Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Os meus alunos estão a elaborar um trabalho de pesquisa sobre a vida de Manuel António Pina. Infelizmente vão ter de escrever , também,sobre a sua sua morte…. Porque partem tão cedo, aqueles que fazem falta ao crescimento individual e coletivo?…
não sabia. Morreu um homem que faz falta. Este lugar vicioso mata os mais sensíveis. O meu ex-professor Jorge Peixinho também morreu de um ataque de coração. Este país foi horrendo para ele.
por Ricardo Nabais
A revista Tabu, do SOL, publicou um perfil de Manuel António Pina em Janeiro de 2008.
Vive quase uma existência de gato, ou não fosse um apaixonado desta espécie – partilha com eles a casa há anos. Têm sido vários, alguns com direito a nomes pomposos, como Maria Adelaide ou Hugo Afonso Coelho Vaz, ou mais coloquiais como Luís ou Zé.
Manuel António Pina, poeta e jornalista – não necessariamente por esta ordem – é também admirador das culturas orientais. E até aí os gatos encaixam nos conceitos de vida: «São seres zen», diz, a rir. Outro ponto de identificação é o recato. Pina não gosta de festas ou da vida social, é bicho de afectos domésticos, talvez pelo nomadismo a que foi obrigado durante a infância, fruto da profissão paterna. Por ser funcionário das Finanças, o pai não podia ficar mais de seis anos em cada terra.
Por isso, não gosta de sair do lar, do círculo de amigos, do café habitual. «Viajar é perder amigos», diz sem hesitação, acrescentando a variante a esta máxima: «É perder países». Com alma de solitário, começou a escrever para espantar os medos, ainda antes de se fixar, finalmente, num lugar, e foi só aos 17 anos, no Porto. Começou com uns versinhos em dísticos, ainda criança, para vencer um medo muito concreto, de uma trovoada.
O conhecimento das artes poéticas já lá estava. Em vez de rimas literais sobre o ribombar dos trovões na alma, procurou contar a história do milagre das rosas da rainha Santa Isabel como forma de consolo. O mote estava lançado e Pina cita o célebre escritor argentino Jorge Luis Borges para o resumir: «Toda a literatura, toda a arte, têm fundamentalmente dois temas: o amor e a morte. É natural que, diante destes abismos, o ser humano se interrogue e tenha medo».
Hoje, aos 63 anos, reconhece que a poesia lhe trouxe felicidade. Mas não a põe, por inteiro, no centro da existência. Pelo meio, houve a faceta do jogador. De póquer, principalmente, durante dez ou 15 anos. Nada que tivesse feito dele um apostador implacável. A culpa, admite, é das emoções: «Estou convencido de que gostar de jogar póquer é a pior condição para se jogar». A falta de calculismo traía-o sempre.
Manteve, no entanto, um hábito de jogo. Em determinados dias da semana, à noite – e até de madrugada – reúne-se com amigos para uma sessão de snooker num clube próximo da sua casa, na zona da Boavista. Um deles é Álvaro Magalhães, outro escritor, autor de Uma História Natural do Futebol. Em comum, tem com ele um ‘sportinguismo’ empedernido. «O futebol não tem interesse só pelo jogo. Quando o Sporting perde não tem interesse nenhum», diz, para assumir a loucura clubística.
Budismo e costelas partidas
A atracção pela cultura oriental levou-o a outras andanças. Dedicou-se, durante quase uma década, ao viet-vo-dao, uma arte marcial vietnamita, numa academia portuense. Mas tudo acabou num dia mais intenso. «Num combate dá-se e leva-se muitos socos e pontapés. E eu levei muito e não me apercebi». Ainda cumpriu a rotina de chefe de redacção do Jornal de Notícias nesse dia. Praticava o viet-vo-dao nos intervalos dos fechos de edição. Quando chegou, estava na redacção e à medida que ‘arrefeceu’ depois do esforço, começou a sentir dores fortes. «Fui ao hospital e tinha três costelas partidas», ri-se. Acabou por perder a rotina das artes marciais e deixou a academia.
O budismo foi uma forte influência na sua poesia. Não despreza outras, está em permanente busca de conhecimento literário. Com a liberdade de o escolher ao acaso. Algumas das suas leituras suscitam outras, num contínuo. A internet tornou-o um pesquisador ainda mais intenso: «O mundo está cheio de links».
Escreve também um pouco ao sabor dessa arte do acaso, sem dramatizar: «É mais uma actividade amadora, no sentido literal daquele que ama». A mesma naturalidade com que Winnie the Pooh, o popular ursinho, o protagonista de um dos livros da vida de Pina, define a poesia: «Deixamos as palavras entrar nos poemas quando lhes dá jeito a elas».
Tem consciência de que a poesia é arte de um clube restrito. «É uma igreja cada vez mais pequena». Reconhece que daí não vem mal nenhum ao mundo. «A poesia tem um prestígio excessivo». E, para Manuel António Pina, é sobrevalorizada. Não frequenta salões literários ou festivais da especialidade. E vai mais longe: «A grande poesia está cheia de grandes filhos da puta».
‘(Des)afecto ao regime’
A humildade é importante nas letras e na vida. Foi essa a lição que Pina diz ter herdado do jornalismo, outra profissão de letras que exerce desde os 26 anos. Além do JN, onde foi repórter e chefe de redacção, assinou uma crónica semanal na revista Visão e agora escreve para a Notícias Magazine, publicação de domingo no JN e no Diário de Notícias.
Chegou às redacções durante o serviço militar, que cumpriu entre Lisboa e o Porto. Tinha a seu cargo a informação e a contra-informação. Foi uma alternativa aos campos de batalha africanos, pois ainda se jogava no terreno a guerra colonial. Homem de esquerda, mas sem filiação política, tinha por ironia a missão de analisar a propaganda desafecta ao regime. Ia ao fim-de-semana às reuniões ‘revolucionárias’ da cooperativa Árvore, no Porto, onde ouvia Zeca Afonso e discutia a política.
Daí ter fichas na PIDE, algumas contraditórias, que o apresentavam como ‘afecto ao regime’ ou ‘desafecto’. A última versão prevaleceu, embora sem consequências para ele.
Com a chegada da democracia, acabou por concorrer a eleições, com uma convicção maior do que qualquer ideário político: «Sempre em lugares não elegíveis». Participou em reuniões do Movimento de Esquerda Socialista e mais tarde fez parte da comissão política nacional da candidatura de Maria de Lurdes Pintasilgo (primeira-ministra em 1979) à presidência, em 1986, além de apoios pontuais, mais por amizade, a outros políticos.
Mas está cada vez mais céptico em relação à política. Hoje tem por norma não subscrever, sequer, abaixo-assinados. É esquivo por natureza a multidões. Nas festas, é «o chato». Não dança, não consegue conviver em grupos grandes. E há outro problema, não bebe. «Gostava de gostar de álcool. Só aprecio um copo ou mesmo meio de vinho». Recluso, sempre, como os gatos que lhe povoam a casa.
Como eu gosto deste homem.
Todos os dias eu espreitava o JN à procura de novas crónicas e, desde o verão, que não via nenhuma. Primeiro pensei que tinha ido para férias, depois comecei a achar muita demora e soube que estava doente, pensei na gripe…
Os seus artigos na contra-capa do JN eram de uma acutilância, e perfeição de escrita que levava muitos leitores a iniciar a leitura pela sua coluna.
Deixa saudades.
Hoje soube-se uma coisa extraordinária,
que morreste. Talvez já to tenham dito,
embora o caso verdadeiramente não
te diga respeito, e seja assunto nossos,vivo.
Algo, de facto, deve ter acontecido
porque nada acontece, a não ser o costume,
amor e estrume; quanto ao resto
tudo prossegue de acordo com o Plano.
Há apenas agora um buraco aqui,
não sei onde, uma espécie de
falta de alguma coisa insolente e amável,
de qualquer modo, aliás,altamente improvável.
Depois, de gato para baixo, mortos
(lembrei-me disto de repente
agora que voltaste malevolamente a ti)
estamos todos. A gente vê-se um dia destes por Aí.
A má notícia chegou-me pela suspeita da suspensão da sua crónica incisiva no JN. Infelizmente confirmou-se poucos meses mais tarde 😦 Paz à sua alma e memória eterna ao Homem.
Quem adivinha qual foi o asno (dica: tem ligações à Lusa Atena…) citilante em várias áreas e meios de comunicação que um dia, num jornal (dica: não de Lisboa…) insultou Manuel António Pina com uma torpeza tal que se embadalhocou até à alma e para toda a eternidade?
Outubro 19, 2012 at 6:08 pm
entristeceu a minha tarde, sabê-lo…:(
Outubro 19, 2012 at 6:26 pm
Amor como em Casa
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
Outubro 19, 2012 at 6:48 pm
Vao-se os melhores ficam os que fedem a morte em vida.Bela foto.
Outubro 19, 2012 at 6:50 pm
Os meus alunos estão a elaborar um trabalho de pesquisa sobre a vida de Manuel António Pina. Infelizmente vão ter de escrever , também,sobre a sua sua morte…. Porque partem tão cedo, aqueles que fazem falta ao crescimento individual e coletivo?…
Outubro 19, 2012 at 6:51 pm
não sabia. Morreu um homem que faz falta. Este lugar vicioso mata os mais sensíveis. O meu ex-professor Jorge Peixinho também morreu de um ataque de coração. Este país foi horrendo para ele.
Outubro 19, 2012 at 6:55 pm
Manuel António Pina: O gato das letras
por Ricardo Nabais
A revista Tabu, do SOL, publicou um perfil de Manuel António Pina em Janeiro de 2008.
Vive quase uma existência de gato, ou não fosse um apaixonado desta espécie – partilha com eles a casa há anos. Têm sido vários, alguns com direito a nomes pomposos, como Maria Adelaide ou Hugo Afonso Coelho Vaz, ou mais coloquiais como Luís ou Zé.
Manuel António Pina, poeta e jornalista – não necessariamente por esta ordem – é também admirador das culturas orientais. E até aí os gatos encaixam nos conceitos de vida: «São seres zen», diz, a rir. Outro ponto de identificação é o recato. Pina não gosta de festas ou da vida social, é bicho de afectos domésticos, talvez pelo nomadismo a que foi obrigado durante a infância, fruto da profissão paterna. Por ser funcionário das Finanças, o pai não podia ficar mais de seis anos em cada terra.
Por isso, não gosta de sair do lar, do círculo de amigos, do café habitual. «Viajar é perder amigos», diz sem hesitação, acrescentando a variante a esta máxima: «É perder países». Com alma de solitário, começou a escrever para espantar os medos, ainda antes de se fixar, finalmente, num lugar, e foi só aos 17 anos, no Porto. Começou com uns versinhos em dísticos, ainda criança, para vencer um medo muito concreto, de uma trovoada.
O conhecimento das artes poéticas já lá estava. Em vez de rimas literais sobre o ribombar dos trovões na alma, procurou contar a história do milagre das rosas da rainha Santa Isabel como forma de consolo. O mote estava lançado e Pina cita o célebre escritor argentino Jorge Luis Borges para o resumir: «Toda a literatura, toda a arte, têm fundamentalmente dois temas: o amor e a morte. É natural que, diante destes abismos, o ser humano se interrogue e tenha medo».
Hoje, aos 63 anos, reconhece que a poesia lhe trouxe felicidade. Mas não a põe, por inteiro, no centro da existência. Pelo meio, houve a faceta do jogador. De póquer, principalmente, durante dez ou 15 anos. Nada que tivesse feito dele um apostador implacável. A culpa, admite, é das emoções: «Estou convencido de que gostar de jogar póquer é a pior condição para se jogar». A falta de calculismo traía-o sempre.
Manteve, no entanto, um hábito de jogo. Em determinados dias da semana, à noite – e até de madrugada – reúne-se com amigos para uma sessão de snooker num clube próximo da sua casa, na zona da Boavista. Um deles é Álvaro Magalhães, outro escritor, autor de Uma História Natural do Futebol. Em comum, tem com ele um ‘sportinguismo’ empedernido. «O futebol não tem interesse só pelo jogo. Quando o Sporting perde não tem interesse nenhum», diz, para assumir a loucura clubística.
Budismo e costelas partidas
A atracção pela cultura oriental levou-o a outras andanças. Dedicou-se, durante quase uma década, ao viet-vo-dao, uma arte marcial vietnamita, numa academia portuense. Mas tudo acabou num dia mais intenso. «Num combate dá-se e leva-se muitos socos e pontapés. E eu levei muito e não me apercebi». Ainda cumpriu a rotina de chefe de redacção do Jornal de Notícias nesse dia. Praticava o viet-vo-dao nos intervalos dos fechos de edição. Quando chegou, estava na redacção e à medida que ‘arrefeceu’ depois do esforço, começou a sentir dores fortes. «Fui ao hospital e tinha três costelas partidas», ri-se. Acabou por perder a rotina das artes marciais e deixou a academia.
O budismo foi uma forte influência na sua poesia. Não despreza outras, está em permanente busca de conhecimento literário. Com a liberdade de o escolher ao acaso. Algumas das suas leituras suscitam outras, num contínuo. A internet tornou-o um pesquisador ainda mais intenso: «O mundo está cheio de links».
Escreve também um pouco ao sabor dessa arte do acaso, sem dramatizar: «É mais uma actividade amadora, no sentido literal daquele que ama». A mesma naturalidade com que Winnie the Pooh, o popular ursinho, o protagonista de um dos livros da vida de Pina, define a poesia: «Deixamos as palavras entrar nos poemas quando lhes dá jeito a elas».
Tem consciência de que a poesia é arte de um clube restrito. «É uma igreja cada vez mais pequena». Reconhece que daí não vem mal nenhum ao mundo. «A poesia tem um prestígio excessivo». E, para Manuel António Pina, é sobrevalorizada. Não frequenta salões literários ou festivais da especialidade. E vai mais longe: «A grande poesia está cheia de grandes filhos da puta».
‘(Des)afecto ao regime’
A humildade é importante nas letras e na vida. Foi essa a lição que Pina diz ter herdado do jornalismo, outra profissão de letras que exerce desde os 26 anos. Além do JN, onde foi repórter e chefe de redacção, assinou uma crónica semanal na revista Visão e agora escreve para a Notícias Magazine, publicação de domingo no JN e no Diário de Notícias.
Chegou às redacções durante o serviço militar, que cumpriu entre Lisboa e o Porto. Tinha a seu cargo a informação e a contra-informação. Foi uma alternativa aos campos de batalha africanos, pois ainda se jogava no terreno a guerra colonial. Homem de esquerda, mas sem filiação política, tinha por ironia a missão de analisar a propaganda desafecta ao regime. Ia ao fim-de-semana às reuniões ‘revolucionárias’ da cooperativa Árvore, no Porto, onde ouvia Zeca Afonso e discutia a política.
Daí ter fichas na PIDE, algumas contraditórias, que o apresentavam como ‘afecto ao regime’ ou ‘desafecto’. A última versão prevaleceu, embora sem consequências para ele.
Com a chegada da democracia, acabou por concorrer a eleições, com uma convicção maior do que qualquer ideário político: «Sempre em lugares não elegíveis». Participou em reuniões do Movimento de Esquerda Socialista e mais tarde fez parte da comissão política nacional da candidatura de Maria de Lurdes Pintasilgo (primeira-ministra em 1979) à presidência, em 1986, além de apoios pontuais, mais por amizade, a outros políticos.
Mas está cada vez mais céptico em relação à política. Hoje tem por norma não subscrever, sequer, abaixo-assinados. É esquivo por natureza a multidões. Nas festas, é «o chato». Não dança, não consegue conviver em grupos grandes. E há outro problema, não bebe. «Gostava de gostar de álcool. Só aprecio um copo ou mesmo meio de vinho». Recluso, sempre, como os gatos que lhe povoam a casa.
ricardo.nabais@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=61372
Outubro 19, 2012 at 7:02 pm
mais um beirão de riba côa que partiu
um Homem bom.
Outubro 19, 2012 at 7:05 pm
Como eu gosto deste homem.
Todos os dias eu espreitava o JN à procura de novas crónicas e, desde o verão, que não via nenhuma. Primeiro pensei que tinha ido para férias, depois comecei a achar muita demora e soube que estava doente, pensei na gripe…
Que triste!
A morte não pára de me surpreender…
Outubro 19, 2012 at 8:11 pm
Os seus artigos na contra-capa do JN eram de uma acutilância, e perfeição de escrita que levava muitos leitores a iniciar a leitura pela sua coluna.
Deixa saudades.
Outubro 19, 2012 at 8:23 pm
Gostava muito das suas crónicas no JN, sempre pertinentes e atuais.
Deixa saudades
Outubro 19, 2012 at 8:29 pm
Saudade. Como doi!
Outubro 19, 2012 at 8:34 pm
Carta a Mário Cesariny no dia da sua morte
Hoje soube-se uma coisa extraordinária,
que morreste. Talvez já to tenham dito,
embora o caso verdadeiramente não
te diga respeito, e seja assunto nossos,vivo.
Algo, de facto, deve ter acontecido
porque nada acontece, a não ser o costume,
amor e estrume; quanto ao resto
tudo prossegue de acordo com o Plano.
Há apenas agora um buraco aqui,
não sei onde, uma espécie de
falta de alguma coisa insolente e amável,
de qualquer modo, aliás,altamente improvável.
Depois, de gato para baixo, mortos
(lembrei-me disto de repente
agora que voltaste malevolamente a ti)
estamos todos. A gente vê-se um dia destes por Aí.
26/11/2006
Outubro 19, 2012 at 8:44 pm
Que repouse em paz, como viveu.
Outubro 19, 2012 at 9:19 pm
A sua ausência, apenas pressentida, é agora real.
A falta que sentimos dele é agora mais dolorosa.
Se os poetas morrem, é porque também morremos com eles.
Outubro 19, 2012 at 10:16 pm
Que viva em nós!
Outubro 19, 2012 at 10:19 pm
um bom homem sentia-se no que escrevia..acima de tudo um poeta humanista…
Horário do Fim
morre-se nada
quando chega a vez
é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos
morre-se tudo
quando não é o justo momento
e não é nunca
esse momento
Mia Couto,
Outubro 19, 2012 at 10:21 pm
Se não fossem os poetas…
Outubro 19, 2012 at 10:22 pm
Manuel Pina estava internado vai algum tempo num dos hospitais da Nossa Cidade.
Partiu um vizinho. Partiu um Homem Bom.
Partiu alguém que nos é querido.
Pelo exemplo de carácter, pela obra que nos deixou, pela forma de estar na vida, partiu alguém que, pela sua ausência física, nos deixa mais vazios…
…que a sua alma descanse em paz
Outubro 19, 2012 at 10:27 pm
a Emília numa de charme…
Outubro 19, 2012 at 10:28 pm
Manuel António Pina é tudo o que um situacionista não é nem jamais será.
Outubro 19, 2012 at 10:28 pm
Nossa Cidade?
Outubro 19, 2012 at 10:29 pm
ESTE HOMEM EMÍLIA SÓ..VEJA…
Outubro 19, 2012 at 11:05 pm
Outubro 19, 2012 at 11:23 pm
Era magnificamente livre, e tinha a inteligência livre de quase todos os preconceitos.
Outubro 19, 2012 at 11:41 pm
sou contra
o nascimento
dos poetas
no seio
de quem
celebra apenas
a sua morte
os poetas são ilhas
rodeados de imbecis
por todos os lados
e inatingíveis
ilhas desertas
para o comum de vós
que agora já sois intelectuais ao quadrado
é turismo
Outubro 20, 2012 at 12:07 am
Algumas Coisas
A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
só a memória do esquecimento de tudo;
também o silêncio de aquele que fala se calará.
Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.
O que existe falta
sob a eternidade;
saber é esquecer, e
esta é a sabedoria e o esquecimento.
Manuel António Pina, in “Aquele que Quer Morrer”
Outubro 20, 2012 at 2:55 am
#5
“O meu ex-professor Jorge Peixinho também morreu de um ataque de coração”
Também???
#21
“Nossa Cidade?”
Acho que se refere ao Porto porque os jornais noticiam que estava internado no Santo António.
Outubro 20, 2012 at 6:51 am
A má notícia chegou-me pela suspeita da suspensão da sua crónica incisiva no JN. Infelizmente confirmou-se poucos meses mais tarde 😦 Paz à sua alma e memória eterna ao Homem.
.
Outubro 20, 2012 at 10:19 am
Adivinha
Quem adivinha qual foi o asno (dica: tem ligações à Lusa Atena…) citilante em várias áreas e meios de comunicação que um dia, num jornal (dica: não de Lisboa…) insultou Manuel António Pina com uma torpeza tal que se embadalhocou até à alma e para toda a eternidade?
Outubro 20, 2012 at 1:24 pm
Obrigada por tudo. Descansa em paz. Abraço eterno.