De acordo com o representante blogosférico mais próximo da ortodoxia fenprofiana nogueirista, no próximo dia 27 serão discutidos os projectos do PCP e Bloco para suspensão da ADD.
Sobre este assunto vou dividir o meu comentário em duas partes.
- A primeira delas refere-se ao facto de, como já aqui escrevi (escuso de me linkar a mim mesmo),as propostas conterem aspectos frágeis do ponto de vista jurídico. A proposta do PCP contém a revogação de artigos do ECD, o que é matéria que não compete ao Parlamento, mas sim à iniciativa do Governo, após consulta dos sindicatos. As explicações alegadamente adiantadas ao experto Francisco Santos sobre a matéria não colhem. O que está em causa é a tentativa de um tira-teimas de tipo político, forçando o PSD e o CDS a demonstrarem se são coerentes com o que afirmaram e fizeram no dia 25 de Março. As lideranças são as mesmas, as declarações estão na memória de todos, portanto…
- Chegamos ao segundo ponto deste meu comentário: sabendo-se que o PS deve votar contra as duas propostas (gostava de ver se a liderança do PS já fosse de António José Seguro, ele cumpriria parte do que foi implicitamente admitindo ao longo dos tempos sobre esta matéria, sem nunca se comprometer abertamente com nada), o PSD e o CDS deveriam votar favoravelmente, não apenas para mostrarem coerência e coragem, mas até porque estarão quase certos do veto presidencial ou de novo pedido de análise da constitucionalidade da proposta de lei. Infelizmente isto é mesmo assim. Em Belém está o travão maior à resolução desta questão, com âncoras bem firmes dentro do PSD.
E é aqui que está a perversidade disto tudo: o PSD e o CDS até podem votar favoravelmente as propostas, em especial a do PCP, menos confusa, que sabem que as coisas não andarão.
Como podem as coisas andar, verdadeiramente?
De uma de duas maneiras:
- A mais corajosa, assumindo promessas pré-eleitorais do primeiro-ministro (e não do actual ME, que criticou muito o modelo, mas não prometeu revogá-lo), seria o Governo assumir as posições anteriores das forças partidárias que o formam e, por sua iniciativa, revogar o decreto regulamentar 2/2010 e toda a legislação conexa e sua responsabilidade, como a relativa aos concursos.
- A menos frontal, mas mesmo assim razoavelmente aceitável – porque não suspendendo a ADD, a esvaziaria de consequências danosas – será a de apresentar na próxima semana alterações às condições do concurso para os docentes contratados (revogando a alínea c) do artigo 14º do decreto-lei 51/2009), por forma a retirar os resultados da ADD (relativa ainda ao ano lectivo anterior) da graduação profissional dos candidatos e garantindo que a deste ano não será contabilizada em concursos futuros.
Há muita gente que diz que a solução deste problema é política. Certo. Mas qualquer solução deve ter uma solidez jurídica mínima para aguentar as investidas presidenciais, pois é reconhecido o enamoramento político de Cavaco Silva por Maria de Lurdes Rodrigues (a quem acompanhou em muitas acções de propaganda e ao lançamento de cujo livro mandou uma bela delegação), só comparável ao de outros tempos por Leonor Beleza.
E sabe-se como este Governo tem alguns pruridos em, desde já, demonstrar excessivo afastamento dos humores de Belém, ainda para mais por causa de uns professorzecos.
A forma de solucionar isto não é à moda de uma disputa de galarós no recreio da escola. O que está em causa não é uma rasteira ou uma canelada da oposição mais à esquerda à maioria governamental. O que está em causa é a dignidade de uma classe profissional, mesmo se parte dela faz os possíveis por a perder.
Julho 17, 2011 at 6:54 pm
Concordo plenamente.
É verdade: “O que está em causa é a dignidade de uma classe profissional, mesmo se parte dela faz os possíveis por a perder.”
Infelizmente, é muitas vezes uma classe sem classe, fruto dos tempos… Mas também já estamos a ver o verniz estalar em classes antes tão “distintas”, como a dos advogados e médicos…
Julho 17, 2011 at 7:01 pm
Paulo, a “questão presidencial” é neste momento, a meu ver, uma falsa questão. Cavaco gere cautelosamente os seus poderes, e sabe que um veto, nas actuais circunstâncias, não seria a mesma coisa que o anterior.
Na anterior tentativa de suspensão da ADD, Cavaco bloqueou, com o envio para o TC, uma lei de um Parlamento dissolvido. Não é a mesma coisa que enfrentar agora um Parlamento recém-eleito e com uma maioria clara e efectiva. Nem Cavaco quer esse tipo de enfrentamentos, nem a AR os iria provocar com eventuais inconstitucionalidades ou incorrecções formais nos diplomas.
A questão portanto é outra, e joga-se em saber se a maioria de direita quer resolver ou não esta questão em tempo útil, e de que forma o quer fazer.
E o imbróglio da ADD pode resolver-se a contento para todas as partes, sem que ninguém perca a face. É preciso é haver vontade de arrumar isto e partir para desafios bem mais importantes, e é essa vontade que é capaz de não existir…
Julho 17, 2011 at 7:02 pm
Constituição da República Portuguesa (por enquanto ainda em vigor):
Artigo 161.º
Competência política e legislativa
Compete à Assembleia da República:
c) Fazer leis sobre todas as matérias, salvo as reservadas pela Constituição ao Governo;
Artigo 162.º
Competência de fiscalização
Compete à Assembleia da República, no exercício de funções de fiscalização:
c) Apreciar, para efeito de cessação de vigência ou de alteração, os decretos-leis, salvo os feitos no exercício da competência legislativa exclusiva do Governo, e os decretos legislativos regionais previstos na alínea b) do n.º 1 do artigo 227.º;
Artigo 198.º
Competência legislativa
1. Compete ao Governo, no exercício de funções legislativas:
c) Fazer decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em leis que a eles se circunscrevam.
2. É da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria respeitante à sua própria organização e funcionamento.
Logo,
A competência de elaboração de decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em leis que a eles se circunscrevam não é um competência legislativa exclusiva do governo, sendo esse o caso do ECD que regulamenta um dos aspectos contidos na LBSE.
Em matéria de decretos-leis a única matéria em que o parlamento não tem competência para legislar é a expressa no n.º 2 do art. 198º.
Os artigos 40 a 49 do ECD que são revogados pertencem a um decreto-lei cuja elaboração não é de competência exclusiva do governo.
Donde, continua a não se perceber a argumentação desresponsabilizante dos partidos do governo face a posições alegadamente claras que assumiram antes das eleições, que se terão traduzido nuns milhares de votos ganhos com publicidade enganosa.
Julho 17, 2011 at 7:13 pm
#3,
Está o caríssimo representante ilustre da ortodoxia fenprofiana em condições de aqui, preto no branco, considerar que o ECD pode ser revisto sem consulta sindical?
Julho 17, 2011 at 7:14 pm
#2,
E o imbróglio da ADD pode resolver-se a contento para todas as partes, sem que ninguém perca a face. É preciso é haver vontade de arrumar isto e partir para desafios bem mais importantes, e é essa vontade que é capaz de não existir…
Concordo!!!
Julho 17, 2011 at 7:15 pm
A minha questão é muito simples: poderá o governo apresentar uma nova proposta de avaliação (uma vez que já admitiram que não se trata de uma reformulação), em Setembro, com esta ainda em vigor?
Se sim? e sabendo que este ciclo só é concluído em Dezembro, podem os 2 modelos estar em vigor, em simultâneo?
qual a vossa opinião?
Julho 17, 2011 at 7:17 pm
“é reconhecido o enamoramento político de Cavaco Silva por Maria de Lurdes Rodrigues (a quem acompanhou em muitas acções de propaganda e ao lançamento de cujo livro mandou uma bela delegação), só comparável ao de outros tempos por Leonor Beleza.”
Ai Maria, põe.te a toques ! 🙂 🙂
Julho 17, 2011 at 7:17 pm
Ir buscar lã e acabar tosquiado, é algo que acontece a muito boa gente.
Até aos bem intencionados.
………………..
mail.: Livresco, Calímero – 10 ou 20 vídeos para a mesa do canto, rápido.
Julho 17, 2011 at 7:20 pm
[…] Com uma argumentação absolutamente impensável, o reflexivo Francisco Santos afirma que o ECD pode (e deve) ser revisto em sede parlamentar, sem consulta dos sindicatos. […]
Julho 17, 2011 at 7:20 pm
#1
Qual classe!?
Tenho assistido a momentos inclassificáveis entre professores. Há muitos que revelaram, pelas suas acções e atitudes, que têm um preço de saldo, em final de época…
A vida profissional já me mostrou, em muitas ocasiões, que o oportunista e o chico-esperto fica sempre em vantagem relativamente ao coerente, ao capaz e ao justo!
Julho 17, 2011 at 7:23 pm
#6,
Sim.
Um está em fase de validação das classificações, o outro a arrancar.
Não devia, mas.
#8,
Outro que, de tanto puxar pela cabeça, acaba de validar a total desvalorização do papel dos sindicatos.
Se o ECD pode ser parcialmente revogado com uma votação parlamentar, sem consulta sequer aos sindicatos, o governo e o parlamento ficariam com as mãos completamente livres para todos os desmandos.
A ortodoxia fenprofiana entrou em colapso mental.
Julho 17, 2011 at 7:28 pm
Recomendo, vivamente, e em complemento com a deste, a leitura do post acima sobre a aberrante proposta da dupla santos/vargas que conduziria à completa desnecessidade da intervenção sindical na revisão do ECD.
Há dias em que podemos pensar isso, mas como regra nunca e um precedente nessa matéria seria complicadíssimo de gerir, abrindo caminho a potenciais intervenções cirúrgicas no diploma.
Quando se abre uma porta – veja-se a rendição perante o 75/2008 – fica-se completamente vulnerável ao que vier a seguir.
Esta gente não aprende(u) nada. Burros velhos nunca conseguirão deixar de o ser.
Assustador!
Julho 17, 2011 at 7:28 pm
Mais uma vez me parece que, se os partidos actualmete no poder quiserem, tudo se resolverá sem provocar grandes mossas. Nem que seja apenas através da revogação da famosa alínea c) na próxima semana, abrindo portas à fase seguinte. Mas acho que podem (e devem!) ir mais longe, antecipando-se à discussão/votação do dia 27, e sairem ainda melhor desta situação.
Continuo a achar que, no actual contexto, Cavaco Silva não é o problema. O(um) problema pode ser PPC não querer entrar em ruptura com o PS, ao liquidar uma das suas bandeiras, pois vai precisar muito deste partido no futuro próximo. Tudo se deve estar a desenrolar de forma táctica…
Julho 17, 2011 at 7:36 pm
A ADD volta ao Parlamento e o sururu dos bloger’s é a preocupação com a atitude “incoerente” do PSD que irá (dizem) abster-se. Não me parece haver incoerência (e havendo incoerência isso significa que há política): estão contra o modelo, mas não podem ser irresponsáveis a ponto de anularem um processo a dois meses do fim – processo es…se com implicações na progressão da carreira.
O que virá de “novo”, será o modelo; isto é, mexem na estrutura de superfície (e desde a Milú cada vez que mexem fica pior), mas deixam a estrutura profunda intacta. Para calarem uns famintos do bolo da avaliação devem meter o Ensino Superior. Para além disso os resultados dos alunos irão pesar na avaliação de professores (olá escolinhas com turmas de nível… olá boas turmas e más turmas, pois é…).
http://www.facebook.com/jose.antonio.ribeiro.correia?sk=wall
Julho 17, 2011 at 7:44 pm
#8,
Muito pelo contrário.
Este post e o que escrevi em seguida ficarão aqui até á noite para que os professores fiquem avisados de uma nova proposta de “traição” por parte de um nicho político em que não se pode confiar: a dos tacticistas preconceituosos.
Felizmente, tenho toda a confiança de que o grupo parlamentar do PCP (em particular os deputados Miguel Tiago e João Oliveira) perceberá o risco desta medida.
Julho 17, 2011 at 7:44 pm
#13,
Esta questão não levaria a qualquer ruptura com um P. Seguro.
Julho 17, 2011 at 7:46 pm
Condordo.
Temo, no entanto, que ninguém – sindicatos, governo, grupos parlamentares, ME e Presidente da República – esteja verdadeiramente interessado em pôr fim à fraude ADD.
Julho 17, 2011 at 7:57 pm
Vai ficar tudo na mesma.
PPC é muito medricas, coitado.
Ah, e não é ele que manda como já se percebeu.
Até parece algo desorientado…..
Julho 17, 2011 at 8:00 pm
#16,
Pois, mas PPC ainda não sabe se não será um P. Assis…
Julho 17, 2011 at 8:51 pm
#19,
E há grande diferença?
Julho 17, 2011 at 9:02 pm
[…] de um trambolhão constitucional proporcional à massa que desloca quando vai a banhos, PG descobriu que para mudar a legislação […]
Julho 17, 2011 at 11:38 pm
Paulo, só uma achega ao post:
Vi/ouvi/li o Nuno Crato dizer que o ME não pode ter a seu cargo a colocação de professores (até fazia uma comparação com os jornalistas). Pelo que entendi ele deve estar a pensar delegar essa competência ou nas autarquias ou nos (mega)agrupamentos. Temo que com isto a “classificação”/”graduação” dos professores passe a ter pouco significado, temo que estejamos à beira da selecção por “parentesco”.
Julho 18, 2011 at 1:57 am
[…] seguir a polémica, que opõe essencialmente o Paulo Guinote e o Francisco Santos, pode fazê-lo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e […]
Julho 18, 2011 at 5:00 pm
O que seria de esperar era que o PSD e o CDS já tivessem projectos bem estruturados, já que tiveram tanto tempo para se prepararem para serem governo. Tinham (têm) que ter um projecto de avaliação alternativo quando votaram, há tão pouco tempo, contra esta avaliação. Vir agora com hipotéticas questões constitucionais depois do veto é mostrar um amadorismo, incompetência ou demagogia que não se compadece com os tempos nem com o facto de se apresentarem com tantos especialistas. E o ministro, que escreveu tanto, supõe-se que deve ter alguma alternativa coerente.
Julho 25, 2011 at 3:43 pm
[…] que coloquei no domingo, 17 de Julho, à proposta de lei do PCP para suspensão da ADD (aqui, aqui, aqui e aqui, entre outros posts), assim como à proposta equivalente do […]