Saiu por aí um relatório sobre Educação, Juventude e Trabalho na Europa feito por uma daquelas consultoras internacionais que por vezes são tomadas como especialistas no tema. Já há variado noticiário a propósito, mas ler o relatório, apesar de ser daquelas coisas que estão longe de ser escrituras sagradas, permite-nos encontrar coisas bastante interessantes.
Por exemplo:
Isto significa, por exemplo, que há por aí um mito sobre a falta de competências profissionais dos jovens portugueses, pelo menos do ponto de vista dos empregadores, pois o valor dos que assim pensam é de apenas 31% em Portugal, valor igual ao da Suécia e apenas 5 pontos acima do que se passa na Alemanha. Neste aspecto, estamos bem melhor que o resto dos países do sul da Europa, incluindo a França.
Já quanto às vantagens da Educação, os jovens portugueses acompanham de perto suecos e alemãs na crença de que estudos pós-secundários são importantes para a sua empregabilidade, com 47% contra, respectivamente 51% e 53%, destacando-se dos restantes países analisados.
Qual o problema?
É que os encargos com os estudos em Portugal são dos que mais afastam os jovens dos estudos “terviários”:
Porque é o factor económico determinante?
Porque em Portugal, ao contrário de outros países (e aqui é que reside a maior diferença para a Suécia ou o próprio Reino Unido), são as famílias a suportar a maior parte dos encargos com os estudos superiores. Em Portugal esse valor é de 78%, enquanto na Suécia é de 38% e no Reino Unido de 40%. a contribuição do Estado ou de eventuais empregadores é, entre nós, de apenas 12%, enquanto na Suécia é de 80% e no Reino Unido de 60%.
Portanto, quando ouvirem ou lerem alguém por aí a falar em gastos excessivos com a Educação (neste caso a Superior), com a impossibilidade do Estado providenciar mais dinheiro, que somos uns gastadores socialistas, não liguem muito. É mentira, pura e simples.
E quando vos falarem em exemplos da Inglaterra ou Suécia, vejam bem se não andarão a usar dados ou teorias aldrabad@s.
E fazem isso para esconder o verdadeiro fracasso, o qual reside na tal Economia em que temos tantos especialistas, seja os teóricos puros, seja os que se afirmam empreendedores de sucesso.
Mesmo se há países com desemprego altamente qualificado equivalente ao do nosso (caso da Espanha), Portugal é, com a Grécia, um daqueles países em que as possibilidades de desemprego são iguais com estudos básicos ou superiores. E que são maiores com estudos secundários.
Janeiro 13, 2014 at 4:25 pm
“um estudo realizado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que contribui para desmontar um equívoco que creio instalado na sociedade portuguesa. Comparativamente a muitos outros países da Europa, Portugal tem um dos mais altos custos para as famílias para um filho a estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior particular o esforço é ainda maior. Percebe-se assim a taxa altíssima de jovens que exprimem a dificuldade de prosseguir estudos.” http://atentainquietude.blogspot.pt/2014/01/qualificacao-um-bem-de-primeira.html
Janeiro 13, 2014 at 5:07 pm
Bom post.
Janeiro 13, 2014 at 5:30 pm
Ainda assim, não confundir o que se alega com a causa efectiva – não são necessariamente coincidentes.
Janeiro 13, 2014 at 6:20 pm
http://www.scenariomagazine.com/lack-of-jobs-and-lack-of-talent-%E2%80%A6-welcome-to-the-great-mismatch/
Janeiro 13, 2014 at 7:09 pm
Para um país com as características que o nosso apresenta – parcos recursos naturais e financeiros -, o modelo de desenvolvimento que o poderá vertebrar e sustentar terá de assentar no Conhecimento.
Mas, a esta constatação racional, a narrativa ideológica dominante contrapõe um modelo de “crescimento” que privilegia a acentuação da exploração e das desigualdades como factor competitivo das economias (as “exportações” aumentam… até quando?), e onde os baixos salários aparecem como “substitutos naturais” para qualificação e formação.
Por isso, a formação e a qualificação (exceptuando talvez alguns nichos de ensino que promovam de forma mais directa e imediata, porque centradas nas áreas tecnológicas, mais valias económicas) são vistas, não como uma prioridade nacional ou uma valorização da população e de cada indivíduo – configurando um direito social -, mas como despesas que terão de ficar ao critério e encargo das famílias e dos indivíduos (dado que, nesta perspectiva ideológica, o indivíduo deve ver-se como um empreendedor que projecta a sua vida no estrito cálculo de perdas e ganhos).
Tem que ser, assim, bem reafirmado que o país está refém de um modelo de “crescimento” predatório e de vistas curtas que visa transferir cada vez mais recursos e soberania da população para a oligarquia dominante.
Janeiro 13, 2014 at 7:36 pm
#3,
Tudo é relativo, até as causas efectivas.
Janeiro 13, 2014 at 8:46 pm
Olhe que não, olhe que não!
Janeiro 13, 2014 at 8:53 pm
O sistema económico em portugal não garante o emprego a quem tem uma formação superior. No entanto continua-se a privilegiar o discurso da falta de investimento na educação, como se esse fosse o caminho para desbloquear o problema do desemprego e da falta de produtividade.
Mas sem modificar o sistema produtivo, assente no lucro e na divisão de trabalho mundial, não há reforma educativa e facilidade de acesso aos estudos superiores que resolvam o problema básico deste país: a desvalorização acelerada dos títulos académicos e a inutilidade dos mesmos para o mercado interno, salvo raras excepções controladas, como medicina por exemplo.
Janeiro 13, 2014 at 9:04 pm
Hum!, curiosidades…
Cambada
cáfilafatoabzugde comadres!Janeiro 13, 2014 at 9:34 pm
Pois é…..este post desmonta em parte a «narrativa» deste (des)governo…..Será por esta e por outras é que os «tugas» não perdem oportunidade para fugir aos impostos….os nórdicos não têm esta prática porque o dinheiro dos impostos vai para o estado social…aqui é utilizado para salvar bancos falidos…..Safa!…..
Janeiro 13, 2014 at 9:37 pm
Se os custos com a educação forem considerados como “investimento”, então teremos de ser coerentes e considerar que deve existir lucro como resultado final.
Mas se sai mais barato e produz mais lucro deslocar o capital para países com recursos disponíveis, sem greves e um clima social mais seguro, para quê perder tempo com este país e com um sistema educativo menos eficaz?
Portanto das duas uma: ou se quer uma sociedade racional e saúdavel em que a educação acompanha uma organização económica e social justa e não continuamos a enganar as pessoas, ou mantemos a ilusão de que é possível melhorar o futuro das pessoas num quadro de destruição do tecido social e económico, desde que a educação seja uma espécie de oásis.
De qualquer maneira parece-me que quem avista o oásis, ou nele acredita, não se apercebe da contradição insolúvel