Preâmbulos
QUANDO ALGUÉM COMEÇA A FRASE com «Eu não sou racista, mas…», você pode estar certo de que o que segue será uma declaração racista que desmentirá espetacularmente o seu preâmbulo. Ninguém é mais racista do que quem começa dizendo que não é.
«Eu não sou moralista, mas…» geralmente precede uma posição moralista de embaraçar um Savonarola. «Eu não tenho nada contra, mas…» Segue um catálogo de coisas contra.
O hábito do preâmbulo imediatamente contrariado tem o seu lado bom. Significa que quem o usa pelo menos reconhece que vai destoar do que seria um pensamento normal, universal, esclarecido e correto. Que precisa se precaver e fornecer uma espécie de salvo-conduto para a sua opinião extrema. Às vezes o salvo-conduto vem no fim, como um adendo.
– Acho que, comunista, tem que matar.
Silêncio. Troca de olhares.
– Não que eu seja um reacionário…
Suspiros de alívio. Tudo esclarecido. O cara não é um reacionário. Ainda bem.
A verdade é que devemos ter muito cuidado com os preâmbulos. De preferência, fugir deles. Por exemplo:
– Posso te fazer uma pergunta?
Este é mortal. No meio de uma conversa, no meio de outras perguntas, vem o pedido de permissão para fazer uma pergunta. Que obviamente será mais séria, mais dificil e potencialmente mais indiscreta ou agressiva do que as perguntas para as quais
nenhuma permissão é necessária. Evite-a.
– Posso te fazer uma pergunta?
– Não!
– Mas…
– Não pode!
Mas o pior preâmbulo, o que já deflagrou mais desentendimento e discórdia e acabou com mais amizades, casamentos e carreiras do que qualquer outro, o que deveria ser banido de todos os vocabulários para que a Humanidade vivesse em paz, é:
– Posso ser franco?
Não deixe! Exija falsidade, hipocrisia, mentiras ou silêncio.
Tudo menos franqueza.
Melhor ainda: corra.
Luís Fernando Veríssimo, O Melhor das Comédias da Vida Privada, pp 265-66
Junho 30, 2010 at 7:55 pm
Pois…nós..
http://bulimunda.wordpress.com/2010/06/30/no-fundo-nao-passamos-disto-formigas-obreiras-dispensaveis-descartaveis-obedientes/
Junho 30, 2010 at 8:02 pm
Outra(s) frase(s) very typical: “Pode ficar descansado…” ou “Não se preocupe…”
Junho 30, 2010 at 8:23 pm
É, é assim…
Conheço uma que começa as frases por “eu sou muito transparente” e é um verdadeiro esgoto em tudo na vida.
Junho 30, 2010 at 8:41 pm
Vale a pena ver.
Junho 30, 2010 at 8:43 pm
http://bulimunda.wordpress.com/2010/06/30/charles-baudelaire-%E2%80%93-a-alma-do-vinho-poema-isto-sim-vale-a-pena-bater-palmas/
Junho 30, 2010 at 8:52 pm
Esta também era para ser há alguns dias…:
http://mairdenuboske.blogspot.com/2010/06/o-faz-e-desfaz-de-conta-disto-e-daquilo.html ❗
Junho 30, 2010 at 9:08 pm
“QUANDO ALGUÉM COMEÇA A FRASE com «Eu não sou racista, mas…», você pode estar certo de que o que segue será uma declaração racista que desmentirá espetacularmente o seu preâmbulo. Ninguém é mais racista do que quem começa dizendo que não é.
«Eu não sou moralista, mas…» geralmente precede uma posição moralista de embaraçar um Savonarola. «Eu não tenho nada contra, mas…» Segue um catálogo de coisas contra.
O hábito do preâmbulo imediatamente contrariado tem o seu lado bom. Significa que quem o usa pelo menos reconhece que vai destoar do que seria um pensamento normal, universal, esclarecido e correto. Que precisa se precaver e fornecer uma espécie de salvo-conduto para a sua opinião extrema. Às vezes o salvo-conduto vem no fim, como um adendo…”
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Então não é que isto faz-me lembrar alguém?
Cai que nem ginjas nos senhores do Bloco de Esquerda e afins… Oi-oi!
Junho 30, 2010 at 9:14 pm
#7
Sem querer estar a defender o BE, partido demasiado preso, para o meu gosto, a certos tiques do politicamente correcto, diria que cai ainda melhor a alguns hipócritas das nossas direitas…
Junho 30, 2010 at 9:27 pm
eu nao acredito em bruxas……
Junho 30, 2010 at 9:29 pm
posso esclarecer???
Junho 30, 2010 at 9:29 pm
esclarecerei!!
Junho 30, 2010 at 9:29 pm
# 9
Mas que las hai, hai…
ai…
🙂
Junho 30, 2010 at 9:31 pm
e tambem ha as cascas de banana que visam abater o adversario…. a guerra das conversas. essa mania que ha em ganhar 1 discussao…a paz do ceu comparada com isso nao deixa de ser uma amalgama de cores…..sem acentos que ja estou farto.
Junho 30, 2010 at 9:32 pm
escrever sem acentos nem pontuaçao e bom e desperta a mente agora e que vai ser
Junho 30, 2010 at 9:33 pm
afinal fomos roubados
http://www.youtube.com/profile?user=BukovinaFootballHD&
Junho 30, 2010 at 9:34 pm
http://www.youtube.com/profile?user=BukovinaFootballHD&annotation_id=annotation_212387&feature=iv#p/u/0/AQQVuQD3120
Junho 30, 2010 at 9:50 pm
Adorei o texto do Veríssimo!
Fez-me lembrar aquela música dos No Doubt: “Don´t speak!”, “Don´t tell me cause it hurts.”
Junho 30, 2010 at 9:53 pm
Todos conhecemos aquelas pessoas que se afirmam como “frontais”.
Muitas vezes a “frontalidade” é a desculpa para a agressão.
Alguns “frontais”, usam a alegada “verdade” para aliviarem os seus problemas de consciência.
Dormem melhor depois de expurgarem, mas causam insónias aos outros, coisa que não os preocupa …
Junho 30, 2010 at 9:59 pm
Não digo..belo..mas onde deixa o espaço para imaginação ?…
Deve sr por isso que os japoneses prescindem deles..ou só os usam quando mesmo necessário..
Junho 30, 2010 at 9:59 pm
ou ainda “tens de acreditar em mim” ou “juro pela minha maezinha” ou num comercial “confie em nos”. afinal qual e o sentido da vida sabendo que ela nao o tem? viver o dia a dia e aceitar com humildade que nao ha sentido.
Junho 30, 2010 at 10:00 pm
#18
Também há os que são “muito frontais” com os mais fracos, que vêem que podem ofender ou prejudicar sem consequências, mas que logo se tornam muito cordatos e “engolidores de sapos” perante quem manda…
Junho 30, 2010 at 10:03 pm
Junho 30, 2010 at 10:05 pm
E aqueles que concordam com as manifestações, mas depois quando vêem alguém do poder vão logo atrás tipo cãezinhos?
Junho 30, 2010 at 10:05 pm
Reb eu diria mais..e se por algum acaso algum cientista inventasse um pequeno aparelho tipo iphone que lia as nossas mentes…? Como seria a nossa existência…?
Junho 30, 2010 at 10:05 pm
que lesse…
Junho 30, 2010 at 10:06 pm
#20
nao sei o que te diga….
Junho 30, 2010 at 10:07 pm
#26
nao digas nada….deixa simplesmente fluir….
Junho 30, 2010 at 10:09 pm
http://bulimunda.wordpress.com/2010/06/30/charles-baudelaire-%E2%80%93-a-alma-do-vinho-poema-isto-sim-vale-a-pena-bater-palmas/
A vida…
Junho 30, 2010 at 10:13 pm
#21, é verdade, António…
Junho 30, 2010 at 10:14 pm
#24, seria impossível, Buli!
Matavamo-nos uns aos outros. 🙂
Junho 30, 2010 at 10:18 pm
Junho 30, 2010 at 10:18 pm
#19, todos de branco e preto, inclusive os professores.
Que monótono!
Mas há aqueles escritores surrealistas como o Murakami ( é assim o nome, não é?)
🙂
Junho 30, 2010 at 10:35 pm
Il faut savoir encore sourire
Quand le meilleur s’est retiré
Il faut savoir, coûte que coûte
Garder toute sa dignité
Il faut savoir cacher ses larmes
Il faut savoir quitter la table
Lorsque l’amour est desservi
Il faut savoir cacher sa peine
Sous le masque de tous les jours
Il faut savoir rester de glace
Et taire un cœur qui meurt déjà
Il faut savoir
Mais moi je ne sais pas…
Junho 30, 2010 at 10:59 pm
Gostei deste texto.
É do tipo: eu considero este actor um génio, mas para ser franco nunca vi nenhum filme em que entrasse e além disso o meu amigo diz que não presta e eu sou muito fiél aos meus amigos.
Posso ser franca?
Junho 30, 2010 at 11:35 pm
Alguém que escreve, por exemplo:
“Conheço uma que começa as frases por “eu sou muito transparente” e é um verdadeiro esgoto em tudo na vida”
Não compreendeu o texto postado. É pena!
Ai como aprecio os seres assumidamente imperfeitos!…
Julho 1, 2010 at 12:33 am
#18
Reb
A frontalidade não significa má educação.
Eu não vou dizer a uma mulher que ela é “feia”. Isto não é uma frontalidade é uma maldade. Fazer afirmações frontais mas avulsas sobre os defeitos dos outros, tanto físicos como intelectuais, é entrar no campo da falta de urbanidade e da agressão.
Agora se frontalidade significa dizer a alguém que não concorda com a sua opinião, e/ou se dizemos a alguém perto de nós que deixámos de gostar (amar) dele/dela é um acto de puro humanismo. Enganar os outro ao mentirmos dizendo que concordamos com a opinião dele, apesar de compreensível num mero caso de sobrevivência, em nada contribui para a evolução cívica da sociedade. Não ser frontal para a pessoa que se deixou de amar é contribuir para o arrastamento da farsa.
Julho 1, 2010 at 12:39 am
#36
Há tantos assim…
Julho 1, 2010 at 2:56 am
#35,
Narcisista.