A este propósito vou contar, rapidamente, algo a que assisti há uns dias. Um jovem empresário liberal, aluno de um MBA cosmopolita e transcontinental contava, perante audiência selecta, como uma das visitas de estudo na fase em que a coisa académica se passava na Índia era a visita a uma daquelas famílias numerosas e miseráveis lá do sítio (ler O Tigre Branco para confirmar o contexto…). A mim meteu-me impressão que empresários de sucesso fizessem tal visita mas, principalmente, estranhei que a família miserável, como condição para ser observada no seu habitat, não exigisse deixar de ser miserável no dia seguinte.
O regresso da caridadezinha. Isto fez-me um bocado de confusão… “Ajudar uma família” – ajudar os pobrezinhos, cantar-lhes fado e publicar as fotografias no Facebook…
O comentário anexo ao vídeo é do Calimero, mas eu subscrevo por inteiro e por partes também.
Maio 28, 2012 at 7:46 pm
Vi esta reportagem ontem. Também achei muito ‘tia’, muito ajudar-pobezinhos. (não foi engano, falta o r, de propósito)
Maio 28, 2012 at 7:50 pm
já o tinha dito no face..e Eça de Queirós também já falava isso…
Caridade Hipócrita Nos últimos tempos, preocupava-o sobretudo as misérias das classes – por sentir que nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornavam mais secas e menos capazes de piedade.
«A Fraternidade (dizia ele numa carta de 1886, que conservo) vai-se sumindo, principalmente nestas vastas colmeias de cal e pedra onde os homens teimam em se amontoar e lutar; e, através do constante deperecimento dos costumes e das simplicidades rurais, o Mundo vai rolando a um egoísmo feroz. A primeira evidência deste egoísmo é o desenvolvimento ruidoso da filantropia. Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatórios, comités, sessões, um presidente e uma campainha, e do sentimento natural passa a função oficial – é porque o homem, não contando já com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescrições dum estatuto.Com os corações assim duros e os Invernos tão longos, que vai ser dos pobres?…»
Maio 28, 2012 at 7:52 pm
Parece que a respeitável presidente do Movimento Nacional Feminino já foi substituida por uma figura mais jovem. O mote é o mesmo do antanho, mas não é único. Vai alternando com a ostentação dos very important people, que o espaço dos sonhos é assunto demasiado sério na perservação do status quo.
Maio 28, 2012 at 7:59 pm
Não vi a reportagem, nem quero ver… Já me indigno há muito tempo com a caridade(zinha) … Acho que compete ao Estado proporcionar uma vida digna a todos os cidadãos sem recursos… muito do que por aí anda dá-me vómitos!!!
Maio 28, 2012 at 8:23 pm
Maio 28, 2012 at 8:23 pm
ou…http://www.youtube.com/watch?v=ZHieMBabirY
Maio 28, 2012 at 8:24 pm
Isto não é ajudar. É ajudar-se!
Quem ajuda de facto, fá-lo sem que ninguém saiba. Muitas vezes, nem a família.
Maio 28, 2012 at 8:25 pm
A face assistencialista, caritativa ou, em plano paralelo, a feição cultural, “espiritual” do capitalismo liberal, na sua vertente global/digital, é a cobertura ideológica destinada a desviar as atenções do essencial – a opressão e exploração estruturais, quase “naturalizadas” -, para iludir ou atenuar a conflitualidade política, que revelaria (e poderia atacar ) os problemas sistémicos que estão por detrás da pobreza crescente, da delapidação dos recursos naturais e da depauperização da vida social e cultural.
Maio 28, 2012 at 8:29 pm
O evergetismo é assim como o punhetismo à pala dos pobrezinhos…
Maio 28, 2012 at 9:35 pm
9-gosto desse comentário
Maio 28, 2012 at 10:21 pm
Agora vou descambar um pouco para o politicamente incorrecto.
Ao almoço ouvi aquela senhora do banco alimentar exprimir contentamento porque até pessoas que são apoiadas pela instituição agora vão dar o seu pacotinho de leite nas campanhas de recolha de alimentos nos supermercados.
Parece a versão caritativa daquele empreendedorismo que se andou a propalar para os desempregados de longa duração, de irem servir cafezinhos ou cortar o cabelo uns aos outros.
É a institucionalização da miséria, que se quer que permaneça sempre entre nós, para que haja sempre para os ricos a oportunidade de praticar o Bem. Ou, em versão laica, que muitos deles já deixaram de ir à missa, de mostrar Responsabilidade Social.
Maio 28, 2012 at 10:23 pm
Cada vez que lá vai a ticas gasta uma fortuna em quitoso (para prevenir e porque…) e na desinfestação da habitação. Já para a viatura é mais simples, com 90 € faz uma higienização completa e ainda lhe aplicam produto nos bancos de pele.
Maio 28, 2012 at 10:26 pm
Ah, e outra coisa: discordo que isto evoque a pobreza medieval, que era coisa diferente.
Isto chama-se liberalismo económico; existiu e existe em todas as economias ditas liberais.
Maio 28, 2012 at 10:29 pm
“P’a mim, a vida dos pobrezinhos é um mistério!”
Maio 28, 2012 at 11:05 pm
Estou ali a ver se publico isto, mas ainda não consegui um título, digamos que, relativamente civilizado. É o que dá terem ido ajudar os pobrezinhos das Caldas
Maio 28, 2012 at 11:38 pm
Enfim, que ajudassem, mas ao menos não vinham para a TV, muito menos a mostrar e apublicar fotos (no Fbook!!!)dos que apoiam.Parecem as associações de preotecção de animais a mostrar os bichos de estimação…
A Obra do Padre Américo nunca o faz. Descreve a situação e pede apoio a quem quer ajudar. Mas sempre invcentivanto as pessoas a reeerguerem a vida.
Há anos que vicentinos etc fazem trabalho deste de pagar contas, rendas a… e não vêm exibir para as tvs. Acho pouco correcto, para dizer o mínimo.
Maio 28, 2012 at 11:41 pm
Fora de post, já virsam quem ganhou uma maria Campos- anónima de estimação ? A MC admirava MLR, esta “entusiasma-se”(ui!) com NC!
Espreitem:
http://margarida-alegria.blogspot.pt/2012/05/bem-vindos-ao-circo-mec-gave-oucontas.html?showComment=1338244160271
Maio 28, 2012 at 11:48 pm
a sobriedade da caridade cristã deu lugar à solidarieda social para a qual concorrem todos os meios incluindo a desvergonha
Maio 29, 2012 at 2:49 am
[…] Escreve o Paulo Guinote, no seu Educar: Idade Média Ou… Olhós Pobrezinhos Fresquinhos! […]
Maio 29, 2012 at 8:30 am
A solidariedade agora usa sapatos Prada.
Gostava de ver estas idiotas a cantarem fados em Houla, na Síria…
Maio 29, 2012 at 2:02 pm
[…] Paulo Guinote Filed Under: a sociedade Tagged With: caridade, caridadezinha, pobrezinhos, ricos « […]