Vem aí uma reforma curricular mais alargada do Ensino Básico que se espera não ficar resumida a cortes nas excrescências, sem compensar o núcleo duro do currículo.
Mas antes disso seria interessante que os actores em presença revelassem algum conhecimento do que falam. Não sei se foi do Verão atípico, mas alguns representantes parecem não estar bem neste mundo. Sobre o desejo de Nuno Crato revogar o documento das Competências Essenciais definidas para o Ensino Básico João Dias da Silva,
Ora o que acontece é que as competências concretas já estão disponíveis em outro documento que, com mais ou menos defeitos, já existe, as Metas de Aprendizagem.
O que se torna progressivamente evidente é que, quando se sai da área das disputas laborais e políticas há demasiada gente a não saber do que fala, mas a falar disso com a confiança que só a total inconsciência permite.
Mas não me estou a referir especificamente apenas a Dias da Silva, pois no actual MEC cada vez se nota mais a falta dos pré-requisitos essenciais para passarmos a uma nova fase do processo de…
Setembro 4, 2011 at 10:55 am
Paulo qualquer reforma que aí venha vai ter o cerne da questão no cortar e quase nunca no formar…
A ECONOMIA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO
O modo de produção capitalista está cheio de autocontradições internas. O campo da educação e formação também não é excepção. O conhecimento em si não produz valor, mas constitui uma necessidade objectiva do capital, sob o ditame do desenvolvimento das forças produtivas. Uma vez que nesta sociedade quaisquer gastos têm de ser apresentados na forma do dinheiro, os encargos do sistema de ensino constituem “custos mortos” em sentido capitalista, isto é, uma dedução à mais-valia social. Por isso em toda a parte se invoca a necessidade de investimentos na educação, em nome da concorrência pela localização das empresas, estando, no entanto, a produção e distribuição do conhecimento simultaneamente sob enorme pressão dos custos.
Esta contradição tem vindo a intensificar-se historicamente. O mesmo desenvolvimento das forças produtivas que obriga à expansão do conhecimento e da educação tem reduzido, por outro lado, o sector (especialmente da base industrial) que produz mais-valia real, uma vez que a força de trabalho se tem tornado supérflua numa escala cada vez maior. Enquanto a famosa classe operária “produtiva” diminuiu relativamente e hoje constitui uma minoria na sociedade, cresceram em contrapartida as novas classes médias em grande parte “improdutivas” do sector da educação e do conhecimento. Do ponto de vista capitalista, este desenvolvimento só pôde ser representado num crescente financiamento a crédito dos respectivos “custos mortos”, um aspecto pouco discutido da crise financeira geral.
A massificação das qualificações superiores (na Alemanha, cerca de metade dos estudantes que em cada ano concluem o ensino secundário) e, consequentemente, da sua oferta conduz a uma desvalorização da força de trabalho qualificada, de acordo com as leis do mercado de trabalho. Com a pressão dos custos sobre o sistema de ensino, “improdutivo” do ponto de vista capitalista, desenvolveu-se uma progressiva precariedade também dos estratos sociais com formação académica. A antiga classe média com formação superior está condenada ao declínio. Acresce a isso a discrepância entre a qualificação e as exigências da conjuntura económica. Como o contexto social não está sujeito a um planeamento conjunto, mas sim a uma dinâmica cega, algumas qualificações tornam-se subitamente supérfluas ou com excesso de oferta, enquanto outras faltam. A formação só se faz a longo prazo, enquanto os perfis procurados mudam constantemente, de acordo com a concorrência global.
Entretanto, estamos confrontados com o mesmo problema em todo o mundo. Em todos os países há nomes semelhantes para a situação que na Alemanha é designada por “Geração Estágio” e que revelam a situação social na verdade difícil da “geração Facebook”. Precisamente porque o desnível escolar foi parcialmente nivelado entre o centro e a periferia capitalista, torna-se dramaticamente notória a ausência de perspectivas de uma geração educada de jovens nos países mais pobres. Esta é (ao lado da explosão dos preços dos alimentos) uma das razões para as revoltas actuais no mundo árabe. Mas também na China ou na Índia cresce o abismo entre a qualificação em massa e o emprego. Não se trata dos chamados deficits democráticos, mas de uma contradição estrutural, insolúvel no capitalismo, na relação entre educação e economia. A questão é saber se o “proletariado académico” globalmente massificado converte a sua precarização na ideia de uma nova emancipação social para todos, ou se pretende apenas afirmar-se no capitalismo e digere ideologicamente a inevitável frustração. No segundo caso será preciso contar com o pior.
Original POLITISCHE ÖKONOMIE DER BILDUNG
Setembro 4, 2011 at 11:11 am
http://bulimunda.wordpress.com/2011/09/04/maximas-para-o-ano-escolar-que-ai-vem/
Setembro 4, 2011 at 11:42 am
#1
Muito interessante. Tem algum link?
Setembro 4, 2011 at 11:43 am
Sim Américo este..tem os textos do homem..e vão sendo actualizados…
http://obeco.planetaclix.pt/robertkurz.htm
Setembro 4, 2011 at 11:56 am
Setembro 4, 2011 at 12:00 pm
Concordo, na substância e no tom.
Setembro 4, 2011 at 12:04 pm
http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/conselho-de-escolas-quer-alterar-estatuto-do-aluno_1510051
Setembro 4, 2011 at 1:17 pm
# 7 – ainda bem. Estranho é a referência ao “limite de faltas” – porque não existe, é um mero exercício de retórica e um promotor de trabalho acrescido e burocrático para os professores. O limite é para o DT, e restantes profs, não para os alunos.
Setembro 4, 2011 at 1:23 pm
Se isto não se transformar no “nhé, nhé, nhé!” do costume…
Se acabassem com a coisa estúpida chamada “aula” de substituição…
Setembro 4, 2011 at 1:57 pm
#3
bulimundo, obrigado.
Setembro 4, 2011 at 5:29 pm
# 8
concordo consigo.
Quando se porá cobro a essa desavergonhice das faltas e justificações?
E o problema é que há colegas que aceitam todo o tipo de justificação, mesmo as que não têm enquadramento legal, argumentando que se são os próprios pais/EE a justificar, que temos de aceitar e tal…
Já tive amargos de boca com alunos, porque me diziam «pois a senhora não aceita a justifi., mas o(a) seu/sua colega fulano(a) tal aceitava…».
Nesta matéria, há mesmo necessidade de maior coragem e rigor. Há miúdos muito mal habituados… Às vezes, digo a alguns: «os empresários ou outro tipo de empregadores deviam exigir o vosso cadastro escolar, para terem uma ideia do quão faltistas vocês são e, decidir se vocês lhes oferecem garantias de assiduidade (e pontualidade, outra pouca vergonha!) ou não.» Furiosos? Nada disso. Indiferença total e até algum sarcasmo como resposta.
Culpa têm, também, alguns paizinhos que justificam tudo aos meninos e lhes aparam os golpezinhos todos…