A semana passada perguntaram-me de um jornal que preparava uma peça sobre o assunto, qual é a minha opinião sobre a introdução de uma tabela salarial única para os trabalhadores do Estado, na minha perspectiva de professor.
Penso que ainda não saiu a notícia mas, na falta de outro assunto dominical (não, não vou refilar com a arbitragem de ontem, porque lá se ganhou…), fica aqui de forma resumida o que disse, com mais este ou aquele detalhe:
- A elaboração tabela salarial única, com o devido respeito pelas regras laborais e constitucionais em vigor, levanta uma série de problemas técnicos que me parecem muito acima da competência dos servidores deste Governo. E é uma tarefa que me parece perfeitamente demagógica, porque irrelevante em termos práticos, em especial se for para introduzir prémios de desempenho. É estranho ver malta liberal a defender sistemas de matriz igualitária e “socialista”. Aliás, é curioso que a indiferenciação dos funcionários públicos, eliminando diferenças entre carreiras, não é algo que desagrade por completo a alguns sectores do sindicalismo.
- Do ponto de vista material, os professores devem temer o muito desejado aplainamento salarial da sua carreira, com a redução de escalões e a limitação do topo salarial actual. A redução do leque salarial entre a base e o topo (mesmo que o topo com o índice 370 seja uma quimera criada por Sócrates para engodar os titulares e avaliadores que estavam no antigo 10º escalão e que muitos engoliram) é uma desejo partilhado pelos nossos actuais governantes e os seus parceiros preferenciais para discutir estas coisas, ou seja, a AEEP. Isto é difícil negar, pois foram este meus ouvidos que ouvirem directamente a conversa, por exemplo, no Palácio Foz. Claro, há o recorrente argumento “orçamental” e a evidência de serem os educadores e professores o corpo profissional qualificado mais numeroso ao serviço do Estado.
- Do ponto de vista simbólico – e por muito que alguns neguem, esse aspecto ainda tem peso – a tal indiferenciação da carreira e da tabela salarial seria o passo final no esforço pela diluição da identidade profissional dos docentes, um esforço que tem vindo a ser laboriosamente desenvolvido há perto de uma década com o objectivo de quebrar a capacidade reivindicativa dos professores e os domesticar, tornando-os executores acríticos de todo o tipo de experimentações políticas na área da Educação, desde as mais apalermadas (discutir se as aulas devem ter 45 ou 50 minuto e chamar autonomia a isso) às mais lesivas do interesse público (as negociatas com os interesses privados no sector, à custa da erosão da rede escolar pública o do estatuto profissional e remuneratório dos seus professores), passando por aquelas que são apenas programas ideológicos disfarçados de outra coisa (a avaliação do desempenho de vão de escada que está em vigor).
- Por fim, esta fixação em tornar o funcionalismo público uma espécie de massa indistinta de gente (porque não é apenas a tabela remuneratória que está em causa) e não um conjunto de corpos profissionais especializados nas suas funções é apenas um dos passos mais importantes para justificar a contratualização de serviços fora da órbita do Estado, exactamente com a justificação de serem necessária uma especialização (lembremo-nos das pequenas fortunas pagas a gabinetes de advogados para assessorar o Estado em diversos negócios, contratos ou implementação de medidas, escritórios que por vezes encontramos mais tarde do lado dos interesses privados que contestam qualquer renegociação de contratos por parte do Estado), deslocando os fluxos financeiros dos orçamentos de muitos ministérios para empresas “privadas”, constituídas fundamentalmente para sobreviverem fora de uma lógica de mercado e de acordo com o conforto da subsidiodependência, empresas essas que beneficiarão sempre do know-how de antigos governantes, chefes de gabinete, assessores, consultores, etc, não poucas vezes ligados às decisões políticas destinadas a defender os interesses que mais tarde eles passam a servir formalmente. Na Educação, por exemplo, sabe-se bem que foram e quem são.
Março 30, 2014 at 12:43 pm
“levanta uma série de problemas técnicos que me parecem muito acima da competência dos servidores deste Governo”… que não é o que, verdadeiramente, os motiva: http://lishbuna.blogspot.pt/2014/03/blog-post_30.html
Março 30, 2014 at 12:47 pm
#0:
Boa malha.
Março 30, 2014 at 1:13 pm
ficaremos com o topo de carreira no indice 299..vai uma aposta..quanto aos escalões…wait and see.mas deve ser para baixo e compridos…
Março 30, 2014 at 1:20 pm
Qual carreira? Carreira só se for a da camioneta descendente.
Março 30, 2014 at 2:03 pm
Salários dos professores no ensino básico e secundário
________________________________________
1º e 2ºciclos 3º ciclo Ensino Secundário
Inicio de carreira Após 15 anos I
Austrália 26 087 38 624 26 395 38 754 26 395 38 754
Áustria 22 342 29 539 23 222 31 608 23 531 32 516
Bélgica (Fl.) 24 732 34 286 24 732 34 648 30 694 44 318
Bélgica (Fr.) 23 122 32 173 23 308 32 900 29 048 42 320
República Checa 13 365 17 555 13 365 17 555 13 397 18 263
Dinamarca 29 583 33 298 29 583 33 298 29 054 40 827
Inglaterra 25 260 36 916 25 260 36 916 25 260 36 916
Finlândia 24 561 28 571 28 453 33 643 30 577 38 216
França 20 292 27 297 22 451 29 455 22 764 29 769
Alemanha 33 116 41 209 34 358 42 290 37 158 45 554
Grécia 20 809 25 151 20 809 25 151 20 809 25 151
Hungria 9 956 12 741 9 956 12 741 11 229 15 728
Islândia 16 989 19 664 16 989 19 664 21 905 26 871
Irlanda 23 420 38 794 24 221 38 794 24 221 38 794
Itália 20 855 25 226 22 473 27 474 22 473 28 243
Japão 21 484 40 171 21 484 40 171 21 484 40 178
Coreia do Sul 25 084 42 912 24 978 42 806 24 978 42 806
Luxemburgo 40 657 55 990 58 574 73 217 58 574 73 217
Holanda 27 424 35 636 28 430 39 220 28 714 52 471
Nova Zelândia 16 367 31 663 16 367 31 663 16 367 31 663
Noruega 26 005 31 098 26 005 31 098 26 005 31 098
Polónia 5 614 9 011 5 614 9011 5614 9011
Portugal 16 848 27 776 16 848 27 776 16 848 27 776
Escócia 25 113 40 051 25 113 40 051 25 113 40 051
Espanha 27 552 31 908 30 816 35 702 31 426 36 483
Suécia 22 083 25 920 22 796 26 709 23 698 27 896
Suíça 34 492 45 618 37 267 48 391 46 832 60 636
Turquia 14 643 16 169 a a 13 769 15 296
Estados Unidos 28 713 34 892 27 603 35 197 27 725 35 158
Média da OCDE 22 588 30 817 24 197 32 914 25 368 35 379
Média da EU 19 22 833 30 452 24 519 32 408 25 510 35 176
Chile 9 589 11 393 9 589 11 393 9 589 11 922
Israel 11 948 14 659 11 948 14 659 11 948 14 659
Salários dos professores, em euros (2004)
in Página da Educação
Março 30, 2014 at 2:25 pm
Helena, lamento mas, por si só, esses dados não valem nada. Há que cruzar com outras variáveis… 🙂
Março 30, 2014 at 2:42 pm
Wrong..na europa valem euro é euro igual….pib custo de vida produtividade…….as outras variaves sao formad artificiais de justificar certas coisas…certos pontos de vista….até o numero de espermatozoides e se são mais ou menos rápidos….
Março 30, 2014 at 3:10 pm
Em tempos, quando recebíamos por letras, também resolveram fazer uma tabela única da FP. De início até estávamos bem situados no abecedário … Só que um dia fui tentar descobrir como estava a tal tabela e descobri que de única já não tinha nada. Entre cada letra tinham surgido uma séria de letras com numerozinhos pequeninos ao lado para cargos técnicos e cargos superiores que iam inventando e por isso, a nossa boa situação que, de início nos colocava ao nível dos vencimentos atribuídos a quem detinha habilitações similares, tinha passado a ficar numa situação muito inferior. E assim ficou quando passámos para os escalões…
Março 30, 2014 at 3:34 pm
http://bulimunda.wordpress.com/2014/03/30/wrong-side-of-the-bed-award-winning-short-film/
Março 30, 2014 at 3:51 pm
#8,
É mesmo ! Subsídios pela porta do cavalo.
Em tempos idos, mal acabei o INEF fui obrigado a cumprir o serviço militar .
Tinha um ordenado miserável de aspirante ( otário ) ,mas tinha um subs.por dar aulas !
😉
Março 30, 2014 at 5:13 pm
#10
Se bem me lembro, quando acabei o INEF, o vencimento era igual ao de alferes, o que seria para aí mais 100 e poucos escudos do que o de aspirante..
Março 30, 2014 at 5:15 pm
em 1987 letra G penso..58.700…
Março 30, 2014 at 5:24 pm
Esta Helena é uma espécie de ocni,
Março 30, 2014 at 5:38 pm
13#
ocni
Objeto Cacerola No Identificado?
Março 30, 2014 at 6:05 pm
#10,
Maria tb do INEF ?
Eu acabei em 1978.
Como professor provisório,o meu ordenado era muito superior ao de aspirina -1 ano ( só depois alferes).
Finalmente ,fui promovido a tenente-que muito me honrou. 🙂
Março 30, 2014 at 6:21 pm
Uma malga de arroz diária, igual para todos.
Para quem tiver filhos, uma malga e meia.
Março 30, 2014 at 6:26 pm
não, quem tiver filho pratica o canibalismo vem no memorando…logo deve-se cumprir.. por isso a natalidade tem descido…meia malga dá..assim podemos matar o outro para ficar com a malga inteira..
Março 30, 2014 at 6:26 pm
Lá estão vcs com historias e mais historias.
Tabela salarial única = -200€ no bolso ou seja vai substituir os cortes “provisórios”
Qual a duvida?
Março 30, 2014 at 6:28 pm
tipo tubarão touro… se queremos uma sociedade forte e conquistadora terá de ser assim…vem no memorando subliminarmente mas vem..Se o tubarão já é per si um predador, esta espécie tem de ser particularmente feroz e competitiva. É que ainda antes de nascer, os embriões de cada útero (outra coisa que não sabia é que o tubarão fêmea tem 2 úteros) são sujeitos a um processo de selecção natural sob a forma de canibalismo intra-uterino, ou seja, os embriões vão se comendo uns aos outros até só restar um em cada útero. Desta forma, é garantindo que os dois tubarões juvenis que nascem são os mais fortes dos candidatos.
Março 30, 2014 at 6:30 pm
#14,
Há sempre quem goste de testar a paciência com trocadilhos munta giros aos 5 anos de idade.
Março 30, 2014 at 6:31 pm
# 7
Buli, nem parece teu…
Se as receitas são 100 e as despesas 60 , estarás melhor do que numa relação 1.000 e 980 .
Muitos lusos vão para Luanda com contratos cujos vencimentos são muito superiores aos praticados cá no burgo e ,quando lá chegam, nem dá para a dormida.
O sensato será analisar o custo global de vida e não apenas o cabaz de compras. 🙂
Março 30, 2014 at 6:38 pm
epá eu estava a ironizar abc…
Março 30, 2014 at 6:41 pm
aliás..
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/educacao/detalhe/professores_portugueses_entre_os_docentes_europeus_com_salaacuterios_mais_afectados_pela_crise.html
Março 30, 2014 at 6:46 pm
Março 30, 2014 at 6:48 pm
Desculpa… 😦
Hoje o SLB deixou-me nervoso. Foi um jogo à Benfica do ano passado.Quem mandou o Rodrigo marcar o penalty ?
Março 30, 2014 at 7:17 pm
de nada..podes crer..azelhas do caraças e culparam o cardoso por ter falhado..eh.eh
Março 30, 2014 at 7:22 pm
Jogam nada. Andam há 3 meses em modo de contra-ataque.
Março 30, 2014 at 7:37 pm
pois o trapa ganhou como?? ora bem..aliás quem joga alguma coisa nesta liga?? benfica a espaços e pouco mais..
Março 30, 2014 at 8:48 pm
#27
Um caso típico desse modo de contra-ataque foi o último jogo com o SCP, em que o Benfas foi totalmente dominado e só ganhou por sorte (leia-se: com a miserável ajuda do árbitro).
(As consultas de oftalmologia andam pelas horas da morte…).
😈
Março 30, 2014 at 8:56 pm
Já o governo, esse, joga em ataque continuado contra o Estado e os seus funcionários, numa política que mistura (de forma que se diria paradoxal, se houvesse aqui quaisquer princípios a respeitar) fundamentalismo ideológico e a defesa dos amigos plutocratas, resultando num interessante “liberalismo de estado”…
Março 30, 2014 at 9:49 pm
#20
50 —- meio século.
Março 30, 2014 at 9:49 pm
É pá, estes governantes não sabem nada! Qual tabela salarial única? Ponham mas é a malta a pagar para poder ser funcionário público e resolvem logo os vossos problemas! Pagar a quem trabalha quando o trabalho dá saúde? Quem quiser trabalhar que pague!
Março 30, 2014 at 9:51 pm
É perguntar ao seguro.
Março 30, 2014 at 10:37 pm
Carreira para tónis?
Março 30, 2014 at 11:26 pm
#33 já perguntaste ao Passos?
Março 31, 2014 at 12:59 am
#15
Sim. Acabei em 73.