Exmº Senhor
Director da Escola Secundária ***********
************, professora do quadro de escola do grupo 600, Artes Visuais, vem solicitar a demissão do cargo de coordenadora de grupo, no seguimento da conversa havida na passada semana.
Conforme então expus, existem importantes razões para tal pedido:
- Os cargos de coordenação pedagógica intermédia pecam por indefinições funcionais e consequente desvalorização.
- Esses cargos, se limitados a aspectos burocráticos ou executivos, são um factor de desresponsabilização colectiva. Cumprindo-se este modelo de gestão, os cargos que se exercem por nomeação esvaziaram-se da legitimidade democrática que lhes deu representatividade. São meros instrumentos de comunicação vertical, tendo-se empobrecido e minimizado.
- O tempo disponível para o cargo tem sido igualmente desvalorizado – noventa minutos da componente não lectiva, dos quais quarenta e cinco de presença obrigatória na sala de professores, (no caso do horário que me foi atribuído este ano, outros quarenta e cinco sobrepondo-se ao tempo superveniente para apoiar alunos ou projectos de índole pedagógica).
- O contexto que descrevi agudizou-se com as responsabilidades acrescidas, que justificam um maior esforço profissional – o trabalho com os alunos, as coordenações de curso, o desenvolvimento de projectos educativos, de voluntariado, a própria vida familiar e a participação cidadã.
- Prosseguir com um cargo que reputo de grande esforço para poucos resultados, tem significado um grande desgaste psicológico, provocando efeitos nefastos na consecução do que é fundamental – o trabalho com e para os nossos alunos.
- Creio ter desempenhado as minhas funções, nos últimos anos, como eleita ou nomeada, com igual respeito pelos princípios que devem nortear o serviço público de educação.
- Com o mesmo respeito, venho assegurar-lhe, deferido o meu pedido, a mesma disponibilidade na construção e desenvolvimento do nosso projecto educativo.
Com os melhores cumprimentos
Vila Nova de Gaia, 24 de Outubro de 2011
Novembro 18, 2011 at 9:39 am
Há gente com princípios. Parabéns pela posição e pela sobriedade e clareza com que apresentou a sua posição. Às vezes parece mas não somos todos uns nhê nhê
Novembro 18, 2011 at 10:07 am
Tudo bem;
É preferível tarde do que nunca!…
No entanto, os cargos de Coordenação Pedagógica já são de nomeação dos Directores Executivos desde que estes existem e desde aí se via bem para onde tinham mandado a Democracia representativa!…
Como explica ter aguentado este tempo todo em violação dos princípios e pressupostos no texto enunciados, com os quais estou, aliás, plenamente de acordo?!…
Novembro 18, 2011 at 10:20 am
ESte tipo de posições devia ser tomada um pouco por todo o lado! Era em bloco! Concordo inteiramente com o que apresenta.
Novembro 18, 2011 at 10:23 am
Evidentes sinais de controlo das estruturas intermédias, com o seu consequente apagamento como estruturas de participação; é revelador ainda de um clima de obediência normativa e de escassa participação, onde se privilegiam as competências a nível executório, quadro este que se afasta claramente de uma democracia aberta e participativa.
A nova morfologia organizacional decorre de uma visão instrumental da gestão alicerçada no poder absoluto da liderança, variável determinante para o funcionamento eficaz da escola, como provam as expressões: “instrumentos de comunicação vertical”; “limitados a aspectos burocráticos ou executivos”.
Parabéns à colega pela sua verticalidade e coragem.
Novembro 18, 2011 at 10:28 am
Eu vou fazer o mesmo pois com 45 min para o cargo é a mesma coisa que nada ! Com oito turma e sete níveis ,com reuniões a toda à hora depois das 18h30 não se consegue fazer mesmo nada .
Novembro 18, 2011 at 11:04 am
Posições
Novembro 18, 2011 at 11:15 am
Em lugar da democracia, da participação e da entreajuda, instalou-se a autocracia, o subservientismo e o medo. Ainda ontem na minha escola, numa reunião, tive que ser eu a assinar um pedido de esclarecimento sobre as verbas que tinham sido atribuídas a um curso e qual a previsão financeira que existia. Todos os colegas disseram de imediato, inclusive o director de curso, que não fariam essa pergunta. Preferiam não planificar a sua disciplina de acordo com os recursos previsíveis a fazer qualquer pergunta que pudesse ser considerada incómoda. Isto é só um exemplo daquilo em que se transformou a escola e a sociedade em geral. Mas haverá pessoas que acham que isto está tudo muito bem. Preferem erguer a bandeira de “Porque não farei greve a 24” a abrir os olhos e perceber que a nossa sociedade se está a afundar naquilo que sempre a caracterizou e foi um exemplo para todo o mundo.
Novembro 18, 2011 at 12:12 pm
Este cargo como todos os outros não serve para nada.
O Conselho Pedagógico passou de orgão consultivo (ainda me lembro de ter sido um orgão que emitia decisões vinculativas) a coisa nenhuma…uma perca de tempo.
O orgão directivo é cada vez mais um apanha-bolas do ME.
Mais valia fecharem tudo e os alemães que governem isto.
Novembro 18, 2011 at 12:30 pm
Se tivesse princípios, não teria aceitado o cargo à partida, com os constrangimentos que lhe estavam associados.
Recordo-me da estória dos tritulares que, depois de o serem, manifestavam o seu incómodo pela aceitação da coisa.
Fuc***k all the pirates!
Novembro 18, 2011 at 12:46 pm
Neste país da treta, há perguntas muito bem feitas.
Novembro 18, 2011 at 1:16 pm
Não tem muito a ver com o post… mas também estou muito preocupada e
agradeço uma informação ou opinião qualquer.
Na escola onde exerço, até o presente momento, não tenho ainda conhecimento da minha Avaliação Final – ADD – (tinha apresentado à época reclamação contra a proposta feita pelo relator devido à verificação de diversas ilegalidades).
Tendo em conta os prazos para provável reclamação ao Júri e, a seguir, o recurso ao Júri Especial de Recurso – (10 e 15 dias úteis respectivamente, conforme o art. 23ª do DR nº 2/2010) – como devo agir, já que a 31 de dezembro o processo estará encerrado?
Obrigada
Novembro 18, 2011 at 1:19 pm
Muito fora do post…
Paulo Portas, o Catherine Deneuve.
Novembro 18, 2011 at 1:28 pm
Este enquadra-se em todos os posts. Tem que estar sempre presente. Ou somos uns bichinhos?
Novembro 18, 2011 at 1:52 pm
#9
“Recordo-me da estória dos tritulares que, depois de o serem, manifestavam o seu incómodo pela aceitação da coisa.”
Aí começou a afirmar-se cada vez mais a característica déspota dos srs. professores, no trabalho das escolas.
Há escolas em que os professores que nunca frequentaram uma universidade, e os professores com baixas médicas sucessivas, foram os escolhidos para a constituição do Conselho Geral. E assim se mexeram todos os cordelinhos para nomear a directora.
Ora a culpa cabe, em primeiro lugar, a MLR. Mas como foi possível permitir que uma professora fosse nomeada titular se estava em casa há meses com baixa psiquiátrica? A professora foi convidada a apresentar-se na escola e nem somou 40 pontos, todavia, foi titular (na época, 45 anos, 9.º escalão).
Durante anos, diziam-me que eu era muito sacrificada no meu horário devido à doença da colega (mas ninguém pensava na eventualidade de eu ser portadora de grave falta de saúde). Desde a época dos titulares, a colega mantém-se ao serviço, sendo elemento do conselho geral e obviamente com horários feitos à medida do estatuto.
Cada cabeça, sua sentença e, na realidade, há milhares de histórias sortidas para narrar.
Novembro 18, 2011 at 2:00 pm
Novembro 18, 2011 at 2:05 pm
Novembro 18, 2011 at 2:16 pm
#31,
Requerimento dirigido à CCAD (e eventualmente ao próprio relator) inquirindo sobre a tramitação do processo.
Novembro 18, 2011 at 4:05 pm
Aplaudo a atitude!
Novembro 18, 2011 at 4:46 pm
Vou copiar … acho que irei precisar e não sou muito boa a escrever estas coisas.
Concordo com #8, o CP passou a coisa nenhuma a partir do momento em que a presidência passou para o Director.
Antes do 75, a incompetência e as falhas dos Presidentes eram colmatadas pelos órgãos de gestão intermédia e as coisas funcionavam.
A escola desmorona-se aos poucos se o Director não for uma pessoa muito capaz, a todos os níveis, nas funções que desempenha. Mesmo nomeando os mais capazes a acção destes dilui-se nas “indefinições funcionais e consequente desvalorização”.
Nestes tempos de indefinição, em que não se sabe o chão que se pisa, observo duas atitudes contraditórias: colegas desmotivados, arredados da escola, apenas preocupados com as aulas e colegas a produzir “trabalho”, a ponto de se sobreporem ao dos outros, como se o seu lugar na escola dependesse disso.
Estranhos tempos estes … !
Novembro 18, 2011 at 7:33 pm
#17
Obrigada pela sugestão, Paulo Guinote, vou então requerer ao CCAD que me dê atempadamente a minha classificação final, pois já prevejo que terei mesmo de recorrer… A que ponto chegamos…