As metas curriculares de Português (quando será que as shôtôras do Secundário e Superior aprendem que no Básico o nome da disciplina é Língua Portuguesa?) estão aí e, para minha alegria pessoal e de tantos outros docentes, fazem os possíveis por terraplanar pelo menos dois anos de trabalho feito na planificação do novo programa, em especial na anualização dos seus conteúdos e na programação das actividades a desenvolver nos diversos ciclos de escolaridade.
Não me vou demorar muito a explicar como, desde 2009/10, os docentes de Língua Portuguesa andaram em formação sobre o novo programa e tiveram como função semanal ou quinzenal reunirem-se, planificarem, produzirem materiais, etc, etc, com base nesse programa, nas metas anteriormente definidas e em não sei quantos documentos orientadores ou auxiliares. Ainda este ano lectivo cada docente de Língua Portuguesa tinha (ou devia ter) um bloco de 90 minutos da sua CNL para esse efeito, durante a qual se deviam reunir, em grupo disciplinar ou em reunião alargada de dois ciclos, para trabalhar, partilhar materiais, etc, etc.
Percebemos agora que, graças ao esforçado esforço de esforçados especialistas, aquilo que foi feito pode ir, em grande parte, para o raio que me quebre os miolos, pois o que vem nas metas vai ser «fortemente recomendado» para o próximo ano lectivo e obrigatório no seguinte.
Pela parte que me toca, é simples… se já ficava apenas com o meu pior olho (o esquerdo, claro, o das 6 dioptrias) atento a estas papeladas do novo programa e coiso, agora acho que só deixarei o olho que é cego a observar esta nova documentação.
Desculpem lá, qualquer coisinha, mas ide gozar com o vosso próprio trabalho, ‘tá bem?
Junho 29, 2012 at 6:48 pm
Paulo, não poderia estar mais de acordo! Fui formanda e formadora dos NPP e sinto-me insultada!
Junho 29, 2012 at 6:50 pm
Os deputados Miguel Tiago e Rita Rato acusam o Governo de atrasar «deliberadamente» a «publicação de diplomas estruturantes, nomeadamente o decreto-lei da revisão da estrutura curricular e o decreto-lei que regula o alargamento da escolaridade obrigatória, assim tentando limitar a possibilidade de participação da Assembleia da República e principalmente a participação dos professores».
De acordo com os deputados comunistas, as escolas estão confrontadas com uma «orientação» que, além de «difusa e geradora de conflitos e atritos internos» é «ilegal».
Para o PCP, o Executivo preparou uma reorganização curricular dirigida «exclusivamente para a redução do número de professores colocados, travestindo um despedimento colectivo de programação pedagógica».
«A chamada autonomia da escola assume-se afinal como a desresponsabilização do Ministério da Educação e Ciência perante os curricula e o horário lectivo, passando a gestão dos conflitos gerados pela política do Governo para a escola», argumentam.
Lusa/SOL
Junho 29, 2012 at 6:51 pm
Outra coisa fantástica é que se acabaram de adotar manuais de 8.º ano que não contemplam estas obras de leitura orientada… Auto da Barca no 8.º? Está tudo tolo?
Junho 29, 2012 at 6:54 pm
os prazos das editoras são diferentes dos prazos do ME
o marketing dos manuais não pára, a diarreia legislativa do Crato tb não
Junho 29, 2012 at 6:55 pm
#2,
Olha-me o mafarrico-junior!
Junho 29, 2012 at 6:57 pm
SH vá à Merkl!
Junho 29, 2012 at 6:58 pm
Tb frequentei as ações de formação e só tenho a dizer o seguinte: enterrem 3/4 do conteúdos dos novos programas de Port. / LP.
Quanto às metas, eu até sou a favor, só que… talvez fosse melhor deixar essa tarefa a quem lida com os alunos, isto é, nós. E, neste ponto, de facto, a coisa estava a ser orientada com as anualizações do NPPEB.
Mas o Crato é que sabe, he is the MAN IN CHARGE!
Junho 29, 2012 at 7:02 pm
#6 Cristina F. vá dar a pomba ao Berlusconi
Junho 29, 2012 at 7:04 pm
#8,
sabes que eu sou ditador e não gosto que faltem ao respeito ás senhoras. Pelo que… voa baixinho.
Faz copy/paste, ofende-me, elogia-te e aos teus projectos da treta, mas deixa o resto em paz ou vais para a Sibéria e podes levar uns deputados contigo.
Junho 29, 2012 at 7:16 pm
Um bocadinho fora deste post…
Tirado de um comentário à notícia do Público sobre o calendário escolar para o próximo ano lectivo:
Continuo sem entender porque é que os senhores professores continuam com mais férias do que qualquer outro funcionário público! Eles que não digam o contrário!.Isso só acaba quando de facto tiverem nas escolas um sistema de controle eletrónico de presenças dos mesmo.
Junho 29, 2012 at 7:18 pm
#10,
Eu metia-lhe era o controle electrónico na cadeira e que berrasse cada vez que vai ao cafézinho.
Junho 29, 2012 at 7:19 pm
como se diz na minha terra c’um catano!!!! que não me apetece processar sobre esta treta…..
ps a minha filha vai para o 9º ano, como é?
O exame para o ano que vem, sai o quê???????
que falta de respeito para com os míudos, porque nós já estamos habituados, dá votos insultar os professores lassss
Junho 29, 2012 at 7:20 pm
10
era da maneira que pagavam milhares de horas extraordinárias, ó se era!!!!
Junho 29, 2012 at 7:31 pm
#11,
Exacto.
Junho 29, 2012 at 7:32 pm
#9 faltar ao respeito às Senhoras ??? onde ? armado em Don Juan ? ou toquei em algo sagrado? 🙂
Apenas mandei dar a passarinha lá de casa ao Berlosconi, visto ela ter se lembrado da Merkl !!!!
Junho 29, 2012 at 7:34 pm
#15,
Voa baixinho que isto aqui não é a tua casa…
Make my day!
Junho 29, 2012 at 8:23 pm
Antes de irem gozar com o trabalho delas, que peçam ajuda e reformulem estas metas. Para ser mais rápido, podem começar nas do 4.º ano (sugiro que, agora nas férias, convivam com crianças de 8/9 anos).
Junho 29, 2012 at 8:37 pm
“Pela estrada fora
toc toc toc
…”
Engraçado, retornam nas leituras recomendadas como o poema “a Moleirinha” , de Guerra Junqueiro…
Há algo de saudosista nestas metas. vistas assim de relance.
Junho 29, 2012 at 8:38 pm
Não vi as do 1º Ciclo, mas terão o poema “Os passarinhos” de Afonso Lopes Vieira? E a tomada do Castelo de Faria?
Junho 29, 2012 at 8:41 pm
De facto, parece que há uma espécie de Regresso no Tempo, nos dias que correm, em Portugal:
http://margarida-alegria.blogspot.pt/2012/06/ha-mais-engraxadores.html
Junho 29, 2012 at 9:09 pm
#10
O que não falta para aí é gente ressabiada. As pessoas vêem nos professores alguém em que podem descarregar as suas frustrações.
A todos esses, a única coisa que se pode responder é que vá dar aulas, para não falar sem saber.
Junho 29, 2012 at 9:14 pm
Bem fiz eu, que me mantive longe das anu a lizações…
Junho 29, 2012 at 9:45 pm
10#
Um bom bocado fora da ética. Já ouviu falar de horário não contabilizado? Pense correctamente…antes que alguém decida “pensar”incorrectamente..
Junho 29, 2012 at 10:16 pm
Eu sou shotôra do Secundário e sei que no básico têm Língua Portuguesa, E é sempre uma luta fazê-los passar a escrever disciplina de Português quando chegam ao 10º ano 🙂
Junho 29, 2012 at 11:20 pm
Mas nos novos programas chama-se Português, não se chama Lingua Portuguesa.
Junho 29, 2012 at 11:37 pm
Tanto tempo a habituar-me a dizer Conhecimento Explícito da Língua e agora, toma!, lá voltamos a “Gramática”. Nem sei que dizer do “Auto da Barca do Inferno” no 8º ano. Creio que deve ser uma espécie de “rasteira”, só para ver se estamos atentos.
A quantidade de conteúdos deixa-me assim “a modos que” perplexa. Isto em turmas de 30 e tal alunos vai ser uma maravilha.
Quanto à formação que fui obrigada a fazer durante 2 anos (sem qualquer tempo disponibilizado no horário para isso) e às inúmeras reuniões de trabalho para que fui convocada nos últimos três anos, sei perfeitamente para que serviram: para gozar com a minha cara, com o meu trabalho, com a minha família (a quem “neguei” horas do meu tempo por causa dessas e de outras “tarefas” igualmente (in)úteis), e, pior ainda, serviram para me mostrarem que podem fazer de mim o que quiserem, porque EU permiti isso, porque me calei e fiz como os outros, baixei a cabeça e obedeci. Sabem que mais, colegas, estou muito farta de me calar, de ser obediente, de ser humilhada e desrespeitada. E também estou muito farta de não saber de que é que estamos à espera para reagirmos. Esta inércia, esta apatia, isto não é normal! Eu começo a desconfiar que mandaram colocar alguma coisa na rede de distribuição de água; alguma coisa para nos “entorpecer”. E não me refiro só a nós, professores, ou só à Educação; refiro-me a tudo neste país. Acontecem as coisas mais inacreditáveis e nós comemos e calamos. Bolas! Isto não é digno!
Quanto ao comentário referido por #10, quem me dera que o ponto que eu e todos os meus colegas picamos todos os dias na minha escola (sim, porque picamos o cartão na portaria) contasse para alguma coisa. Quanto mais não fosse para que se divulgasse o número de horas (desculpem, agora é número de minutos) que os professores passam na escola. Ah, e não há registo de algum professor alguma vez ter abandonado as suas aulas colocando na porta o célebre «Volto já».
Esta gente queria era 60 exames nacionais de 12º ano para corrigir em 8 dias úteis, em simultâneo com coadjuvância, reuniões de Conselho de Turma, reuniões de Grupo, de Departamento, trabalho de Direção de Turma, reuniões com Encarregados de Educação (sim, na minha escola, há reuniões com os EE após o final das aulas), etc, etc.
(Bolas, que nunca mais há condições para mudar o nick…)
Junho 30, 2012 at 12:08 am
ALGUMAS METAS OBRIGATÓRIAS PARA O 1º ANO:
Ler um texto com articulação e entoação razoavelmente corretas e uma
velocidade de leitura de, no mínimo, 55 palavras por minuto.
Identificar, por expressões de sentido equivalente, informações contidas
explicitamente em pequenos textos narrativos, informativos ou descritivos, de
cerca de 100 palavras.
Relacionar diferentes informações contidas no mesmo texto, de maneira a pôr em evidência a sequência temporal de acontecimentos e mudanças de lugar.
Interpretar as intenções e as emoções das personagens de uma história.
(Será disponibilizado o caderno intitulado “Aprendizagem da leitura e da escrita”, que, para além de evocar os seus fundamentos teóricos, explica a motivação subjacente aos descritores de desempenho e oferece sugestões para a verificação do seu cumprimento pelo aluno. )
Mas então vão voltar a introduzir as reprovações no 1º ano???
Mas as metas são só para os alunos excelentes??? É que muitos não conseguem fazer nada do que será suposto! Depois faz-se uma grelha e vê-se o que o menino de 6 anos consegue fazer?
Há qualquer coisa que me deve estar a escapar!!!!
Ahhh e as dos outros anos…ainda são mais extraordinárias:
2º ano!!!! :
Identificar, por expressões de sentido equivalente, informações contidas
explicitamente em pequenos textos narrativos, informativos ou descritivos, de
cerca de 200 palavras.
Procurar informação sobre temas predeterminados através da consulta de livros da biblioteca.
Procurar informação na Internet, a partir de palavras-chave fornecidas pelo
professor ou em sítios selecionados por este, e com grelhas previamente
elaboradas para preencher com a informação pretendida.
agora vejam as do 3º e 4º ano!!!!
Parece-me que quem fez isto não conhece uma sala de aula do 1º ciclo!!!!
E calculo que nem dos outros ciclos!!!
Junho 30, 2012 at 12:20 am
E as metas da Matemática????!!!!
Vai ser lindo!!!!
1º ano (!!!!!!!)
Identificar, em objetos, retângulos e quadrados com dois lados em posição vertical e os outros dois em posição horizontal e reconhecer o quadrado como caso particular do retângulo.
Identificar triângulos, retângulos, quadrados, circunferências e círculos em posições variadas e utilizar corretamente os termos «lado» e «vértice».
Representar triângulos e, em grelha quadriculada, retângulos e quadrados.
Identificar cubos, paralelepípedos retângulos, cilindros e esferas
Reconhecer as diferentes moedas e notas do sistema monetário da Área do Euro.
Saber que 1 euro é composto por 100 cêntimos.
Ler quantias de dinheiro decompostas em euros e cêntimos envolvendo números até 100.
Efetuar contagens de quantias de dinheiro envolvendo números até 100, utilizando apenas euros ou apenas cêntimos.
Ordenar moedas de cêntimos de euro segundo o respetivo valor.
Ler gráficos de pontos e pictogramas em que cada figura representa uma unidade.
Recolher e registar dados utilizando gráficos de pontos e pictogramas em que cada figura representa uma unidade.
Utilizar corretamente os termos «conjunto», «elemento» e as expressões «pertence», «não pertence» e «cardinal».
Representar graficamente conjuntos disjuntos e os respetivos elementos.
Estes gajos devem ter um problema grave de alheamento da realidade!!!!
2º ano !!!!!!!!!!!
vejam a parte das frações!!!!! Num 2º ano???
O António já viu isto??? Com olhos de ver???
Eu estou abismada com isto!!!! Ora passamos do 8 ao 8000???
Aguardemos!
Junho 30, 2012 at 8:36 am
Primeiro, saliente-se a capacidade de compartimentação…., algo redutor.
Segundo, a falta de sensibilidade ou desconhecimento do que é põr uma criança do 1ºano a ler sem ser a tropeçar nas sílabas ou no “alfabeto”. O que é, afinal, uma consoante?
Sinal gráfico ou letra que representa fonema que não tem sonoridade própria, i.,é.,que só pode ser pronunciada com o auxílio de uma vogal.
Designa-se as consoantes pelos seus nomes ou pelo seu valor fónico aproximado?
Caso contrário, o “pato” será “pêato”.
Poderá, então, inferir-se que, no sistema global da leitura, o conhecimento das letras deverá ser secundário e desprezar-se inicialmente. Só depois de a criança ler globalmente palavras e frases, a decomposição destas irá até às consoantes.
Pretende-se alunos a ler ou a decifrar….
Igualmente redutora é a bibliografia recomendada.
Continua-se a imbecilizar os miúdos e a coarctar-se-lhes as suas possibilidades…..
Junho 30, 2012 at 11:18 am
Bom dia!
Somos professores de LP – 3º ciclo.
Aqui fica a primeira análise – erros científicos, etc., nas Metas. Tudo isto irá a seu tempo para o ME.
———————————-
p. 58 – 21. Conhecer as classes de palavras
p. 59 – d) verbo – «(quanto à regência)» – esta terminologia não existe no DT nem nas gramáticas publicadas depois da sua entrada em vigor. O que está no DT, é, Domínio das Classes de palavras, B.3.1 «Classes de verbos estabelecidas em função da presença e tipo de complementos».
Gramática Domínios, p. 105, idem (classes de verbos quanto à seleção do sujeito e dos complementos)
Gramática Prática do Português, 245 – Classificação em função da presença e tipo de complementos
p. 59 – e) enumeram-se vários tipos de advérbios com as antigas designações. Desaparece o conceito de advérbio de predicado? E seus diferentes valores? Onde está o advérbio de predicado? O de frase? Os advérbios conectivos? (Os meus alunos de 7º ano, este ano, não tiveram problema nenhum nestes advérbios…) Estas designações configuram erros científicos uma vez que estes vários tipos de advérbios aparecem como classes de palavras. Vamos falar na aula em advérbios de tempo? Pode falar-se, à luz do DT, em advérbio de negação, etc… Mas pode falar-se em advérbios de lugar? Com que base científica? E para onde foram os advérbios conetivos com seus diferentes valores? Palavras como todavia ou contudo não são para ensinar? Conferir DT, B.3.1.
p. 59 22. Analisar e estruturar unidades sintáticas
As primeiras orações subordinadas a estudar, no sétimo ano, são as subordinadas adjetivas relativas – ver ponto 7. Tradicionalmente no 7º ano sempre se trabalharam, em primeiro lugar, as adverbiais, pelo menos as causais e as temporais, de muito fácil compreensão para os alunos. As orações subordinadas (adjetivas) relativas são concetualmente mais difíceis para os alunos, no programa de 1991 estão anualizadas no nono ano. Devia começar-se pelas adverbiais. Mas, mais grave ainda: quem escreve estas linhas lecionou este ano letivo o 7º ano – PPEB. Os alunos aprenderam as adverbiais causais, temporais, condicionais, finais, as adjetivas relativas e as substantivas completivas. Tudo isto são conteúdos dados no 2º ciclo, no programa atual (?), e, segundo o mesmo programa, a retomar logo no 7º ano. Os alunos não tiveram dificuldades. Nem os meus nem os de outros colegas. Mas com esta alteração passam a ser considerados incapazes de compreender as adverbiais – só no 8º!!! Porquê? Que justificação há para esta opção? Ou para erradicarem as subordinadas do 2º ciclo? Um aluno de segundo ciclo é incapaz de aprender subordinadas causais ou temporais?
p. 59 22.2 «nome predicativo do sujeito» – erro científico, uma vez que no DT o que aparece é «predicativo do sujeito». Esta designação já era tradicionalmente posta em causa pois este predicativo não era, normalmente, nome nenhum, mas sim adjetivo. Mas no DT, esta função sintática podes ser assumida por todos os grupos frásicos, exceto pelo GV: a utilizar-se esta designação a confusão vai ser certa. Pergunta: dado o que se lê na Introdução, p. 4. «As Metas» … «são o documento de referência para o ensino e a aprendizagem e para a avaliação interna e externa» temos de desobedecer ao DT e às gramáticas acima referidas?
p. 59 22. 7 «Identificar processos de subordinação entre orações: subordinadas adjetivas relativas». Como será demonstrado mais adiante, esta meta concretiza grave erro científico: de acordo com o DT a oração adjetiva relativa depende de um / é subordinada por um «constituinte» / grupo nominal. Este assunto será analisado mais adiante.
Neste momento, e antes de continuar, temos de dizer o seguinte: dada a evidente qualidade científica dos autores das «Metas», os erros científicos que vamos detetando só podem constituir um ataque ao DT e ao PPEB. Nada mais. Apesar de estas Metas configurarem um PPEB truncado, disfarçado, trata-se de um evidente ataque ao programa.
p. 67 e 74
5. Dividir e classificar orações (sic)
O que estas Metas pretendem é, a título de exemplo, o seguinte: na frase complexa ( e ela é-o agora, no DT, por ter dois verbos principais, não por ter duas orações, que é o que as Metas indiciam), na frase complexa «Ele ontem viu a raposa que fugiu», «Ele ontem viu a raposa» seria a velha oração subordinante e «que fugiu» a subordinada adjetiva relativa.
Este é o erro científico mais espetacular destas Metas. Explicaremos já porquê.
O DT nunca fala em oração subordinante, mas em «Subordinante» – B.4.4:
«Subordinante: palavra, constituinte ou frase de que depende uma oração subordinada».
e
«Oração: designação tradicional para os constituintes frásicos coordenados e subordinados contidos em frases complexas».
Vejamos exemplos rapidamente compreensíveis:
Comecemos por uma completiva retirada do DT: «A frase ‘Eu disse que vai chover’ inclui a oração ‘que vai chover’». As metas sobrepõem-se ao DT? Como vão dividir aqui as orações? A subordinada é-o, neste caso, ao verbo – disse, de tal modo que é complemento direto desse verbo; não é subordinada a ‘Eu’, só ao verbo – palavra subordinante.
Nas relativas, como, por exemplo, ‘Eu vi o cão que fugiu’, a oração subordinada ‘que fugiu’ – é-o somente pelo grupo nominal «o cão», ao qual se refere o pronome relativo que. O DT chama ao GN constituinte subordinante. É só ele que subordina, a relativa só se refere ao cão (= fugido, daí ser adjetiva). Como vamos fazer na sala de aula? Fugimos ao DT? Tenho de ensinar deste modo os alunos? Parece-nos caso para tribunal.
Finalmente, as adverbiais são subordinadas por frases subordinantes: em ‘Ele comeu porque tinha fome’, a subordinada adverbial causal (tem função sintática de modificador de GV) é subordinada, depende de tudo o que está à sua esquerda, a frase subordinante na designação do DT. Estas Metas não respeitam o DT. O que fazer na sala de aula? Gostávamos de saber, mas não vamos andar cientificamente para trás.
Lembramos, para terminar, o seguinte: as provas de avaliação externa emanada do GAVE desde 2000 que não pedem para dividir e classificar orações. Sistematicamente pedem para se identificar e classificar as subordinadas.
No teste intermédio do GAVE 9º ano LP deste ano letivo, – que termina desta maneira!!! – há uma pergunta, a 3 do Grupo II, «Indica a função sintática desempenhada pela oração sublinhada». Trata-se de uma subordinada completiva com função sintática de complemento direto. Isto é rigor, inovação, promoção da reflexão e do pensamento. Não é a tradição bafienta presente na meta de que nos ocupamos.
Esta meta «Dividir e classificar» vai contribuir para lançar a confusão: há um ataque deliberado ao DT, há uma vontade evidente de permanecer no passado a nível científico e didático.
Sobre gramática – 3º ciclo – (não nos repugna nada esta designação), é tudo por agora. É o nosso contributo que será apresentado nas nossas escolas e enviado para o ME. A quem desde já pedimos: não obriguem os professores a ensinar erros científicos, ou então, substituam o DT por outra coisa.
Vamos tratar seguidamente de outros aspetos…
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Junho 30, 2012 at 11:21 am
#30,
è o que escrevo mais acima, em novo post, estas metas são de uma facção académica diversa da que produziu o novo programa e o DT. Por mim, tudo bem… só preciso de saber quantos dias dura cada nova orientação…
Junho 30, 2012 at 10:31 pm
A propósito(reforçando):
http://margarida-alegria.blogspot.pt/2012/06/metas-e-lecas-ainda-educacao.html
Julho 11, 2012 at 5:35 pm
As Metas de Português constituem-se como um documento curricular de referência verdadeiramente importante.
Se nos anos 2009-2011 foi fundamental a leitura do Programa de português do Ensino Básico (estrutura, fundamentos, conceitos, organização de cada ciclo, princípio de progressão, documentação de apoio) e a sua operacionalização, também a leitura das Metas Curriculares de Português me parece agora essencial.
O documento orienta, de forma objetiva e eficaz, o nosso trabalho de professores de Português! O documento dá voz à voz dos professores que, em sessões de formação, opinaram sobre o documento programático!…De que modo? Bem, muito bem! Vejamos como, neste breve comentário, em seis pontos:
1. Um dos aspetos a salientar nestas Metas Curriculares de Português é a especificação do descritor de desempenho (que por vezes até vai ao pormenor de referir quantas palavras uma criança deve ler por minuto).
2. Um outro aspeto – a progressão – em todos os domínios de referência, princípio essencial do Programa de Português do Ensino Básico, que garante a complexidade apoiada em saberes consolidados (tome-se como exemplo o domínio da Escrita: no 2º ano, os alunos começam por escrever um texto narrativo apenas com os elementos quem, quando, onde, o quê, como; no 3º ano, introduzem-se os diálogos e, no quarto ano, já se exige que seja introduzida uma pequena descrição).
3. A existência do domínio de Educação Literária e da respetiva lista de obras e textos é outro aspeto a aplaudir. A nova arrumação dos descritores confere um novo estatuto ao Literário, o que é de destacar.
4. A seleção de boas obras literárias é uma preciosa ajuda para o professor que, naturalmente, não tem hipótese de analisar a mais valia de todas as obras do Plano Nacional de Leitura ou mesmo das referidas no Programa de Português para o 3º Ciclo.
5. A Gramática (finalmente, o termo sem a confusão de Funcionamento da Língua e C.E.L.) está muito bem organizada e, assim, em cada ano e ciclo fica-se a saber o que o aluno tem de aprender bem e, se ele não sabe uma dessas rubricas, percebe-se em que momento do seu percurso escolar é que o ensino ou a aprendizagem falharam.
6. Acresce ainda que a supressão de alguns termos de menor utilidade e a especificação clara de cada um dos conteúdos gramaticais fará com que os alunos realmente e finalmente passem a aprender os conteúdos gramaticais e a saber mobilizá-los.
Fernanda Mateus
(Professora de Português)
Julho 11, 2012 at 11:51 pm
É absolutamente evidente, como o Paulo já ressaltou, que há aqui uma luta de modelos e filosofias. Afinal o sr ministro, que tanto queria fugir ao eduquês, acaba enredado noutro eduquês, de outra escola, é certo, mas não menos hermético. E as implicações estão precisamente aí: nas contradições entre documentos que deveriam ser continuação natural uns dos outros (DT; Programa; Metas).
Uma nota para a #33: se acha que a gramática está assim tão bem arrumada, o que tem a dizer às críticas que já aqui foram postas a nú? O que acha de se esperar por um 4.º ano para que o aluno tenha de formar o feminino dos adjetivos? Isto é normal? Só se for em certas escolas de Bruxelas… quem quiser que entenda.
Julho 12, 2012 at 10:30 am
Caro Ricardo,
Gostaria de lhe dizer que a questão colocada me permite um esclarecimento, que agradeço.
As Metas Curriculares de Português, numa média de oito páginas por ano curricular e em letra 12 apresentam o Programa todo, claro, preciso e objetivo (tudo aquilo que, verdadeiramente, é preciso ensinar!). As Metas referem-se ao Programa e aos materiais concebidos para a preparação da sua implementação como documentos válidos (Pág. 4). Estes documentos não se excluem, portanto!
Relativamente ao domínio Gramática, tenho a dizer que está definido por ano de escolaridade, e não, por ciclo. Sugiro que observe os descritores que se seguem:
Gramática (G1 – Pág.13)
19. Descobrir regularidades no funcionamento da língua.
…..1. Formar femininos e masculinos de nomes e adjetivos de flexão regular (de índice temático –o ou –a)
____________________________________________________________
Gramática (G3 – Pág.27)
27. Conhecer propriedades das palavras.
….11. Formar o feminino de nomes e adjetivos terminados em -ão.
_____________________________________________________________
Gramática (G4 – Pág.35)
28. Conhecer as propriedades das palavras e explicitar aspetos fundamentais da sua morfologia e do seu comportamento sintático.
….2. Formar o feminino dos adjetivos.
____________________________________________________________
Repare que o descritor “Formar o feminino de nomes e adjetivos…” é proposto para vários anos do primeiro ciclo , e não, para o quarto ano apenas! Repare na clareza e objetividade de cada objetivo e de cada descritor e na forma eficaz como ambos marcam a progressão do conteúdo a leccionar.
Cordialmente,
Fernanda Mateus
Setembro 12, 2012 at 1:01 am
E o que fazemos com os manuais que acabámos de adotar e que não contemplam sequer 50% das obras e textos agora impostos pelas metas curriculares de português?
Dizemos aos pais que os coloquem no lixo??
Na minha escola adotámos o Novas Leituras (8º ano), da Asa. Depois de um cuidado trabalho de pesquisa, confrontando programa e metas com o manual, chegámos à conclusão de que não inclui nenhum dos textos/obras referidos na célebre lista, embora respeite o PPEB e o PNL.
E agora? Fazemos fotocópias??
Mas, desculpem lá a minha falta de memória… Não estávamos em crise??
A Troika não veio mandar apertar mais o cinto?? É que eu já tenho o estômago colado à coluna!! Não tenho MESMO mais estômago para isto!!
Mas os senhores que elaboraram este documento esqueceram-se de que as escolas têm de adotar manuais?? E que é suposto usá-los??