E nem sequer é o mais recente. É mesmo o pré-pré-quase tudo. A propósito daquela questão de a organização do espaço ser uma via para alterar as pedagogias tivemos direito a uma revoada daquele discurso fofinho que cresceu que nem fungos em madrugada húmida nos anos 90.
Um dos epígonos – não estou a dizer que foi com maléfica intenção – dessa forma de ver a Escola como se estivessemos ainda nos Liceus dos anos 50 ou 60 e ser necessário transformá-la em modernaça foi, de há 20 anos a esta parte, Daniel Sampaio.
Se houve alguém que fez a ponte de forma pacífica entre o modelo eduicacional cavaquista para o guterrista, conseguindo ainda espaço durante a deriva socrática, foi ele. Isto não é um ataque ad hominem como agora é habitual dizer-se, quando uma paessoa tem a frontalidade de apontar directamente quem acha responsável por alguma coisa (antes queixavam-se que as queixas e remoques eram vagos…).
É uma constatação de facto.
Durante o mandato áspero de Maria de Lurdes Rodrigues, Daniel Sampaio pareceu pender um pouco menos para as teorias desresponsabilizadoras e desculpabilizantes dos alunos em tudo e mais alguma coisa. Percebeu que os professores estavam a ficar deprimidos, sobrecarregados, pressionados, nos limites da sanidade. Fez umas crónicas diferentes, não tanto de inversão do seu discurso, mas de crítica à aspereza dominante.
Mas no fundo, foi só regressar uma forma mais fofinha de tratar discursivamente a Educação com Isabel Alçada e eis que ele está de volta, de novo na plenitude da retórica que deu patine científico-intelectual ao chamado eduquês, que é o tal discurso fofinho em matéria de Educação-
Na Pública de hoje podemos ler, com o pretexto da propaganda da Parque Escolar à nova arquitectura das escolas:
O problema do ambiente não é tudo. De nada servirá um bom espaço, nem será possível colocar as mesas em U, se a turma tiver alunos a mais, como ainda acontece em muitas escolas. Nems e conseguirá aproveitar a nova arquitectura, se o professor mantiver o método expositivo durante 90 minutos, porque ainda ninguém o ajudou a perceber que essa maneira de ensinar não é eficaz: os jovens de hoje concentram-se menos, mas podem fazer várias tarefas ao mesmo tempo.
Poderia transcrever mais uns pedaços, mas a coisa vai no mesmos sentido: o professor não pode ter medo de usar o computador e deve mesmo acompanhar os alunos nos espaços de learning street, «com o aluno a ler ou a comer em esplanadas», deixando de estar «agarrado à sala de aula tradicional e ao velho retroprojector» [sic].
Ora bem, eu acho que Daniel Sampaio deve andar a visitar umas escolas muito anacrónicas. A minha está longe de ser a última moda em tecnologia mas já não há retroprojectores a funcionar.
Aliás, eu próprio não uso um retroprojector há anos. Só falta mesmo DS falar em projectores de slides…
Vamos lá a um reality alert, caro doutor Daniel Sampaio.
Arrisco dizer que não há, nos tempos que correm, nenhum professor que consiga – mesmo que queira – dar uma aula expositiva de 90 minutos. Para além desse método só existir na cabeça e/ou nas práticas de alguns professores da geração do próprio DS, enquistados em certos nichos de Secundárias ditas de elite, a verdade é que a realidade de uma sala de aula actual não permite fazer qualquer exposição que ultrapasse os 5-10 minutos, quiçá 15, em qualquer nível de ensino, sem que se passem muito mais coisas, de forma voluntária ou não.
Ao contrário do que Daniel Sampaio afirma, muitos de nós gostariam de, mesmo com base numa sala de aula tradicional, praticar essa pedagogia liberal em matéria de organização do espaço e do tempo, criar uma sala aberta onde os alunos pudesssem entrar e sair, trabalhando de forma significativa, de acordo com os seus ritmos.
Só que… nem vou pelo caminho de, em termos de comportamentos e atitudes, muitos alunos não estarem prepararados para isso. Vou pelo caminho inverso: ou seja, de com as regras institucionais e organizacionais que temos (criadas pelos burocratas que, em termos teóricos, sempre beberam em DS mas na prática aplicam outra coisa) ser quase impossível fazermos isso sem nos cair o carmo, a trindade, o youtube, o pai albino, os daniésoliveiras e miguéis sousatavares todos em cima.
Exemplifiquemos:
- Se eu quiser gerir o tempo da minha aula conforme acho pedagogicamente mais rentável – e já me fartei de dizer que os 90 minutos não são vantajosos para muitas disciplinas – sou capaz de levar falta de presença se não extiver dentro da sala entre as 10.00 e as 11.30 ou entre as 15.00 e as 16.30. Porque assim determina a legislação em vigor sobre a duração das aulas e sobre as faltas dos professores. Porque assim determinam os Regulamentos Internos. Porque assim determina o aparato burocrático-institucional criado por muitos daqueles que, no ME, muito acarinharam certas ideias de Daniel Sampaio, mas não as suas implicações práticas.
- Se eu quiser gerir o espaço da minha sala de forma aberta, deixando os alunos entrar e sair de acordo com uma gestão mais afectiva da aprendizagem, deixando-os ir buscar um sumo para tornar mais confortável o ambiente ou ir com o computador para o corredor, estou habilitado na maior parte das escolas em meter-me em trabalhos com o órgão de gestão pois não tardariam as queixas sobre a minha insubordinação formal. E em caso de gravação e publicitação dessas práticas inovadoras – já que os alunos podem fazer várias coisas ao mesmo tempo o que os impede enviar os seus filmes para o youtube e tuítarem com os telemóveis? – o que aconteceria a tal docente? Seria publicamente apedrejado como incapaz de gerir uma sala de aula por muitos daqueles que defendem práticas liberais, não-directivas e anti-autoritárias dos professores. Com jeitinho teríamos um Prós & Contras ou um debate na SICN com imensa gente a opinar que aquele(a) professor(a) era o culpado por desacreditar o espaço escolar.
Deixemo-nos de hipocrisias.
Por acaso, por trabalhar com turmas não-regulares, por leccionar num ambiente que compreende as diferenças, até pratico muitas coisas que Daniel Sampaio preconiza. Mas de forma moderada e muitas vezes por minha conta e risco. E não preciso de salas em U, moda ultrapassada, preferindo usar ilhas com grupos de trabalho dedicados cada um à tarefa seleccionada por mim ou escolhida por eles.
Mas, como digo, isto não é possível na maior parte dos casos, para a maior parte dos docentes, sem correrem riscos complicados.
O que Daniel Sampaio parece descompreender, de forma sistemática, é que a escola não está organizada de forma aos docentes serem livres de gerir a sua própria prática pedagógica, excepto se ficarem dentro da sua sala de aula, 90 minutos. Mas nunca com aulas expositivas como DS imagina.
E a responsabilidade não é dos professores.
É dos políticos e burocratas do ME com quem Daniel Sampaio tanto tem colaborado.
O mundo não é o mesmo de outrora.
Não por causa dos computadores ou da arquitectura.
È por causa das pessoas que decidem, do ambiente geral, das práticas quotidianas que DS parece ter abdicado de ver na sua actualidade, sem ser em visitas VIP a uma realidade encenada para certos momentos.
Daniel Sampaio, sem reparar, continua a viver no passado. No seu passado. Não no nosso presente.
Junho 13, 2010 at 4:35 pm
Está tudo a precisar de ir ao psiquiatra…
Junho 13, 2010 at 4:42 pm
Então Daniel Sampaio não sabe que é impossível colocar a sala em U e utilizar os Quadros Interactivos? Terá sempre pelo 2 terços dos alunos sem visibilidade…
Então Daniel Sampaio não sabe que as salas TIC (e todas as outras), ficaram à mercê dos dispositivos de rede e outras tecnologias que foram plantados pelas empresas no âmbito do PTE? Ou seja, marimbaram-se na disposição das salas e colocaram onde lhes deu “jeito”…
Então Daniel Sampaio não sabe que os alunos do CEF já nem um lápis levam para a escola?
Mas em que país vive?
Junho 13, 2010 at 4:43 pm
Na mouche!
Esperemos (seria muito importante) que o Dr. DS leia esta análise. Mas que a leia de “mente aberta” reflectindo sobre o que está escrito.
E que “desça à Terra” antes de escrever a próxima.
Já não há pachorra, caríssimo Dr.!
Junho 13, 2010 at 4:47 pm
Não tenho pachorra. Este senhor não percebeu que quase ninguém é capaz de utilizar o método expositivo em aulas de 90 minutos.
Junho 13, 2010 at 4:49 pm
Eu não percebo como é possível este senhor, conhecendo as escolas, faz afirmações destas?
É porque é mandatário da candidatura do Manuel Alegre?
Junho 13, 2010 at 4:55 pm
Há quanto tempo é que o Sr.Sampaio não entra numa sal do “país real” ãh?
pelos escritos há muito, muito tempo…
ora diga lá: -era uma vez….
pois
Junho 13, 2010 at 5:05 pm
Deixem-no em paz. Afinal ele até já está no Facebook, como apareceu recentemente na capa de um jornal. Parece que estar no Facebook é estar na frente do progresso. Se calhar o Daniel Sampaio nem é capaz de fazer um simples powerpoint, mas está na facebook.
Junho 13, 2010 at 5:07 pm
#5,
Pedro,
As três candidaturas presidenciais no terreno são um desespero em matéria de Educação.
Mais logo escrevo sobre isso.
Junho 13, 2010 at 5:10 pm
Dos modernos espaços da Parque Escolar há tanto que dizer. Bonitos? Até posso concordar.
Mas funcionais, nem tanto.
Quanto à qualidade dos materiais de construção… está à vista de todos.
Relativamente à gestão dos espaços, da responsabilidade da PE ou sei lá de quem, posso acrescentar o seguinte:
A escola ganhou áreas comuns mas continua sem salas suficientes para o número de turmas. Nos laboratórios, com 27 lugares, há turmas de 28 onde um dos seres flutua entre a minha cadeira e um dos antigos bancos.
Nestas belas salas de aula, com enormes janelas viradas a Sul, quentes como o inferno, com estores exteriores, muito modernos e úteis quiçá na Finlândia mas, completamente desadequados ao vento da zona Oeste e à luz das tardes solarengas.
Talvez DS consiga ver algo projectado nestes espaços, porque eu tenho algumas dificuldades.
Junho 13, 2010 at 5:11 pm
Desconstrução certeira do discurso “sampaiês”!
Está tudo dito, mas há uma frase-feita que me complica com o sistema e que gostaria de salientar:
Aquela coisa de os jovens de hoje serem capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo…
Será que houve alguma mutação genética afectando toda uma nova geração e ainda nenhum cientista deu conta?
Ou terá sido um upgrade do software, trazendo os novos alunos, de origem, já um novo sistema operativo, tipo multitarefa?
Não se percebe o disparate que este tipo de afirmações encerram?…
Efectivamente, a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo é algo que varia, não de geração para geração, mas de pessoa para pessoa. Em geral, segundo parece, as mulheres até têm esta capacidade em grau mais elevado do que os homens…
Mas na ideologia do sistema de ensino facilitista que tem vindo a ser desenvolvida por Sampaio e outros eduqueses, o que esta coisa da “multitarefa” significa é que como se exige tão pouco e cada vez menos, não é necessária tanta concentração como era preciso ter no ensino mais tradicional.
As novas tecnologias deveriam permitir fazer mais e melhor do que se fazia antes. Na prática, têm estado a ser entendidas como a possibilidade de apresentar coisas mais vistosas com menos esforço!
Junho 13, 2010 at 5:15 pm
O irmão do ex-presidente anda a fazer tudo, mesmo tudo, para se lembrarem dele para futuro Ministro da Educação socialista !!! Tem ajustado e modificado as suas ideias tantas vezes que nem ele já se entende. Deixei de ler as crónicas deste sujeito há muito tempo….
Junho 13, 2010 at 5:17 pm
#8 Paulo
Tens razão, dos três não ouvi nada sobre educação.
Esta ausência total da educação nas propostas do 3 candidatos presidenciais, no fundo mostra que a escola não é levada a sério em POrtugal.
Temos uma mentalidade própria de País subdesenvolvido. Eles, os políticos, são um espelho desta sociedade que finge pensar na educação.
Junho 13, 2010 at 5:21 pm
Inventem-se novos psiquiatras…que como este, estamos conversados.
Junho 13, 2010 at 5:23 pm
Nenhum presidente, nenhum primeiro ministro soube, sabe ou saberá seja o que for de ENSINO. E basta lembrar os COTOS DOS SANTOS e as MANUELAS FERREIRAS para se perceber isso.
Junho 13, 2010 at 5:24 pm
COUTOS, claro…
Junho 13, 2010 at 5:25 pm
#11
É verdade! A meio do mandato da sinistra o discurso de DS notou-se um maior distanciamento crítico em relação à política educativa do governo.
Na minha opinião não foi só a reacção contra a “aspereza” da ministra e em prol dos professores “deprimidos”, como o Paulo sugere.
Foi também um certo despeito ao sentir que as suas ideias iam caindo em saco roto, que não lhe era dada pelo poder a influência e a audiência que o psi do regime ambicionava…
Junho 13, 2010 at 5:27 pm
http://videos.sapo.pt/y4Oqw41ve5qRkWLrdZMe
Junho 13, 2010 at 5:29 pm
#14
Nem sabem, nem querem saber, nem valorizam quem sabe.
Não é de agora, vem de longe. Daí o atraso estrutural de um país que não consegue ver na educação a chave para um futuro mais próspero.
Junho 13, 2010 at 5:34 pm
e por falar em “genética”:
Insucesso escolar: dados a ter em conta!?
Um estudo vem agora revelar que os Portugueses não gostam do estudo.
Trata-se de uma entrada no blog do Venerando Matos (“Vedrografias”) que comenta números muito interessantes (divulgados hoje no Público) no que respeita ao “interesse” escolar dos alunos portugueses .
… parece que, afinal, não são propriamente os professores os culpados do insucesso deles!!
Mas claro, a divulgação que é dada a estes contributos para a explicação do insucesso escolar em Portugal, é escassa porque não convêm…
“São marcas que continuam a acompanhar os portugueses. Cá dentro, Portugal tem a segunda taxa mais elevada de abandono escolar precoce da União Europeia.
Lá fora, os filhos dos emigrantes portugueses continuam a desistir. No Luxemburgo, um em cada quatro alunos que abandona a escola secundária é português, dá conta um estudo do Ministério da Educação luxemburguês, ontem divulgado pela agência Lusa.
“Entre os estudantes estrangeiros que frequentam o ensino secundário naquele país, os portugueses são os que apresentam a maior taxa de abandono escolar.
No último ano lectivo, estavam inscritos nas escolas públicas 7046 portugueses. Desistiram 454, o que representou um aumento de cinco por cento em relação ao ano anterior. Os alunos portugueses representam 19,1 por cento da população estudantil do Luxemburgo. São o maior grupo entre os estrangeiros que estudam naquele país.
“A outra face da mesma moeda: dados recentes mostram que, nos EUA, Canadá, Grã-Bretanha e Suíça, os filhos dos emigrantes portugueses estão também entre os que obtêm resultados escolares mais baixos entre as comunidades estrangeiras. ( !!! )
Para Hermano Sanches Ruivo, responsável pela primeira associação de luso-descendentes criada na Europa, a Cap Magellan, a reprodução desta situação deve-se em grande parte ao facto de muitas famílias continuarem a não valorizar o papel da educação.
“Para muitos, educação é os filhos fazerem o que eles fizeram”, comenta ao PÚBLICO.
“Não têm tempo para acompanhar os filhos, não gastam dinheiros em aulas suplementares para compensar atrasos. Os jovens, por seu lado, têm como preocupação começarem a trabalhar o mais rapidamente possível.”
“Também o organismo que coordena os serviços escolares na Suíça (CDIP) apontou, em 2007, o dedo às famílias. Os fracos resultados escolares das crianças portuguesas devem-se “ao desinteresse total dos pais em acompanhar” a educação dos filhos e à “origem sócio-cultural modesta” destes, afirmava-se num documento que suscitou a indignação dos representantes portugueses naquele país.
“Sanches Ruivo, que foi o primeiro luso-descendente a ser eleito para a Câmara de Paris, considera que a responsabilidade desta performance negativa recai também sobre os sucessivos governos portugueses. Tem sido feito muito pouco para promover a língua portuguesa, constata. Um resultado: em França, apenas 30 mil pessoas estão a aprender português, os estudantes de italiano são quase 300 mil, os de espanhol três milhões.
SÃO COINCIDÊNCIAS A MAIS. Os sistemas educativos do Luxemburgo, Canadá, Reino Unido, Suíça, França e Portugal, sendo muito diferentes – e alguns deles muito prestigiados internacionalmente – apresentam os mesmos dois problemas com os alunos portugueses: Abandono escolar e insucesso…
Não seria de explorar a possibilidade de estarmos perante um problema cultural de fundo, dos portugueses em relação à escola e à necessidade do estudo ?
Andou o Ministério da Educação, nos últimos anos, sob a liderança de Maria de Lurdes Rodrigues, com o beneplácito de um agradecido José Sócrates, com o apoio propagandístico de alguns “opinadores”, como Emídio Rangel ou Miguel Sousa Tavares, a despejar sobre a opinião pública a ideia de que os professores portugueses eram uma espécie de crápulas, responsáveis pelo abandono escolar e pelos maus resultados dos alunos, para vir agora um estudo do Ministério da Educação do Luxemburgo revelar que são os estudantes portugueses naquele país os que registam mais abandono escolar e piores resultados.
Afinal, como prova esse estudo, reforçado por situação idêntica noutros países, como os Estados Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha e a Suiça, o facto das famílias portuguesas emigrantes não valorizarem o estudo e o ensino, está na origem do abandono escolar e dos maus resultados.
Ou seja, em sistemas de ensino diferentes, com condições de trabalho e formação dos professores diversos, o resultado é sempre o mesmo em relação aos estudantes portugueses: alto índice de abandono e fracos resultados escolares.
Apontam ainda aqueles estudos como principais responsáveis pela situação as famílias que não valorizam os estudos. Obviamente que em Portugal a razão é a mesma.
Depois da divulgação desta notícia, só por má-fé, ignorância e/ou inveja social é que o “bando” de Maria de Lurdes , os “opinadores” do costume e o “paizinho” Albino Almeida, podem continuar a despejar sobre a opinião pública a ideia da “culpa dos docentes” pelo estado do ensino indígena.
De facto existe na sociedade portuguesa uma tendência generalizada para desvalorizar o estudo, o esforço intelectual e a responsabilidade das famílias na educação dos filhos.
O ataque desferido nos últimos anos à classe docente tem contribuído para agravar ainda mais essa situação.
Num país onde “opinadores”, economistas e políticos transmitem como imagem de valorização pessoal e económica, actividades como a especulação financeira e imobiliária, o futebol e os concursos de fama efémera, não é de admirar que se desvalorize socialmente o conhecimento e a aprendizagem.
Basta olhar para os escaparates dos quiosques para percebermos isso: existe uma imensidão de publicações dedicadas ao futebol, à vida cor-de-rosa de famosos por serem famosos, ou à divulgação de truques financeiros para enriquecer rapidamente.
Por exemplo, se alguém quiser encontrar uma revista de Cultura, de Arte ou de História, de edição regular, só recorrendo à imensidão de publicações espanholas ou francesas de boa qualidade.
O Jornal de Letras é a excepção, mesmo assim sobrevivendo com dificuldades e quinzenalmente. O Blitz, para sobreviver, teve de passar a revista mensal.
Perante esta realidade até poderiamos ter o melhor sistema de ensino do mundo, que os resultados pouco mudariam.
Junho 13, 2010 at 5:37 pm
#14,
O teu txt entra mais logo.
Junho 13, 2010 at 5:42 pm
Comecei a ler este artigo e mal me deparei com as palavras “Parque Escolar” e “Dniel Sampaio” o meu cérebro desligou. Por muito esforço que faça, só consigo ler blá, blá, blá. Pelo facto apresento as minhas mais sinceras e cordiais desculpas ao Paulo.
Junho 13, 2010 at 5:46 pm
Paulo: excelente análise!Concordo em pleno!
Junho 13, 2010 at 5:49 pm
Simplesmente parabéns pelo post! Está escrito o que eu gostaria de dizer ao DS. Só acrescentaria “DS, porque não te calas?!”
Junho 13, 2010 at 5:54 pm
#14 António Duarte
Concordo com a adenda. Houve muito de despeito, tb! Tanto aconselhamento e os tais burocratas mariadelurdescos cortavam a talho de foice em outras áreas!
# 19 Magrodeserviço
Em Portugal ainda há aquela ideia “pré-histórica” em muita gente que “estudar cansa a cabeça”!
Daí , por mais novos métodos e didácticas dos professores, muitos pais e alunos continuem a insistir no decora e despeja para exames… e sempre com muito receio que depois haja alguns restos de conhecimento que fiquem colados ao cérebro!
É uma ideia entranhada,persistente muito difícil de desenraizar.
E tudo ainda se agravou mais com todas estas misturas pedagógicas e, mais recentemente, com aquela visão do professor como o malandro que o que tem é de despejar a matéria também e “dar todo o programa”, nem que seja da forma mais expositiva e veloz(e aconselhado em acções de formação, nem que para isso os alunos nada consigam aprender)…contradizendo tudo o que era desejável e todas as “exposições” sampaiescas!
Junho 13, 2010 at 6:00 pm
Concordo, Paulo. Acrescentaria apenas uma resistência que também sinto na minha prática: os alunos marrões que querem que o professor lhes entregue a papinha não apenas feita como digerida. São estes alunos que estão sempre a pedir aulas em que tenham o papel passivo de uma audiência amorfa. Claro, são também estes os alunos que pedem testes em que se possam limitar a “desbobinar” matéria que decoraram acriticamente.
No ano passado tinha 2 turmas assim, era o desespero conseguir um mínimo de trabalho autónomo 🙂
Junho 13, 2010 at 6:04 pm
EDITORIAL
A má educação
por Miguel Pacheco, Publicado em 12 de Junho de 2010
Quando a tabuada está errada, o resto não bate certo: a falta de exigência e a fragilidade dos professores só pode dar mau resultado
“Divide 8 por 4. Olha para os pedacinhos de chocolate. São oito. Desenha por cima para dividir, se quiseres. Usa a calculadora, se precisares.” O texto é diferente, mas a falta de exigência é igual. Aos alunos do 6.o ano – 12 anos ainda mal medidos – pediu-se isto numa prova de aferição em Portugal. Anormal? Elementar? Ilógico? Óbvio? Ultrapassado? Demasiado AEIOU para alunos do segundo ciclo? De certeza.
Os adjectivos espelham o estado da avaliação em Portugal, o país onde os professores levam dos pais quando estes não gostam das notas dos filhos; a terra onde o telemóvel é o novo – e melhorado – auxiliar de leitura. Na entrevista que o i hoje publica, Nuno Crato põe o dedo na ferida. Diz que batemos nos mínimos. Que nas escolas mandam os pais. Que é lunático achar que um aluno só pode aprender o que gosta. Que tudo é mau porque os critérios são maus: a avaliação , a formação, os exames, as linhas gerais do ministério.
Concorde-se ou não, a falta de qualidade do ensino é um problema que suscitas questões importantes. Qual é a solução para este mal-estar? Dar mais autonomia às escolas? Permitir que adaptem os programas e a estrutura à realidade específica? Avaliar os professores antes de serem admitidos? Talvez, talvez, talvez. Estas perguntas nada são sem exigência e acompanhamento – as duas premissas para remodelar o sistema. Hoje o distanciamento dos pais é o resultado natural de um sistema que só avalia, em termos nacionais, um aluno duas vezes em nove anos. Ou que impõe um sistema de faltas que não chumba, mas “retém” ou “dá passagem”. Qual é a solução? Reprimir ou incentivar? Acompanhar ou pagar-lhes para terem boas notas?
Em França seguiu-se esta última sugestão. O esquema é simples: nos subúrbios de Paris, o Estado criou duas turmas-pilotos e duas contas bancárias – com 3 mil euros cada. Se os alunos mantiverem a assiduidade e as notas por objectivos, a conta é engordada. Se falharem, o dinheiro é congelado. Há um senão: no final do ano não podem gastar esse dinheiro (que pode chegar a 15 mil euros) em gomas – só o podem utilizar para viagens ou projectos escolares. Para já em França ainda não há resultados, mas fica a pergunta: será isto que falta em Portugal? Pagar para incentivar os alunos? Apontar-lhes objectivos que apelem à felicidade material?
O esquema (que já foi testado nos Estados Unidos e no Reino Unido) tem a virtude de impor objectivos e o defeito de abdicar de vez da educação enquanto valor em si mesmo. Em suma, é uma solução limite, quando já nada mais funciona. Por cá, por enquanto, ainda há esperança. Basta preservar a autoridade dos professores, criar incentivos ao acompanhamento pelos pais, delegar autoridade nas escolas, aumentar a exigência nos exames, multiplicar o número de provas nacionais.
A fórmula está encadeada em pressupostos simples. Executá- -la é que é bastante mais complicado, com tanto chocolate, borlas e filmes à mistura.
http://www.ionline.pt/conteudo/64167-a-ma-educacao
Junho 13, 2010 at 6:16 pm
“Não seria de explorar a possibilidade de estarmos perante um problema cultural de fundo, dos portugueses em relação à escola e à necessidade do estudo ?”
Não é preciso explorar nada, nós , portugueses, temos um problema sério com a cultura de trabalho escolar. E está mais do que comprovado.
Só não vê quem não quer, ou só quer ver aquilo que desejaria ver
Junho 13, 2010 at 6:16 pm
Modelo expositivo 90 minutos!? ah!ah!
Este senhor devia fazer um estágio numa escola pública para saber do que fala.É o que dá sermos um país pequeno, com uma capital comandada por uma pseudo elite snob e presumida, que dá ouvidos aos cromos do costume, sempre os mesmos…
Junho 13, 2010 at 6:17 pm
Arre, muito bem desmontado, Paulo.
O sr. Sampaio está completamente off da realidade educativa portuguesa. Aliás, e infelizmente, a maioria dos nossos políticos. Então os miúdos são capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo!? Claro que são, menos as que realmente interessam: estudar, trabalhar… Aulas de 90 minutos expositivas!? Só merece gargalhada. Seria o fim da sanidade mental dos alunos e do professor, tal seria a confusão, o barulho, o burburinho que se instalaria. Os miúdos não são capazes de estar mais de 5 minutos atentos, depois começam a divergir – para a conversa, para a brincadeira, para o telemóvel… Mas isto acontece devido à crescente desresponsabilização dos alunos, ao eduquês, etc.
O sr. sampaio precisava passar umas aulitas à frente de uma turma dita normal. Não seria preciso mais do que uma semana.
Ganhem juízo, por favor.
Exijam respeito, trabalho, disciplina e qualidade. Isso sim.
Junho 13, 2010 at 6:20 pm
Se a Humanidade está enfeudada ao Deus dinheiro é natural que esse seja o único estímulo válido. Daí a escola a ele se render. De futuro os alunos exigirão aumentos para fazerem os testes. As notas não garantem o futuro a ninguém. Já as moedas na mão … é valor garantido!
Junho 13, 2010 at 6:20 pm
Importante, esta questão.
Há “listas negras” de professores que querem gerir as suas aulas de 1 modo “diferenciado” e “mais individualizado”.
Lembro-me de haver uma ordem sigilosa em que o pessoal não docente tinha (terá ainda?) de preencher 1 mapa: quem é que deixava sair 1 aluno para ir à casa de banho, à biblioteca, etc.
A resposta à questão:Sabem quem faz uma não gestão da sala de aula, não sabem? “SIM”. Então, porque é que quem prevarica não é chamado à atenção, tendo todos os outros professores de estar a ouvir “raspanetes”?Resposta: “Não sou polícia”
Junho 13, 2010 at 6:21 pm
Os miúdos não são capazes de se concentrar? na Índia parece que são.
Junho 13, 2010 at 6:29 pm
Paulo
Ainda estás a ser optimista.
Há turmas em que tenho dificuldade em expor seja o que for em mais de 10 ou 15 segundos
Junho 13, 2010 at 6:29 pm
#31,
Vai daí, escrevem-se nos RI as coisas mais bacocas que se possa imaginar. E vai de refazer PEs e RIs para manter o pessoal ocupado em reuniões de trabalho.
Junho 13, 2010 at 6:33 pm
Tinha eu o sonho de dar aulas no que já foi um liceu em Leiria, que durante décadas ficou quase sempre nos primeiros 20-30 primeiros lugares do ranking dos exames nacionais.
Ontem disseram-me que nos 1o.ºs anos já é impossível dar alas e que até no 12.º ano há dificuldades.
E tudo graças a estes daniéis sampaios e suas idiotices educativas…
Junho 13, 2010 at 6:34 pm
Até achei interessante o Livro “INVENTEM-SE NOVOS PAIS” quando o publicou, há uma dúzia anos atrás.
Mas após esta publicação, este senhor só tem feito porcaria.
Adorei a reflexão final. Boa PG.
INVENTEM-SE NOVOS POLÍTICOS
Junho 13, 2010 at 6:38 pm
Um excelente artigo, Paulo!
No final do 2º período os docentes foram obrigados a assistir a uma qualquer douta pseudo cientista da educação, plena destas teorias que têm desgraçado a escola, “hiperinovadora, supercriativa”, modernaça Sra. de uma qualquer ESE ou “universidadezeca ou instituzeco” (excluindo os sérios – que nestas matérias – das “eduquices” os sérios apostam é no Conhecimento) discursar sobre INDISCIPLINA (não me lembro do nome nem de onde vinha… amanhã poderei esclarecer… a irritação foi demasiado profunda e a determinada altura a dita e sapientérrima sra. já não virava os olhinhos para o sítio onde o meu braço permanecia esticadinho no sentido ascendente na direcção da estratosfera…)…
Procurou persuadir, mais uma vez, que o mal da Escola são mesmo os Professores: retrógrados, expositivos, com as mesmas estratégias de sempre, formatadores, enciclopédicos, imutáveis, punitivos, sem capacidade para compreender e de inovar, pouco adeptos das novas tecnologias e pouco motivadores… patati, patatá, patati, patatá… fervi, muitos outros ferveram, a coisa ferveu…
Mas adiante:
Blá, blá, blá … o curioso tem lugar logo, logo, logo… no início: foi preciso desencantar algures um retroprojector… que na escola já ninguém os usa (que eu tenha conhecimento…e já por lá ando há uns 17 anos…)
Adiante, ainda:
A seguir, a inspirada e douta sra. (a quem o ministério paga/subsidia projectos e coisas afins e provavelmente opiniões, pareceres e outros que tais… ) coloca no retroprojector um acetato para representar a sala de aula com, pelo menos 20 anos (já o conhecia do meu estágio há mais de 20 anos) que, por sua vez, representa um conteúdo com mais de 40 anos (nem nos meus tempos de aluna a sala de aula era assim)… Creio estar tudo dito!
Tudo isto é um logro, esta gente é um logro, e todos têm transformado a escola num imenso logro!
Dos comentários que li, confesso que “na diagonal”, discordo da ideia, aparentemente subjacente, de que eles desconhecem a realidade escolar!
Eles conhecem muito bem a realidade das escolas…
Eles conhecem muito bem o caos que ajudaram a instalar…
Eles conhecem muito bem a indisciplina gritante e a “balda” reinante dos alunos…
Eles conhecem muito bem o facilitismo e a falsidade do sucesso que ajudaram a incrementar…
Eles conhecem muito bem a gravidade da ausência de conhecimento e saber dos alunos a quem prometeram sucesso e igualdade de oportunidades…
Eles conhecem muito bem as dificuldades e constrangimentos dos professores que querem ensinar e das escolas que querem apoiar cada um dos seus alunos na supressão das dificuldades assim que são diagnosticadas…
Eles conhecem muito bem o miserável sistema de ensino que têm defendido…
ELES CONHECEM MUITO BEM!
O SEU ÚNICO INTERESSE É DESACREDITAR OS PROFESSORES!
A pouco e pouco através da desacreditação dos professores, desacreditam a Escola, transferem competências e servem-na de mão beijada à iniciativa “privada”, que não sei com base em que fundamentos, querem/ insistem e persistem (a despeito de todas as evidências conhecidas) fazer parecer que gere melhor…
Descartam-se, assim, com os gastos como gostam de chamar-lhe (que o investimento fica reservado para designar as obras dos empresários do sistema) na educação: nos alunos e famílias, nos professores, nos escassos técnicos, nos funcionários, nos administrativos, nos edifícios, nos equipamentos, nos materiais e infra-estruturas … são milhões que podem utilizar para encher os bolsos de uns ou outros, de uns amigos e uma hostes que sempre viveram na pendura!
Um povo ignorante dá muito jeito à má fé, à desonestidade, à falta de escrúpulos!!!
Junho 13, 2010 at 7:00 pm
Há uns anos, o DS descobriu a causa principal do insucesso escolar: as aulas expositivas.
O que são aulas expositivas? Aulas em que se transmitem conhecimentos?
Claro que as aulas têm momentos de trabalho feito pelos alunos e supervisão do professor.
Mas o que seria das aprendizagens se não houvesse exposição de matéria?
Como teria o DS tirado um curso se não tivesse tido profs que o ensinavam?
Já não vale a pena dizer-lhe que ninguém conseguiria expor matéria em 90 minutos.
Nenhum aluno aguentaria. Nenhum professor teria saúde para isso. Já pensou nas cordas vocais dos pobres professores?
É que imaginar isso ( sem ser num anfiteatro da universidade, em que os da frente ouvem e os de trás dormem), nas nossas salas de aula, com o ruído dos miúdos, e os gritos do professor para se fazer ouvir, é imaginar o inferno!
Junho 13, 2010 at 7:19 pm
Mas o DS sabe lá o que é uma escola? Sabe lá o que é dar aulas! Eu também não estou a pensar mandar-lhe uns bitaites sobre o modo como deve acompanhar os doentes ou dar as suas consultas. Arre que todo o bicho careta acha que sabe de educação!
Junho 13, 2010 at 7:21 pm
Esta está muito boa…
Fez-me lembrar o ex-ministro da educação Roberto Carneiro: Pedem dinheiro para construir novos muros nas escolas?! A minha concepção de Escola é um espaço sem muros…
Ahahah!
Inventem-se novos psiquiatras…
A flexibilização deveria prever que saíssem dos seus espaços fechados e fizessem estágio em todos os sítios sobre os quais quisessem opinar…
Junho 13, 2010 at 7:46 pm
“Na Pública de hoje” – O erro grave é darem a possibilidade de uma pessoa qualquer escrever, o que lhe dá na real gana, para outros lerem.
Que conhecimento académico tem este indivíduo da Escola? Nenhum.
Que conhecimento factual tem este indivíduo da Escola? Nenhum.
Que tal falar do que sabe, ou seja, das aulas dele e dos colegas pela Faculdade de Medicina? Do estado do ensino universitário? Da Saúde?
Junho 13, 2010 at 7:53 pm
“É que imaginar isso ( sem ser num anfiteatro da universidade, em que os da frente ouvem e os de trás dormem)”
É o que ele fez toda a vida como professor catedrático da Faculdade de Medicina da UL!!!
Não há pachorra para aturar tanto prostituto intelectual doente.
Junho 13, 2010 at 8:01 pm
Com um tom de voz baixo, monocórdico e insuportavelmente autoritário imaginem-se as aulas dele. Felizmente nunca foi meu professor. É um tipo muito mal visto por St Maria. O serviço de Psiquiatria de que era (é) director é uma “loucura”.
Conheci o marido duma colega nossa, psiquiatra, que trabalhava na equipa dele no St Maria e nem queiram saber o que soube de “modernices” teóricas e tal.
O tipo era daqueles que não admitia que os únicos profissionais com formação de base em psicoterapia eram os psicólogos da àrea. Nas equipa dele eram todos médicsos.
Enfim. Tristezas do portugalmente.
Junho 13, 2010 at 8:07 pm
#19, o teu texto merece um post.
Junho 13, 2010 at 8:22 pm
É só demagogia!
DS, enquanto especialista nas áreas das psi, deve estar bastante inteirado da importância (e, sobretudo, da força) do inconsciente colectivo. Ora, não é necessário ser um expert na matéria para perceber que, e recorrendo à analogia, a camada da psique que corresponde ao inconsciente equivale às fundações de uma casa.
É fácil perceber que, perante o elevadíssimo nível de dependência/irresponsabilidade a que foi conduzida a humanidade – capaz de fazer perigar a sua própria sobrevivência – o inconsciente colectivo começa a clamar por um maior grau de liberdade/responsabilidade, uma maior e mais eficaz participação por parte de muitos que, de algum modo, possa impedir o desequilíbrio fatal. Os desequilíbrios a que a má repartição da riqueza dá origem – a base em que assentam as relações sociais – estão a atingir patamares inauditos, perigosíssimos.
A resposta mais inteligente para essa manifestação do inconsciente não será, segundo penso, dar umas pinceladas manhosas às paredes da casa, mantendo as fundações em perigo de derrocada. Ou seja, se se mantiverem os mesmos valores (veiculados através de conteúdos programáticos e da legislação que impõe certos comportamentos), dando-lhes apenas uma aparência de maior liberdade e autonomia, por certo vai fomentar-se o caos, a desordem.
Com uma legislação que tem apontado sistematicamente para a depreciação do conhecimento e, em consequência, para a perda de autoridade do professor, os ilustres pensadores e promotores da “mudança” conseguirão imaginar o que vai acontecer nas escolas com estas modernices?
O inconsciente colectivo sugere o caminho, mas as forças que detêm o poder, por norma, impõem precisamente o oposto, a História comprova-o! Ao invés de liberdade, democracia e autonomia vamos assistir a uma maior decomposição das relações sociais… Dividir e fragilizar para melhor dominar é a divisa!
Junho 13, 2010 at 8:45 pm
E voltámos à velha e primogénita questão:
ESTA GENTE NÃO SABE, MAS NÃO SABE MESMO, O QUE É UMA ESCOLA.
Desculpem, mas acho que nem a gritar lá vamos.
Inventem-se novos métodos. Talvez mais multisensoriais.
Junho 13, 2010 at 9:17 pm
Direecção que vive no passado
O que é uma boa directorA?
Coisas Muito Complicadas – Por Sintra
Posted by Paulo Guinote under Perturbações
[180] Comments
Isto hoje está bonito…
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Paulo,
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Os dias continuam conturbados pelos lados de Sintra. Ontem, dia dia 9 de Junho, passados quatro meses após o suicídio do colega Luís, o Sr. Director Regional presidiu a uma reunião do Conselho Pedagógico, que se realizou, a seu pedido, em simultâneo com o Conselho Geral e a Direcção. O objectivo era apresentar as recomendações do inquiridor, após conclusão do inquérito. Depois de ter referido que não havia matéria para procedimentos disciplinares, apesar de Portugal inteiro saber que não foi cumprida a lei, conforme documentos que vieram a público, solicitados à própria IGE, no âmbito de um processo inspectivo, realizado ainda durante os tempos conturbados que o Luís viveu naquela escola, o Sr. Director Regional comprovou que o inquérito terminou, conforme começara – nada a apontar à magnífica direcção. Rapidamente os ânimos aqueceram e aquela assembleia transformou-se, num Auto de Fé, presidido pelo responsável máximo da DRELVT: havia que apurar os responsáveis pela difamação da escola nos órgãos de comunicação social e nos blogues, nomeadamente no Umbigo. Foi referido, inclusivamente pela directora, que o seu autor, mesmo que vendesse os seus potentes computadores, não teria dinheiro para pagar o que lhe iria ser exigido.
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A presidente do dito Conselho referiu que muito havia a fazer nos concursos de professores, nomeadamente uma triagem dos professores, para verificar os que tinham problemas psicológicos, para que não contactassem com os alunos. É evidente que neste âmbito estavam os loucos e os que denunciavam as situações que deveriam ficar escondidas, os malditos, os que difamam a escola, os que não deixam trabalhar, as “ervas daninhas”, que teriam que ser imediatamente banidas daquele local…
Os pais fizeram coro, reforçaram e disseram que se o Dr. Daniel Sampaio fizesse exames àqueles professores, logo concluiria que eles teriam que ser afastados do contacto com os alunos.
O Presidente da Junta disse de sua justiça: na sua instituição nada daquilo acontecia porque ele aniquilara, expulsara os que lhe tinham feito frente!
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Era isso que teria que acontecer ali. O Sr, Director Regional disse que competia à directora abrir processos disciplinares aos professores que continuassem a dizer coisas que não deviam, de outro modo teria que recorrer “à bomba atómica”.
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È evidente que foram citados nomes de professores, de dois, mas que no total não iriam além dos dedos de uma mão. Se se tiver em conta que o Agrupamento tem cerca de cento e cinquenta professores, aqueles outros devem ser de uma grande eficiência, pois conseguiram aquilo que Sócrates pretendeu mas não conseguiu – dominar a comunicação social! Mais, são eles que não deixam os outros trabalhar!
Pergunto: o que andamos a ensinar aos nossos alunos nas aulas de Formação Cívica, de HGP… Eles sabem que no 25 de Abril acabou a censura, a perseguição pela PIDE, a liberdade de expressão tornou-se realidade… Mas será mesmo assim? Então os professores não podem ter os mesmos direitos dos outros cidadãos!
Hoje dizia-me um jornalista: ” já não percebo nada disto, há professores que podem falar, podem identificar-se, outros só falam sob anonimato por causa dos processos disciplinares”. Pedi-lhes para averiguar porque fazer jornalismo é ir à origem das coisas, conhecer as fontes, questionar os direitos e liberdades dos cidadãos.
Pela minha parte reconheço que já não sei nada. Só sei que a IGE reconhece que a lei não foi cumprida nas diferentes situações que averiguou, mas que apenas emitiu recomendações. No caso concreto do Luís, não o poderia ter feito, tratava-se de um inquérito e neste caso só poderia haver arquivamento ou procedimento disciplinar.
Quem viola afinal a lei?
Fiquemos à espera da fogueira porque o Auto de Fé já ocorreu e não tarda que os criminosos tenham que ser queimados.
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Paulo, fica ao seu critério publicar ou não este post. Foi um dos visados e será certamente alvo de muita perseguição. Eles prometeram.
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Mas não se esqueça do que o ano passado aqui foi publicado porque quem prometeu transformar aquela escola “na Casa Pia do Concelho de Sintra” está no poder e já começou: proibiu um professor de entrar na escola, que durante quinze dias foi ameaçado com uma arma num curso CEF. A explicação foi a protecção ao professor. Só que a acusação foi de assédio. Aqui não é preciso procurar saber quem divulgou para a imprensa, a escola em peso sabe do que se está a passar e quem está a escrever este texto estava no encontro do Bloco, enquanto tudo estava a decorrer na escola: a protecção ao professor através da sua expulsão.
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Explique-me como faz para denunciar as situações que diariamente escurecem as nossas escolas, sem ter ainda sido alvo de processo disciplinar, falando abertamente dos problemas…
[ Nota minha: sinceramente, não sei… acho que me limito a demonstrar que o que me move é a transparência, mais nada… mas a sorte um dia acaba. Aliás, ao nível das ameaças já tenho a minha conta… de diferentes quadrantes…]
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Só queria acrescentar mais uma coisa – o Conselho de Escola não reuniu quando o Luís se suicidou e a irmã lhe dirigiu uma carta para reflexão do que estava a acontecer. Não é preciso reunir porque todos confiam nos dotes superiores da directora para dirigir o agrupamento. A nossa democracia é muito especial…
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Uma professora na clandestinidade
COMENTÁRIOS
A IGE considera legal que a directora de Fitares nomeie professores com experiência para a coordenação pedagógica dos 2.º e 3.º Ciclos.
Quando existem na escola diversas titulares que são pagas para exercer essas funções .
A coord pedg integra o conteúdo funcional das suas funções.
E só na inexistência de professores titulares se pode, sucessivamente, recorrer a professores com experiência.
Leia-se, por exempo:
Desp 19117/08
7.º
Desempenho de cargos e outras funções de natureza pedagógica
1 — O exercício de cargos de coordenação pedagógica, designadamente
nas estruturas de orientação educativa e de supervisão pedagógica,
deve ser atribuído aos docentes providos na categoria de professor titular
ou, na sua inexistência, aos docentes mais experientes, que reúnam
competências a nível pedagógico e técnico adequadas às funções a
desempenhar, dando -se preferência àqueles que sejam portadores de
formação especializada.
Leia-se agora o que conclui a inspectora que foi a Fitares e recebeu despacho favorável do delegado da IGE:
Pura violação da lei.
Não está jusitficado o impedimento e a impossibilidade dos titulares (duas nem têm cargos sequer) .. é ilegal.
Diria o inspector: «não há factos».
Ah ah ah a ha ah
além da conclusão, aqui vai o desp do
delegado feito em cima da burra:
A amiguinha da coordenadora do 1.º Ciclo (que desapareceu no 3.º período) é que deu o parecer ao delegado da IGE.
Não há factos?
AH AH AH AH AH AH AH
Junho 13, 2010 at 9:25 pm
O Paulo tem um “embirranço” com DS, apesar de nalguns pontos de lhe dar razão. Mas não deixa de ser curioso que escreva o seguinte: “Por acaso, por trabalhar com turmas não-regulares, por leccionar num ambiente que compreende as diferenças, até pratico muitas coisas que Daniel Sampaio preconiza. Mas de forma moderada e muitas vezes por minha conta e risco.”
Se pratica muitas das coisas que DS preconiza, mesmo se com riscos pessoais, então o homem não é um completo mentecapto. Sendo provocador até era capaz de lhe dizer que pratica algumas das propostas do “eduquês”, tão fustigadas por estas e outras bandas, mas tem receio de o confessar. Gosta de que o vejam como um professor à moda antiga. Está sempre a criticar a deriva da educação a partir dos anos 90, mas, como especialista em história da educação, comete, ainda que de uma forma involuntária, um pecado capital: branqueia o passado. A escola antes dos anos 90, antes das ESE’s e teorias educacionais imbecis, não era o paraíso, como sabe muito bem. Mas das suas palavras exala um perfume saudosista tão falso como uma camisola contrafeita da feira de Carcavelos. Você não era professor nos anos 70 e 80, era aluno como eu fui. Se calhar já se esqueceu como era. Eu não.
Isto não quer dizer, naturalmente, que estejamos satisfeitos com a educação que temos. Na realidade há muitas razões para estar insatisfeito. Mas não transformemos esta insatisfação num discurso mistificador, por norma apontando pessoas concretas (Couto dos Santos, Ana Benavente, etc.) como tende a fazer, e transformá-los em bodes expiatórios de processos complexos.
Junho 13, 2010 at 9:35 pm
Pois mas nesse tempos idos..havia penalizações….e fronteiras que se sabia que ao passar teriam as ditas penalizações..hoje existem as desculpabilizações..hoje a almofada está por todo o lado…o pior é que no lufa lufa do dia a dia após a escola e no mercado de trabalho essa almofada não existe…e com isso eles não estão preparados para à queda…vão criara frustrações sem saber lidar com elas..e descarregar em cima dos progenitores ou dos mais fracos..
Junho 13, 2010 at 9:36 pm
Digo: eles não vão estar…
Junho 13, 2010 at 10:01 pm
Bulimunda disse:
“Pois mas nesse tempos idos..havia penalizações….e fronteiras que se sabia que ao passar teriam as ditas penalizações”
Eu passei o ensino secundário numa turma rija. Uma turma de adolescentes que conseguia fazer perder a paciência a um santo. Recordo que uma vez uma professora desatou a chorar na sala de aula. Nunca houve um processo disciplinar. Apenas ameaças.
O consumo e tráfico de droga dentro da escola e arredores era pesado. Não andei no colégio alemão ou na escola francesa. Era um liceu suburbano típico dos anos 70 a rebentar pelas costuras. Se aquilo era o paraíso vou ali e já venho…
“o pior é que no lufa lufa do dia a dia após a escola e no mercado de trabalho essa almofada não existe”.
O que não existem é empregos meu caro. Toda a gente sabia na altura que se conseguíssemos concluir o ensino secundário teríamos muito boas possibilidades de obter um bom emprego com facilidade (banca, seguradoras, etc.). E quem concluísse uma licenciatura então nem se fala. “Estuda que é para teu bem”, tantas vezes ouvi. E foi.
Agora onde é que vai conseguir motivar alunos para estudar quando o irmão, o primo ou o vizinho concluíram uma licenciatura ou um mestrado e terminam, com sorte, num “call-center” a ganhar pouco mais do que um salário mínimo?
Junho 13, 2010 at 10:05 pm
#51, com essas palavras, o que pretende?
Demonstrar que a escola não serve para nada, logo, não devemos preocupar-nos com o facto de os alunos aprenderem ou não?
Defende que seja, tão só, um espaço “aberto” onde passam umas horas do dia?
“Agora onde é que vai conseguir motivar alunos para estudar quando o irmão, o primo ou o vizinho concluíram uma licenciatura ou um mestrado e terminam, com sorte, num “call-center” a ganhar pouco mais do que um salário mínimo?”
Junho 13, 2010 at 10:09 pm
Paulo Guinote. Eu farto-me de rir com isto. Eu sou professor de Artes e se há coisa nas minhas aulas e na dos meus colegas de área não são aulas expositivas. Obviamente as próprias características das disciplinas da nossa área incluem muita e quase total abordagem NÃO EXPOSITIVA. No entanto garanto-te e garanto também a toda essa cambada de pedagogos da treta que se não houver disciplina e empenho da parte dos alunos e das famílias não há aprendizagem que se safe! Actualmente eu deparo-me com outros factores…entre eles a indisciplina de procedimentos e a desorganização pessoal para além das ausências dos materiais adequados para as funções precisas do desenvolvimento de qualquer projecto artístico.
Por isso todas estas teoria caiem por base! Obviamente que o espaço arquitectónico é fundamental para as aprendizagens! É fundamental como o é para toda e qualquer actividade lúdica ou laboral. Mas se há coisa que essa gente do eduquês porco percebe e nada liga é ao espaço arquitectónico! Tudo tem funcionado nas idílicas conjecturas. A realidade é bem diferente. Estamos perante uma causa que tem de ser admitida. A aprendizagem é uma interacção entre duas vertentes: professor e aluno! Se uma delas falhar nada há a fazer. Um mau professor não ensina nada mas um aluno que não quer estudar nem quer trabalhar também não aprende. A grande falácia reside nesta última permissa.
Junho 13, 2010 at 10:17 pm
Agora onde é que vai conseguir motivar alunos para estudar quando o irmão, o primo ou o vizinho concluíram uma licenciatura ou um mestrado e terminam, com sorte, num “call-center” a ganhar pouco mais do que um salário mínimo?
De acordo Kafka quanto a isso cem por cento de acordo..é uma das coisas que eu digo a quem de direito…
Agora no que toca ao resto discordo…eu andei em púlicas em Algés e em Carcavelos mos maristas parte ppublica..não era um oparíso mas tanmb+em nºao erfa um inferno co mo é hoje…
Junho 13, 2010 at 10:20 pm
reb disse:
“com essas palavras, o que pretende?
Demonstrar que a escola não serve para nada, logo, não devemos preocupar-nos com o facto de os alunos aprenderem ou não? Defende que seja, tão só, um espaço “aberto” onde passam umas horas do dia?”
Não defendo nada disso. A escola é lugar de aprendizagem e desenvolvimento. Ponto final. Apenas quis sublinhar o facto, que todos os professores lidam todos os dias, que é objectivamente mais muito mais difícil motivar os alunos para investirem a sério na escola, por comparação com o tempo em que eu fiz o ensino secundário, acenando-lhes com um futuro risonho no final do seus estudos. Eles sabem bem que não é assim.
Deixe-me contar-lhe uma história com poucos meses. Estava a fazer comprar num supermercado, no Lidle para ser mais preciso, com o meu filho mãos novo que tem 9 anos. O funcionário da caixa era um indivíduo simpático e começou a meter conversa com o meu filho: “Quantos anos tens? Em que classe é que andas?”, etc. Depois disse-lhe algo como: “Não te esqueças que tens estudar”. Fez um compasso de silêncio e acrescentou. “Pode ser que acabes como eu num supermercado.”
Junho 13, 2010 at 10:22 pm
epá..isto hoje anda doido…!Os erros que se lixem..continuando…não era um paraíso mas também não era um inferno como era hoje…expulsões lembra-me de algumas…faltas disciplinares idem..o aluno ia para a rua e ponto…e hoje?
Muito paleio e pouca acção…
A minha mulher trabalha na área de química na Universidade…quando lhe chegam ás mãos estudantes estrangeiros os mesmos têm autonomia nos laboratórios, já trabalharam para pagar o curso têm maturidade..os nosso com poucas excepções têm necessidade de monitorização constante..E agora professora o que faço?
Junho 13, 2010 at 10:28 pm
#48,
Comete, para variar, diversos erros, recorrentes em si.
Se eu usasse a sua linguagem diria que “exala” das suas críticas uma vontade de fazer um tipo de ataque à pessoa pior do que aqueles que me critica quando faço aos outros.
Porque se baseia em suposições e não em factos
Vamos por partes, de forma curta:
1) Nunca disse que algumas práticas de ensino estão erradas só porque não são as que eu desenvolvo. Critico a atitude laxista, discursivamente confusa e desculpabilizadora do chamado 2eduquês”.
2) Nunca, em texto algum, defendi qualquer regresso ao passado em termos pedagógicos. Aliás, o kafkazul confunde de forma regular os planos da política e da pedagogia. Não percebe que a crítica a políticas facilitistas de avaliação não se confunde com crítica a pedagogias activas na sala de aula. Mas enfim… vou conceder que por vezes o faz sem querer, de tanto querer zurzir e demonstrar uma certa superioridade “moral” e o meu mau feitio.
3) Por acaso fui professor nos anos 80, mais exactamente desde Março de 1987. Espero que não me diga que os anos 80 acabaram em Dezembro de 1986. Fui aluno e lembro-me bem da rebaldaria a todos os níveis que foi o período em causa, em especial de final dos anos 70. Não fiquei traumatizado; a ficar, teria sido com alguns colegas – quase sempre de outras turmas que não as minhas, que éramos por regra humildes – profundamente imbecis. Algo que o futuro demonstrou
4)Não gosto que me vejam como um professor à antiga porque o não sou, nunca fui, desde os primeiros tempos. Nunca fui um novato emproado como muitos foram nos primeiros anos de carreira, com receio de darem parte de fracos. Nem me armei em veterano dono da verdade ao fim de uns quantos escalões. Mais importante, o que pratico não defendo como prática universalizável porque sei que o que tem funcionado comigo não deve ser regra. Aliás, nenhum método deve ser regra.
5) pela primeira vez, meu caro kafkazul, gostaria que em vez de assinalar falhas, ousasse partilhar as suas convicções. Em vez de inquirir, exponha as suas práticas. Em vez de apontar os defeitos alheios, apresente as suas virtudes.
E, mais importante, porque não o seu trajecto como professor?
Junho 13, 2010 at 10:38 pm
48:
“A escola antes dos anos 90, antes das ESE’s e teorias educacionais imbecis, não era o paraíso, como sabe muito bem”
Certamente isto não será argumento explicativo ou atenuante para a escola de hoje… Antes o “não paraíso” da escola anterior aos anos 90 ao inferno despudorado, ignorante, displicente, indisciplinado e irresponsável da escola de hoje! Saudosismo? – Chame-lhe o que quiser… tenho, igualmente, saudades do tempo da boa educação, do respeito pelo mais velho e pelo outro, da vergonha pela mentira, do vexame da trapaça, das consequências da irresponsabilidade, da punição da iniquidade, dos direitos com deveres … tenho saudade da linguagem cuidada e correcta, do sentimento de dever, da correcção no trato, da conquista e salvaguarda de uma imagem limpa, …
A minha escola também é a escola dos anos 70 e 80… com todas as suas insuficiências, pelo menos ensinava e transmitia valores… gente boa e gente má, bons e maus profissionais… – em todos os tempos, em todos os espaços e em todos os lugares: ontem, hoje e amanhã!
A diferença é que, ao contrário de um tempo que passou, nos dias de hoje os bons são ignorados e os maus premiados!
Junho 13, 2010 at 10:39 pm
#55,
E o que é que essa história adianta para o que aqui discutimos?
Seria mais motivador fazer o Secundário entre 77 e 82/83 quando na margem sul a regra era a miséria, o desemprego e a ausência de perspectivas?
Estive, por moto próprio e contra opinião familiar, quase a não ir para a Universidade, apesar das boas médias que tinha e que me permitiriam entrar no curso que quisesse.
Cada um tem o seu trajecto, a sua forma de (re)agir e devemos “julgar” os outros pelos actos e factos, não por elocubrações pessoais.
Por exemplo, nunca aqui elaborei sobre o seu trajecto ou motivações. Faço-o em relação a pessoas que publicamente praticaram actos, disseram coisas, fizeram obra, boa ou má.
Analiso factos, dou a minha opinião.
No seu caso, faz algo ligeiramente diverso, num ligeiro twist moralista que padece do pecado que critica a outros.
Há passagens, em que quase sinto um “danieloliveira” dentro de si, aquela estirpe de bloquista bem intencionado mas sempre com o sentimento de ser eticamente acima do vulgo e intolerante para quem assume abertamente não ser tão bem-intencionado.
É esta a minha opinião com base na análise de diversas críticas (e alguns elogios) que aqui me dirigiu no blogue.
Junho 13, 2010 at 10:41 pm
Paulo vê e ouve isto..para o Kafka também..
Junho 13, 2010 at 10:41 pm
#58,
O que algumas pessoas com responsabilidades no que aconteceu nos anos 90 não entendem é que ao criticar-se o que então se passou, não se pretende voltar à idade das Trevas ma assinalar que, nesse momento, se fizeram opções erradas e que o caminho a trilhar deveria ter sido outro.
Nem a evidência do erro a que chegámos parece fazer ver que “aquele” caminho foi mal pensado.
Junho 13, 2010 at 10:49 pm
Até amanhã…
Junho 13, 2010 at 10:57 pm
#56,
Para além de outras variáveis, existem outras muito concretas. Por exemplo, no RU, a prática do gap year,um ano de “pousio”, de experiências, de trabalho pago ou voluntário, etc. Depois, aos 18 anos são raros os que permanecem em casa dos pais. Vivem em apartamentos alugados, pagam as contas com o seu trabalho e continuam os estudos.
Nos EUA, sabe-se que os alunos das escolas secundários e os universitários de várias origens sociais e económicas trabalham ao longo do ano ou nas férias.
Algumas pequenas realidades que podem ajudar a compreender essa “maior autonomia e maturidade ” de que fala.
Por outro lado, lá fora dizem o mesmo dos nossos alunos: são empenhados, aplicados, integram-se bem e muitos, no final de um curso universitário, são convidados a ficar.
A realidade não é a preto e branco.
Junho 13, 2010 at 10:59 pm
Porque vão os melhores….
Junho 13, 2010 at 11:00 pm
61:
Não entendem, Paulo?
Entendem, sabem e conhecem (directa ou indirectamente) mas, por variadas razões, dá-lhes jeito este estado de incompetência e de falsidade… e, a tristeza deste país -a todos os níveis que não apenas na educação, é que nada, absolutamente nada/ ninguém/ entidade ou instituição, trava e contraria este estado de coisas…
A impunidade é total e a impotência absoluta!
Já não acredito na boa fé!
Junho 13, 2010 at 11:23 pm
#64,
Então também posso argumentar em relação ao seu comentário sobre os alunos estrangeiros: porque vêm os melhores?
Junho 13, 2010 at 11:34 pm
«…os jovens de hoje concentram-se menos, mas podem fazer várias tarefas ao mesmo tempo.»
DS
Cada vez mais se justifica o tal censor corrector/revisor para os comentários do Umbigo. Este ficaria assim: « Os jovens de hoje são incapazes de se concentrar em tudo o que convoque o intelecto, mas podem fazer várias tarefas ao mesmo tempo, como seja ouvir música, escrever sms, dançar e comer.»
Junho 13, 2010 at 11:37 pm
25, és tu o novo diácono do umbigo 🙂 ?
Junho 13, 2010 at 11:49 pm
Várias tarefas que os jovens de hoje podem fazer ao mesmo tempo sem rebentar com a caixa dos fusíveis:
– Ouvir música, abanar o capacete e bater o pé, tudo ao mesmo ritmo;
– Comer, beber e falar com a boca cheia;
– Sacar uma dúzia de ficheiros da net, enquanto ouve música e remove os links de um outro texto já sacado, que com a eliminação de três parágrafos e a mudança do tipo de letra será um trabalho de pesquisa original a entregar ao professor;
– Ouvir música, ver vídeos no youtube, jogar online e fazer um trabalho no computador, tudo durante a aula.
Junho 13, 2010 at 11:51 pm
67:
🙂 🙂
quanto ao “escrever sms”… eu omitiria a palavra escrever.
Junho 13, 2010 at 11:55 pm
Sinceramente, esta problemática parece uma pescadinha de rabo na boca. Anda-se à volta, à roda, fala-se na escola do passado, na escola do presente e andamos na prosa. Difícil descontextualizar isto de uma visão política e ideológica.
Parece-me, no entanto, que poderão existir pontos de consenso:
a. Os alunos de hoje não são os alunos de ontem e isso não significa que saibam menos;
b. Não há estratégias que possam ser impostas e usadas tipo copy e paste para todos os alunos;
c. Há diversos modos de ensinar e de aprender e quer alunos quer professores devem estar cada vez mais conscientes disso;
d. Alunos, professores e famílias têm sido ratos de laboratório nas inúmeras experimentações pedagógicas e organizacionais na escola;
e. faltam efectivamente percursos escolares de boa qualidade, muito boa qualidade, para os jovens que não querem ou não se revêem num ensino “regular”.
Ao contrário do que o Buli ontem escrevia, não tenho nenhuma superioridade catedrática. Antes pelo contrário, tenho mais dúvidas do que certezas, o que não significa que abdique de ter a minha visão do que me rodeia.
Já se questionaram, por exemplo, porque é que nas turmas do secundário (regulares) em 28 alunos, podemos falar do 10º ano ou até 11º, só 8 alunos têm uma ideia concreta quanto à escolha de um curso a seguir?
Alguns colegas responderão: porque são irresponsáveis e imaturos.
Eu questiono-me: será?
Junho 14, 2010 at 12:02 am
#71
“Alguns colegas responderão: porque são irresponsáveis e imaturos. Eu questiono-me: será?”
Eu acho que são irresponsáveis e imaturos aqueles miúdos marrões que com essa idade dizem: “Eu quero ir para medicina ou então arquitectura”…
Junho 14, 2010 at 12:22 am
#72,
Concordo, q.b.
Mas olhe que frequentemente oiço comentários contrários, ou seja, ” eu nesta idade já sabia muito bem o que queria!”
Quando digo q.b, é porque as coisas também não são assim tão taxativas:
Existem jovens que sempre quiseram seguir medicina, por razões variadas, nem sempre relacionadas com um certo estatuto social.
E existem jovens que tiveram de ser “marrões” para entrar em medicina.
Dizia-me ontem uma jovem de 17 anos: “Tenho 2 primos. Um já está em medicina. A outra vai entrar este ano. Desde pequena que me lembro de os ver a estudar. Ainda hoje, quando os vejo sinto que são infelizes.”
E agora poderíamos seguir para o porquê das classificações até há pouco tempo exigidas para se entrar em medicina: 18,99; 19,32…..
Para além de outras variáveis, lembro-me do papel da Ordem dos médicos nesta situação.
Junho 14, 2010 at 12:23 am
“Há passagens, em que quase sinto um “danieloliveira” dentro de si, aquela estirpe de bloquista bem intencionado mas sempre com o sentimento de ser eticamente acima do vulgo e intolerante para quem assume abertamente não ser tão bem-intencionado.
É esta a minha opinião com base na análise de diversas críticas (e alguns elogios) que aqui me dirigiu no blogue.”
Então agora sou eu que exalo um Daniel Oliveira? Parece-me que a crítica que ele lhe dirigiu a propósito de uma pseudo ironia sobre uma condenação de um professor que fez um comentário racista a um aluno ainda não se encontra bem digerida…
Existem várias contradições no seu discurso mas a hora é tardia e vou apenas apontar-lhe duas. Afirma que eu confundo “de forma regular os planos da política e da pedagogia. Não percebe que a crítica a políticas facilitistas de avaliação não se confunde com crítica a pedagogias activas na sala de aula.”
Ora, o eduquês que critica, e eu em muitos aspectos também, não tem apenas a ver com políticas facilitistas ao nível da avaliação. Tem a ver com orientações mais globais e profundas que condicionam negativamente o trabalho quotidiano dos professores. Aliás é o próprio Paulo a afirmá-lo quando escreve: “Ao contrário do que Daniel Sampaio afirma, muitos de nós gostariam de, mesmo com base numa sala de aula tradicional, praticar essa pedagogia liberal em matéria de organização do espaço e do tempo, criar uma sala aberta onde os alunos pudesssem entrar e sair, trabalhando de forma significativa, de acordo com os seus ritmos.” E depois elenca obstáculos objectivos que impedem que isso seja uma realidade virtualmente impossível de aplicar. Eu não sei se são muitos de nós que pretenderiam praticar uma pedagogia mais liberal, para usar os seus termos. A julgar pelos comentários que leio às suas entradas não serão tantos quanto isso…
O que é algo bizarro na sua entrada é que pega em dois aspectos específicos em que Daniel Sampaio se estatela ao comprido (aulas expositivas de 90 minutos e os cada vez menos usados retroprojectores) e faz uma barragem de fogo sobre a pessoa, mas depois subscreve a maioria das suas opiniões. Você tem um ódiozinho de estimação a DS. Tudo bem. Cada um tem os seus. Só que terá escolhido uma das crónicas menos apropriadas para o fazer.
Junho 14, 2010 at 12:27 am
#61,
“…se fizeram opções erradas e que o caminho a trilhar deveria ter sido outro.
Nem a evidência do erro a que chegámos parece fazer ver que “aquele” caminho foi mal pensado.”
Não errar seria o ideal, Paulo.
Mas a vida não é assim.
Agora, concordo que errar 1 ou 2 vezes, poderá acontecer.
Não se aprender com os erros e continuar-se a insistir já é coisa grave.
Junho 14, 2010 at 12:40 am
#73
Pois, mas os jovens que sentem mesmo a vocação para medicina, no caso de não poderem entrar, prefeririam outro curso na área das ciências da saúde. Parece-me…
Os que querem arquitectura como segunda escolha estarão talvez a pensar em termos de estatuto económico e/ou social inerentes aos cursos.
Escrevo isto com algumas cautelas porque nem sempre podemos ter a pretensão de saber ao certo o que se passa na cabeça das outras pessoas.
Mas eu sinto grande apreensão em relação ao que serão os médicos deste país daqui a 10 ou 20 anos, face ao perfil de estudantes que têm sido admitidos nas últimas décadas aos cursos de medicina.
Junho 14, 2010 at 12:46 am
#67 25 sempre25
Continuo a apreciar o seu novo cargo de corrector/revisor dos comentários! A ideia veio de ontem ou era anterior? é só para eu ir procurar mais atrás, porque aprecio este tipo de humor. 🙂
#69 António Duarte
🙂
Junho 14, 2010 at 12:55 am
Paulo Guinote
Gostei muito da “conversa” de hoje, que inclui o post e os comentários, alguns com humor.
Estou farta da conversa mole, paternalista e desactualizada do Daniel Sampaio. Alguns dos artigos então são de uma repetição e trivialidade que até me levam a perguntar se o homem não é mesmo pouco inteligente.
Junho 14, 2010 at 1:12 am
#76,
§1- Poderá não ser bem assim. E posso dar-lhe alguns exemplos. Nem todos os cursos na área da saúde são as que muitos jovens preferem.
§2- Mais uma excepção ao que parece ser uma regra. Também lhe posso dar alguns exemplos.
§3- Concordo
§4- Também concordo
Em alguns países fazem-se entrevistas como pré-requisitos. Dou-lhe este exemplo: uma aluna candidata-se a medicina algures numa faculdade do RU. Tem média de 14 valores. Ficou tão Apta a inscrever-se no curso como um seu colega com média de 18 valores.( se calhar já me está a falhar a memória – será que o colega entrou?)
Junho 14, 2010 at 1:31 am
Para ser franca, pensando melhor, acho que a entrevista devia ser um pré-requisito no ensino superior.
Já aqui escrevi há uns bons tempos este exemplo que parece ser seguido em muitas empresas estrangeiras: 2 candidatos a um estágio na área da engenharia informática. Um candidato excelente, com média elevadíssima. Entrevista fraca, bons conhecimentos teóricos. Outro candidato com média muito inferior. Excelente entrevista. Um muito bom e variado CV atendendo à idade.
No final do estágio, a empresa quis contratar estes jovens para os seus quadros.
O 1º negou: não aguentava trabalhar em equipa e qualquer mobilidade de curto prazo fora do país o atemorizava.
O 2º candidato aceitou pelas razões opostas.
(Já agora,e ao lado da questão, cada vez considero que seria mais lógico serem as universidades a corrigirem os exames nacionais das várias áreas disciplinares. Agora é que me vão bater mesmo!!!!)
Junho 14, 2010 at 10:53 am
LAPIDAR!
E a propósito de políticas “fofinhas”, aqui vai uma notícia fresquinha:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/escola-de-fitares-castiga-docentes
Escola de Fitares castiga docentes
Professor diz que responsáveis da escola querem punir quem falou à Comunicação Social e vai processar quem o insultou numa reunião com a DREL.
José Luz é professor de Música na EB 2,3 de Fitares, tal como Luís Carmo, que se suicidou. Decidiu falar porque “não tem outra forma de se proteger”
Junho 14, 2010 at 11:00 am
Fernanda para cá vêm os médios..os melhores vão para outros lados que não cá…
Junho 14, 2010 at 12:11 pm
#80
“(Já agora,e ao lado da questão, cada vez considero que seria mais lógico serem as universidades a corrigirem os exames nacionais das várias áreas disciplinares. Agora é que me vão bater mesmo!!!!)”
Não sei se seria necessário. Agora que as Universidades deviam ter uma palavra final sobre os alunos que entram nos cursos, concordo. E é mesmo em medicina que a coisa se complica. Sei de alguns alunos que vão para medicina apenas porque sim. A mãe empurra, o pai empurra, a avó, a tia e a madrinha, todos empurram. Conclusão vamos ter mais um médico que preferia ser poeta ou pintor. Mas como é inteligente, organizado e aplicado, em terra de cego… sacou as “notas” necessárias e suficientes para entrar em medicina. Se houvesse uma entrevista (ou várias) que fizesse a verificação da verdadeira vontade do candidato, talvez não soubéssemos de tanta desistência, de algum alcoolismo e abuso de drogas nos cursos de medicina. Aliás, gostava muito de saber se este diz-que-disse corresponde mesmo à verdade, em matéria de consumo de substâncias estranhas ao que se espera de um aluno de medicina. E não me venham com defesas da treta, do género “um aluno de medicina também é jovem, também pode fazer as suas asneiras”. Uma gaita! É nas mãos desse profissional, de uma profissão técnica de alto desempenho, com extrema exigência em conhecimentos, que nós vamos pôr um filho a arder em febre.
Junho 14, 2010 at 5:10 pm
#77 Maria Fernanda
A ideia de rever os comentários surgiu há bastante tempo, quando alguém se indignava com os erros que alguns continham. Eu não dou importância nenhuma a isso, nem sequer sei se são professores. Não conheço as pessoas, cada um escreve como pode e sabe e quer.
Mas é sobretudo um exercício de descontração, para quebrar alguma rigidez que se sente por aqui, de vez em quando. É que há discussões que, por mais meritórias, não produzem qq resultado prático. É o caso dos erros, das práticas pedagógicas, do funcionamento de cada escola, da prepotência dos directores, da incapacidade do ME… Podemos ficar aqui no Umbigo a degladiar-nos toda uma semana, mas “lá fora” fica tudo na mesma.
O poema do Ruy Bello que o Paulo escolheu para hoje não poderia vir mais a propósito, pela forma como evidencia a inutilidade de certas palavras.
Junho 14, 2010 at 5:29 pm
#84
“O poema do Ruy Bello que o Paulo escolheu para hoje não poderia vir mais a propósito, pela forma como evidencia a inutilidade de certas palavras.”
Adoro ser o teu Paulo. Se “qq” resultado prático, digo eu.
Junho 14, 2010 at 5:32 pm
Sem.
Novembro 14, 2011 at 4:50 am
Incredibly well written piece!