É verdade que se diz que há muitos sindicatos de docentes. Mas agora temos um fenómeno novo que o associativismo de dirigentes escolares. Para representar poucos milhares de dirigentes (menos se contabilizarmos apenas os directores propriamente ditos) há duas associações (ANDE e ANDAEP) e um conselho promovido pela tutela (Conselho de Escolas).
O que significa que existem três vozes só para os dirigentes escolares: Manuel António Pereira (ANDE), Adalmiro Fonseca (ANDAEP) e Manuel Esperança (Conselho de Escolas).
O primeiro deles tem hoje uma entrevista publicada no Expresso onde oscila entre o diagnóstico correcto de muitas das perturbações que afectam a vida das escolas (necessidade de envolver mais os EE, intromissão excessiva do ME em algumas questões, indicações contraditórias para o arranque do ano lectivo) e a reivindicação microcorporativa (mais autonomia em poderes para os directores, algo que todos repetem), não esquecendo as análises incompletas (a avaliação por professores de outras escolas é possível e o próprio explica como – com meios financeiros e crédito horário).
Como é Verão, destaco apenas um outro aspecto, que é aquele com que finaliza a entrevista: diz Manuel António Pereira que “os alunos não vão buscar nada à escola que não haja em casa. A escola tem de competir com a Internet, a Playstaion, tudo e mais alguma coisa que eles têm”.
Evitando outras questões aqui levantadas (nem todos têm isso em casa), diria que os alunos não têm casa algo essencial: os professores.
E, custa-me ter de o relembrar isto a um colega (suponho que ainda se considere professor), nunca devemos esquecer que são os PROFESSORES quem faz a diferença entre a escola e a casa e são o valor acrescentado que aquela apresenta sobre toda a diversão que eles possam ter algures.
Se os professores têm de se tornar mais atractivos para que os alunos se interessem?
Se os deixarem ser PROFESSORES na verdadeira e mais completa acepção do termo e da missão/função, a Playstation só aguenta os primeiros embates.
Expresso, 6 de Agosto de 2011
Agosto 6, 2011 at 3:47 pm
Essa de a escola não acrescentar nada ao que têm em casa, à playstation e à internet, é um rematado disparate que se vem vulgarizando e que acho vergonhoso que venha agora um director repetir a balela. Para além da questão da falta dos professores, que já foi salientada, há outros aspectos…
Qualquer professor que tente fazer um trabalho sério de uso da internet na procura de materiais para preparar boas aulas se deparará com a realidade de que a informação disponível muitas vezes não é relevante, está repleta de erros, é incompleta e pouco consistente. Também se encontram em alguns casos verdadeiras pérolas, é verdade. Mas não me parece que uma cultura geral construída apenas a partir do que se encontra casualmente na net seja algo de consistente ou possa competir minimamente com o currículo escolar, mesmo tendo em conta os defeitos e insuficiências que este possa ter.
Agosto 6, 2011 at 3:51 pm
Concordo plenamente, deixem os professores competir com as Playstation e a maioria ganhará aos pontos. Uns com maior, outros com menor dificuldade. No entanto haverá um número significativo de professores a ser vergado pela máquina. Muitos deles classificados como “excelentes”, é que a realidade dos factos não se compadece com avaliações de faz-de-conta.
Agosto 6, 2011 at 3:55 pm
“”são os PROFESSORES quem faz a diferença entre a escola e a casa e são o valor acrescentado que aquela apresenta sobre toda a diversão que eles possam ter algures””
Na mouche !!!
Agosto 6, 2011 at 4:09 pm
Agora que estamos nessa coisa da avaliação externa gostava de dar a minha avaliação ao colega Manuel ANtónio Pereira (estou como o Paulo, ainda se considera professor?): Na área de conhecimento explícito da profissão de ensinar – Insuficiente. Recomenda-se que faça uma formaçãozinha (se for não eduquesa tanto melhor) e volte a frequentar as salas de aula como professor e experimentar o que é estar d outro lado da barricada (ajuda sempre a evitar dizer umas asneiras).
Agosto 6, 2011 at 4:26 pm
Seria desejável que o papel da Escola fosse assumido e respeitado pela sociedade portuguesa e que a comunicação social o entendesse.
Por outro lado não está claro, para todos, quais os valores e qual o modelo de sociedade que Portugal pretende transmitir às novas gerações.
Ao mais alto nível são transmitidas mensagens contraditórias e equívocas.
Queremos uma sociedade democrárica? Que viva em Paz?
Se sim, como funciona a justiça?
Se sim, que modelo de economia desejamos construir?
Queremos uma sociedade do vale tudo, dos chicos-espertos, do salve-se quem puder, onde impere a lei do mais forte, a informação de pacotilha disfarçada de conhecimento?
Esta imagem chega todos os dias e percebo que os mais novos coloquem a música alto, se dediquem aos jogos de computador e na escola privilegiem o aspecto lúdico…
Queremos que a escola seja motor, ou apenas espelho da sociedade?
O que esperamos que os mais novos façam com esta herança?
Podemos orgulhar-nos da herança que lhes estamos a deixar?
Qual é o papel que os mais novos têm? Ou já estão excluídos?
Agosto 6, 2011 at 4:48 pm
A imagem transmitida por MAP relativa ao papel do trabalho docente, se pensarmos bem, é a que se adequa ao estatuto que a ideologia dominante confere ao saber, à sua construção e transmissão, em que a Escola figura como caso paradigmático.
De facto, só quando já se reduziu o conhecimento a algo da ordem do coisificável, do objectivável, é que é possível conceber e colocar o ensino ao nível de uma pedagogia procedimental, traduzida numa série de operações técnicas, mais ou menos padronizáveis, que se podem decompor, quantificar e seriar, i. e, classificar, processo a que as “ciências da educação” outorgam a “legitimação científica”.
O resultado é o que se vê, e que MAP se contenta em enunciar, promoveu-se um tipo de “docência gerencial de situações de aprendizagem”, mesclada – para responder à pressão das disfuncionalidades sociais crescentes – com técnicas de pendor assistencial ou ocupacional, num espaço social/escolar cada vez mais desumanizado.
Agosto 6, 2011 at 4:49 pm
Entao, ainda bem que as minhas filhas vao a escola.
Ca em casa nao ha playstations!
Agosto 6, 2011 at 5:04 pm
“os alunos não vão buscar nada à escola que não haja em casa. A escola tem de competir com a Internet, a Playstaion, tudo e mais alguma coisa que eles têm”.
Tenho de o dizer, este senhor desconhece os objectivos mais elementares da escola. Com diagnósticos destes imagino as soluções que apresentaria.
Agosto 6, 2011 at 5:33 pm
Isto é nivelar por baixo a importância da escola! Directores para quê?!
Porque é que este senhor não fala do que sabe? Por exemplo, como é que alguns dos os antigos presidentes dos CE, com a ajuda dos conselhos transitórios, blindaram os estatutos para se auto-elegerem directores…
Agosto 6, 2011 at 5:34 pm
Qualquer comentário ao que disse Manuel Pereira seria um elogio, porque seria dar-lhe importância. Assim “aos costumes digo nada”.
Agosto 6, 2011 at 5:56 pm
#9
É pá, até que enfim …! julgava que mais ninguém tinha sido testemunha do que os meus olhos viram, na eleição da directora! Que conluio vergonhoso entre os elementos da CAP e a directora! E como tudo foi cheio de truques … e … truques … e… truques!
E vêm estas personalidades confiar a nossa avaliação a esta gente que vendeu a alma ao diabo só para não dar aulas fôsse lá o preço que fôsse, em questão …!
Agosto 6, 2011 at 6:18 pm
Entretanto pelo Chile, esse país modelo para a avaliação docente…
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1947312
Agosto 6, 2011 at 6:24 pm
Parece-me que o MAP foi um tanto infeliz nalgumas partes da entrevista!
Essa de dizer que os alunos não vão aprender nada à escola, quer dizer o quê?
Será que se ele não tivesse tirado o curso do Magistério e algo mais seria igualmente assim só com as tecnologias?
Agosto 6, 2011 at 6:52 pm
As escolas dão, em muitos casos, o que nao há em casa: comida, afecto, compreensão e ouvidos!
Agosto 6, 2011 at 7:34 pm
#11
Será possível estarmos a falar da mesma escola?! O mais provável é que existam réplicas por esse país fora… Reforço a ideia de concluiu e das pequenas festas organizadas entre gente que se auto-promove numa rede de influência para ficar bem visto e chegar a representante de qualquer coisa, coordenador de projectos quaisquer ou ser assessor (cargo + desejado)…
Nunca tinha visto nada assim em mais de uma dezena de escolas por onde passei…
Agosto 6, 2011 at 8:48 pm
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/professora-e-condenada-a-pagar-5-mil-por-puxao-de-orelha
Agosto 6, 2011 at 11:09 pm
«Se os deixarem ser PROFESSORES na verdadeira e mais completa acepção do termo e da missão/função, a Playstation só aguenta os primeiros embates.»
Esta foi muito bem tirada… A Playstation e, com o máximo respeito pelo senhor, que não conheço, ele próprio.
Agosto 6, 2011 at 11:18 pm
#1
Nada do que apontaste parece estar nos horizontes visuais próximos do senhor entrevistado. O que me parece ser suficiente para poder dizer que o cavalheiro se limita a repetir um discurso estafado que é uma das linhas orientadoras do eduquês. Pelo menos no que toca à comparação que é feita entre a casa e a escola. Nem quero já, porque é férias, falar do uso que os meninos quando deixados sozinhos fazem da net. Se não fosse a escola e os respectivos professores, pobrezinhos dos alunos… A ideia veiculada tem o ADN numa outra que o aprendente só precisa de saber onde procurar a informação. O resto é com a sua competência inata, genética. Um colossal disparate.
Agosto 7, 2011 at 1:29 am
“Não peçam demais à vida”, cantava Amália Rodrigues. O Sr. se calhar não entra numa sala de aula há anos?! Porque razão este tipo de pessoas não está caladinha em vez de dizer tanto disparate?! Ele tem lá noção do que significa ser professor… Se somos capazes de competir com a net ou a playstation… claro que sim e é todos os dias um desafio gigantesco. Adoro ser profª e se voltasse atràs, voltaria a ser profª. não minimizando os aspectos negativos.
Agosto 7, 2011 at 9:33 am
Quanto tempo demorará até que alguém do ME perceba que os problemas da escola passam por acabar com os poderes destes directores incompetentes. Dar-lhes poder é mais um sinal do total desconhecimento do terreno.