A situação 1
As pessoas comunicam num discurso cada vez mais pobre de recursos significantes. Admitido publicamente pelos implicados, já não se redigem nem as leis com o rigor necessário. Por este andar, um dia, não muito distante, teremos de recorrer ao inglês, para construir e interpretar o nosso edifício legislativo. Será a machadada final na já precária soberania que nos resta. Além disso, perderemos também a pátria, porque a nossa pátria é a língua portuguesa!
Gramáticas, programas e, acerca de ambos, interpretações e reflexões, com muitas citações e infindáveis bibliografias, sempre houve. Também sempre houve estágios pedagógicos orientadores do modo como dar aulas e conteúdos, que os professores foram adoptando, acriticamente, para toda a vida! O que é muito mais difícil de encontrar são verdadeiras didácticas para o funcionamento da língua. Didácticas operativas, organizadoras dos conteúdos, que façam do ensino do português um verdadeiro projecto.
Os manuais seguem os programas e os professores seguem os manuais. Os conteúdos são ministrados de forma avulsa. Peças encaixotadas (quantas vezes de marcas diferentes!) de um motor por montar. Motor que, assim, nunca funcionará! De facto, de que serve, aos alunos do 2º ciclo do ensino básico, esse amontoado de conteúdos, respigados de diferentes abordagens, sem coesão nem coerência, de que são feitos os programas e os manuais?! Mais do que inútil, é perverso! Porque, em vez de formar, deforma!
João de Brito
Janeiro 3, 2011 at 6:09 pm
Acredito que uma boa parte do problema esteja na falta de “didácticas operativas, organizadoras dos conteúdos, que façam do ensino do português um verdadeiro projecto”. Aliás, a falta de uma arquitectura coerente ao longo dos ciclos/anos de escolaridade será um dos principais entraves a um ensino mais eficaz. O resto, perdoem-me – não há paciência.
Janeiro 3, 2011 at 6:35 pm
O ensino da Lógica, da Filosofia e da Psicologia vai pelo mesmo trilho. Quebram-se os alicerces da elaboração do pensamento autónomo e da racionalização consciente. No seu lugar, instala-se a auto-comiseração; a interpretação imediatista e parcial dos factos complexos substitui a capacidade de análise e de síntese. É a própria construção da felicidade que fica comprometida.
Janeiro 3, 2011 at 8:44 pm
Colega João de Brito,
“O que é muito mais difícil de encontrar são verdadeiras didácticas para o funcionamento da língua. Didácticas operativas, organizadoras dos conteúdos, que façam do ensino do português um verdadeiro projecto.”
-O que podemos entender por didácticas operativas, organizadoras dos conteúdos?
– Simultâneamente, o que são didácticas verdadeiras para o funcionamento da língua?
Desde já, obrigada pela atenção que poderá dar a estas duas questões.
Janeiro 3, 2011 at 9:15 pm
Subscrevo, caro João de Brito!
Texto muito pertinente.
Janeiro 3, 2011 at 9:20 pm
E eu subscrevo a Fernanda 1
Janeiro 3, 2011 at 9:21 pm
Nota oficiosa da Comissão Nacional de Eleições – Voto em branco
http://www.cne.pt/index.cfm?sec=0201000000&NewsID=144
Janeiro 3, 2011 at 9:22 pm
Mais (ou menos…) um bocadinho e o João de Brito parecia um Ramiro a escrever.
Janeiro 3, 2011 at 9:22 pm
Não temos uma verdadeira cultura do desenvolvimento da didáctica da nossa Língua.
Basta comparar com o Inglês. Nas raras publicações de e para professores, predominam textos teónicos sobre desenvolvimento curricular, área de Projecto e afins, mas sobre didáctica de Português há uma pobreza quase confrangedora. Somos um país de teóricos.
Há falta de incentivo ao intercâmbio de experiências, pois tudo tem de passar pelo aval e crivo de ESES, de “comichões-observatórios” e de gabinetes ministeriais vários.
O professor “soldado raso” que trabalha na Escola raramente tem liberdade de criação, de expressão ou sequer de pensamento.
Basta ver a imposição surda da Tlebs e do Acordo Ortográfico, perante os quais os professores que estão no terreno foram simplesmente ignorados.
Janeiro 3, 2011 at 9:23 pm
Digo, “textos teóRicos”
Janeiro 3, 2011 at 11:33 pm
e eu que ia já ao dicionário ver o que era “teónico” 🙂
Janeiro 6, 2011 at 12:11 pm
Ora cá está um pseudo-problema: teremos o brasileiro e demais crioulos…