Vamos lá a ver se nos entendemos… o programa de Matemática do Básico é novo, tem um par de anos, mas pronto… pode-se achar que precisa de retoques, só que o de Português, para o bem e mal (e eu nem gosto muito dele) é novinho em folha e andamos há dois anos a tentar preparar a sua aplicação que deve acontecer agora em Setembro, tendo sido escolhidos novos manuais e tudo.
O ministro quer que seja reformulado quando e em que termos? Antes de ser aplicado?
Note-se que desgosto do novo programa, pois é herdeiro da da TLEBS e é um programa de uma facção dos estudos linguísticos mas – raios! – ainda nem o aplicámos e foram teoricamente adoptados manuais para 4 anos.
Confesso: Nuno Crato estava melhor quando não falava destas coisas, porque escusava de demonstrar sta falta de conhecimento sobre os detalhes das coisas. Mais valia que enviasse um memorando às dgidcs e dgrhes a impedi-las de enviar ou telefonar instruções sobre o ano lectivo às escolas antes de autorização superior.
Um último reparo: quem puxa ou não pelos alunos são os professores e os métodos usados, não necessariamente os programas. Podem estar mal concebidos, ter objectivos meio nhónhós, mas tudo isso é ultrapassado se os docentes sentirem que têm apoio no seu trabalho e busca de exigência.
Ora… isso está neste momento em evidente risco pois o MEC não soube ainda retomar a confiança perdida pelas suas antecessoras e que foi inicialmente depositada nele.
E os próprios professores, se optarem por uma estratégia de terra queimada em matéria de ADD, perdem credibilidade se quiserem apresentar-se como modelos de uma cultura de rigor nas escolas.
Agosto 1, 2011 at 9:36 am
Até já estou enjoada de concordar com o PG.
Esta análise é de quem está dentro da poda.
Eh pá fala do sporting que é para eu disparatar…
Agosto 1, 2011 at 9:39 am
1º O Ministro devia cortar os telefones das dgics e impedir que enviassem mails. Se quer por este pessoal a trabalhar, é dar-lhes todaaaas as tarefas burocráticas das escolas.
Agosto 1, 2011 at 9:50 am
O Paulo Guinote que me perdoe, mas os manuais também devem “puxar” pelos alunos. O ano letivo passado usei um manual de LPO que… coitado, os conteúdos eram basicamente iguais aos do 4º ano! Até menos, pois já vi manuais de 4º ano com mais conteúdos de CEE e textos menos infantis.
Tenho outros manuais com um grau de dificuldade muito maior, muito depende dos autores que os fazem. Se pudesse, dava aqui exemplos, claro, mas não devo.
Não desgosto do novo programa de Português, vai exigir muito mais dos alunos de 5º ano, por exemplo, mas menos dos de 7º! Mas também conheço colegas que lecionam o 2º ciclo como se do 1º se tratasse. Para a nota, compreende?
É verdade que os professores devem “puxar” pelos alunos, mas com o suporte do manual; corre-se o risco, se assim não for, de termos os EE à perna, com o discurso de “Isso não está no livro… nem no programa.”
Pode limitar um professor, um mau manual. E quem anda de escola em escola, nem sempre escolheu aquele manual, como sabe.
Eu até trabalho muito sem rede (manual), mas depois também há a velha questão dos Departamentos: “Se os alunos compraram manual, é para ser usado.”
O homem (NC) não esteve bem ontem à noite, de fato, mas há que convir que um bom manual também pode ajudar a uma boa aula. E sem um bom ou mau manual, também se podem dar boas aulas. Já todos passámos por essas experiências.
Agosto 1, 2011 at 9:55 am
#3,
Então… escolham um BOM manual.
Porque os há.
Mas… por vezes são mal analisados, à pressa ou então escolhe-se com base em critérios meio “coiso”.
Já cheguei a escolas onde estavam adoptados manuais horríveis (seja de LP como de HGP), pelo que acabei por mal os usar e aplicar matriais originais meus.
Aliás, ao trabalhar com turmas de PCA quase não uso o manual da disciplina – em especial de LP – por não estarem adequados a alunos com aqueles perfis de aprendizagem.
E deveria existir autonomia para, nestes casos, não se usar o mesmo manual das outras turmas.
Mas isso era autonomia a sério…. uma chatice.
Agosto 1, 2011 at 10:03 am
Era um dos meus sonhos, não estar presa a manuais, nem ter que lhes prestar conta. Mas para isso é preciso tempo, o mesmo que nos anda a faltar.
Agosto 1, 2011 at 10:13 am
Concordo com o Paulo, há bons manuais. Nem sempre os escolhidos. E quando os departamentos são grandes… muitas vozes se levantam.
Este ano estou muito satisfeita com o manual de HGP, mas não com o de LPO! Mas a maioria vence, não é?
Recorro a muitos materiais que produzo, não me prendo a um manual, mas ele deve sempre ser um suporte. Isso também dá confiança ao aluno.
No seu caso, com essas turmas, pois… não deve ter lá muito manual que se adapte. Há ser ser fazedor!!!
A sua escola não lhe permite autonomia para não usar o manual das turmas do “regular”? Já o fiz há muitos anos, no secundário, com uma turma, tendo colocado a questão em departamento, a qual foi bem aceite, e não usei manual. Tive muito trabalho, mas valeu a pena.
Agosto 1, 2011 at 10:16 am
Penso que, ao referir-se a novos programas, no caso de Português, o ministro Nuno Crato deve estar a pensar no novo programa do Ensino Secundário, já com meia dúzia de anos de implementação, e verdadeiramente imbecilizante, sobretudo no 10º ano.
Só que estas suas afirmações, ditas assim, tornam-se ridículas, porquanto há um novo programa de Português do Ensino Básico que ainda nem entrou em vigor.
Agosto 1, 2011 at 10:18 am
E os próprios professores, se optarem por uma estratégia de terra queimada em matéria de ADD, perdem credibilidade se quiserem apresentar-se como modelos de uma cultura de rigor nas escolas.
Já que decidiu fazer marcha atrás na sua proclamação de não discutir mais ADD e veio introduzir o tema num post sobre programas de Português e Matemática, gostaria de saber o que considera “política de terra queimada” . Suponho que não será o que o Paulo fez, isto é, não entrega de “papéis”, etc. por isso agradecia o esclarecimento.
Agosto 1, 2011 at 10:18 am
“…quem puxa ou não pelos alunos são os professores e os métodos usados, não necessariamente os programas. Podem estar mal concebidos, ter objectivos meio nhónhós, mas tudo isso é ultrapassado se os docentes sentirem que têm apoio no seu trabalho e busca de exigência.”
Na mouche.
Agosto 1, 2011 at 10:46 am
Em relação ao desconhecimento do Ministro da Educação: Nuno Crato está a comprovar a ideia que tinha dele depois de ler algumas coisas suas. O eduquês é mau, o antieduquês com desconhecimento do que fala é igualmente perturbador. Mas estávamos tão fartos do eduquês reinante que muitos ficaram fascinados por, finalmente termos um ministro do contra. E a procissão ainda vai no adro… Preparemo-nos para mais (e piores).
Agosto 1, 2011 at 10:58 am
#7
Concordo absolutamente quando diz que o programa do actual 10o ano é imbecilizante.
É verdade que há bons e há maus manuais. O que me irrita é que, quase no final do ano lectivo, inundados de trabalho, nos cheguem milhentos manuais para escolhermos um, regra geral “para ontem”. Este ano, voltou a acontecer isso e, na verdade, com o tempo que não tive para analisá-los como deveria, não sei se escolhi o melhor, mas fiz o melhor que pude.
Tenho, porém, a certeza de que, quando começar a trabalhar com eles, é que darei pelas falhas. É sempre assim.
Agosto 1, 2011 at 11:15 am
Correndo o risco de surpreender alguns dos que por aqui passam, sinto-me tentado concordar, pelo menos na generalidade, com o novo ministro.
Uma coisa que ele tem criticado consistentemente, sobretudo nos programas de matemática, é a forma parcelar e superficial como os assuntos são tratados, em aproximações sucessivas e muitas vezes sem se sistematizarem as coisas. Tem toda a lógica que, sendo agora ministro, procure levar à prática essas ideias.
Quanto ao Português, parece-me que de facto, sobretudo no ensino secundário, o programa não “puxa” mesmo pelos alunos. Andarem boa parte do tempo a estudar textos utilitários, prosas de jornal, actas e mais não sei quê, em vez de se dedicarem à boa literatura é um disparate. Algumas dessas coisas ainda as ensinei no 2º ciclo, há duas décadas atrás, quando leccionei a disciplina.
Agora, mais importante do que mexer nos programas em si era, parece-me a mim, eliminar toda a ganga eduquesa que se lhes foi colando ao longo dos tempos: orientações de gestão, perfis de competências, metas de aprendizagem. Produzir um documento único, onde surgissem claramente definidas as matérias e as aprendizagens relevantes, bem como aquilo que é currículo nacional e obrigatório e o âmbito da autonomia pedagógica das escolas e dos professores.
Agosto 1, 2011 at 11:48 am
” quem puxa ou não pelos alunos são os professores e os métodos usados, não necessariamente os programas. Podem estar mal concebidos, ter objectivos meio nhónhós, mas tudo isso é ultrapassado se os docentes sentirem que têm apoio no seu trabalho e busca de exigência.”
Isto é uma abordagem demasiado caridosa da coisa Paulo.
Agosto 1, 2011 at 12:11 pm
Isto é, de facto, assustador. Nuno Crato disse-o na sua primeira aparição na assembelia da república e agora voltou a dizê-lo – que os programs tinham de ser reformulados. Porém, o programa de português, como foi referido no seu post, é novíssimo. Andei dois anos a estudá-lo e a interiorizá-lo. É um excelente programa. (Não querendo dizer que o anterior fosse péssimo ou sequer mau). Foi supervisionado e “validado” por Carlos Reis, acompanhado por uma equipa de especialistas de renome e que eu conheço. Como é que um ministro pode dizer barbaridades repetidamente? Não sabe quem é Carlos Reis. (Ou só conhece Fiolhais?) Não sabe o que quer dizer trabalho de casa?
Agosto 1, 2011 at 12:18 pm
Eu pensava que os manuais adoptados eram para 6 anos…
E não gostei de ler o último parágrafo.
Agosto 1, 2011 at 12:20 pm
#15,
E eu não gostei de ler dezenas de comentários parvos.
Por vezes às centenas.
Azar meu.
E agora, no que ficamos?
Agosto 1, 2011 at 12:21 pm
#8,
Não faço proclamações.
O que disse é que analisaria a coisa do ponto de vista do observador não-participante.
Inverti a marcha exactamente onde?
Agosto 1, 2011 at 12:24 pm
#12
Concordo em absoluto com o teu último parágrafo.
#14
Acredito que tenhas feito os trabalhos de casa e que, por isso, tenhas algum receio de ver (eventualmente) desperdiçado o esforço despendido; de qualquer maneira, os programas de Língua Portuguesa e de Português – tanto ao nível dos textos como da gramática – são um autêntico aborto.
Agosto 1, 2011 at 12:25 pm
#14
Quando invocamos a autoridade dos “especialistas de renome” como se eles fossem donos da língua em que todos comunicamos e só eles soubessem ajuizar da forma como ela se deve usar, ensinar e aprender, vamos por mau caminho.
Estes “especialistas”, para a especialidade ser completa, que venham um anito ou dois experimentar leccionar os programas e respectivos arremedos que periodicamente vão deitando cá para fora, e depois falamos.
Eu deixei de acreditar e de levar a sério estes especialistas desde que a maioria deles aceitou caucionar “cientificamente” aquele aborto linguístico inventado por políticos que dá pelo nome de acordo ortográfico.
Claro que é mais fácil a qualquer um, que se fartou de ser queirosiano, meter-se a fazer coisas que não dão muito trabalho e produzem mais currículo do que a monótona rotina universitária. Além de darem nas vistas, o que sempre ajuda a inchar ainda mais a auto-estima que nunca esteve em baixa…
Agosto 1, 2011 at 1:38 pm
O NPPEB é eduquês puro e duro, feito por cérebros iluminados com o professor Carlos Reis. “Não sabe quem é Carlos Reis?”. Mas que petulância! Há gente que se deslumbra tão facilmente pelos descritores de desempenho, resultados, esperados, estratégias, metodologias e outras coisas terminadas em …ias!
Agosto 1, 2011 at 1:45 pm
16,
I feel good por ter conseguido atingir um dos meus objectivos.
Aproveito para lhe lembrar que tudo é transitório e que essa sua colagem ao NC lhe está a toldar a razão. Estes “princípios” não são o fim-de-linha e esses resquícios de género gonçalvismo não lhe assentam bem.
Mas o senhor é que sabe por onde quer ir e onde quer chegar.
Agosto 1, 2011 at 3:12 pm
#12 e #19
António,
Nem mais! Concordo em absoluto!
Agosto 1, 2011 at 3:37 pm
O novo programa de Português puxa mais que o anterior e aposto com quem quiser como vai ser uma desgraça e os zequinhas todos ainda vão ter mais insucesso no Português.
Quem pensa que todos chegam aquilo não entende que aquilo, nesta sociedade, diria, na escolaridade obrigatória, não chega a todos.
Enquanto não se entender que educação origatória não é sinónimo de escolaridade obrigatória, bom, fico por aqui. O resto será sempre a eterna anedota.
Depois, programa, Nova terminologia e Acordo são um conjunto de panelinhas que vão agora dar uma salada de grelos. A nova terminologia foi o que foi e pediu-se a autoridade de Aguiar e Silva, o novo programa abriu-se à Aberta e deu Carlos Reis & Compª; o acordo teve que baixar a tola aos brasileiros e, claro, há os outros, e que não são poucos, que estão com dor de rins. Moral da história, a coisa está pantanosa e não imagino onde o nosso ministro está neste momento a meter o pé. Cuidado… olhe a poça.
Agosto 1, 2011 at 4:45 pm
O novo programa de Português do ensino básico é pior do que o de secundário.
Porquê? Desde logo porque secundariza os conteúdos relativamente aos «descritores de desempenho». Se eu tivesse sido sujeito a uma calamidade daquelas, certamente seria um utilizador da língua de Camões (???) bem pior do que sou hoje.
Por outro lado, a discussão em torno dos manuais de LP para o 3.º ciclo é completamente despropositada, visto que, de acordo com a formação de que o Paulo falou, são os profs. que têm de construir todos os materiais. Aliás, parece que a intenção de alguns dos autores do programa era erradicar os ditos.
Mais: pelo que analisei dos diversos manuais, nenhum deles – repito, nenhum – está conforme aos ditames do novo programa (refiro-me ao terceiro ciclo).
Agosto 1, 2011 at 5:33 pm
Os manuais do 2º ciclo, quase todos, vão “puxar” pelos alunos. Mais, repito, do que os do 3º ciclo. O CEL, só no 5º ano, vai dar cabo dos meninos muito mal habituados à gramática. Bem se viram os resultados desastrosos do exame de 12º ano.
Indo contra muita intelligentsia que não concorda que se memorize, se os meninos e meninas deste país não tivessem perdido, essa sim, competência, saberiam as tabuadas e a gramática. Logo, seriam muito melhores alunos a Português e a Matemática!
Os novos manuais de 5º ano de LPO, vejam para crer, abordam os conteúdos gramaticais há muito desaparecidos do estudo até ao 6º ano. Agora, no 5º ano, já levam com as orações, as conjunções e outras coisas que tais. Os poucos repetentes do 5º até vão pensar que aterraram noutro planeta, tal a diferença de conteúdos! Os outros, vão estranhar mas terão de se habituar e iniciar um novo ciclo de exigência de conhecimentos. Sim, sou uma acérrima defensora do estudo da gramática da língua. Podem bater à vontade!
Está-se mesmo a ver a razia nos testes, se os professores decidirem mesmo ser exigentes e não pensarem nos 2 no final dos períodos.
Agosto 1, 2011 at 6:34 pm
Não compreende o desconhecimento de NC! O actual programa de Matemática pode ser comparado ao seu congénere do Canadá.
Em vez de falar do programa, o NC deveria pensar sobre: – Portugal é um país em que Mat tem menor carga horária. Fez alterações no 2.º e 3.º ciclos mas esqueceu o 1.º ciclo; – Os alunos podem fazer todo o ensino básico sem aprender Matemática; – Existe um conjunto de diplomas legais que permitem a passagem dos alunos mesmo quando eles nada sabem mas nenhum foi revogado!
Agosto 1, 2011 at 7:46 pm
Não me parece muito complicado “puxar pelos alunos”, ser exigente, seja qual for o manual. Não há manual perfeito.Eu pelo menos nunca conheci nenhum. O que eu gostava de saber é que destino se dará aos alunos que chegam ao 5º ou ao 7º ano sabendo quase nada. Puxamos por aqueles que podem ser puxados, os outros ficam para trás. Ainda não conheci nenhum professor que conseguisse fazer uma pedagogia tão diferenciada que levasse os alunos a ultrapassarem o estado em que lhe chegam.
Somos todos contra o facilitismo,etc etc e agora parece-me que toda a gente acha muito fácil resolver o problema. Chumbamos os alunos? Os exames resolvem o problema? Os alunos fracos vão ter 50 horas de aulas por semana?
Ajudem-me, que eu não entendo!
Agosto 1, 2011 at 9:10 pm
«A escola está muito mal»
Nuno Crato, 2007 (entrevista à VISÃO)
(…)
O seu livro é particularmente crítico para com as posições da ex-secretária de Estado, Ana Benavente. A vossa discordância é total?
Não estão em causa as pessoas, mas sim as ideias, sobretudo as de alguém que foi governante e que teve grandes responsabilidades na política educativa. Separam-nos muitas coisas, em particular no sistema de formação de professores, o qual devia compreender um exame de admissão à profissão.
Tal como na Ordem dos Médicos ou na dos Advogados?
Exactamente. Os professores chegam hoje à profissão com treinos muito diversos. O facto de o ingresso depender apenas da nota de fim de curso e não de um exame leva as instituições de ensino superior a inflacionarem as notas, incentivando os professores a escolherem as escolas mais facilitistas, onde conseguem melhores classificações.
(…)
Tem noção que parte das ideias que defende são tidas como reaccionárias?
Preocupo-me tanto com isso que até procurei citar vários pensadores revolucionários e de esquerda, como o [Antonio] Gramsci, um marxista convicto que, logo nos anos 30, reconheceu que a escola romântica condenava as classes trabalhadoras à ignorância. Se queremos o acesso de todos à cultura, temos de rejeitar ideias que afastam as pessoas desse trilho.
O grande paradoxo da dita «escola nova» é que diz preocupar-se com os mais desfavorecidos mas, ao baixar o nível do ensino, faz com que os mais abastados recorram ao ensino complementar privado e os mais desfavorecidos continuem como estão.
Embora nos últimos anos a rede escolar pública tenha sido equipada com Internet, mediateca…
Não é por haver net que passa a haver gosto pela leitura, tal como não é por existirem calculadoras que os alunos passam a perceber de Matemática. A tecnologia não é essencial para melhorar o ensino. Isso consegue-se com a relação professor-aluno, a qualidade dos manuais, a exigente transmissão de conhecimentos e a prática esforçada dos jovens.
O problema surge quando há currículos que veiculam o facilitismo, como ter incorporado o Big Brother no programa de Português. Eu chamo a isso «Rousseau, versão pimba». Pensaram que ao porem nos manuais coisas pimba e de apreensão rápida, os alunos vão aprender Português, ao passo que a literatura é aborrecida e, como tal, não deve ser ensinada. O que não se pensou é que o Big Brother é muito mais aborrecido do que um conto de Eça de Queiroz…
Revista VISÃO, 28/10/2007
Agosto 1, 2011 at 9:13 pm
#20,
Concordo inteiramente com a Ana Maria: fiz uma acção de formação sobre o NPPEB (3º ciclo) e, no final, todos foram unânimes: não se tinha percebido nada, porque aquilo tresanda ao eduquês da pior espécie. Isto de se apensar um nome sonante no frontispício do programa tem muito que se lhe diga!
Alguém escreveu aqui (e muito bem!) que gostaria de ver o sr. professor dr. fulano de tal a leccionar umas aulinhas a alguns dos nossos meninos… Pois eu também!
Setembro 14, 2011 at 10:21 pm
Quando estou de acordo, costumo ficar calado e é essa a principal razão pela qual nunca tinha deixado aqui qualquer comentário (isto é um cumprimento ao Paulo Guinote).
Vou falar mais daquilo de que sei alguma coisa, que é a Matemática.
O programa dos primeiros três ciclos (que entra agora no seu segundo ano de vigência) não chega sequer a delimitar entre si os anos de cada ciclo, deixando essa tarefa ao arbítrio do professor ou dos autores de manuais. O pretexto é o de que nesse aspecto “as escolas e agrupamentos têm um papel importante a desempenhar”. Temos assim que um aluno nunca deve mudar de escola a meio de um ciclo e teremos também problemas se uma escola decidir incluir uma matéria que não está no manual que adoptou. Temos ainda que um aluno do sétimo ano pode trabalhar pior com fracções do que um do sexto, porque as fracções já apareceram no sexto ano e não têm de reaparecer no sétimo (e isto não é mera ficção, resulta de um dos percursos que estão a ser utilizados).
Os autores do novo programa também se demitiram de qualquer preocupação de natureza interdisciplinar (mas nisso limita-se a seguir uma longa tradição…). Vamos ter, portanto, as velhas questões com a notação científica, necessária em Física antes de ser dada em Matemática, etc., etc..
O programa é rico em indicações metodológicas (onde poderia ser parco), longo em generalidades (onde deveria ser sintético), vago em algumas situações onde convinha precisar.
No enunciado das “finalidades do ensino da Matemática”, encontramos o seguinte: “capacidade de abstracção e generalização e de compreender e elaborar argumentações matemáticas e raciocínios lógicos”. Lapidar! Mas este objectivo, que consubstancia a própria essência da Matemática, não fica bem patente na maneira como os assuntos são apresentados.
Por isso, me parece urgente substituir este programa.