Longe vão os tempos de criança, em que aos passeios e brincadeiras juntava horas de estudo e leitura. Gostava de o fazer. Era uma competição comigo mesma, testar os meus limites, ultrapassá-los. Não sei o que é uma negativa, nem na escola nem na Universidade. Basta perguntar a qualquer um dos meus professores e este facto ficará confirmado. Prémios de melhor aluno, cincos, média de dezanove no secundário, 18 e 19 nos exames nacionais, no tempo em que os 20 eram nulos ou uma raridade. Segue-se a Universidade do Minho, um estágio de 18 valores, média de curso de 17. No final, o Prémio Universidade do Minho, entregue ao melhor aluno de cada curso.
Longe de mim imaginar que a vida profissional se fecharia para alguém que tanto lutou para ultrapassar limites. Naquele que seria o meu primeiro ano de trabalho inventaram que os finalistas não podiam concorrer. É fácil saber o ano, pois foi o único em que esta medida vigorou. Nove meses depois consigo a minha primeira oferta de escola e em Setembro desse ano integro os docentes que estreiam as AEC. Nesse ano, devido a uma fórmula que entretanto foi alterada com a passagem de recibos verdes a contrato a termo (já não beneficiei da nova fórmula), 32 horas letivas semanais em três escolas deram direito à contagem de 220 dias de serviço. Parecia mentira. E assim se repetiria por mais 2 anos, conciliando AEC e formação, aproveitando o facto de ser solteira e sem filhos para poder trabalhar das 9h às 22h. Este trabalho em demasia acabaria por dar os seus frutos quando consigo a minha primeira colocação em bolsa, já em meados de Outubro, uns anos mais tarde. Nesse ano trabalho até ao dia 19 de Junho, último dia de aulas, a minha filha viria a nascer no Domingo, 21 de Junho.
Não me venham dizer que a classe docente só sabe ‘meter gravidez de risco’ para não dar aulas. Eu cumpri até ao final. No ano seguinte, em meados de Setembro já tinha colocação. Colocação essa que seria renovada por mais um ano, não fosse um destacamento. Voltei às bolsas, consegui em Outubro. Nessa bolsa, docentes menos graduados ficaram nas minhas primeiras opções. Tentei ligar, em vão, para a DGRHE. Nessa altura, as colocações em bolsa saíam à sexta-feira pelas 18 horas. Precisamente na altura em que os contactos da DGRHE já não estavam disponíveis. Teríamos de aceitar durante o fim-de-semana. Aceitei. Na segunda-feira de manhã, depois de estar em casa com a chamada em espera mais de uma hora, ligo para a DGRHE através de uma escola. Atenderam de imediato. Expus o meu caso. Ironicamente respondem: ‘ó colega, apesar de sair à sexta-feira, a colocação é feita logo que os horários são enviados. Ou seja, se pediram o horário onde ficou às 9 horas, é lógico que não vai ficar no que outra escola pediu às 10 horas’. Sistema totoloto, portanto. Com a vantagem de poupar uma semana de salário, visto que mesmo quem ficou à segunda, só sabe à sexta, para se apresentar à segunda seguinte. Por incrível que pareça, consigo contactar a docente que ficou com o horário que, por justiça de graduação seria para mim. Essa colega, residente na área para onde eu ia dar aulas, ia recusar o horário onde eu queria dar aulas, visto já ter ficado colocada em oferta de escola.
O tal horário voltou para a bolsa na semana seguinte, mas de qualquer forma não seria para mim, pois se recusasse este, saía da bolsa. Não havia saída. Já casada e mãe de uma criança de um ano, lá fui despender 350 euros mensais em viagens. Mas mais esse ano de sacrifício e a classificação de desempenho (que nem deveria ser contabilizada), dariam para este ano ficar numa posição mais confortável. Parece que me enganei.
Em resposta ao “psicodrama dos concursos” (http://www.profblog.org/2011/09/o-psicodrama-dos-concursos.html), para que a sociedade em geral não pense que os professores contratados precisam de tratamento psicológico face à desconfiança que têm demonstrado relativamente ao funcionamento dos concursos (até poderíamos precisar, visto que todos os anos tudo é stress, tudo é um mundo de caras novas, de alunos, de colegas, de burocracias que divergem segundo a máquina orgânica de cada estabelecimento de ensino), escrevo:
“Tirei o meu curso na Universidade do Minho com 17 valores. Não me parece que seja um estabelecimento de ensino inferior. O que é certo é que não falando da bolsa, onde se é ultrapassado porque os horários anuais surgem como mensais, posso muito bem falar das ofertas de escola. Será que as escolas estão de facto a selecionar bem? Será que o critério “serviço prestado no agrupamento de escolas de Matosinhos Sul no ano letivo 2010/2011” diz algo sobre o valor de quem concorre? A mim só me diz que pretendem manter quem lá esteve, sem querer saber se quem concorre é melhor ou mais adequado à função. Eu sei que se criam laços entre as pessoas, eu também sei o que é estar um ano em cada escola e no final despedir de todos porque é mesmo uma despedida. Mas esses laços não deveriam dar azo a injustiças. Neste caso concreto de Matosinhos, eu, 4xx, fui ultrapassada e muito. Ficou colocado o 1xxx. Eu com 17, a outra pessoa com 13. E relembro que o meu 17 não é de uma qualquer universidade, como referi anteriormente. No Cerco ficou o 15xx e o 15xx. Com 12 e com 15. Mais nova do que eu, um terço do meu tempo de serviço. Em Baião fica o 1xxx. Em Sande o 7xx, em Cinfães o 8xx. Estes horários eram até 31 Agosto e de 22 horas. Os tais que surgiram em finais de Agosto. Gente com a vida tranquila. Agora o Ministério vem dizer que a culpa é das escolas. Não me parece que centenas de escolas possam estar a mentir.
Mas podemos facilmente resolver o problema desta ‘guerra’ que o Ministério pretende criar com os professores contratados. Somos ou não somos necessários? Anos e anos a fio a contrato? Sugiro, para mal dos alunos (mas parece que é o que o Ministério pretende) que se faça o que um docente sugeriu no Facebook: assinamos o tal contrato mensal que nos querem impor, e na hora de renovar, não renovamos. Vamos trocando de escola mês a mês. Pode ser que os alunos e os seus Encarregados de Educação gostem que eles tenham nove ou dez professores no mesmo ano. A qualidade do ensino, com esta medida do ministério, estará certamente assegurada. É o que dá inserir horários para um mês pelo motivo “Aumento de Turmas”. A turma aumentou esse mês, no seguinte possivelmente mandam os alunos de férias para casa. Inacreditável.”
Inacreditável mesmo. Como é inacreditável ter concorrido para as AEC e também não ter ficado, quando na lista do Ministério da Educação seria a primeira dos que lá constam. Mas parece que não trabalhei lá nos últimos dois anos. Ups.
Há escolas onde os critérios justos mandam mais que a “cunha”? Há. Há escolas onde as ofertas de escola são um concurso público e não um ‘concurso-fantasma/nomeação’. O problema é que os horários são raros e quase sempre de 6 horas. Aceitando esses, saímos da Bolsa de Recrutamento, pois temos um governo que acha que trabalhar 6 horas por semana é mais que suficiente.
Ficar resignada? Receber o subsídio mas perder o tempo de serviço? Ou fazer o que já devia ter feito há muito tempo? Deixar de ilusões, de querer fazer aquilo que gosto, e escolher outra profissão? Mais mês, menos mês… a decisão surge.
Cumprimentos aos docentes contratados deste país, aos meus colegas que partiram para a Madeira, aos que ficaram na segunda-feira em horários precários em Lisboa e Sintra, tendo casa para pagar no norte, à jovem que se atirou à tarefa e foi para o Algarve. Felizmente não têm filhos, dificilmente teriam uma vida familiar digna nestas condições. As minhas palavras finais vão para aqueles que, como eu, estando no início das listas de graduação, continuam improdutivamente em casa quando poderiam ser produtivos. Conheço muitos desses, professores excelentes que deram uma dinâmica às escolas por onde passaram, que deixaram marcas nos alunos e colegas de quadro. Alguns não sabiam ainda o que era estar desempregado. Mas anos extraordinários, com cortes a torto e a direito, geram situações extraordinariamente invulgares.
C.L. (sei lá se inventam o critério “só pode dar aulas quem é a favor de tudo o que se faz no Ministério da Educação”)
Setembro 22, 2011 at 12:48 pm
O meu aplauso ao testemunho da colega. Merecia ter nome – a indignação justa deve sempre ter nome.
Força.
Setembro 22, 2011 at 1:01 pm
E’ preciso e’ calma, ganhar tempo (4 anos) e ver as vacas (AS GRANDES VACAS) a sorrir.
Setembro 22, 2011 at 1:03 pm
Lindo!!!
Eu e a minha esposa aplaudimos de pé o seu testemunho! (as minhas filhas não, porque não sabem ler)
Ambos por colocar e com dez anos de serviço em Matemática… em casa à espera que limpem a porcaria que fizeram…
Setembro 22, 2011 at 1:04 pm
“Será que o critério “serviço prestado no agrupamento de escolas de Matosinhos Sul no ano letivo 2010/2011″ diz algo sobre o valor de quem concorre? ”
Claro que sim. Pode quanto muito questionar o peso desse item. Isto resolvia-se com provas em vez de concurso documental. Sempre tinha maneira de impressionar, mostrando como opera na sala de aula.
“A mim só me diz que pretendem manter quem lá esteve, sem querer saber se quem concorre é melhor ou mais adequado à função.”
Claro que querem. Se uma pessoa presta bom serviço deve ser trocada por outra que se desconhece? Faz a colega isso em algum momento da sua vida? No entanto pode questionar se o trabalho prestado foi avaliado de forma transparente.
Setembro 22, 2011 at 1:05 pm
Porque eles nao se interessam pelo (POVO) e, particularmente, pelos professores(zecos), sejam eles do PS, PSD ou CDS. E’ preciso e’ sacar o voto, para depois fod…. o pessoal.
Setembro 22, 2011 at 1:14 pm
Maravilhosamente explicito. Vou re-publicar e divulgar. Comovi-me com o que li porque me identifico com praticamente tudo o que lhe sucedeu, apenas com a diferença que estou na zona de Coimbra. Bravo, colega! É um orgulho saber que existe mérito entre nós. (E que cada vez é de somenos importância). Acredito que tudo se resolverá… A vida encarrega-se disso. Obrigada pelas palavras.
Setembro 22, 2011 at 1:18 pm
# f4
“A mim só me diz que pretendem manter quem lá esteve, sem querer saber se quem concorre é melhor ou mais adequado à função.”
Claro que querem. Se uma pessoa presta bom serviço deve ser trocada por outra que se desconhece? Faz a colega isso em algum momento da sua vida? No entanto pode questionar se o trabalho prestado foi avaliado de forma transparente.
Também concordo. E esta é uma questão delicada. De facto, é do interesse de todos (menos para quem fica de fora, naturalmente, mas isso acontece no concurso geral) que haja estabilidade nos quadros: para a direção, para os alunos, para os professores. Um professor chega e conhece toda a mecânica da escola, arranca logo com o trabalho, conhece até os alunos. Está-se a criar como que um novo quadro de escola, um falso quadro, precário, mas não deixa de ser algo próximo.
É mau, naturalmente, para quem fica de fora.
Por outro, pode correr-se o risco de que, quem fica, já o faça por amiguismo e não por competência… deveria de haver modo de impedir que isto acontecesse, com transparência.
Setembro 22, 2011 at 1:25 pm
#4
f4, enxerga-te, pá!
Com tanta basófia e certezas, merecias gramar umas turmazinhas numas escolas com umas direcções que eu cá sei…
Era dum descanso! Passavam-te logo essas manias das superioridades e das liberalices.
E ficavas a piar fininho!
Setembro 22, 2011 at 1:44 pm
“O vice-presidente da associação Transparência e Integridade, Paulo Morais, afirmou hoje que grande parte dos impostos que os portugueses pagam estão a “derreter” em mecanismos de corrupção.
“Grande parte dos cerca de 80 mil milhões de euros que o Estado gasta por ano é derretido em mecanismos de perfeita corrupção, alguns dos quais são bem conhecidos”, salientou Paulo Morais, em entrevista à agência Lusa.(..)”
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2011810
Setembro 22, 2011 at 2:06 pm
Excelente texto.
Se os professores fossem uma classe, com classe, e unidos, já à muito que os governos piavam fininho.
Nestes contratos, ditos mensais, os professores chegavam ao fim do mês e simplesmente não renovavam o contrato, defendo isto desde o seu inicio.
O problema é que nesta classe, sem classe, predomina o salve-se quem poder, sem olhar a meios.
Tenho dito.
Setembro 22, 2011 at 2:14 pm
Parabéns pelo testemunho, que merece amplo destaque. Não se esqueça de o enviar ao miguel sousa tavares. E aos outros miguéis. E aos jornalistas, em geral. E aos partidos políticos. E ao presidente da república. Mesmo que não o incomode nada. Diz-se que tem facebook, não perderá muito tempo.
Acredito que, muitas vezes, é com estes relatos, na primeira pessoa, com os casos reais e vividos, da vida concreta, de injujstiças gritantes, que se movem montanhas.
Abraço e… coragem. Professores dessa têmpera fazem sempre falta. Insista. Não desista!
Setembro 22, 2011 at 2:17 pm
#2 … e as anonas, há vantagem em podá-las ou não? Isso sim, é que é um problema, não é?
Setembro 22, 2011 at 2:40 pm
#0
Parabéns é tempo dos contratados terem voz e explicarem o que é ser contratado nos tempos que correm.
Setembro 22, 2011 at 2:41 pm
Eu cá não podava nada!
Deixava crescer a erva…
Setembro 22, 2011 at 2:58 pm
#9
Claro. Não fosse assim e onde é que esses iam buscar o dinheiro?
A trabalhar?!
Setembro 22, 2011 at 3:16 pm
Seria interessante perceber as medidas que vigoram na Educação e quais as que tiveram a aprovação do PCP e da FENPROF…
Setembro 22, 2011 at 3:31 pm
A coerência do Ramiro Marques :
Portugal tem uma longa experiência bem sucedida de concursos nacionais. Para quê mudar o que funciona bem?
Portugal tem uma cultura e uma tradição marcadas por nepotismo, corrupção e parcialidade. Para quê colocar nas mãos das escolas o recrutamento dos professores? Tendo em conta a nossa tradição e cultura, seria impossível evitar que os concursos locais de recrutamento de professores fossem contaminados pela corrupção e nepotismo.
…”
Retirado daqui: http://www.profblog.org/2011/03/seminario-fne-concursos-de-professores.html
Setembro 22, 2011 at 3:32 pm
Oh 5 m1 vai cavar batas com o Preud’home.
Setembro 22, 2011 at 3:32 pm
Parabéns pelo testemunho.
Mantenha a esperança!
Setembro 22, 2011 at 3:43 pm
#19 senhoradoutoraserena,
Daassss!
Tanta simpatia,tanta doçura.
Vá lá ver os testes «diagnóstico» ,em vez de passar aqui a vida a melgar.
Bejinho
Setembro 22, 2011 at 3:56 pm
#16
…E nas restantes áreas da governação. O PCP passou da clandestinidade para (tirando um curto – felizmente! – período de desgovernação, o frentismo gonçalvista/cpcon) para a oposição, onde se manterá indefinidamente. É mais fácil e cómodo para ele e também é o melhor para o país. Só vantagens!
Se o poder lhes caísse nas mãos (longe vá o agoiro!) ficavam atrapalhados e não sabiam o que fazer. A menos que se pusessem na oposição a si mesmos ou ao próprio país.
Ah, e o PCP também tem culpas no cartório pelo estado a que isto chegou: tem sido quase sempre uma oposição sistémica e pouco construtiva e alternativa, acabando por se acomodar ao seu lugar no quadro situacionista. Não espera nada do país e o país não espera nada dele. Enquanto os outros enterram o país, o PCP limita-se a fazer uma uma manif em frente do cemitério. Alivia a consciência revolucionária, mas não o destino colectivo…
Setembro 22, 2011 at 4:51 pm
20,
Não vai conseguir abandalhar este post…
Hoje deixo-o embirrar à vontade… Não precisa é de mostrar inveja por não lecionar uma disciplina em que há testes para corrigir e classificar…
Setembro 22, 2011 at 5:03 pm
#22 senhoradoutoraserena ,
Não seja assim,tão má !
Eu estou a brincar.
Bejinho
Setembro 22, 2011 at 5:09 pm
Desculpem-me a sinceridade, eu sou professor contratado que luta neste meio para conseguir colocação há tempo demais, há anos que tenho vindo a lutar contra as injustiças nos concursos de Contratação de Professores, e é com alguma falta de espanto que vejo agora cada vez mais claro, o caos a reinar nas contratações.
É como de repente ver o destapar da escuridão que sempre envolveu os concursos
Tantas vezes gastei o meu tempo (tal como o Ricardo tem vindo a desenvolver no blogue desta parte) a explicar aos colegas mais velhos e até da minha idade o estado actual das coisas, lembram-se do Cartel?
Os professores ao meu ver pouco fazem/fizeram para impedir que sucessivos governos os pisassem, sobretudo os mais novos e desprotegidos contratados. Agora que as coisas se viraram contra aqueles professores que atingiram o topo das listas de contratação estes aclamam veemente por justiça. Justiça esta que há muito cegou.
Não deixa de ser lamentável, toda esta situação, e eu considero que nunca foi justo para ninguém as alterações na politica desenfreada de sucessivos governos nas contratações de professores, mas como vivemos tempos em que toda a gente quer “um critério personalizado, uma recondução e um asterisco” vamos agora que estes procedimentos matam a verdade e igualdade dos concursos.
A culpa não deixa de ser nossa, da nossa preguiça em não combater o que esta errado, não defender quem esta ao nosso lado e deixarmos de olhar somente para o nosso umbigo.
Desculpem a sinceridade. Mas é com algum agrado que vejo finalmente nas televisões (após anos) os critérios maldosos e lesivos que danificam constantemente a pouca “democracia” que sobra nas escolas e recompensam os “compadrios” que se instalaram nas escolas.
Não somos todos iguais, mas as vezes parece-me que fomos arrogantes e não humildes, não fomos combativos, não nos defendemos e agora estamos a mercê destes “canalhas” que muitas vezes estão claramente identificados ao nosso lado nas escolas. Toda a gente vê, mas opta por não ver.
Desculpem mas não acham que é verdade?
Setembro 22, 2011 at 6:15 pm
Ei pá! O meu irmão está numa situação semelhante. Formou-se numa universidade pública (a do Porto), com 15 de média (só teve 16 no estágio, há orientadores e orientadores…) já lá vão 6 anos. Até ao momento conseguiu ZERO horários, nem nas AEC. Onde ele esteve (Gondomar) não deram prioridade a quem lá trabalhou no ano anterior. Resultado, quase todos os que lá estava foram preteridos “pelos mais antigos” que nunca quiseram trabalhar nas escolas do 1.º ciclo, mas este ano a coisa ficou mais complicada e toca a concorrer para as primárias…
Outros municípios do distrito do Porto (Maia, Matosinhos, Gaia e Valongo) mantiveram as mesmas equipas. Sorte a dos que lá trabalhavam e lá estudam.
Acrescento que o meu irmão é totalmente favorável ao exame de acesso à profissão, não estivesse ele farto de ver os colegas do secundário, que não conseguiram entrar numa universidade pública e que se formaram em privadas à frente dele nas listas da DGRHE.
Setembro 22, 2011 at 7:16 pm
# 10
Por favor corrija os erros!!!!
Setembro 22, 2011 at 8:04 pm
Culambistas…um texto que se aplica bem em muitas situações que todos conhecemos….
“Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma
> modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da
> revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve
> complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por
> todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber
> o cu de um jogador mais poderoso do que ele.
>
> Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de
> um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é
> identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os
> prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta.
> À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na
> hierarquia.
>
> Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era
> praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida
> prosaicamente como «engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os
> chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores, os jornalistas
> engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da
> caixa, etc… Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para
> passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da
> verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso.
>
> Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada. O
> menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o
> escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao
> Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava
> de um engraxador.
>
> Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se
> irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos
> até ao cu. O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a
> lambe-cu.
>
> Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação
> hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos
> e lamber um cu.
>
> Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se
> dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os
> estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing. Os
> praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do
> engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do
> Culambismo.
>
> (…) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão
> mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que
> a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de
> subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional. O
> culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de
> culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar
> inglês.”
>
> Miguel Esteves Cardoso, in “Último Volume”
Setembro 22, 2011 at 8:08 pm
#27
Até caí de cu!
Setembro 22, 2011 at 8:45 pm
Humm..
como já disse noutras paragens, já não dou para peditórios.
Se desse, dava para o do # 24.
Sim, acho que é verdade.
Em # 0 vemos uma porta e um nariz a esbarrar-se na dita cuja. Há quem tenha ainda mais anos disto e só tenha encontrado muralhas da China pela frente.
Alguém há de entender: qsft
Setembro 22, 2011 at 8:49 pm
#8
Há 3 anos tinha 2 com pulseira electrónica só numa turma. Chega para amostra?
Setembro 22, 2011 at 8:53 pm
#30:
estás em Matosinhos, pá?
(lol)
Setembro 22, 2011 at 8:53 pm
Grande Lisboa.
Setembro 22, 2011 at 8:55 pm
Colega CL,
O seu testemunho fez-me chorar. Nota-se que é uma pessoa muito bem formada. Desejo-vos um futuro mais risonho.
Setembro 22, 2011 at 9:02 pm
#24
Sinceramente não vejo substanciais diferenças entre o vosso hoje e o meu ontem. Talvez por isso mesmo me impeço de condescender com um certo tipo de lamúrias. Sei que não levaram no passado (nem levarão no futuro) a lado algum.
Além disso vi, noutros países, a transformação da classe docente, entre outras, a sua proletarização e desqulificação, ao ponto de passar a ser assumida por minorias. Percebi que certas lutas, em tempos de excesso de oferta, estão condenados ao fracasso. Pugno por que se mude a luta. Sobrevivi e penso que vocês sobreviverão. Mas é cada vez mais oportuno pensar em fazer agulha para outra carreira ou outras paragens.
Setembro 22, 2011 at 9:14 pm
Excelente testemunho!!! É a triste realidade que temos!
Eu tb sou contratada, com 17 anos de serviço e este ano,pela primeira vez em muitos anos, fiquei com um miserável horário de 13h a 50 km de casa por uma horrível estrada de serra. Estou triste, desagrada, mas tenho que prosseguir, pois tenho um filho para criar.
Colega, tenha esperança! Melhores dias virão!
Abraço
Setembro 22, 2011 at 9:17 pm
#24,
Também pode encarar as coisas deste modo: há um grupo de pessoas que (sem desmerecer os protestos organizados e de rua), a começar pelo Ricardo Montes que tem mantido muitas destas questões sempre presentes.
Setembro 22, 2011 at 9:20 pm
grande reportagem na sic sobre a madeira 5 estrelas….livresco grava e posta….
Setembro 22, 2011 at 9:22 pm
F4 BALELAS…..ISSO DE PULSEIRA ELECTRÓNICA É TUTU..E ALUNOS QUE AMEAÇAM COM NAVALHAS PROFESSORES ENCOSTADOS A SI?
SE A BALOFICE PAGASSE IMPOSTO ESTE F4 COBRIA O BURACO DA MEDIRA…
Setembro 22, 2011 at 9:24 pm
Vá para a CHINA TEM FUTURO….É UM PAIS EMERGENTE…
Setembro 22, 2011 at 9:26 pm
Filho, porque pensas que um deles voltou para dentro a meio do ano? E até gostava da escola: era a desculpa que tinha para se afastar de casa sem punição. Mas, apesar de tudo, ninguém se queixou.
Setembro 22, 2011 at 9:27 pm
Passei a idade. Caso contrário ia. Embora não fosse a minha primeira escolha.
Setembro 22, 2011 at 9:36 pm
#39. Nós estamos no país submergente
Setembro 22, 2011 at 9:42 pm
POIS É….vai ver las vaches que riem na carraça…
Setembro 22, 2011 at 9:46 pm
la vache qui rit…de nós?
Setembro 22, 2011 at 9:46 pm
hoje há bola?
Setembro 22, 2011 at 9:51 pm
NÃO MAS AS BOLAS DAS GÓNADAS ANDAM POR AÍ À SOLTA…AMAMHÃ É QUE SIM ACHO QUE NO PORTO SE REALIZA O S.PAULO DEPORTIVO DE BARARANQUILHA OU BOCA DE BROCHE DE BUENOS AIRES QUALQUER COISA
Setembro 23, 2011 at 2:12 am
Devo submeter quase tudo o que a colega afirmou, pois encontro-me numa situação semelhante, como centenas de nós e concordo quase com tudo o que disse, menos na questão das colocações em algumas escolas TEIP. Eu sei que a maioria das ofertas de escola têm critérios tão específicos, que mais valeria começar a introduzir também a cor dos olhos, o número que calça, etc. Mas de facto, quando estas escolas eram reservadas aos DACL, muitos foram os que tentaram afastar-se, pelo que os menos experientes tiveram de ficar com esses lugares. Pessoas com médias e graduações inferiores que aprenderam a trabalhar com crianças e jovens diferentes, em contextos desfavoráveis por vezes e que reúnem um sem número de ferramentas que não foram as Universidades que as dispuseram. Eu compreendo a colega, tive um boa média, numa Universidade igualmente conceituada, mas sei que as notas e as ferramentas que nos são dadas no ensino superior não são os únicos indicadores do nosso trabalho e da nossa qualidade como professores. Tive colegas excepcionalmente bons com notas baixas em estágio e o contrário, tudo muito subjectivo, como sabe. Mas, num contexto específico como as TEIP, temos de ser coerentes, e se muitas escolas mentem, umas quantas precisam de pessoas que dêem continuidade a projectos de trabalho intenso que se fazem em muitas TEIP, e muitas dessas escolas já encontraram esses profissionais. Porventura seria justo privar os alunos desta consistência no trabalho?
Mas relativamente a tudo o resto, concordo e discordo que não haja lista seriadas na maioria das escolas com a ponderação dos critérios através de pontuação, para que, mesmo favorecendo os mais experientes, haja lugar para quem quer trabalhar.
PS – Não, nunca consegui colocação numa TEIP 🙂
Setembro 23, 2011 at 3:19 am
# 24
Devo também concordar com o este comentário e, sem querer entrar em quezílias, acrescentar que muitos dos colegas que estão indignados com a situação, os colegas do topo das listas, enquanto a situação os beneficiou, não lutaram, acomodaram-se, como é natural do humano. Os contratados mais novos, pouca voz têm… muitos dos que surgem nos finais das listas, concorrem por formalidade, porque nem se quer exercem e os que ficam são inexperientes e não sabem de muito. A verdade, é que, não lutámos, novos, velhos e as injustiças já vêm de trás… o que se está a passar neste momento é diminuto, tendo em conta as injustiças que têm vindo a ser cometidas e, pior, consentidas. E para além do mais, e em tom de desabafo, não está a passar-se nada, na Bolsa de Recrutamento, que não se viesse a passar há anos, Já fiquei em temporários de um mês, já fiquei em horários temporários o ano inteiro… A diferença, este ano, é que somos muito mais na mesma situação…
Setembro 23, 2011 at 5:05 am
[…] Leia mais: A Bolsa De Recrutamento: O Testemunho De Um(a) Candidato(a … […]
Setembro 23, 2011 at 11:40 am
Muito foi já dito acerca da carta que enviei. Concordo também com o que diz, Andreia Rocha, no entanto, o facto de não ter trabalhado em TEIP não quer dizer que muitas das escolas por onde vamos passando não sejam merecedoras dessa denominação. Desde CEFs problemáticos, a PIEF com alunos que já conhecem bem de perto o mundo da criminalidade. Escolas nas proximidades de bairros sociais com alunos que têm lacunas a vários níveis e que se comportam na escola como (não) lhes ensinaram. No entanto, em todas estas situações que vivi e que foram duríssimas experiências de ensino, não sendo TEIP, o trabalho de um ano também não teve continuidade no seguinte. Não quer dizer que quem ficou com as turmas não viesse a fazer um trabalho óptimo.
Também sou a favor de estabilidade, mas não a todo o custo, digo todos os critérios. Ou então essa estabilidade estaria disponível para todos, o que não é possível, porque deixaria de fora do sistema um grande número de docentes. Há que repensar muita coisa nos concursos.
Concordo com o facto de muitos docentes só agora estarem preocupados, pois só agora lhes tocou a instabilidade. Não sou um desses casos, a instabilidade esteve sempre presente, nunca tive uma recondução, nunca fiquei colocada a 31 de Agosto. Comecei na segunda prioridade (outro critério muito questionável, que se torna um círculo vicioso para quem não trabalha porque não trabalhou, e no ano seguinte continua a não trabalhar porque não trabalhou – alguma vez tem de ser a primeira, ser preterido por isso não é racional). Fui-me aproximando, com esforço, das primeiras páginas da lista. Não ando nisto há assim tantos anos como outros colegas, eu sei. Trabalho desde os 21, faço agora 30. Mas se para conseguir vencer na vida, no caso dos docentes, são precisos mais de 20 anos como é o caso de muitos colegas que ainda são contratados, não vejo qual o motivo de nos andarmos a iludir. No privado, depois de 3 anos estamos no quadro. Enquanto as regras não forem iguais para todos não me parece que haja democracia. O nosso mal sempre foi a desunião, a proliferação de sindicatos e a não existência de uma ordem forte como no caso dos médicos e engenheiros. De uma vez por todas, ou somos necessários ou não somos. Senão estamos sempre na estaca zero. Injustiças vai haver sempre, mas há que minorá-las. Ainda vai chegar o dia, e não estará tão distante como se pensa (basta ver outros países), em que vão faltar professores nas escolas. A maior parte dos que terminaram o curso comigo não são professores. Alguns estão no estrangeiro. Não deitaram fora 5 anos de curso mas quase. O meu erro foi perseguir o sonho. É hora de acordar.
Setembro 23, 2011 at 12:52 pm
#50,
acabou de fazer os 30?
Parece-me ( é de certeza) uma pessoa razoável e inteligente, apesar de ter andado ( é normal tb, é ainda nova) na estratosfera.
É muito nova e está muito a tempo de mudar o rumo da vida profissional.
Concordo que é a hora de “acordar” e que deve tomar a iniciativa de ir para outras paragens, noutro percurso.
Era o que eu faria se tivesse a sua idade.