Não cultivar uma psicologia de bisbilhoteiro! Nunca observar só por observar! Isso provoca uma óptica falsa, uma perspectiva vesga, algo que resulta forçado e que exagera as coisas. O ter experiências, quando é um querer-ter-experiências, — não resulta bem. Na experiência não é lícito olhar para si mesmo, todo o olhar se converte então num «mau-olhado». Um psicólogo nato guarda-se, por instinto, de ver por ver; o mesmo se pode dizer do pintor nato. Este não trabalha jamais «segundo a natureza», encomenda ao seu instinto, à sua câmara escura o crivar e exprimir o «caso», a «natureza», o «vivido»… Até à sua consciência chega só o universal, a conclusão, o resultado: não conhece esse arbitrário abstrair do caso individual. — Que é que resulta quando se procede de outro modo? Quando se cultiva, por exemplo, uma psicologia de bisbilhoteiro, à maneira dos romanciers parisienses, grandes e pequenos? Essa gente anda, por assim dizê-lo, à espreita da realidade, essa gente leva para casa cada noite um punhado de curiosidades… Porém veja-se o que acaba por sair daí — um montão de borrões, um mosaico no melhor dos casos, e de qualquer forma algo que é o resultado da soma de várias coisas, algo turbulento, de cores berrantes.
Friedrich Nietzsche
Podemos afirmar, depois de ouvir José Sócrates, que Portugal obteve um acordo com o FMI bem mais honroso do que o obtido com a Inglaterra, aquando do Mapa Cor de Rosa, apesar da dureza das negociações.
Mas percebamos melhor o acordo, fazendo aqui a súmula do relato do mesmo, feito em directo pela TV, e na primeira pessoa, pelo próprio Sócrates:
” Portugueses:
Foi magnífico o que aconteceu entre mim, que represento o país, e a Troika.
Quando pedi que não aumentassem o IVA, chamaram-me irresponsável… Mas a verdade é que só aumentaram um bocadinho”; depois, ao implorar que não aumentassem a idade da reforma, disseram que eu estava a ser desonesto… O que é certo é que a aumentaram apenas em escassos meses; a seguir, quando ousei pedir que não congelassem por muito tempo os salários, ralharam comigo, e aconselharam-me a dar o exemplo, passando a gozar as minhas férias num hotel três estrelas, deixando de o fazer no Pine Cliffs… E, valha a verdade, só os vão congelar durante cinco ou seis anos.
Finalmente, mandaram-me virar de costas, e deram-me um empurrão, exigindo que viesse aqui à televisão dizer o que se passou. E foi o que fiz, cumprindo a minha nobre missão. ( Abro um parêntesis, para explicar ao país que este tipo que aqui está a meu lado quis vir comigo, porque gosta muito de mim, e eu como tenho pena dele deixei-o vir, mas não conta pra coisa nenhuma…).
Os portugueses podem estar satisfeitos e orgulhosos: chamaram-me irresponsável, desonesto, e ralharam comigo, mas eu não me importei, porque tenho estofo (lata) para aguentar com tudo isto, e muito mais.
O que interessa aos portugueses, é que consegui com a Troika um acordo assaz extraordinário para o nosso país.
Mas devo salientar que esse acordo só foi possível graças à minha tenacidade e capacidade de negociação.
Por isso: Viva a Troika, Viva Portugal, e viva Eu próprio!
Pedro Passos Coelho anunciou hoje que o programa eleitoral do PSD vai ser apresentado no domingo e prevê um «amplo» plano de privatizações, que inclui EDP, TAP, REN e Águas de Portugal.
Numa entrevista à RTP1 em que reiterou a intenção de pedir aos portugueses uma maioria absoluta, o presidente do PSD adiantou que pretende constituir um Governo com não mais do 25 secretários de Estado, repartidos por dez ministérios.
Nesta entrevista, Passos Coelho confirmou que, se o PSD ganhar as legislativas de 5 de Junho, mesmo com maioria absoluta, convidará o CDS-PP para o Governo.
Questionado sobre o motivo por que não revelou que se tinha encontrado com o primeiro-ministro em São Bento, em Março, na véspera da apresentação do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), o presidente do PSD respondeu que “isso foi combinado” com José Sócrates.
Passos Coelho acusou o Governo de ter violado aquilo que tinha sido acertado, pondo a correr que tinha havido esse encontro, e sublinhou que nessa ocasião “não houve processo negocial nenhum” sobre o PEC.
Mea culpa: eu, eleitor e a circum-navegação política do meu país.
Não sei em que tipo de país acordarei a cada dia que passa rumo às próximas eleições legislativas. É um tomo inteiro de Vagabundo dos Limbos de aurora a crepúsculo.
Aliás, mea culpa…!
Deixei de querer saber por uns anos. Optei por não querer saber.
Desiludido com o meio político na era pós-jota, dediquei-me ao meu umbigo. E não quis saber quem governava. Mas até ia votar, ora na “esquerda”, ora na “direita”, sem procurar aprofundar o que cada lado propunha.
Nesse sentido, o facto de actualmente vir aqui uma troika, a meu pedido – sim, o 1º Ministro representa a minha pessoa – após pedir-lhes ajuda e definir, de forma participada pelos políticos que eu elegi para representar a minha voz, o que terei de fazer para pagar a ajuda que eu pedi, é em quota parte da minha responsabilidade.
Porque não quis saber.
Porque deixei que outros decidissem em maior número quem é que vai governar o meu esforço, o meu suor, o meu rendimento, aquilo que posso dar e deixar aos meus filhos.
Porque tenho um 1º Ministro, que me representa, capaz de ardilosamente montar uma novela à volta de tudo aquilo que eu, ao votar, permiti que ele fizesse tanta má opção, opções dispendiosas, caras demais para o meu bolso, que é o orçamento dele, aprovado pelo meu voto – neste caso, com o meu “não voto.”
E agora sou eu que pago. Eu acabei de prejudicar os meus filhos, porque há 16 anos que não quis saber e deixei o meu destino na mão de quem foi votar.
Por tal, não posso escusar a minha pessoa da minha responsabilidade. Não nesta hora! Não agora! Não mais!!!
Chega!
A pessoa que eu quero que me represente como 1º Ministro não pode ser alguém que anos a fio, dia a dia, simplesmente dizia uma e fazia outra e no dia seguinte trocava as voltas.
A pessoa que eu quero que me represente como 1º Ministro não pode ser alguém que tem o descaramento de aproveitar-se da nossa paixão pelo futebol e fazer propaganda eleitoral, pago pelos meus impostos, para querer fazer de nós todos asininos, apregoando que ELE tinha conseguido um bom acordo.
Ele, que afirmou que não pediria ajuda externa, que não governaria com o FMI aqui, que Portugal não precisava tanto de ajuda como OUTROS queriam fazer crer.
Ele, José Sócrates, que afirmou que não haveria despedimentos, cortes, reduções, carga e sobrecarga no orçamento das famílias portuguesas.
ELE conseguiu um bom acordo? Esperem lá…vamos dizer isso em Português vox populi: “Ó pá…prontos eu sei que fiz asneira, até demais, que faz com que agora vos obrigue a todos a fazer uma vaquinha comigo e entrar com a vossa parte para limpar as asneiras. Mas não se preocupem, eu dou-me bem com os gajos e vou conseguir o melhor negócio possível…deixem comigo que safo isto ainda para o nosso lado, aliás ainda consigo convencer os eleitores adeptos da bola e da novela de que isto foi tudo já pensado por mim, para nos safarmos!”
Desculpem o brejo de tom, mas o brejo da atitude e falta de carácter que ele, José Sócrates, provou, de publicamente, enquanto representante de todos os Portugueses e às minhas expensas, vir mentir, descaradamente, em manobra de marketing eleitoral capaz de aproveitar-se dos mais básicos instintos de selvajaria intelectual, querendo fazer do povo Português colectivamente ignorantes, só prova a falta de escrúpulos, desesperada tentativa de salvar a cara…porque o resto já se foi.
E agora é ver esse mesmo actor energúmeno de dedo em riste e punhos cerrados, com a cara zangada exclamar: “Portugueses, temos de trabalhar! Empresários, precisamos que se empenham ainda mais nas nossas exportações, temos de lutar com mais força para vencer esta crise!”
Mas de quem é a real responsabilidade da situação em que o meu querido Portugal se encontra?
Quer dizer, José Sócrates e o seu desgoverno levaram isto à bancarrota e agora a sua máquina eleitoral, tentando controlar desenfreadamente a opinião pública, quer nos fazer querer que só ele é que pode salvar Portugal.
Dito de outra forma, ele é o remédio para a nossa doença – a panaceia miraculosa, porque tanto o antibiótico como o vírus são a mesma pessoa: José Sócrates!
Não!
Não mais!
Eu tenho na minha mão a opção de dizer ACABOU!
Eu, portuguesmente orgulhoso e que acredito no meu país, na nossa capacidade de trabalhar, produzir, gerir e ser governado com as minhas receitas e despesas.
Deixei os outros decidir quem governasse…eis a minha factura: 78 mil milhões, mais juros!
Permiti que, possivelmente, a década de infante dos meus filhos seja marcada pelo triste, resignado e dorido: “Filha, filho, não podemos…!”
Mas hoje, EU posso fazer com que ELE, José Sócrates, pague o preço dele!
Eu, eleitor…está na mão de cada um de nós apontar o dedo certo a quem cometeu tanto erro seguido e que seja castigado!
Eu, eleitor, endividado à custa de outros, pagante da factura que delapidou o meu Portugal!
Eu, eleitor, chamo a mim a responsabilidade de querer saber quem me governa e como.
Eu, eleitor, não quero mais este José Sócrates nem o PS.
Os nossos barõezitos tipo aqueles que ganham acima dos 5.000 / 10.000 euros por mês…que têm uns negócios ligados à comunicação social…uns imóveis por aí espalhados…vão levar uma bela tacada…
O aumento do IMI, a não dedução no IRS das despesas… tudo isso…vai ao bolso dessa gente que vai ter de mudar a versão conto de fadas do governo socialista!
“… é serviço público no âmbito da Refer ter uma empresa que trate de telecomunicações – há uma Refer Telecom. Qual é o serviço público da Refer Telecom? Ou não há serviço público aqui? E então porque é que os contribuintes têm de suportar os prejuízos?”
“Ao contrário de todas as outras empresa do grupo, a Refer Telecom é a única que dá lucros e mantém-se também autónoma. Possui uma comissão excutiva de cinco pessoas e 162 trabalhadores. Esta empresa assegura as telecomunicações ao próprio sistema ferroviário, mas presta também serviços externos às operadoras de telecomunicações, aproveitando o facto de possuir uma rede que cobre praticamente todo o território nacional.”
#15
É preciso dizer que a rede de fibra óptica, que acompanha as principais linhas de caminho de ferro, são um activo demasiado apetitoso. É já hoje utilizado, em regime de aluguer, por todos os principais operadores de infraestruturas de telecomunicações.
Na década de 1980, a rede de fibra óptica da Califórnia tornou-se autónoma, formando a Pacific Telesis (Pactel). Tão grande foi o sucesso, que chegou em pouco tempo a segundo operador mais importante nos EUA. diversificou as suas actividades, alargando-a para a telefonia móvel, mesmo antes da especificação completa das redes de nova geração do Groupe Spécial Mobile (GSM) da CEE.
Foi parceira do prjecto Telecel desde 1991 em Portugal. Um autêntico rebuçado.
Antes de conhecermos, pela voz dos senhores da troika, a parte má do acordo assinado pelo governo (deixo a análise das medidas para quando as conhecermos em pormenor – há coisas que exigem tempo e ponderação), vale a pena desmistificar seis mitos sobre a intervenção externa: que ela só acontece porque o governo nos trouxe até aqui; que a troika está cá para nos ajudar; que, tendo governantes incompetentes, devemos aceitar que seja ela a governar-nos; que todos temos de nos sacrificar; que temos a obrigação de evitar a instabilidade social; e que o nosso grande problema é ter Estado a mais.
1 – A intervenção externa acontece porque o governo nos trouxe até aqui.
Antes de mais, seria necessário perceber o que é o “aqui”. O que Portugal está a viver, já viveu a Grécia e a Irlanda e tudo indica que poderá vir a ser experimentado por Espanha e talvez pela Itália e pela Bélgica. Cada um destes países tem apenas uma coisa em comum: fazer parte do euro. Esta crise resulta de uma crise internacional e de um ataque especulativo ao euro, depois das enormes perdas do setor financeiro no imobiliário. Esse ataque acontece porque o euro é uma moeda forte presa por arames institucionais. Ver um gigante sem defesas é demasiado tentador. Porque foram estes países e não outros? Porque são as presas doentes de uma manada em fuga. Uma manada composta por Estados egoístas e sem solidariedade entre si. O euro é disfuncional e nós somos o elo mais fraco.
E porque são estes os estados mais frágeis? Por razões diferentes. A Grécia por causa da sua astronómica dívida pública, a Irlanda pelo colapso da sua banca e do seu outrora tão elogiado modelo de crescimento económico, Portugal por causa da sua dívida externa – sobretudo privada. Tendo os três países em comum o facto de, por terem menos peso económico e político, serem mais dispensáveis.
A dívida externa portuguesa tem responsabilidades antigas. Resumiria, de forma um pouco simplificada, em cinco causas: uma moeda forte para uma economia fraca; a destruição de quase todo o tecido produtivo de bens transacionáveis e a aposta em bens e serviços não exportáveis, mais consentâneos com os hábitos de uma elite económica conservadora e rentista; um mercado de arrendamento anémico com excesso de endividamento para compra de casa, que foi promovido pelo Estado; as parcerias público-privado, que ajudaram ao endividamento da banca e do Estado; e salários baixos que impedem que se acrescente valor ao que se produz e que dificultam a poupança. Tudo isto impediu o crescimento e a poupança e promoveu o endividamento privado.
Ou seja, os nossos problemas são antigos. Remontam pelo menos à entrada de Portugal na então CEE, era Cavaco Silva primeiro-ministro. Continuaram e aprofundaram-se com António Guterres, Durão Barroso e José Sócrates. Sim, este governo deixou-nos vulneráveis. Mas não foi apenas este. Foram pelo menos todos os governos desde meados dos anos 80.
2 – A troika está cá para nos ajudar.
FMI, BCE e UE estão a emprestar-nos dinheiro a juros altos. Não nos estão a fazer favor nenhum. A urgência do empréstimo resulta de um cerco à nossa dívida soberana e da descapitalização da nossa banca. Temos culpas próprias, como já o disse, mas o aperto final deveu-se a juros especulativos que tornaram o pagamento da dívida e o financiamento nos mercados virtualmente impossíveis. Na prática, estamos a trabalhar para pagar juros de assalto, não para amortizar a dívida. Não vale a pena dizer que se não queremos depender dos outros não pedimos emprestado. Está por inventar a primeira empresa ou Estado que não recorre ao crédito. Só quem não faz a menor ideia do que está a dizer – ou está de má-fé – pode afirmar tamanho disparate.
Já o problema estrutural – económico, social e até político – que é o endividamento das famílias tem razões bem mais profundas. Razões que todas as medidas que se têm anunciado só irão aprofundar. Porque menos Estado social com mais contração salarial corresponde a mais endividamento das famílias para garantir serviços essenciais, como a educação, a saúde ou a habitação. Esse tem sido, aliás, um dos segredos do capitalismo financeiro por esse mundo fora: pressionar os Estados a deixar de garantir o que é fundamental para oferecer com juros aquilo que os impostos de todos garantiam.
Na verdade, Portugal foi obrigado a pedir a intervenção externa. E o objetivo desta imposição é fácil de perceber: os credores queriam um cobrador a governar o País. Percebendo que esta espiral seria insustentável, é necessário sacar tudo o que há a sacar antes que se faça a renegociação da dívida. E que ela, sendo inevitável como é, aconteça o mais tarde possível. Basicamente, quando já não houver nada para levar e a banca europeia esteja numa posição mais robusta que lhe permita lidar sem problemas com as inevitáveis perdas.
Conclusão: a troika não está aqui para ajudar Portugal a reerguer-se. Está cá para garantir que ficamos algum tempo ligados à máquina, assinando o nosso testamento antes de nos finarmos. Se cá estivesse para nos ajudar, negociava políticas de crescimento, as únicas que nos podem tirar deste buraco, e não políticas recessivas, que piorarão ainda mais a nossa situação. Se estivesse aqui para nos ajudar, emprestava dinheiro a juros aceitáveis, e não a juros especulativos que garantem lucro a instituições de que fazemos parte. Se estivesse aqui para nos ajudar, estaríamos a discutir a inevitável renegociação da dívida a tempo dela ter alguma eficácia.
3 – Devemos aceitar que a troika nos governe, porque não nos sabemos governar.
Para além da falta de patriotismo e do desprezo pela democracia que este argumento transporta, ele é infantil. A troika responde perante os países com mais poder. E é neles que estão os nossos principais credores. É por isso que o BCE e a União têm propostas mais violentas do que o FMI. Porque neles se faz sentir de forma mais evidente o poder da Alemanha. Ninguém, no seu perfeito juízo, se deixa governar pelos seus credores sem luta. Os interesses que a troika defende e que o Estado português deve defender são opostos. Para Portugal, a renegociação da dívida é urgente – já devia ter acontecido. Para a troika, deve acontecer o mais tarde possível. As políticas que a troika vai impor atirarão o País para uma crise profunda, apenas para garantir o pagamento do máximo da dívida possível o mais depressa possível. Portugal não tem nenhuma vantagem em aplicá-las e se o fizer apenas estará a ceder a uma pressão que resulta da sua situação de necessidade. A troika não é nossa aliada. Por piores que sejam os nossos governantes, esses, ao menos, podemos eleger ou fazer cair. Dependem de nós.
4 – Todos temos de nos sacrificar para tirar o País do buraco.
Esta ideia resulta de dois equívocos: que todos somos responsáveis por o que está a suceder e que todos estamos em condições de fazer sacrifícios. Com um salário médio de 750 euros e vinte por cento da população a viver abaixo do limiar de pobreza é insultuoso dizer que os portugueses vivem acima das suas possibilidades. A maioria dos portugueses faz sacrifícios desde que nasceu e não tem margem para fazer mais.
Com ou sem troika, são necessários alguns sacrifícios. Mas não de todos. Apenas dos que nunca os fizeram. Não esquecer este dado fundamental: Portugal é o País mais desigual da Europa. É no combate a essa desigualdade que estão as soluções para a nossa economia. Se quando havia dinheiro ele não foi distribuído com justiça, que os sacrifícios o sejam, agora que o dinheiro falta.
5 – A instabilidade social só vai piorar a nossa situação.
Aceitemos este facto: em estado de necessidade, quem tem mais poder tentará fugir ao pagamento da fatura da crise. Sempre assim foi. Como nestas coisas a ética pouco ou nada determina, é a relação de forças entre os vários intervenientes que determinará a forma como os sacrifícios serão distribuídos. Ao sabermos que parte do dinheiro que vem – pago por todos nós a juros especulativos – irá para a recapitulação da banca, não é difícil prever quem ganhará e quem perderá com este empréstimo. Quem, mais uma vez, se sacrificará. Quem, mais uma vez, se safará.
Como a democracia estará, nos próximos anos, suspensa, os mais pobres perderam o único poder que tinham: o voto. Já nos foi explicado que, votem em quem votarem, as decisões serão sempre as mesmas. A não ser, claro, que se organizem em torno de uma alternativa política. Que ela apareça e que eles não tenham medo de a apoiar. Resta o outro instrumento: resistir para obrigar a uma distribuição mais justa dos sacrifícios. Em momentos como estes, o poder só compreende a linguagem da força (pacífica, claro está).
O discurso mainstream instalou o medo como estado de espírito nacional. Com as famílias endividadas, o desemprego a crescer todos os dias e a precariedade dos vínculos laborais a dominar o nosso mercado de trabalho, paralizar os cidadãos e obrigá-los a aceitar para si todos os sacrifícios é tarefa fácil. Virar os cidadãos contra os que, por terem uma situação laboral mais segura ou apenas por não se conformarem, teimam em resistir vai ser o próximo passo. Convencer todos que quem resiste é irresponsável e levará o País à desgraça, para mais facilmente obrigar todos a aceitar em silêncio a institucionalização política da injustiça social, será o discurso dominante dos próximos anos.
6 – Temos Estado a mais e esse é o nosso problema.
Aquilo a que assistimos é à maior transferência de recursos públicos para cofres privados, num processo que vem de longe e que chega agora à sua fase terminal. Assistimos, em todos os países ocidentais, a um assalto ao Estado Social. O seu desmembramento não é uma inevitabilidade económica. É uma escolha política de quem desistiu de ser o governo do povo, pelo povo e para povo.
Não nego que o nosso Estado é mal gerido. E essa é a nossa grande responsabilidade coletiva: escolhemos mal quem gere o que nos pertence a todos. Mas a destruição do Estado Social não resolverá os nossos problemas. O fim do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da intervenção do Estado democrático na economia, de uma segurança social universal pública e de leis laborais que garantam o mínimo de segurança aos trabalhadores não libertará “as forças da sociedade civil” do jugo do Estado. Apenas garantirá que tudo o que os cidadãos europeus conquistaram nos últimos sessenta anos – e que os portugueses conquistaram nos últimos quarenta anos – será perdido. A nossa saúde, a nossa educação, a nossa velhice e os nossos direitos viverão sob o jugo do lucro.
Na realidade, a questão não é, nunca foi, nunca será, se temos Estado a mais ou a menos. Note-se que no mesmo momento que se emagrece o Estado nacionalizam-se bancos. Privatizam-se os recursos, socializam-se os prejuízos. Nunca o Estado exigiu tanto dos cidadãos, nunca os mais afortunados dependeram tanto dele para acumular ganhos. Aliás, grande parte dos erros do nosso modelo de desenvolvimento resultam disso mesmo: uma elite económica parasitária do Estado e um Estado subserviente a uma elite económica que vive mal com a concorrência e com o risco.
A questão é, sempre foi, sempre será, para quem trabalha o Estado. Para onde vão os nossos recursos. O que nos é proposto agora não é o emagrecimento do Estado. É o nosso emagrecimento para que o Estado transfira o nosso dinheiro para os que nunca se sacrificam em momentos de crise. E a pergunta que resta é simples: vamos deixar que o medo nos roube o que por direito nos pertence?
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Maio 4, 2011 at 10:50 pm
Não cultivar uma psicologia de bisbilhoteiro! Nunca observar só por observar! Isso provoca uma óptica falsa, uma perspectiva vesga, algo que resulta forçado e que exagera as coisas. O ter experiências, quando é um querer-ter-experiências, — não resulta bem. Na experiência não é lícito olhar para si mesmo, todo o olhar se converte então num «mau-olhado». Um psicólogo nato guarda-se, por instinto, de ver por ver; o mesmo se pode dizer do pintor nato. Este não trabalha jamais «segundo a natureza», encomenda ao seu instinto, à sua câmara escura o crivar e exprimir o «caso», a «natureza», o «vivido»… Até à sua consciência chega só o universal, a conclusão, o resultado: não conhece esse arbitrário abstrair do caso individual. — Que é que resulta quando se procede de outro modo? Quando se cultiva, por exemplo, uma psicologia de bisbilhoteiro, à maneira dos romanciers parisienses, grandes e pequenos? Essa gente anda, por assim dizê-lo, à espreita da realidade, essa gente leva para casa cada noite um punhado de curiosidades… Porém veja-se o que acaba por sair daí — um montão de borrões, um mosaico no melhor dos casos, e de qualquer forma algo que é o resultado da soma de várias coisas, algo turbulento, de cores berrantes.
Friedrich Nietzsche
Maio 4, 2011 at 10:51 pm
Podemos afirmar, depois de ouvir José Sócrates, que Portugal obteve um acordo com o FMI bem mais honroso do que o obtido com a Inglaterra, aquando do Mapa Cor de Rosa, apesar da dureza das negociações.
Mas percebamos melhor o acordo, fazendo aqui a súmula do relato do mesmo, feito em directo pela TV, e na primeira pessoa, pelo próprio Sócrates:
” Portugueses:
Foi magnífico o que aconteceu entre mim, que represento o país, e a Troika.
Quando pedi que não aumentassem o IVA, chamaram-me irresponsável… Mas a verdade é que só aumentaram um bocadinho”; depois, ao implorar que não aumentassem a idade da reforma, disseram que eu estava a ser desonesto… O que é certo é que a aumentaram apenas em escassos meses; a seguir, quando ousei pedir que não congelassem por muito tempo os salários, ralharam comigo, e aconselharam-me a dar o exemplo, passando a gozar as minhas férias num hotel três estrelas, deixando de o fazer no Pine Cliffs… E, valha a verdade, só os vão congelar durante cinco ou seis anos.
Finalmente, mandaram-me virar de costas, e deram-me um empurrão, exigindo que viesse aqui à televisão dizer o que se passou. E foi o que fiz, cumprindo a minha nobre missão. ( Abro um parêntesis, para explicar ao país que este tipo que aqui está a meu lado quis vir comigo, porque gosta muito de mim, e eu como tenho pena dele deixei-o vir, mas não conta pra coisa nenhuma…).
Os portugueses podem estar satisfeitos e orgulhosos: chamaram-me irresponsável, desonesto, e ralharam comigo, mas eu não me importei, porque tenho estofo (lata) para aguentar com tudo isto, e muito mais.
O que interessa aos portugueses, é que consegui com a Troika um acordo assaz extraordinário para o nosso país.
Mas devo salientar que esse acordo só foi possível graças à minha tenacidade e capacidade de negociação.
Por isso: Viva a Troika, Viva Portugal, e viva Eu próprio!
Maio 4, 2011 at 10:55 pm
#2
Excelente resumo da situação. Bom para enviar por mail a todos os amigos.
Maio 4, 2011 at 11:01 pm
Perante tanta lucidez, tantos a desmontarem os esquemas socratinos, como é possível (dizem)vencer as eleições?
Maio 4, 2011 at 11:21 pm
#4
Por falar em eleições. Há muito que não aparecem sondagens. Acho que há dias estava para sair uma que não saiu e isso pode ser um bom augúrio.
Maio 4, 2011 at 11:22 pm
# 4
Porque há muita gente que olha para o partido político como se fosse um clube de futebol e tem uma paixão imensa pelo “coisa & tal”.
Maio 4, 2011 at 11:25 pm
Eu diria mais: uma cegueira atroz ou um seguidismo acéfalo!
Maio 4, 2011 at 11:26 pm
#6
Mas mudam logo que lhes chegam ao bolso. Ontem entraram em euforia. Hoje acordaram com o aumento de impostos, incluindo o IMI.
Isto vai dar uma volta.
Maio 4, 2011 at 11:32 pm
PSD quer aplicar plano amplo de privatizações
4 de Maio, 2011
Pedro Passos Coelho anunciou hoje que o programa eleitoral do PSD vai ser apresentado no domingo e prevê um «amplo» plano de privatizações, que inclui EDP, TAP, REN e Águas de Portugal.
Numa entrevista à RTP1 em que reiterou a intenção de pedir aos portugueses uma maioria absoluta, o presidente do PSD adiantou que pretende constituir um Governo com não mais do 25 secretários de Estado, repartidos por dez ministérios.
Nesta entrevista, Passos Coelho confirmou que, se o PSD ganhar as legislativas de 5 de Junho, mesmo com maioria absoluta, convidará o CDS-PP para o Governo.
Questionado sobre o motivo por que não revelou que se tinha encontrado com o primeiro-ministro em São Bento, em Março, na véspera da apresentação do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), o presidente do PSD respondeu que “isso foi combinado” com José Sócrates.
Passos Coelho acusou o Governo de ter violado aquilo que tinha sido acertado, pondo a correr que tinha havido esse encontro, e sublinhou que nessa ocasião “não houve processo negocial nenhum” sobre o PEC.
Lusa/SOL
Maio 4, 2011 at 11:38 pm
Mea culpa: eu, eleitor e a circum-navegação política do meu país.
Não sei em que tipo de país acordarei a cada dia que passa rumo às próximas eleições legislativas. É um tomo inteiro de Vagabundo dos Limbos de aurora a crepúsculo.
Aliás, mea culpa…!
Deixei de querer saber por uns anos. Optei por não querer saber.
Desiludido com o meio político na era pós-jota, dediquei-me ao meu umbigo. E não quis saber quem governava. Mas até ia votar, ora na “esquerda”, ora na “direita”, sem procurar aprofundar o que cada lado propunha.
Nesse sentido, o facto de actualmente vir aqui uma troika, a meu pedido – sim, o 1º Ministro representa a minha pessoa – após pedir-lhes ajuda e definir, de forma participada pelos políticos que eu elegi para representar a minha voz, o que terei de fazer para pagar a ajuda que eu pedi, é em quota parte da minha responsabilidade.
Porque não quis saber.
Porque deixei que outros decidissem em maior número quem é que vai governar o meu esforço, o meu suor, o meu rendimento, aquilo que posso dar e deixar aos meus filhos.
Porque tenho um 1º Ministro, que me representa, capaz de ardilosamente montar uma novela à volta de tudo aquilo que eu, ao votar, permiti que ele fizesse tanta má opção, opções dispendiosas, caras demais para o meu bolso, que é o orçamento dele, aprovado pelo meu voto – neste caso, com o meu “não voto.”
E agora sou eu que pago. Eu acabei de prejudicar os meus filhos, porque há 16 anos que não quis saber e deixei o meu destino na mão de quem foi votar.
Por tal, não posso escusar a minha pessoa da minha responsabilidade. Não nesta hora! Não agora! Não mais!!!
Chega!
A pessoa que eu quero que me represente como 1º Ministro não pode ser alguém que anos a fio, dia a dia, simplesmente dizia uma e fazia outra e no dia seguinte trocava as voltas.
A pessoa que eu quero que me represente como 1º Ministro não pode ser alguém que tem o descaramento de aproveitar-se da nossa paixão pelo futebol e fazer propaganda eleitoral, pago pelos meus impostos, para querer fazer de nós todos asininos, apregoando que ELE tinha conseguido um bom acordo.
Ele, que afirmou que não pediria ajuda externa, que não governaria com o FMI aqui, que Portugal não precisava tanto de ajuda como OUTROS queriam fazer crer.
Ele, José Sócrates, que afirmou que não haveria despedimentos, cortes, reduções, carga e sobrecarga no orçamento das famílias portuguesas.
ELE conseguiu um bom acordo? Esperem lá…vamos dizer isso em Português vox populi: “Ó pá…prontos eu sei que fiz asneira, até demais, que faz com que agora vos obrigue a todos a fazer uma vaquinha comigo e entrar com a vossa parte para limpar as asneiras. Mas não se preocupem, eu dou-me bem com os gajos e vou conseguir o melhor negócio possível…deixem comigo que safo isto ainda para o nosso lado, aliás ainda consigo convencer os eleitores adeptos da bola e da novela de que isto foi tudo já pensado por mim, para nos safarmos!”
Desculpem o brejo de tom, mas o brejo da atitude e falta de carácter que ele, José Sócrates, provou, de publicamente, enquanto representante de todos os Portugueses e às minhas expensas, vir mentir, descaradamente, em manobra de marketing eleitoral capaz de aproveitar-se dos mais básicos instintos de selvajaria intelectual, querendo fazer do povo Português colectivamente ignorantes, só prova a falta de escrúpulos, desesperada tentativa de salvar a cara…porque o resto já se foi.
E agora é ver esse mesmo actor energúmeno de dedo em riste e punhos cerrados, com a cara zangada exclamar: “Portugueses, temos de trabalhar! Empresários, precisamos que se empenham ainda mais nas nossas exportações, temos de lutar com mais força para vencer esta crise!”
Mas de quem é a real responsabilidade da situação em que o meu querido Portugal se encontra?
Quer dizer, José Sócrates e o seu desgoverno levaram isto à bancarrota e agora a sua máquina eleitoral, tentando controlar desenfreadamente a opinião pública, quer nos fazer querer que só ele é que pode salvar Portugal.
Dito de outra forma, ele é o remédio para a nossa doença – a panaceia miraculosa, porque tanto o antibiótico como o vírus são a mesma pessoa: José Sócrates!
Não!
Não mais!
Eu tenho na minha mão a opção de dizer ACABOU!
Eu, portuguesmente orgulhoso e que acredito no meu país, na nossa capacidade de trabalhar, produzir, gerir e ser governado com as minhas receitas e despesas.
Deixei os outros decidir quem governasse…eis a minha factura: 78 mil milhões, mais juros!
Permiti que, possivelmente, a década de infante dos meus filhos seja marcada pelo triste, resignado e dorido: “Filha, filho, não podemos…!”
Mas hoje, EU posso fazer com que ELE, José Sócrates, pague o preço dele!
Eu, eleitor…está na mão de cada um de nós apontar o dedo certo a quem cometeu tanto erro seguido e que seja castigado!
Eu, eleitor, endividado à custa de outros, pagante da factura que delapidou o meu Portugal!
Eu, eleitor, chamo a mim a responsabilidade de querer saber quem me governa e como.
Eu, eleitor, não quero mais este José Sócrates nem o PS.
Eu, eleitor, voto Pedro Passos Coelho, voto PSD!
Maio 4, 2011 at 11:39 pm
Eu tenho mais ligações, muitas, enviadas pelo livresco, mas hoje já não tenho pedalada. Amanhã…
Maio 4, 2011 at 11:45 pm
Ah pois… é capaz…
Os nossos barõezitos tipo aqueles que ganham acima dos 5.000 / 10.000 euros por mês…que têm uns negócios ligados à comunicação social…uns imóveis por aí espalhados…vão levar uma bela tacada…
O aumento do IMI, a não dedução no IRS das despesas… tudo isso…vai ao bolso dessa gente que vai ter de mudar a versão conto de fadas do governo socialista!
Maio 4, 2011 at 11:47 pm
eu nunca votarei psd apadrinhado pelo “mais sociedade”
nem um psd mais gravoso que fmi
Maio 4, 2011 at 11:47 pm
#11
Vou reiniciar ler o “mail” amanhã, se Deus quiser.
Maio 4, 2011 at 11:57 pm
Pedro Passos Coelho
“… é serviço público no âmbito da Refer ter uma empresa que trate de telecomunicações – há uma Refer Telecom. Qual é o serviço público da Refer Telecom? Ou não há serviço público aqui? E então porque é que os contribuintes têm de suportar os prejuízos?”
nesta entrevista (5ª resposta):
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/passos-coelho-portugal-esta-com-as-calcas-na-mao
pois é, rapaz! mas acontece que,
“Ao contrário de todas as outras empresa do grupo, a Refer Telecom é a única que dá lucros e mantém-se também autónoma. Possui uma comissão excutiva de cinco pessoas e 162 trabalhadores. Esta empresa assegura as telecomunicações ao próprio sistema ferroviário, mas presta também serviços externos às operadoras de telecomunicações, aproveitando o facto de possuir uma rede que cobre praticamente todo o território nacional.”
aqui, no último §:
Maio 5, 2011 at 12:00 am
privatize-se, então (até é uma empresa autónoma)!
Maio 5, 2011 at 12:06 am
#15
É preciso dizer que a rede de fibra óptica, que acompanha as principais linhas de caminho de ferro, são um activo demasiado apetitoso. É já hoje utilizado, em regime de aluguer, por todos os principais operadores de infraestruturas de telecomunicações.
Na década de 1980, a rede de fibra óptica da Califórnia tornou-se autónoma, formando a Pacific Telesis (Pactel). Tão grande foi o sucesso, que chegou em pouco tempo a segundo operador mais importante nos EUA. diversificou as suas actividades, alargando-a para a telefonia móvel, mesmo antes da especificação completa das redes de nova geração do Groupe Spécial Mobile (GSM) da CEE.
Foi parceira do prjecto Telecel desde 1991 em Portugal. Um autêntico rebuçado.
Maio 5, 2011 at 12:19 am
#13
E votará PS? É que não percebi.
Maio 5, 2011 at 12:33 am
eu voto no boda…
Maio 5, 2011 at 12:49 am
Uma troika em seis mitos
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Quarta feira, 4 de maio de 2011
Antes de conhecermos, pela voz dos senhores da troika, a parte má do acordo assinado pelo governo (deixo a análise das medidas para quando as conhecermos em pormenor – há coisas que exigem tempo e ponderação), vale a pena desmistificar seis mitos sobre a intervenção externa: que ela só acontece porque o governo nos trouxe até aqui; que a troika está cá para nos ajudar; que, tendo governantes incompetentes, devemos aceitar que seja ela a governar-nos; que todos temos de nos sacrificar; que temos a obrigação de evitar a instabilidade social; e que o nosso grande problema é ter Estado a mais.
1 – A intervenção externa acontece porque o governo nos trouxe até aqui.
Antes de mais, seria necessário perceber o que é o “aqui”. O que Portugal está a viver, já viveu a Grécia e a Irlanda e tudo indica que poderá vir a ser experimentado por Espanha e talvez pela Itália e pela Bélgica. Cada um destes países tem apenas uma coisa em comum: fazer parte do euro. Esta crise resulta de uma crise internacional e de um ataque especulativo ao euro, depois das enormes perdas do setor financeiro no imobiliário. Esse ataque acontece porque o euro é uma moeda forte presa por arames institucionais. Ver um gigante sem defesas é demasiado tentador. Porque foram estes países e não outros? Porque são as presas doentes de uma manada em fuga. Uma manada composta por Estados egoístas e sem solidariedade entre si. O euro é disfuncional e nós somos o elo mais fraco.
E porque são estes os estados mais frágeis? Por razões diferentes. A Grécia por causa da sua astronómica dívida pública, a Irlanda pelo colapso da sua banca e do seu outrora tão elogiado modelo de crescimento económico, Portugal por causa da sua dívida externa – sobretudo privada. Tendo os três países em comum o facto de, por terem menos peso económico e político, serem mais dispensáveis.
A dívida externa portuguesa tem responsabilidades antigas. Resumiria, de forma um pouco simplificada, em cinco causas: uma moeda forte para uma economia fraca; a destruição de quase todo o tecido produtivo de bens transacionáveis e a aposta em bens e serviços não exportáveis, mais consentâneos com os hábitos de uma elite económica conservadora e rentista; um mercado de arrendamento anémico com excesso de endividamento para compra de casa, que foi promovido pelo Estado; as parcerias público-privado, que ajudaram ao endividamento da banca e do Estado; e salários baixos que impedem que se acrescente valor ao que se produz e que dificultam a poupança. Tudo isto impediu o crescimento e a poupança e promoveu o endividamento privado.
Ou seja, os nossos problemas são antigos. Remontam pelo menos à entrada de Portugal na então CEE, era Cavaco Silva primeiro-ministro. Continuaram e aprofundaram-se com António Guterres, Durão Barroso e José Sócrates. Sim, este governo deixou-nos vulneráveis. Mas não foi apenas este. Foram pelo menos todos os governos desde meados dos anos 80.
2 – A troika está cá para nos ajudar.
FMI, BCE e UE estão a emprestar-nos dinheiro a juros altos. Não nos estão a fazer favor nenhum. A urgência do empréstimo resulta de um cerco à nossa dívida soberana e da descapitalização da nossa banca. Temos culpas próprias, como já o disse, mas o aperto final deveu-se a juros especulativos que tornaram o pagamento da dívida e o financiamento nos mercados virtualmente impossíveis. Na prática, estamos a trabalhar para pagar juros de assalto, não para amortizar a dívida. Não vale a pena dizer que se não queremos depender dos outros não pedimos emprestado. Está por inventar a primeira empresa ou Estado que não recorre ao crédito. Só quem não faz a menor ideia do que está a dizer – ou está de má-fé – pode afirmar tamanho disparate.
Já o problema estrutural – económico, social e até político – que é o endividamento das famílias tem razões bem mais profundas. Razões que todas as medidas que se têm anunciado só irão aprofundar. Porque menos Estado social com mais contração salarial corresponde a mais endividamento das famílias para garantir serviços essenciais, como a educação, a saúde ou a habitação. Esse tem sido, aliás, um dos segredos do capitalismo financeiro por esse mundo fora: pressionar os Estados a deixar de garantir o que é fundamental para oferecer com juros aquilo que os impostos de todos garantiam.
Na verdade, Portugal foi obrigado a pedir a intervenção externa. E o objetivo desta imposição é fácil de perceber: os credores queriam um cobrador a governar o País. Percebendo que esta espiral seria insustentável, é necessário sacar tudo o que há a sacar antes que se faça a renegociação da dívida. E que ela, sendo inevitável como é, aconteça o mais tarde possível. Basicamente, quando já não houver nada para levar e a banca europeia esteja numa posição mais robusta que lhe permita lidar sem problemas com as inevitáveis perdas.
Conclusão: a troika não está aqui para ajudar Portugal a reerguer-se. Está cá para garantir que ficamos algum tempo ligados à máquina, assinando o nosso testamento antes de nos finarmos. Se cá estivesse para nos ajudar, negociava políticas de crescimento, as únicas que nos podem tirar deste buraco, e não políticas recessivas, que piorarão ainda mais a nossa situação. Se estivesse aqui para nos ajudar, emprestava dinheiro a juros aceitáveis, e não a juros especulativos que garantem lucro a instituições de que fazemos parte. Se estivesse aqui para nos ajudar, estaríamos a discutir a inevitável renegociação da dívida a tempo dela ter alguma eficácia.
3 – Devemos aceitar que a troika nos governe, porque não nos sabemos governar.
Para além da falta de patriotismo e do desprezo pela democracia que este argumento transporta, ele é infantil. A troika responde perante os países com mais poder. E é neles que estão os nossos principais credores. É por isso que o BCE e a União têm propostas mais violentas do que o FMI. Porque neles se faz sentir de forma mais evidente o poder da Alemanha. Ninguém, no seu perfeito juízo, se deixa governar pelos seus credores sem luta. Os interesses que a troika defende e que o Estado português deve defender são opostos. Para Portugal, a renegociação da dívida é urgente – já devia ter acontecido. Para a troika, deve acontecer o mais tarde possível. As políticas que a troika vai impor atirarão o País para uma crise profunda, apenas para garantir o pagamento do máximo da dívida possível o mais depressa possível. Portugal não tem nenhuma vantagem em aplicá-las e se o fizer apenas estará a ceder a uma pressão que resulta da sua situação de necessidade. A troika não é nossa aliada. Por piores que sejam os nossos governantes, esses, ao menos, podemos eleger ou fazer cair. Dependem de nós.
4 – Todos temos de nos sacrificar para tirar o País do buraco.
Esta ideia resulta de dois equívocos: que todos somos responsáveis por o que está a suceder e que todos estamos em condições de fazer sacrifícios. Com um salário médio de 750 euros e vinte por cento da população a viver abaixo do limiar de pobreza é insultuoso dizer que os portugueses vivem acima das suas possibilidades. A maioria dos portugueses faz sacrifícios desde que nasceu e não tem margem para fazer mais.
Com ou sem troika, são necessários alguns sacrifícios. Mas não de todos. Apenas dos que nunca os fizeram. Não esquecer este dado fundamental: Portugal é o País mais desigual da Europa. É no combate a essa desigualdade que estão as soluções para a nossa economia. Se quando havia dinheiro ele não foi distribuído com justiça, que os sacrifícios o sejam, agora que o dinheiro falta.
5 – A instabilidade social só vai piorar a nossa situação.
Aceitemos este facto: em estado de necessidade, quem tem mais poder tentará fugir ao pagamento da fatura da crise. Sempre assim foi. Como nestas coisas a ética pouco ou nada determina, é a relação de forças entre os vários intervenientes que determinará a forma como os sacrifícios serão distribuídos. Ao sabermos que parte do dinheiro que vem – pago por todos nós a juros especulativos – irá para a recapitulação da banca, não é difícil prever quem ganhará e quem perderá com este empréstimo. Quem, mais uma vez, se sacrificará. Quem, mais uma vez, se safará.
Como a democracia estará, nos próximos anos, suspensa, os mais pobres perderam o único poder que tinham: o voto. Já nos foi explicado que, votem em quem votarem, as decisões serão sempre as mesmas. A não ser, claro, que se organizem em torno de uma alternativa política. Que ela apareça e que eles não tenham medo de a apoiar. Resta o outro instrumento: resistir para obrigar a uma distribuição mais justa dos sacrifícios. Em momentos como estes, o poder só compreende a linguagem da força (pacífica, claro está).
O discurso mainstream instalou o medo como estado de espírito nacional. Com as famílias endividadas, o desemprego a crescer todos os dias e a precariedade dos vínculos laborais a dominar o nosso mercado de trabalho, paralizar os cidadãos e obrigá-los a aceitar para si todos os sacrifícios é tarefa fácil. Virar os cidadãos contra os que, por terem uma situação laboral mais segura ou apenas por não se conformarem, teimam em resistir vai ser o próximo passo. Convencer todos que quem resiste é irresponsável e levará o País à desgraça, para mais facilmente obrigar todos a aceitar em silêncio a institucionalização política da injustiça social, será o discurso dominante dos próximos anos.
6 – Temos Estado a mais e esse é o nosso problema.
Aquilo a que assistimos é à maior transferência de recursos públicos para cofres privados, num processo que vem de longe e que chega agora à sua fase terminal. Assistimos, em todos os países ocidentais, a um assalto ao Estado Social. O seu desmembramento não é uma inevitabilidade económica. É uma escolha política de quem desistiu de ser o governo do povo, pelo povo e para povo.
Não nego que o nosso Estado é mal gerido. E essa é a nossa grande responsabilidade coletiva: escolhemos mal quem gere o que nos pertence a todos. Mas a destruição do Estado Social não resolverá os nossos problemas. O fim do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da intervenção do Estado democrático na economia, de uma segurança social universal pública e de leis laborais que garantam o mínimo de segurança aos trabalhadores não libertará “as forças da sociedade civil” do jugo do Estado. Apenas garantirá que tudo o que os cidadãos europeus conquistaram nos últimos sessenta anos – e que os portugueses conquistaram nos últimos quarenta anos – será perdido. A nossa saúde, a nossa educação, a nossa velhice e os nossos direitos viverão sob o jugo do lucro.
Na realidade, a questão não é, nunca foi, nunca será, se temos Estado a mais ou a menos. Note-se que no mesmo momento que se emagrece o Estado nacionalizam-se bancos. Privatizam-se os recursos, socializam-se os prejuízos. Nunca o Estado exigiu tanto dos cidadãos, nunca os mais afortunados dependeram tanto dele para acumular ganhos. Aliás, grande parte dos erros do nosso modelo de desenvolvimento resultam disso mesmo: uma elite económica parasitária do Estado e um Estado subserviente a uma elite económica que vive mal com a concorrência e com o risco.
A questão é, sempre foi, sempre será, para quem trabalha o Estado. Para onde vão os nossos recursos. O que nos é proposto agora não é o emagrecimento do Estado. É o nosso emagrecimento para que o Estado transfira o nosso dinheiro para os que nunca se sacrificam em momentos de crise. E a pergunta que resta é simples: vamos deixar que o medo nos roube o que por direito nos pertence?
Maio 5, 2011 at 12:54 am
#20
pois, a solução era mesmo mesmo entrar-mos em rutura,
ou então, não pagarmos…enfim
Maio 5, 2011 at 12:55 am
#21: «entrarmos»!
Maio 5, 2011 at 1:00 am
içu!
Maio 5, 2011 at 1:03 am
Olha, afinal só agora é que reconhecem que há manipulação dos media (sobretuda da imprensa escrita), para chegar (manipular!) às massas?! (RTPN)
Maio 5, 2011 at 1:07 am
ena, a sério, quem diria…
mas alguém acredita nos jornais??
Maio 5, 2011 at 1:07 am
aiiieeeeeeeeeee
eu voto PP. Prontes.
Julho 13, 2011 at 1:34 pm
Olá,
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