os vendedores de banha-da-cobra, as bolas de futebol e os pastéis de nata para animar a malta.
Maio 26, 2014 at 11:12 am
De qualquer forma, o voto de protesto foi menos expressivo em Portugal. Mas entre o arco do poder e a extrema-direita racista e isolacionista venha o diabo e escolha.
Maio 26, 2014 at 11:25 am
28% do povo votar psd+cds é obra…
A próxima vez que ouvir alguém queixar-se na rua já sei o que dizer.
Maio 26, 2014 at 11:26 am
#3 mas esse é o futuro, os robots pagarem segurança social.
Não se espera outra coisa.
Maio 26, 2014 at 11:27 am
#2 não houve alternativa? :))
essa é para rir certo?
Maio 26, 2014 at 11:29 am
#2 Olhe… para não irmos para outras paragens e pq este é um blog de Educação, pergunto-lhe, NAS POLITICAS DE EDUCAÇAO não havia alternativas?
Maio 26, 2014 at 11:32 am
Bem, havia o Marinho mas não se tem revelado um homem muito educado.
Maio 26, 2014 at 11:32 am
O PS com esta diferença de votos (+3,74%) deveria demitir o líder.
É a única analise que faço destas eleições. O resto (abstenção, votos nos madrastos, etc) é acessório.
Maio 26, 2014 at 11:33 am
O único resultado aceitável para o PS seria uma diferença mínima de 7%
Maio 26, 2014 at 11:35 am
Nem de propósito:
”
Resultado do PS “tem que ser motivo de preocupação”, avisa António Costa
Autarca socialista de Lisboa afirma que resultado magro nas europeias deve levar PS a reflectir, se quiser ganhar as próximas legislativas em condições de governar.
“
Maio 26, 2014 at 12:20 pm
O arco da governação teve, por junto, pouco mais de metade dos votos de 35% dos eleitores, o que é quase nada. Talvez eles não tenham culpa, talvez a culpa seja do arco de forças europeu onde estamos metidos, mas pensar que os povos hoje, num mundo global e aberto, aceitarão sem protesto que os enganem descaradamente, para garantir os lucros de capitalistas anónimos, escondidos atrás de mercados especuladores, que capturam governos e que não podem falir porque são demasiado grandes, é muita incompetência, hipocrisia e demagogia. Os franceses e os ingleses encarregar-se-ão de mostrar à Sra. Merkel que as coisas não serão apenas como ela quer. Não tarda a guerra voltará à Europa e mais uma vez por causa da ganância.
Maio 26, 2014 at 12:40 pm
A sorte dos portugueses está mais dependente do que forem capazes de fazer por si próprios do que daquilo que os ingleses ou os franceses se encarreguem de mostrar à Europa.
Maio 26, 2014 at 12:51 pm
Então saímos do Euro?
Maio 26, 2014 at 12:58 pm
Grande alarido se faz àcerca dos 4% de diferença. O argumento da diferença avassaladora foi introduzido por Marcelo Rebelo de Sousa há umas semanas e encerra uma armadilha. Num fase em que os partidos do governo se encontram em defensiva, nada como exigir objectivos ambiciosos ao adversário, não para o vencer, mas para lhe reconhecer a vitória. É como se uma equipa entrasse em jogo dizendo: só vencerão se conseguirem marcar mais dez golos na nossa baliza que nós na vossa.
As tensões sociais criadas pelas políticas que têm sido aplicadas em Portugal estão à vista. As alterações políticas que estas tensões irão provocar poderão ser graduais e voluntárias, caso os governos estejam atentos a elas, ou repentinas e alheias à vontade do governo de ocasião, no caso contrário. Para Marcelo Rebelo de Sousa a análise responsabilidades políticas não é assunto interessante. Quando defende sem vergonha as opções eleitoralistas do governo, mostra bem quais são as balizas daquilo que considera como política: a arte de enganar milhões de pessoas.
Maio 26, 2014 at 1:02 pm
#17
O positivo, de momento, é que a opção saída – tal como a opção permanência – sejam objecto de discussão e esclarecimento convincente. Há uma cortina de fumo, mas até a cortina é um progresso, comparado com a situação de há uns anos atrás, em que havia apenas um pesado manto de silêncio, para não dizer um tentativa de estabelecer um tabú sobre este assunto.
Maio 26, 2014 at 1:12 pm
“Se esse fenómeno – de perda de influência eleitoral dos partidos do centrão governamental, enquanto sobem os votos das propostas mais populistas e “extremistas” de direita e esquerda – não foi exclusivo de Portugal?”
Designar como “populistas” e “extremistas” as tendências políticas que não se identificam com o “centrão” ou o “arco da governabilidade” é um tradicional chavão do poder, ou seja, precisamente desse centrão e tudo o que gira à sua volta. Não estou a dizer que é o caso do Paulo mas a coisa entranha-se e deixa de se questionar. Surge naturalmente.
Maio 26, 2014 at 1:31 pm
A derrota do “arco” só peca por não ter sido ainda mais expressiva.
Este é o começo do caminho, e se fossem legislativas o PS e o PSD teriam de ir os dois juntos para o governo, clarificando as coisas e deixando cair a farsa da falsa alternância.
Um cenário que antecipei em 2011, mas nessa altura a onda ainda era outra. Às vezes é chato ter razão antes do tempo…
Maio 26, 2014 at 1:33 pm
Claro que depois da derrota do centrão situacionista, vêm os desafios mais difíceis:
– Construir um projecto político viável e verdadeiramente alternativo;
– Recuperar a imensa massa abstencionista …
Maio 26, 2014 at 2:24 pm
#21
Um passo à frente, dois passos atrás!
Para haver uns derrotados têm de existir uns vitoriosos. Por acaso quem são esses vencedores?
O AD toma o desejo pela realidade, ainda por cima projecta-a no futuro, como todo o propagandista o faz.
Na realidade os partidos ficaram exactamente na mesma, dentro dos limites de influência que sempre tiveram e já não entusiasmam os vivos. Apenas os mortos-vivos continuam a votar naquelas representações colectivas e abstrusas de consolo das almas penadas, que lhes trazem alguma esperança de uma vida melhor depois de mortos, tal como os santinhos guardados na bíblia.
As Igrejas de esquerda estão velhas e caducas, a cair aos bocados, e a manutenção do PCP, por exemplo, só se compreende por não existir um partido de extrema direita que cative os velhos descontentes que ainda acreditam na “salvação”.
Gostava de saber o nível e a orientação de votos dos jovens…
Maio 26, 2014 at 2:32 pm
#22
Pois é esse o problema.
O bom resultado do PCP, como a experiência mostra, mais não fará do que reforçar ainda mais a sua mentalidade e cultura política de auto-suficiência.
O BE entrou num plano inclinado, por insuficiências políticas de fundo (as causas fracturantes, além de não chegarem, são uma faca de dois gumes) e de liderança. Há muitas dúvidas que ainda consiga arrepiar caminho.
O populismo inconsequente, esse, esgotar-se-á por si mesmo.
“Bem vindos ao deserto do real”…
Maio 26, 2014 at 4:55 pm
#22
E o AD acredita que o PCP, o BE, por exemplo, são capazes de responder a esse desafio? Ou já começa a perceber que fazem parte do problema e não da solução…
Maio 26, 2014 at 5:05 pm
http://marxnops.blogspot.pt/2014/05/o-alerta-vermelho.html
Maio 26, 2014 at 5:54 pm
#9 e #10 Não, não é para rir. Qual é a alternativa quando gastamos mais do que temos um ror de anos? E quando quem nos empresta diz: acabou, chegou a altura de pagar.
A alternativa é gastar o mesmo? Mas gastar o quê se deixam de nos emprestar? Gastar mais para provocar o crescimento? Mas gastar o quê se não temos com o que viver?
Quanto às políticas de educação refere-se a quê? à politica de restrição de recursos humanos, claramente desnecessários face à demografia em queda brutal? Qual a solução? Talvez se todos trabalhassem e ganhassem menos 25% se abrisse uma porta para uma solução parcial: assim, haveria menos emigração (de jovens bem formados) e assim, seria possível manter mais futuros pais no País…
E #3, qual o problema dos robôs? Antes trabalhava-se 15 horas, não havia férias, feriados e fins-de-semana. Veio a máquina a vapor, as fabricas, os transportes, o computador. A mais valia produtiva permitiu melhorar a vida em geral, das populações (menos trabalho para cada um). Estamos simplesmente a chegar ao ponto de dar mais um passo em frente nesta lógica… Seis horas de trabalho diário com o consequente ajuste salarial. Há dúvidas que esta é a saída mais “social”? Na pratica, que solução mais “socialista” que esta? Há pouco trabalho (cada vez menos). Assim, deve ser melhor dividido.
Maio 26, 2014 at 6:00 pm
Votei no Marinho, espero que não tenha papas na língua quando for para o parlamento europeu. Austeridade não é uma solução a longo prazo, tem que haver politicas que fomentem a recuperação económica e que metam liquidez no sistema bancário para que torne a haver empréstimos e as coisas se normalizem.
Maio 26, 2014 at 6:27 pm
#27,
Se procurar bem, encontrará um portal que o levará directamente para o Paleolítico.
O “argumento do dinheiro que não há” cai pela base quando se analisam os cortes feitos e para onde foram efectivamente os milhões da troika.
#20,
Usei aspas na expressão “extremistas” e mantenho (sem aspas) a designação de populismo para o Marinho Pinto.
Maio 26, 2014 at 6:31 pm
Do que este situacionista/troikista Gustava sei eu…
Maio 26, 2014 at 10:32 pm
#25
Receio bem que não sejam capazes.
Mas ainda receio mais que o vazio gerado pelo sectarismo e inoperância da esquerda seja aproveitado, como já está a acontecer em muitos países europeus, pelos projectos de poder da extrema direita.
Maio 26, 2014 at 10:49 pm
Acho piada, eu que sou ambidestro.
Maio 26, 2014 at 11:05 pm
#27 Não discutíamos isso, nós e o outro. A questão era a indexação da pensão de sobrevivência a um trabalho realizado. Tornando-se o trabalho desnecessário, para que nos manterão vivos?
Maio 27, 2014 at 8:53 am
#30 Pois deve saber e gostar disso…