Quem leu em devido tempo alguma da boa ficção científica do pós-Segunda Guerra Mundial com as suas projecções bio-políticas e bio-éticas (a referência óbvia é Philip K. Dick, mas não reneguemos Issac Asimov, Ray Bradbury, Clifford D. Simak, Poul Anderson, Philip José Farmer, o mais divertido Heinlein, o científico Arthur C. Clarke ou mesmo a ecologista Le Guin – e, sim, estou a deixar muitos de lado como o Stanislaw Lem) sabe que muitas das consequências do “progresso” podem ser regressivas.
E quem observar a História do mundo ocidental com um bocadinho de atenção não tem dificuldade em perceber que a partir dos anos 80 do século XX se instalou uma forte tensão entre a tendência para o alargamento dos direitos políticos, sociais e económicos dos indivíduos e para uma democratização do acesso aos benefícios do “progresso” e uma reacção destinada a conter essa mesma tendência, em nome dos encargos que ela acarreta.
Ao mesmo tempo que projectava os seus valores democráticos para o resto do mundo, o Ocidente dava início a um processo interno de regressão no combate às desigualdades e no acesso generalizado ao que de melhor pode ter o avanço científico e tecnológico para a Humanidade, se excluirmos os gadgets da equação.
Por isso, não nos entusiasmemos pois muito do que se anuncia como fazendo parte de uma aurora cantante destina-se a um nicho “de mercado” muito restrito.
As pernas biónicas do Pistorius convivem de muito perto com milhões que nem as vacinas essenciais ainda recebem.
Visão, 9 de Janeiro de 2014
Janeiro 9, 2014 at 12:22 pm
Ingenuamente, cheguei a pensar que as novas tecnologias, nomeadamente a internet, devolveriam a verdadeira soberania ao povo (aos povos).
Pelo recente evoluir dos acontecimentos, perdi a esperança.
Cada vez é mais nítido que os mercados e os exércitos que os servem, mais cedo que tarde, conseguirão a escravatura global, nas mãos de uns poucos senhores.
Janeiro 9, 2014 at 12:25 pm
O progresso só é regressivel se o homem quiser. Quando os empresários começarem a pagar “segurança social” por robot ou por cyborg , relativamente á produtividade apresentada , talvez o Homem se organize para melhor ócio e para melhor bem-estar.
A transição sem regras é o verdadeiro problema.
Janeiro 9, 2014 at 2:24 pm
o futuro é imparável
e digo-vos: vai ser uma festa
fundo das costas: dois olhos
e só um olho na testa
Janeiro 9, 2014 at 3:07 pm
O próprio conceito de “progresso” deve ser questionado, uma vez que desde o Iluminismo foi reduzido a uma fórmula linear de conhecimento técnico e razão instrumental.
Mais recentemente foi formatado segundo parâmetros ainda mais restritivos, decorrente de uma estreita e patológiva visão de mercado capitalista.
As regras, os critérios e os valores do progresso passaram a ser idênticos aos da acumulação de mais-valia, e portanto nada melhor do que quantificar e coisificar os seres humanos, como se fossem produtos manipuláveis e recicláveis, sempre na óptica do utilizador do capital.
Janeiro 9, 2014 at 5:06 pm
Exacto. E onde nos levará isto??
Cientistas dos Estados Unidos disseram ter conseguido reverter o processo de envelhecimento em estudos com animais.
Eles usaram um produto químico para rejuvenescer músculos em ratos, em um processo que disseram ser equivalente a transformar um músculo de uma pessoa de 60 anos de idade em um de uma de 20 anos. A força do músculo, porém, não foi recuperada.
O estudo, publicado na revista Cell, identificou um mecanismo totalmente novo de envelhecimento e, em seguida, o reverteu.
Outros pesquisadores afirmaram que se tratava de uma “descoberta animadora”.
O envelhecimento é considerado uma via de mão única, mas agora pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard demonstraram que alguns aspectos podem ser revertidos.
A pesquisa teve como foco uma substância química chamada NAD, cujos níveis caem naturalmente com a idade em todas as células do corpo.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/12/131220_droga_juventude_rp.shtml
Janeiro 9, 2014 at 5:09 pm
A globalização económica, que no fundo consiste na liberalização desregulada do comércio e das actividades financeiras à escala mundial, conduz tanto a uma redução das assimetrias de desenvolvimento entre diferentes países, como anunciam os seus defensores, como ao agravamento das desigualdades internas em cada país que é apontado pelos seus críticos.
O que surge de forma inevitável quando se derrubam as barreiras proteccionistas é que a pobreza nos países ricos tende a aproximar-se dos níveis de pobreza dos países pobres, ao mesmo tempo que os ricos dos países pobres se vão tornando tão ricos como os milionários do primeiro mundo.
Olho com muita apreensão para estes fenómenos porque eles geram tensões internas e externas que usualmente só se resolvem através de guerras devastadoras ou revoluções violentas.
Somos demasiados, neste mundo, e temos armas demasiado poderosas para continuarmos a alimentar um modelo económico assente na irracionalidade (estamos a concentrar e a acumular riqueza num restrito número de pessoas que nem que vivessem mil anos a conseguiriam gastar ou, pior ainda, em organizações financeiras sem rosto, nem pátria, nem responsabilidade social) e que não é sustentável a prazo pelo desperdício e esgotamento de recursos que gera sobre o planeta em que vivemos.
É absurda uma economia organizada de forma a que se tenha de colocar e manter uma montanha de comida em cima da mesa dos ricos para que algumas migalhas vão caindo, de quando em vez, para o chão, onde os pobres as vão disputando. Mas é isso mesmo que o neoliberalismo das grandes empresas e organizações internacionais tem andado a construir nas últimas décadas, passando por cima da democracia e contando com a passividade e o alheamento dos cidadãos.
Janeiro 9, 2014 at 5:18 pm
#4
Salvo melhor opinião, o conceito de progresso, nascido com o Iluminismo, parece-me nunca foi outra coisa senão essa evolução linear e redutora em direcção a um futuro sempre melhor do que o presente.
Tanto nas culturas tradicionais como na cultura greco-latina o que encontramos é o “eterno retorno”, a evolução que nos traz ao ponto de partida.
Para superar estas visões limitadas e deterministas do devir humano, julgo que ainda não se inventou melhor do que a boa e velha dialéctica de Hegel, prosseguida depois pela esquerda hegeliana até culminar no materialismo histórico de Marx…
Janeiro 9, 2014 at 5:20 pm
Boa análise António.
Janeiro 9, 2014 at 5:24 pm
#1
Veja-se como cada vez mais se vão intensificando os mecanismos de espionagem, de registo e de controle dos acessos e do tráfego de dados na internet.
Começou, como começam sempre estas coisas, pelo alegado combate ao terrorismo e à criminalidade organizada, e acaba a vigiar por onde anda o comum cidadão, que sítios visita, que “gostos” ou opiniões emite, que rasto deixa aqui e acolá. Primeiro para nos oferecerem publicidade “personalizada”, daqui a amanhã para nos “fazerem a folha”…
Janeiro 9, 2014 at 5:25 pm
#2
Tem toda a razão.
A questão é: quando conseguirão os cidadãos organizar-se e unir-se para impor, necessariamente também à escala global, essas mudanças?…
Janeiro 9, 2014 at 5:26 pm
O poste permite-nos reflectir sobre uma questão de fundo que é cada vez mais crucial. Enquanto se verifica uma aceleração do progresso técnico/tecnológico – nomeadamente no domínio da informação e da comunicação, -, não se pode iludir a cruciante regressão que se nota em quase todos os padrões que haviam tornado a sociedade ocidental uma referência política, civilizacional e cultural (digo sociedade ocidental para ter em atenção o contraste com as das potências emergentes, o que nos levaria a outro plano da discussão).
O sujeito tem acesso a cada vez mais informação e conhecimento, mas sente que acesso não lhe traz mais poder – ou confere-lhe, quando muito, uma ilusão de poder, a cada instante desmentida pela realidade opaca. O indivíduo fica atomizado, entregue ao gozo e à fruição privada dos gadgets, desertando o solo social, aparecendo a socialização e a convivialidade sob formas crescentemente alienadas, de busca de gratificação imediata.
No plano político-ideológico, constata-se que o crepúsculo da esquerda corresponde, em grande medida, à sua adesão acrítica a esse admirável mundo novo constituído pelo enlace eufórico das novas tecnologias com a esfera dos direitos e das causas fracturantes (entre nós, visível, até à irrisão, no socretinismo), que conduziria, supunha-se, a uma outra forma de cidadania, mais emancipada e progressiva.
Acontece, porém, que esses direitos e causas aparecem as mais das vezes sob a roupagem de vagas exigências morais. E a tentação de os enfileirar na constelação dos “direitos do homem” acaba por produzir um efeito de banalização por inversão: em vez dos novos direitos ampliarem o campo dos antigos (de matriz política, cívica e social), i.e., de os reforçarem, é antes a precariedade do seu estatuto que contamina e prevalece sobre aqueles direitos mais pregnantes, induzindo a ideia de que os direitos do homem e do cidadão não passam de uma vaga reivindicação moralizante – quando a exploração e as desigualdades alastram no campo social, presa fácil de uma direita agressiva e descomplexada.
Janeiro 9, 2014 at 5:28 pm
“Para superar estas visões limitadas e deterministas do devir humano, julgo que ainda não se inventou melhor do que a boa e velha dialéctica de Hegel, prosseguida depois pela esquerda hegeliana até culminar no materialismo histórico de Marx…”
Os resultados são conhecidos.
Janeiro 9, 2014 at 5:52 pm
Anda por aí um anónimo com comentários demasiado repetitivos.
O que é um risco, pois basta um descuido e lá se vai o anonimato…
carneiro disse…
Dezembro 11, 2013
http://luradogrilo.blogspot.com/2013/12/farinha-do-mesmo-saco.html?showComment=1386777163664#c5218214656963246454
Janeiro 9, 2014 at 5:55 pm
– Os gadgets como reforço dos investimentos narcísicos do sujeito, um tópico cada vez mais actual:
“Este é o ano em que vai disparar o número de gadgets para usar no corpo disponíveis no mercado. Na maior feira de eletrónica de consumo do mundo, a CES de Las Vegas, já surgiram dezenas de gadgets desta categoria. Uma tendência que já vem dos anos anteriores, mas que será realmente diversificada em 2014” (DN).
Janeiro 9, 2014 at 8:58 pm
Pelos vistos há mais quem topa à distancia o fascista vermelho, que vem para aqui com pezinhos de lã a enaltecer o sucesso econónimo, social, político, ecológico e civilizacional da União Soviética, enquanto faz apelo ao voto no PC.
Janeiro 9, 2014 at 8:59 pm
Vai sair um documentário sobre Bergen Belsen..esquecido durante muito tempo..diz-se que Alfred Hitchkock ficou tão horrorizado que se fechou em casa uma semana antes de fazer a montagem e voz off do dito documentário..será que os alemães alguma vez poderão apagar isto da sua história?? duvido…se nem pagam as
indemnizações de guerra..
Janeiro 9, 2014 at 9:15 pm
Pois é, Buli…
“Humorista desperta velhos demónios franceses
Censura ao humorista Dieudonné provoca acesos debates em França, onde os velhos demónios do antissemitismo nunca estiveram realmente adormecidos”.
http://expresso.sapo.pt/humorista-desperta-velhos-demonios-franceses=f849687.
Janeiro 9, 2014 at 9:27 pm
Já agora transcreve esta parte dos coments que citas:
“Aliás, no tempo da aliança Alemanha-U.Soviética – antes, portanto da Operação Barbarrossa – os Comunistas Franceses eram aliados dos alemães na França ocupada e eram os próprios comunistas franceses que entregavam à Gestapo os judeus Franceses. Os comunistas franceses só passaram a tratar os ocupantes nazis como inimigos depois da Alemanha ter atacado a U.Soviética.”
Porque este episódio ilustra que baste a forma como tu e outros com o tu estão na vida.
Janeiro 9, 2014 at 9:32 pm
Vai-te catar, doente!
Janeiro 10, 2014 at 11:36 am
“Os Nazis foram julgados (alguns), mas os comunistas, em especial os russos escaparam, apesar de os Campos de Concentração que vitimaram os judeus dos nazis terem continuado em funcionamento do lado soviético, mudando alguns inquilinos mas incorporando, mesmo assim, os judeus russos ” Ou mais esta:
“Através de um pedido oficial de Beria, datado de 5 de março de 1940, o líder soviético Josef Stalin e quatro membros do Politburo aprovaram o genocídio. O número de vítimas é calculado em cerca de 22 000, sendo 21 768 o número mínimo identificado. (…)foram executadas na floresta de Katyn, na Rússia(…). Do total de mortos, cerca de 8 mil eram militares prisioneiros de guerra, outros 6 mil eram policiais e o restante dividido entre civis integrantes da intelectualidade polonesa – professores, artistas, pesquisadores, historiadores, etc – presos sob acusação de serem sabotadores, espiões, latifundiários, donos de fábricas, advogados, funcionários públicos perigosos e padres.” – http://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Katyn
Só em Portugal é que os fascistas vermelhos não têm vergonha da herança criminosa que transportam e ainda pretendem ensinar aos outros como se faz.
Vai-te catar tu, pá.
Claro que as verdades são lixadas..
Janeiro 11, 2014 at 2:48 pm
E quando as verdades factuais são apresentadas de forma irrefutável também é normal os fascistas vermelhos assobiarem para o lado fingindo que não é nada com eles.
Mas moralmente os crimes contra a humanidade não prescrevem. e os fascistas vermelhos sempre serão confrontados com eles desde que haja alguém que acredite na Liberdade, na Racionalidade e na Autodeterminação de cada Ser Humano.
Mas há muita gente que acredita nestes valores e que sabe que o fascismo vermelho (ao lado dos outros fascismos) não passa da escória da Humanidade. Gente que não repudia os crimes do comunismo contra a Humanidade não passa de gentalha. Por muitas palavras mansas que por aí ande a disseminar.
Janeiro 11, 2014 at 3:28 pm
Sim. jà sabemos..mas e quem nos limpa de ti? Uma mistura de estaline com adolfo mais umas pitadas do Mussolini e uns laivos gordos de Salazar????
Janeiro 11, 2014 at 3:47 pm
Deixa-o, Buli. Ele está é a precisar de tratamento.