Santana Castilho continua, no Público de hoje, o seu acerto de contas com Pedro Passos Coelho e Nuno Crato, a quem agora designa, quando acha giro, por Nuno Arrobas, com um estratagema retórico digno de um recreio de Primária.
Mas o que é pior é a forma como exalta os seus dez princípios sobre a ADD que estão impressos nas páginas 99-100 do seu livro mais recente, enquanto procura derrubar os cabalísticos sete daquele que ficou como MEC em vez dele.
Faz ataques descabelados (sim , eu sei, também estou a usar um truque retórico básico, mas mais ao nível do 2º ciclo), esquecendo a insuficiência da própria obra.
Atenção ao auto-panegírico:
A desonestidade política de um dos partidos que agora representa no Governo, o PSD, não o obrigava a si, Nuno Arrobas, ministro, a dar a pirueta final duma sucessão sem escrúpulos. O senhor tinha dez princípios orientadores inscritos no programa eleitoral do PSD. Os mesmos assumidos na proposta de lei apresentada na Assembleia da República pelo respectivo grupo parlamentar. Aqueles que eu escrevi, a pedido de Passos Coelho, e que ele exibiu com orgulho quando interpelado por Clara de Sousa na SIC. Ao ignorá-los agora, olimpicamente, o senhor mostrou que não sabe nem quer aprender. Porque aqueles princípios eram um expediente certo, política e tecnicamente, para acabar com o monstro kafkiano.
Santana Castilho ensina Nuno Crato e o país. Se não fosse ele, andaríamos num lodaçal de ignorância sobre ADD. Mas se formos ler os princípios enunciados por Santana Castilho o que encontramos?
Vejamos logo o segundo:
O modelo de avaliação e classificação do desempenho das escolas e dos professores deve prever um sério escrutínio técnico, de natureza pedagógica e científica por parte das associações representativas da comunidade educativa, de modo a garantir-lhe credibilidade e exiquibilidade.
O que quer isto dizer? A sério! O que são associações representativas da comunidade educativa? Associações de Professor de cada disciplina, se entendermos comunidade educativa no sentido lato? E se a entendermos no sentido restrito de cada comunidade educativa local?
O quarto e quinto princípios baralham-se entre si. Num, o desempenho da Escola é o somatório do desempenho dos seus actores (quais são? apenas professores e alunos?), no outro o quadro de desenvolvimento da escola deve ser o referencial da avaliação e não se confundir com a multiplicidade dos percursos individuais dos seus docentes. Não é difícil perceber que estes dois princípios se contradizem, quando encarados numa perspectiva prática.
Passemos ao sexto:
A avaliação do desempenho deve visar a gestão do desempenho, isto é, ter como resultado prioritário a determinação dos obstáculos ao sucesso do ensino e a sua remoção, numa lógica formativa.
Isto é eduquês tanto na linguagem como no conteúdo. No fundo, o que se pretende com esta lógica é remover os obstáculos ao sucesso através da avaliação do desempenho do professor. É a lógica do professor-culpado, mesmo se com véus.
O sétimo princípio (como outros) é exactamente igual ao proposto agora, ou seja, a dilatação dos períodos de avaliação para a duração dos escalões na carreira.
O oitavo princípio é a defesa de uma avaliação externa preponderante, removendo os malefícios da classificação inter-pares.
No nono temos mais uma proclamação tão vaga quanto as que se criticam:
A avaliação e a classificação do desempenho [todos os princípios começam assim] devem ser consequentes, num quadro de correspondência entre autonomia e responsabilidade.
O que quer isto dizer? Vá lá, a sério, meus caros defensores de Santana Castilho a Ministro, Já!, digam-me o que significa isto…
Por fim, o décimo princípio é a defesa do papel de uma IGE que todos sabemos não ter meios para fazer o que se enuncia:
A avaliação e (…) devem constituir referenciais dominantes da acção de supervisão formativa da Inspecção-Geral da Educação e instrumentos axiais de uma política de garantia da qualidade do ensino.
Desculpai-me todos aqueles que acham que SC é a quinta essência da clareza de princípios em matéria de ADD. Lamento, mas para mim isto é conversa tipicamente dos anos 90 coutistas e benaventistas, só que deslocada da avaliação dos alunos para a avaliação dos professores.
Isto é o eduquês aplicado à ADD. Os referenciais, os axiais, as supervisões formativas e outros vazios que tais.
Nuno Crato não precisa que o defendam, tem obrigação de o saber fazer e de muito mais coisas do que isto. Não é isso que aqui faço.
O que faço é demonstrar a mistificação que Santana Castilho insiste em repetir, atribuindo-se a si mesmo um monopólio de clareza de princípios que em nenhum ponto é possível encontrar nas suas ideias, pelo menos nas que apresentou impressas há poucos meses.
Se o caminho de Crato é vago e indefinido, o de Castilho apenas lhe acrescenta três pontos.
Numa perspectiva de formação supervisionada, desculpem, de supervisão formativa.
Axial.
Mas não de axila.
Deixemo-nos de tretas, ok?
Nota final: o papel que PPC mostro a Clara de Sousa era um A4 com amplas margens brancas? Já tinha visto um parecido, antes, em outra ocasião.
Agosto 3, 2011 at 2:48 pm
Comecei a ler o artigo de Santana Castilho e não o acabei. Pareceu-me demasiado demonstrativo de uma profunda dor de cotovelo. Ficava-lhe bem fazer uma pausa.
Agosto 3, 2011 at 2:53 pm
Catillo? Esse não é um extremo que veio para o Sporting?
Agosto 3, 2011 at 2:56 pm
“ataques descabelados” adorei!
Agosto 3, 2011 at 2:57 pm
Não acho que seja ao nível do 2º ciclo, acho do 3º, aí pelo 7º ano.
Agosto 3, 2011 at 2:57 pm
O Ramiro estará bem? Continua sem dar noticias. Alguém sabe de alguma coisa?
Agosto 3, 2011 at 3:02 pm
Paulo, fora do post- ainda não vi, oivi ou li nada sobre os alunos com nee, o que sabe?
Agosto 3, 2011 at 3:02 pm
onde se lê “oivi” deve ler-se “ouvi”.
Agosto 3, 2011 at 3:07 pm
‘O que são associações representativas da comunidade educativa?’ EEs, representantes das autarquias, CG, professores, directores, alunos?!
Será?
Agosto 3, 2011 at 3:08 pm
Quem se mete com o Castilho leva…bengaladas!
Agosto 3, 2011 at 3:10 pm
Pois….também estou preocupada com o Ramiro Marques 😦 não costuma desandar sem dizer nada….estranho!
Quanto ao SC ficava-lhe muito bem menos inveja e mais elegância e compostura nas observações que faz. Afinal o PPC fez muito bem em não lhe ter dado mais importância do que a que ele tem. Se agora fala assim, se tivesse poderes acrescidos, ninguém lhe chegava! Detesto gente invejosa!
Agosto 3, 2011 at 3:12 pm
‘Lamento, mas para mim isto é conversa tipicamente dos anos 90 coutistas e benaventistas, só que deslocada da avaliação dos alunos para a avaliação dos professores.’
Ora…pois é mas antes na nossa ADD do que na dos alunos, sempre ficamos mais fofinhos. Que o eduquês sirva para alguma coisa…
Agosto 3, 2011 at 3:14 pm
Castilho de há muito que se parece, de facto, com uma peixeira ‘descabelada’. Até os ataques às anteriores equipas do ME eram de uma má criação a toda a prova. Quem diria que este senhor, em tempos, escreveu grandes textos de didáctica e avaliação.
Agosto 3, 2011 at 3:27 pm
Mas vocês não tinham feito as pazes?
Agosto 3, 2011 at 3:33 pm
SC devia parar um pouco nesta obsessão pelo NC.Qualquer dia dá-lhe o “treco”. NC foi apanhado no meio da contenda entre PPC e SC. e está a servir de saco de boxe.
Agosto 3, 2011 at 3:36 pm
Passo.
Agosto 3, 2011 at 3:45 pm
Parecem-me guerras de alecrim e manjerona estas tricas entre barões e baronetes do PSD ou que andam lá perto. Com alguns golpes baixos à mistura, o que é sempre de lamentar.
Se fosse mera troca de galhardetes, a gente ainda gozava um bocado. O pior é que tudo isto mexe com a nossa vida e com a nossa profissão. Com a educação dos nossos filhos e o futuro do nosso país…
De resto, pode bem o Santana continuar a sua cruzada ressabiada anti-Crato enquanto este faz ouvidos de mercador. Convenço-me cada vez mais que nem Crato nem Santana, se lá estivesse, têm hipótese de determinar verdadeiramente a política educativa que está a ser decidida algures, numa linha intermédia entre o “poupar” e o “fingir que se muda para manter tudo o que está”…
Agosto 3, 2011 at 3:47 pm
Na essência os modelos de avaliação não podem ser diferentes…
“não podem”, se o lema for: contenção extra de gastos (carreiras/ progressões/diminuição de pessoal); se a realidade for: falta de tempo para formar avaliadores; contudo, avaliar ou “determinar valor” supõe uma “tabela”… comparação … distinção… há volta a dar? Acho anedótico as novas propostas de modelo…anda o pessoal à procura da “pedra filosofal”… tsc tsc e só encontra lamaçal, lodoçal… o problema é da rima.
Agosto 3, 2011 at 3:49 pm
#6,
Acho que tudo se mantém.
#13,
A sério?
Consegui ter assim uma malha tão fina na ironia?
Agosto 3, 2011 at 3:53 pm
Parece-me que o maior responsável pelo presente é sem dúvida o CRATO. Ele é que pode fazer algo pela Educação!!!
Se as medidas do Castillo teriam resultado ou não, isso não podemos verificar para já!
Sabemos sim que as do CRATO é mais do mesmo!
A Escola e o seu ambiente em nada melhorará!
E aposto já hoje…
Os resultados da Mat. e da LP só irão melhorar no próximo ano se os exames forem mais fáceis… ou os critérios mais “abrangentes”!
De resto mais do mesmo…
Há escolas em que o ambiente entre professores não passam de uma troca de olhares…
O resto está nos papéis cozinhados para a Inspecção…
Agosto 3, 2011 at 4:04 pm
#19
” Há escolas em que o ambiente entre professores não passam de uma troca de olhares…”
Muito pacíficas, essas escolas! Quem nos dera.
Agosto 3, 2011 at 4:08 pm
Paulo,
pude observar o seguinte:
– Por cada artigo que Santana Castilho escreve a “malhar” no PPC ou no Nuno Crato há um artigo do Paulo Guinote a “malhar” no Santana Castilho.
– Por cada desconsideração pessoal que Santana Castilho faz a PPC ou NC há uma desconsideração pessoal feita pelo Paulo Guinote a Santana Castilho.
– Por cada vez que o Santana Castilho se auto-elogia o Paulo Guinote põe-se em bicos de pés a dizer que tb sabe ou participou.
Pelo que concluo:
– A “rancor” do Santana Castilho está para PPC tal como o “rancor” de Paulo Guinote. está para o Santana castilho.
– A dor de cotovelo de Santana Castilho não ter sido feito Ministro é directamente proporcional à dor de cotovelo do Paulo Guinote por ter sido o Santana Castilho o escolhido de PPC no momento pré-eleitoral.
– A alegria do Paulo Guinote pelo Nuno Crato ser ministro da educação deve-se em grande parte por Santana Castilho não o ser.
beijinhos.
😉
Agosto 3, 2011 at 4:10 pm
Pois, as escolas e os professores, a educação em geral é campo de batalha apetecível para todos os generais esgrimirem espadas em todas as direcções, sem que algum se importe com os mortos que vão ficando espalhados no chão.
Agosto 3, 2011 at 4:22 pm
O que é que se pode concluir dos comentários anteriores?
Se a escola é “um campo de batalha” ou “troca de olhares” porque será? Porque as pessoas não sabem gerir emoções, trabalho, conflitos… independentemente de modelos…
Antes de se falar em “avaliação”, “isso” não havia? Sempre houve. Existiu sempre quem trabalhou e trabalha, e os que fazem o trabalho “colaborativo”.
Clima de intriguinha mesquinha que procura misturar-se com argumentação credível sempre existe… é só ler os comentários.
Agosto 3, 2011 at 4:22 pm
O texto de SC pode demonstrar algum despeito mas uma coisa é certa: Nuno Crato é mais do mesmo. Até ao momento, nada se aproveita.
O futuro será negro a todos os níveis. Já não falo da ADD que é a mesma que temos contestado. Qual é a diferença entre vir o avaliador da escola ao lado? isto é que é a avaliação externa?
Ontem ficamos a saber que serão bastantes os contratados sem lugar e muitos profs em DACL.
Pode ser que mude de opinião mas, por enquanto, continuo na mesma.
Agosto 3, 2011 at 4:25 pm
#21,
Penso que não anda a observar a totalidade da coisa.
Por exemplo… em que parte deste post eu digo que TAMBÉM participei e sei?
Por outro lado, as “desconsiderações” (se assim as quer chamar) são feitas em níveis muito diferentes.
SCAstilho apresenta-se como o único ministro previamente inamovível de num governo onde o PSD tivesse a pasta da Educação.
Eu não me apresento como tendo direito (consuetudinário ou por uso capião) ma nenhum lugar em coisa nenhuma, excepto o meu lugar de professor na minha escola.
Agora há uma coisa que admito: acho que SCastilho tende a extrapolar bastante na forma como apresenta “conta” a PPC.
E esquece-se de muita coisa que escreveu, para não dizer que dá a entender que escreveu o que não está lá.
Agora diz que o programa do PSD era o que ele escreveu, mas bem sabemos o que disse quando o seu livro foi lançado.
Agosto 3, 2011 at 4:28 pm
#22 a 24,
Não sei se me inclua -acho que sim – nessa esgrima generalizada.
Uma diferença em meu desfavor: sou dos poucos que fala sobre aquilo que sofre na pele.
Muitos outros falam… escrevem… mas não “alombam” como diziam uns senhores velhotes que eu conheço.
O que me sai da boca, sendo cuspo, cai-me em cima. Não ando a dar receitas para escaldar os outros.
Será que isto dá para ser percebido?
Agosto 3, 2011 at 4:28 pm
naquele famoso encontro da publicação do livro de SC quem é que nos enganou? Não foi Pedro Passos Coelho?
Ontem, aquela justificação do ministro em que nem sequer haverá suspensão dos efeitos da avaliação nos concursos, foi o quê?
As escolas viraram um inferno e, a quem for possível, o conselho é ponham-se a andar (pena não me ser possível fazê-lo já) antes que tenham um AVC ou coisa do género!!!
Agosto 3, 2011 at 4:33 pm
#26
As minhas intervenções não são dirigidas a ninguém.
São meras reflexões pessoais.
Agosto 3, 2011 at 4:35 pm
#25
Era apenas para provocar (ainda que ache que há um fundo de verdade no que escrevi.
Respondendo à sua questão – “em que parte deste post eu digo que TAMBÉM participei e sei?” – deduzi da “Nota Final” que escreveu neste post.
Agosto 3, 2011 at 4:39 pm
A ADD passou a ser uma espécie de santo graal da educação em portugal.
Não se podendo alterar o essencial, ou seja, o hardcore do sistema educativo no que diz respeito aos curricula e ao estrangulamento pretensamente igualitarista até ao 12º ano, recorre-se a expedientes para desviar a atenção do que realmente interessa.
Numa escola em que se pactua com as estatísticas e se descuram os níveis reais das aprendizagens, é natural que se apontem as armas aos funcionários que são responsáveis pela manutenção da máquina dos sonhos.
Não interessa que o “produto” esteja adulterado, o que conta é fazer crer que o controle dos funcionários equivale a um upgrade de confiança das “agências” de cotação que controlam o marketing da educação.
Agosto 3, 2011 at 4:42 pm
A ADD só tem um fim: TRAVAR A PROGRESSÃO NA CARREIRA, em especial nos escalões onde há mais professores.
Só lamento que, sendo assim, tenhamos de a aguentar até não sei quando.
Deixem-nos trabalhar em paz!
Agosto 3, 2011 at 4:44 pm
#24,
Só ontem percebeu que muita gente ficava sem lugar? É feliz.
#29,
Ai, ai, ai…
Não se lembra da folhinha A4 do MNogueira numa reunião no ME?
(não dá para estar sempre a fazer notas de rodapé para as “referências”, perde um pouco a graça…)
Agosto 3, 2011 at 5:00 pm
#32
Não. Já há bastante tempo. Não sou nada feliz.
Agosto 3, 2011 at 5:02 pm
O Paulo continua inspirado. É bom constatar isso.
😆
Agosto 3, 2011 at 5:07 pm
O SC não está no seu melhor, mas eu ainda me lembro de “sossegar” depois de ler alguns textos dele. Assim, espero que ele se componha, assim como espero que NC esteja à altura das expectativas. Não sei, esperava mais, para já, de NC.
Agosto 3, 2011 at 5:17 pm
A crónica do SCastilho é tão mesquinha, tão deselegante que deixa de ser levado em consideração. O homem, por vezes, até faz boas análises críticas, mas, ultimamente, é tão despudorado a revelar os “maus fígados” pela “rejeição”, que não há quem não o vá topando.
Essa de acusar o Crato de ignorar os seus magníficos “7 princípios” em favor de uns miseráveis “10 princípios” que são “mais do mesmo” ( sic) é mesmo de ressabiado. Eu desconhecia os princípios castilhanos, e agradeço ao Paulo a oportunidade de ficar a perceber que, caso o Castilho fosse o ME, isto teria dado uma enorme reviravolta. 🙂 Acabavam-se os problemas com a ADD. 🙂
Não entendo as comparações do Paulo com este sujeito. Quem é ele? Sofre na pele com as maluqueiras das políticas educativas??
Humildade, sr.Castilho. Alguma humildade é sabedoria!
Estamos fartinhos de quem, aparentemente, nos defende, mas tem sempre intenções ocultas que mais me parecem de ordem pessoal, ou, como é mais bonito dizer-se, de “ego”.
SCastilho, o senhor devia cortar o cabelo!
Agosto 3, 2011 at 5:21 pm
#26: Paulo, o meu comentário 22 está muito longe de se referir a si. Provavelmente a redacção que lhe dei permitiu essa leitura, mas nem por sombras tive essa intenção. Pelo contrário, a esgrima de que falo não se refere aos que, com unhas e dentes, lutam contra toda esta confusão e de perto lhe sofrem as consequências e entre os quais também me conto, mas aos que, não sendo propriamente professores se aproveitam para, de alguma forma, ganharem protagonismo.
Agosto 3, 2011 at 5:23 pm
#0
São pertinentes as críticas AGORA feitas ao programa eleitoral do PSD, nos pontos referentes à ADD, depois de Santana Castilho afirmar que os princípios são da sua autoria.
Só se lamenta que a contundência crítica tardasse tanto a despertar:
https://educar.wordpress.com/2011/05/08/o-programa-eleitoral-do-psd-para-a-educacao-%e2%80%93-3/
Agosto 3, 2011 at 5:31 pm
Acho má táctica “enforcar” o Crato, 15 dias depois de ter a pasta.
Não há varinhas de condão e, em termos de honestidade intelectual, este homem parece-me poder dar cartas a muitos outros que se pronunciam sobre Educação. Gosta de Matemática ( algum dos anteriores gostava de alguma disciplina), tem-se dedicado a criticar algumas metodologias que todos nós contestamos. Não é “alguém de fora”, não anda a escrever livros de aventuras, nem fez mestrado em pedagogias Boston.
Revolucionar o ensino de um mês para o outro? Iria sair asneira, de certeza.
Ele que oiça muito os professores ( pena que só tenha acesso aos Directores) e que vá aplicando pequenas alterações.
Roma e Pavia não se fizeram num dia!
Agosto 3, 2011 at 5:33 pm
Uma importante diferença entre o Paulo e o SCastilho é que o Paulo nunca quis ser Ministro e o outro parece que teria gostado.
Agosto 3, 2011 at 5:33 pm
Bem desmontado, Paulo. O que penso de SC sempre o pôs na linha do pequeno arrivista sem sentido da realidade.
Agosto 3, 2011 at 5:33 pm
#36
Admiro os seus argumentos.
Estão ao nível dos que por discordarem de SC lhe chamam “espanador”.
Um pedido:
Gostava que me mandasse, também, cortar o cabelo.
Antecipadamente grato 😆
Agosto 3, 2011 at 5:35 pm
#42, a si mandava-o cortar o bigode estalinista. 😉
Agosto 3, 2011 at 5:37 pm
#43
Mande, mande…
Agosto 3, 2011 at 5:38 pm
#43,
O homem é careca e abandonou, em devido tempo, o ar hirsuto.
#38,
Foram feitas na altura certa, apontando as desconformidades com o livro de SC.
Já o caso das famosas notas de rodapé, em artigo meu, numas certas Actas, que zémanelvargas (mais conhecido por “mentiroso ressabiado”), continuam por aparecer.
A credibilidade da criaturinha mede-se pela forma caluniosa como, ao longo dos tempos, me tratou, tentou chantagear e recolheu informação, de modo que o próprio chamaria “pidesco”.
Agosto 3, 2011 at 5:40 pm
Devíamos era mandar tirar os óculos à Tonton Macoute a todos os pidescos que se lembraram de criar as evidências…
Agosto 3, 2011 at 5:41 pm
#44,
Estou bem humorado.
Que tal spamá-lo?
Agosto 3, 2011 at 5:44 pm
#35,
Quando sossegar ainda volta aos escritos de 2003 e ´um problema ainda maior.
Quando dizia que não queria que os seus impostos pagassem os ordenados de professores com horários-zero.
Pois, pois, pois…
Ao contrário do zémanelvargas, a minha memória não é caluniosa e selectiva.
Agosto 3, 2011 at 5:46 pm
Entretanto a confusão com os concursos também continua. Há professores a quem hoje foi dito que tinham que concorrer a DACL porque a sua candidatura a destacamento para CNO, por exemplo, não aparece na plataforma do ME. Têm mais informações?
Agosto 3, 2011 at 5:59 pm
Definitivamente, estou a leste destas guerrinhas entre SC e NC e nunca me tinha apercebido de qualquer animosidade envolvendo o Paulo Guinote. Mas isto sou mesmo eu que devo ser muito «Dahhhh!», como dizem os nossos alunos… Bem, estou com #35, e confesso que, muitas vezes, gostei de ler e me revi em muitos textos de opinião publicados por SC. Não tinha ideia de que se tratasse de alguém invejoso e ressabiado e quero continuar a acreditar que o homem está de boa fé. Que querem, sou uma mulher de fé… Permitam-me ao menos isso.
Quanto a NC, admito, também, que gostava de o ouvir insurgir-se contra o eduquês, mas já achava que era um pouco demagogo (e injusto) quando se pronunciava sobre os exames de Matemática do 12º ano; sempre achei o seu discurso arrogante, pouco sério, porquanto incapaz de se posicionar no nível ou patamar de conhecimentos de um aluno de 17/18 anos a frequentar esse ano de aprendizagem. Desonestidade intelectual, portanto.
Depois, é claro que gostei de o ouvir proferir palavras revolucionárias como a célebre «implosão do ME», entre outras. Mas lá está, isto sou eu novamente a reconhecer que, como muitos, «emprenho pelos ouvidos». Mas está bém.
Quanto ao Paulo, e correndo o risco de acharem que estou a fazer o panegírico do homem (who cares?), não é por me estar a servir do blog dele que vou repetir o que, frequentemente, já deixei bem claro: tenho imenso orgulho em que seja professor e dos melhores. Não o conheço pessoalmente, mas do que tenho lido e ouvido, formulei a melhor opinião sobre ele.
Intrigas? Não me interessam; não quero saber! Sempre as ouve e haverá.
O ambiente nas escolas está de cortar à faca? Pois, se calhar é verdade, mas Nós todos fazemos o ambiente. Há muito que aprendi a ser selectiva, se não acho que não sobreviveria.
O nosso problema passa mesmo por isto: damos demasiada importância às guerrinhas, desperdiçamos energia com coisas de somenos e não nos focamos no essencial.
Também esperava mais do NC, designadamente mais coragem para pôr um fim num monte de trapalhadas e de arbitrariedades em que enformava o anterior (e ainda actual) modelo de ADD. Para já, ao que pudemos assistir foi a um remendo grosseiramente cosido sobre um pano há muito esfiapado… Bastava a honestidade, a humildade de reconhecer que, estando o país falido, não poderia haver nos próximos anos quaisquer encargos com progressões, subidas de escalão e o raio que os parta. E que nos deixassem em paz para fazermos aquilo que sabemos fazer: ensinar.
Desculpem se vos macei. Já fico a aguardar as críticas a este texto que, muitos, vão considerar (pejorativamente) «redondinho». Seja.
Agosto 3, 2011 at 6:05 pm
#50
Ai que horror, que vergonha: onde se lê «ouve» é obviamente HOUVE.
Como sustentou um grande linguista: «Herrar é umano».
Desculpas à Língua Portuguesa.
Agosto 3, 2011 at 6:19 pm
Sim. Podia cortar o cabelo. Se algum amigo, ou amiga lhe puder dar essa dica, ainda se poderá pensar num lugarzinho de assessor/a…
E para que é que andam a ler coisas indigestas?
E quando é que arriscam uma pequenina desobediência?
Hum…
Sei lá!
Era giro “esquecerem-se todos/as” de entregar aquelas 2 ou 3 folhinhas A4…
Temem que vos cortem o bigode? O salário já cortaram… O 13º também…
Então o que esperais “queridos pacientes”.
Olhai, o país não tem dinheiro para mais anestesia…
Despachai-vos.
Decidi.
Sede bravos como o Asterix!
Agosto 3, 2011 at 6:20 pm
50,
Gostei de ler.
51,
Outra versão: Herrar é o mano.
Agosto 3, 2011 at 6:24 pm
#53,
Obrigada.
«Herrar é o mano»: LOL…
Agosto 3, 2011 at 6:38 pm
Discordo de quase todo o conteúdo deste post.
A análise efectuada parece-me desajustada do seu real significado.
É um facto que o artigo de SC revela muita dor de cotovelo.
Pelo que vi até agora o que se está a passar é apenas mais do mesmo. Mas concordo, em absoluto, que não é o momento de fazer juízos de valor. Deixem trabalhar a equipa.
Eu prefiro relevar outras reflexões de SC que me parecem certeiras, a exemplo, “Argumento encontrado para defender a existência das cotas: as cotas são para manter porque estão na lei geral e porque sem elas os professores eram todos excelentes. Estranho rigor este. Quando a lei está errada não se muda os argumentos para a manter, antes muda-se a lei. As cotas estão erradas. Os professores não são todos excelentes. Mas só os podemos distinguir, se tivermos instrumentos de classificação capazes de lhes atribuir notações diferentes. Este é o problema, o seu e o de todos os que querem medir o desempenho dos professores como quem pesa batatas.”
Peço desculpa pelo atrevimento, cumprimentos.
Agosto 3, 2011 at 6:57 pm
Rui
Tem a razão toda e não precisa de pedir desculpa!
alguns convertidos é que um dia dirão que se enganaram na fé!
Agosto 3, 2011 at 7:09 pm
Sobre SC&NC:
– Estou grato a Santana Castillo por ter sido uma voz, de entre outras, defensoras da classe docente num passado muito recente;
– Espero que acabem de vez estas crónicas de Santana a “malhar” no Nuno Crato em termos que não dignificam nada Santana Castillo;
– Parecem-me mais entendíveis” os sete “mandamentos” da ADD de NC dos que os dez “mandamentos” de SC;
– A classe docente nada ganha com estas “guerras” .
Sobre os efeitos do “monstro” de que ninguém assume ter gostado:
– O monstro (leia-se ADD) produziu, no primeiro ciclo avaliativo(2007-2009), não mais do que 20 classificações inferiores a “BOM”;
– O monstro deverá produzir, no ciclo avaliativo 2009-2011), resultados idênticos ao ciclo anterior;
Ou seja, parece que o monstro não consegue detectar maus profissionais no sistema e, pelo contrário, é muito sensível aos bons, muito bons e excelentes profissionais (categorias por onde se distribuem a esmagadora maioria dos professores).
Antes de este monstro aparecer, o monstro anterior, apenas detectava profissionais satisfatórios e dava o “alarme” quando aparecia um “Bom”.
Afinal por que lhe chamam de “monstro” ? 🙂
Agosto 3, 2011 at 7:30 pm
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço…
Álvaro de Campos, in “Poemas”
LM, Porto
Agosto 3, 2011 at 7:51 pm
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas –
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei que moderno – não concebo bem o quê –
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos
Agosto 3, 2011 at 7:53 pm
Deixemos de lado as “guerras de comadres” para nos podermos centrar nas questões fundamentais. Porque essas questões são, afinal, aquelas que verdadeiramente balizam a construção de qualquer “modelo de ADD”.
A. O que se pretende com a ADD? Que ela constitua um factor (pois há outros, mais importantes e prioritários, convém sublinhar isto…) para melhorar, de facto, o Ensino e a Escola, ou apenas um meio para se poupar nos custos mediante o controlo administrativo-burocrático da carreira dos zecos? – Se a opção for a segunda, já todos temos a resposta, verificada pela vigência do actual modelo (e que o “princípio” das quotas seguido por NC vem repisar, mesmo que com outros malabarismos retóricos…). Um modelo que responda à primeira exigência ainda está por vir… É complicado, exige tempo, capacidade de dialogar, muita reflexão e equilíbrio nas soluções.
B. Melhora-se a qualidade das aprendizagens através do condicionamento do trabalho dos zecos por uma ADD de carácter inspectivo e punitivo, ou a ADD deve ter um carácter essencialmente formativo, privilegiando a melhoria do trabalho pedagógico e de equipa? – A primeira opção é a mais conforme à ideologia da “cultura de avaliação” dominante e a mais fácil e tentadora para a tutela. Parece, por outro lado, evidente que uma ADD de carácter formativo/pedagógico terá maior cabimento em sistema interpares, já que este, como a experiência o tem mostrado à saciedade, não funciona no cenário da alternativa inspectivo-punitiva.
(Para ser “mais simpático”, deixei de lado as questões relativas ao perfil do que será um “bom professor” e qual o modelo de “avaliação” correspondente).
Agosto 3, 2011 at 10:17 pm
O RAMIRO ESTÁ COM AVC (APANHADO pelas “VERDADES” DO CRATO)
ESPERA-SE UMA RECUPERAÇÃO DEMORADA, POIS COM TANTA ASNEIRA QUE O CRATO TEM FEITO E DITO O RAMIRO NÃO SABE COMO DESCALÇAR A BOTA.
DAÍ O SEU SILÊNCIO.
Agosto 3, 2011 at 11:03 pm
Espero que o professor SC continue a incentivar-nos a estarmos atentos, aí reside a sua importância. E muito me admiraria se admitisse ser ministro num governo destes, numa altura destas…quanto a NC, não vejo que possa trazer grandes novidades, até porque pouco pode decidir. Urgente era acabar com este modelo de avaliação e com as suas consequências. Não foi capaz, não tranquilizou os professores e as escolas.Foi um mau princípio.
Agora resta-nos continuar a estar atentos, com a ajuda dos sindicatos, dos movimentos e de todos os que estiverem ainda motivados para não deixar agravar mais a qualidade da educação. Tenho no entanto a impressão que muitos já nem querem saber de nada, cumprem apenas calendário e lá se vão desenrascando…teremos a educação que merecemos.
Agosto 3, 2011 at 11:19 pm
#62,
E muito me admiraria se admitisse ser ministro num governo destes, numa altura destas…
Não transparece isso.
Agosto 4, 2011 at 12:19 am
#62
“com a ajuda dos sindicatos, dos movimentos e de todos os que estiverem ainda motivados para não deixar agravar mais a qualidade da educação.”
???
Devo andar muito distraído…Lembre-me lá quando é que os sindicatos estiveram preocupados com a qualidade da educaçâo?
Agosto 4, 2011 at 12:33 am
#64
Desde sempre.
A qualidade do ensino é do interesse dos sindicatos porque interessa aos professores. Da mesma forma que os operários de uma fábrica querem que os produtos que fabricam não tenham defeitos ou que os médicos de um hospital exigem as condições necessárias para poderem atender devidamente os utentes.
Qualquer trabalhador sabe – ou devia saber – que o seu emprego, a sua remuneração, a sua dignidade profissional dependem da qualidade do serviço que prestam aos outros.
Agosto 4, 2011 at 12:43 am
#64
«Devo andar muito distraído…Lembre-me lá quando é que os sindicatos estiveram preocupados com a qualidade da educaçâo?»
Um pouquinho de bom senso nunca fez mal a ninguém.
Agosto 4, 2011 at 9:52 am
Caro Paulo a argumentação ad hominem não lhe fica nada bem e não nos (professores) leva a lado nenhum… já bastam os sindicatos…
Agosto 4, 2011 at 10:12 am
Só mais uma nota, o Ramiro deve estar de férias…que tenha umas grandes férias e volte “curado”…
Agosto 4, 2011 at 10:54 am
este esbirro, cincofanta do pequeno poder laranja, é mesmo um guinote. grandes amigos que nós éramos! o descabelado e o meu caro guinote deviam, juntos, ir desta para outra, sei lá, tipo buraquinho. sim, ambos gostam de chafurdar no que sai do buraquinho e mandar uma bocas funestas sobre educação. pilhérias várias, ao longo de vários anos também, fica uma subida dúvida: saberão mesmo mesmo, no meio da foça onde estão atolados, aquilo que dizem aparentemente sem dúvidas? ou, a coisa mal cheirosa e pastelenta que vos cobre já se infiltrou nesses nédios, de ambos, pensamentos?
Agosto 4, 2011 at 11:03 am
#67,
Não gosto de argumentações generalizantes e tipo chuveirinho. Se há que criticar, critica-se e segue-se em frente.
Quem tem capacidade para isso, tem. Quem não tem, não faça o mesmo em relação a outros.
Por exemplo… a argumentação ad hominem dirigida aos ministros já é aceitável.
#69,
Adoro quando tenho comentários destes. Porque aliam a crítica à ausência de muita coisa.
Duas sugestões: troque “foça” por “fossa” e “nédios” por “néscios”. O dr. Santana Castilho não é gordo e luzidio. Eu, sim, mas não tanto o luzidio.
Agosto 4, 2011 at 11:36 am
Caro Paulo, não critico e sigo em frente pelo enorme respeito que você me merece. Seria fácil e deselegante, no mínimo. Vindo do actual Ramiro (por exemplo) nem comentaria. Apraz-me, no entanto, registar que admitindo o paralelismo ad hominem, o Paulo faça, pelo menos de forma latente, mea culpa. Continuaremos TODOS do mesmo lado. Esperamos, ainda, que o “regresso” do Ramiro seja rápido…também faz falta.
Agosto 4, 2011 at 11:54 am
#71,
Agora fiquei sem perceber.
Vamos lá a ver uma coisa: eu acho sinceramente que as coisas devem ser criticadas frontalmente.
Não gosto muito de posts enviesados.
Não gosto de colegas blogosféricos que fazem textos enorme atacando-me de través e nunca me referindo (vários, vários).
Depois podem sempre dizer que não foram eles.
A “deselegância” nesse caso é maior do que o facto de eu dizer que discordo da forma como Santana Castilho andou em redor do PSD e se afirma autor de tudo o que vale a pena. Assim como critico (e critiquei logo) aqueles que designaram SC como único ME possível e agora disparam forte e feio (ad hominem) sobre Nuno Crato só porque ele é o ministro.
E vejamos, mais deselegante do que andar naquela pilhéria fácil do Nuno Crato/Nuno Arrobas?
Sobre mim, os trocadilhos com nomes são dos que conheço há quase 40 anos.
Quem não se sente e não reage é digno de admiração, mas não tenho vocação para Dalai Lama nem Madre Teresa.
Sobre o Ramiro, não me quero pronunciar, porque não sei sobre que me pronunciar.
Estou lento para alvos em permanente movimento.
Agosto 4, 2011 at 12:21 pm
#69 fossa é com dois ” ss”
Agosto 4, 2011 at 1:42 pm
Não há nada enviesado nos meus posts (o único enviesado ultimamente é o Ramiro, desculpe a referência, prometo que não volta a acontecer) mas não havia necessidade de um ataque tão contundente ao SC. Pode, SC, ter até exagerado na forma, mas quanto ao conteúdo está carregado de razão. No Ministério é a vitória dos cavaquistas, via canavarristas (sucedâneos dos lurdistas). O Ministro NC tem sido simples instrumento, veremos até quando o aceita. SC sabe-o melhor que ninguém. Mais tarde ou mais cedo todos o perceberemos. Contra isto lutámos há já seis anos, continuaremos.
Abraço.
Boas férias.
Agosto 7, 2011 at 1:13 am
Caro Paulo Guinote
Não pretendo armar-me em defensor de Santana Sastilho, ele saberá defender-se. Dele recordo os artigos em que nos tempos quentes da ADD sempre se posicinou ao lado dos professores e que fizeram dele um dos mais combativos contra a política de Maria de Lurdes. Então, se não me engano, as suas palavras tinham direito a publicação no “A educação do meu umbigo” até que um dia aconteceu aquele desentendimento entre si e ele.
Desde então as suas análises sobre o que escreve Santana Castilho serão imparciais? Não estarão, mesmo que inconscientemente, inquinadas por esse desentendimento? Serão fruto de um qualquer ressabiamento, esse mesmo que se diz ser a razão que leva Santana Castilho a atacar Passos Coelho e Nuno Crato?
Santana Castilho fala de “obstáculos ao sucesso do ensino” e não de “obstáculos ao sucesso da aprendizagem”. Esta interpretação/distinção é passível de ser feita, não sendo, para tal, necessário socorrer-me de qualquer truque de retórica. Tal distinção já foi há muito integrada no discurso teórico sobre educação e aceite pelas comunidades de investigadores e professores como analisadores que permitem distinguir duas facetas – o ensino e a aprendizagem – de um mesmo processo – a educação, ou isto também é eduquês?
Assim, julgo que a sua conclusão de que as palavras de Santana Castilho remetem para a “lógica do professor-culpado, mesmo se com véus.” é, à luz da minha interpretação, no mínimo, apressada.
Com os meus respeitosos cumprimentos e votos de umas muito boas férias
Alfredo Nogueira