… quando se aplica à Educação.
Vejamos… estava eu a ler mais abaixo um comentário que defendia a existência da PACC nos seguintes termos, mais coisa, menos coisa: é preciso um mecanismo regulador da diversidade de formação (leia-se classificação) dos licenciados pelasas diversas Universidades e Politécnicos pois há currículos diferentes e há instituições dão notas inflaccionadas e assim os seus alunos têm uma vantagem comparativa injusta, pelo que uma prova escrita de cultura geral com outra teórica de conhecimentos disciplinares trará justiça ao sistema.
Vamos lá a ver umas coisinhas, ó abelhinhas liberais:
Primeiros e mais importante: duas provas escritas não provam absolutamente quase nada sobre a qualidade efectiva de um professor em sala de aula ou no trabalho numa escola, em especial quando a prova comum não trata de nada especialmente útil para o quotidiano de um professor em exercício. Nem avaliou conhecimentos pedagógicos teóricos, nem sequer qualquer competência especial sobre o funcionamento de uma escola, legislação aplicável a cada situação em concreto (indisciplina, Educação Especial, organização curricular, entre outros exemplos possíveis). Recorrendo a uma bateria de testes para ocupar tempo das velhas Selecções do Reader’s Digest tinha-se conseguido uma coisa parecida. Quanto à prova específica, até tremo quando penso nas cliques e tertúlias académicas que terão deitado a mão à prova. Se forem aquelas que andaram a fazer as metas curriculares é melhor alguns colegas ficarem já alerta, porque aquilo são coisas de facção destinadas a lixar as facções adversárias. e não falo apenas do Português e da Matemática.
Segundos e também importante: há uma agência – aparentemente inútil – de certificação dos cursos que – dizem-me – só trata das questões burrocrático-administrativas dos cursos e nada das questões pedagógicas ou da qualidade do ensino praticado nas instituições e cursos certificados. Se é assim ou se reformula a missão da agência ou deve ser extinguida. Há ainda um modelo de avaliação do desempenho docente, que este MEC apenas retocou, que já avaliou os docentes em exercício nas escolas, atribuindo-lhes uma classificação que tem uma relação muito mais directa com a função prática de um professor. Se a ADD em vigor não presta – algo com que não discordo – acabe-se com ela, pois parece que o MEC não acredita na sua capacidade para distinguir os bons dos maus professores.
Terceiros e argumento mais directo ao coração liberal: têm andado para aí a dizer que a autonomia e a diferenciação dos projectos educativos das escolas básicas e secundárias, aliadas à liberdade de escolha pelas famílias e alunos, criará mecanismos de mercado na Educação que levarão a uma destruição criadora, com as piores escolas a desaparecer com naturalidade e a competição a fazer elevar a qualidade média do desempenho das restantes. Em especial a competição das escolas privadas levará as públicas a melhorarem ou a desaparecerem. Ora… a teoria aplicável ao ensino não-superior parece inaplicável ao ensino superior, pois mais de 20 anos de expansão do ensino privado na área da formação de professores terá levado à permanência de nichos de má qualidade e – de acordo com a postura do MEC e defensores da PACC para contratados com poucos anos de exercício docente – à diminuição da qualidade média dessa formação. Isto deixa-me baralhado… então a competição e a liberdade de escolher, junto com a autonomia na gestão das instituições superiores não deveria ter conduzido exactamente ao contrário? Ou a teoria aplica-se apenas quando calha e dá jeito? Decidam-se e respondam lá ao paradoxo que vocelências mesmas criaram…
Dezembro 28, 2013 at 7:24 pm
respondam lá ao paradoxo que vocelências mesmas criaram…
Don’t push too hard.
Há coisas que requerem um mínimo de inteligência.
Dezembro 28, 2013 at 7:25 pm
O certo é que quando as médias saem inflacionadas a concorrência favorece essas instituições.
Dezembro 28, 2013 at 7:26 pm
#2,
Então a concorrência funciona na inversa ao que dizem, favorecendo a “má moeda”.
Dezembro 28, 2013 at 7:41 pm
#3 Claro que sim. Ninguém o confessa mas é mesmo assim.
Dezembro 28, 2013 at 7:49 pm
Olhe que a A3ES faz bem mais do que lhe disseram – vê tudo (conceção geral dos cursos, programas, bibliografias, estágios, etc.), fala com todos, analisa evoluções. E olhe também que ESE houve que há mais de 20 anos introduziram nas suas licenciaturas trabalhos finais em nada menos exigentes que as atuais teses de mestrado (bem pelo contrário).
Dezembro 28, 2013 at 7:50 pm
#0 não percebo como ainda procura coerência neste Governo!
Esqueça isso … é impossível.
Dezembro 28, 2013 at 7:52 pm
#5,
Exacto. Analisam a papelada.
Dezembro 28, 2013 at 7:54 pm
Quanto às teses de mestrado, eu sou do tempo em que implicavam investigação inédita e não sínteses do tipo “estado da arte” ou variações em torno de um autor como é o caso de uma tese recente de um opinador muito apreciado nas praças liberais.
Dezembro 28, 2013 at 7:59 pm
O problema, que é um problema de fundo e quase sempre iludido nestas discussões, é que a concorrência almejada pelo governo no mercado educativo se prende com os resultados (factor quantitativo) – onde se centra a lógica examocrática e por onde entra a PACC – e não com a qualidade (que remete para os processos, domínio de grande complexidade que não se compadece com visões curtas e redutoras).
O tipo de concorrência pretendido pelas políticas mercantilistas para o ensino poderá, quando muito, insuflar os resultados e a respectiva cobertura examocrática – que aqui mostra que é outro facilitismo, embora de tipo diferente do do eduquês -, de resto já bem patentes nas escolas privadas que colonizam os rankings, mas não conseguirá elevar o patamar qualitativo, global, do ensino.
Dezembro 28, 2013 at 8:31 pm
Já não há pachorra para os que, quaisquer que sejam os contextos, visam a constante autopromoção com o desprezo pelo percurso académico de quem, por razões muitíssimo válidas, os ultrapassa… Uma média final de curso de 16 ou mais não pode ser simples e levianamente considerada apenas uma inflação. Há boas médias de licenciatura também em universidades públicas, reconhecidas, e quem as conseguiu deveria ser poupado à triste desconfiança e ao fantasma do facilitismo; deveria, isso sim, poder orgulhar-se do seu bom percurso formativo, mas Portugal é país de estreitas mentes e largas bocas e é sempre mais fácil justificar o meu insucesso com o suposto sucesso forjado dos outros. A típica história da vitimização…
Concordo com a necessidade de apurar a verdadeira eficácia da A3ES. Detetem-se as carências nos cursos do ensino superior, regule-se a “diversidade de formação/classificação” através da uniformização dos curricula dos cursos com a mesma designação e os mesmos objetivos, supervisionem-se, e, no final das licenciaturas e/ou mestrados, faça-se uma avaliação externa dos estudantes. A surpresa para alguns seria a existência – a manutenção -, nesse momento, de resultados díspares. E aí, não querendo admitir as diferentes capacidades dos envolvidos, com a consequente assunção da sua mediocridade, falar-se-ia de quê? De falseamento dos resultados? Quando seremos, de uma vez por todas, capazes de assumir que há quem tenha classificações superiores à(s) nossa(s) não por motivos extrínsecos, mais ou menos mirabolantes, mas simplesmente porque tenha trabalhado, estudado, investigado mais do que nós?
E não será uma qualquer PACC que promoverá a génios ou a geniais idiotas aqueles que, no seu percurso académico e profissional, se foram demarcando (de um ou outro) desses figurinos.
Somos realmente bons a procurar bodes expiatórios…
Dezembro 28, 2013 at 10:04 pm
Pouco ou nada sei do assunto, mas vou falar alguma coisa do que não sei.
Pareceu-me ter ouvido algures que nos EUA, havendo desconfiança sobre os conhecimentos científicos dos professores, há alguns anos estes passaram a ser periodicamente avaliados na componente científica, e isso terá melhorado a qualidade do ensino.
Imagino que o nosso MEC queira fazer algo parecido. Se assim for esta prova foi apenas um pequeno ensaio para todos os zecos se começarem a habituar à ideia de serem avaliados periodicamente nos seus conhecimentos científicos.
É apenas um palpite. meu, Não é nenhuma opinião.
Dezembro 28, 2013 at 10:31 pm
# Se assim for, a questão poderá ser complexa, nomeadamente no ensino secundário, pois há professores do quadro colocados em grupos de docência para os quais não têm formação base específica desses grupos, por ex. os professores de variantes com Francês ( Francês/ Inglês, etc,)que pertencem ao grupo 300 (Português)..
Dezembro 28, 2013 at 10:36 pm
Bem vistas as coisas nada prova nada. Somos todos bons e prontos vamos lá mas é comemorar o Novo Ano!
Dezembro 28, 2013 at 10:49 pm
#11,
Mas essa componente não está prevista na ADD?
Ou a desconfiança é tal que só os eleitos do IAVE é que sabem fazer essa avaliação?
Dezembro 29, 2013 at 12:25 am
Fui o autor desse comentário. E mantenho o que disse, por ser impossível avaliar a subjetividade das classificações atribuídas
Passa-se o mesmo no ensino secindário, com muitas privadas a carregarem nas notas internas (que valem 50% da média). E o estado ainda lhes vai dar o cheque.
Dezembro 29, 2013 at 12:30 am
#14
Caro Paulo
Disso sabes tu. Eu prefiro estar a paleografar ou a epigrafar do que estar a ver ADD. Agora queroestar a ler literatura médica do século XVIII. O João Curvo Semedo era um cromo que valia por uma colecção inteira 😆
O Crato não é tão azelha que esteja a queimar o govenozeco com esta chacha de prova. Tem de ter algo maior em mente. Mas como disse, são só bitaites, pois disso nada sei.
Dezembro 29, 2013 at 12:44 am
A este propósito um cromo do blasfémias (o vitor…) perante o estudo da Univ. do Porto que mostrava um melhor desempenho dos alunos provenientes das escolas públicas e os reparos dos “leitores” de que parte das escolas privadas inflacionavam as notas, advogava ser mais um motivo a favor de “cheque ensino”: a preocupação das escolas em ajudar os alunos a atingirem os seus obketivos….
Dezembro 29, 2013 at 9:17 am
Creio que não é de agora que se defende, para os profissionais do ensino, um acesso mais restrito contrariando a prática de qualquer licenciado poder dar aulas apenas com a habilitação própria. As últimas medidas dos sucessivos governos vão nesse sentido. Por isso, entendo que o ministro da educação se “agarre” à defesa da PACC como algo necessário à (ao início da) dignificação da profissão docente.
No entanto, aquilo que parecia ser uma escalada, com um objetivo concreto, tornou-se numa descida vertiginosa: 1) para os professores, que perderam a pouca dignidade que ainda lhes restava no dia da prova; 2) para o ministro, que sentiu a necessidade de justificar a prova por desconfiar da formação ministrada pelas ESE’s.
Dezembro 29, 2013 at 12:27 pm
#18,
Actualmente, para exercer a docência é obrigatória uma profissionalização. O prazo para isso ser obrigatório foi sendo esticado para quem estava nos quadros, mas, salvo erro, a partir de 2007 todos os professores dos quadros teriam de ter a profissionalização assim como qualquer candidato a contratado.
Há excepções, claro… muitas delas a coberto da “autonomia”.
Será esse o problema?
Dezembro 29, 2013 at 12:42 pm
Reblogged this on reblogador.
Dezembro 29, 2013 at 2:57 pm
Sobre mercados, pseudo-liberalismos, oportunismos, acontiados, e toda a casta de alambazes dos interesses público-privados:
http://pmcruz.com/eco/
Dezembro 31, 2013 at 12:56 am
#7
Repito: “fala com todos”.
#8
Não generalize…
(E em #5, só há vontade de matizar – no combate comum pela escola pública e pela qualidade da formação de professores vale sempre a pena ver a rica variedade das experiências, não é?).