Há pouco tempo, em resposta a uma questão sobre como era possível a um(a) professor(a) conduzir uma sala de aula e o que era mais importante, tentei explicar que o debate tradicional está espartilhado à partida quando se faz uma oposição redutora entre os que defendem o primado do conhecimento científico a transmitir (conteúdo) e os que defendem o primado das metodologias da transmissão de conhecimentos (a forma).
Porque, numa sala de aula, se é importante que o(a) docente domine o conhecimento que pretende transmitir e que o saiba transmitir de um modo eficaz (quantos professores tivemos, mesmo no ensino superior, que podiam ser muito bons numa dessas dimensões, mas eram fracos ou mesmo péssimos na outra), também é muito importante uma terceira dimensão que é a que mais dificilmente se consegue adquirir e desenvolver na formação inicial ou contínua, tanto pela inexistência da dita formação específica, como de certas características decorrerem demasiado das características pessoais de cada indivíduo. Falo, obviamente, das capacidades de relacionamento interpessoal ou, numa visão mais popularizada nos últimos anos graças a David Goleman, da inteligência emocional, ou seja, da identificação e capacidade de utilização das emoções nos outros e em nós, canalizando-as de uma forma eficaz.
Esta é a competência (como se diz agora) ou capacidade mais difícil de ser desenvolvida, ou aperfeiçoada, porque resulta de um conjunto de qualidades que em muito são intrínsecas a cada individualidade, desde logo a capacidade de despertar empatia nos interlocutores.
A obra que destaco neste post (e que julgo já ter referido há uns meses) corresponde a uma investigação decorrente da formação em gestão de emoções junto de um grupo de professoras do 1º ciclo. A metodologia pode despertar algumas reservas em algumas pessoas, nem todos pressupostos ou conclusões serão partilháveis por todos (acho mesmo que a certo nível, são demasiado unilaterais por quase responsabilizarem em exclusivo uma das partes na relação pedagógica e pessoal), mas há constatações muito interessantes.
Passo a destacar algumas passagens das páginas 505-506 que acho bastante interessantes:
Depois de uma intervenção junto das professoras, verificou-se que naquelas que tinham uma atitude de permissividade em relação às regras de comportamento, que foram mais trabalhadas e implementadas de forma orientadora nesse caso, os alunos tomaram consciência do seu comportamento, havendo uma mudança significativa na ideia que os alunos têm do seu comportamento. Ou seja, os alunos passaram a achar que eram mais mal comportados. A tomada de consciência é o primeiro passo para qualquer processo de transformação.
Mais uma vez se verifica que o trabalho que se faz com as professoras provoca igualmente mudanças nos alunos, o que reforça uma das ideias que serviu de guia a esta investigação; a de que, para se mudar a realidade de uma sala de aula, o melhor é começar por uma intervenção que mude em primeiro lugar os comportamentos e as atitudes das professoras.
(…)
As dificuldades que as professoras sentiram em mudar de atitudes na sala de aula vieram pôr em evidência alguns esquemas estereotipados e crenças educacionais tradicionalmente utilizadas na condução das aulas, assim como a importância que as características pessoais e os problemas da vida pessoal das formandas podem ter igualmente nos processos de mudança.
Março 14, 2010 at 5:51 pm
Sabe qual a razão de só ter sido feita a intervenção junto de professoras , excluindo os professores ?
Março 14, 2010 at 6:03 pm
Porque, em termos de Inteligência Emocional as mulheres lideram.
(ai agora…tou feita!)
Março 14, 2010 at 6:28 pm
As teses da “Inteligência Emocional” de Coleman devem ser consideradas “irrealistas”, “enganadoras e desprovidas de fundamentos científicos”
(Choque na Educação, p.117)
Por outro lado, a “tomada de consciência” não é um processo limpo nem linear, no sentido em que possa conduzir inevitavelmente à mudança de atitude.
Pelo contrário, pode até agravar e refinar o comportamento que se pretendia alterar: ver experiências de programas com presos que refinavam a sua conduta de perversão e controlo sobre os outros.
Também os jovens têm uma maneira de pensar os problemas muito diferente dos adultos, uma vez que não “sentem” da mesma maneira: ler, por exemplo o Cap.7 de “O Choque na Educação”.
De qualquer maneira, é evidente que o estilo e as características individuais fazem toda a diferença, particularmente quando se jogam no seio de uma instituição com regras e normas assentes basicamente nas relações que remetem para o controlo e gestão de um espaço sensível de alteridade e autoridade dialógica.
Março 14, 2010 at 6:36 pm
Paulo, tocaste num ponto nevrálgico.
É evidente que não basta ter sólidos conhecimentos científicos para se ser um bom professor ( ainda que, sem os ter, não se pode ser professor).
O problema está nas imensas correntes pedagógicas que nos formaram e nos impediram de encontrar um caminho próprio ( como se pode ser autoritário qdo a nossa natureza é o oposto disso, ou, mais frequentemente, como se pode dar aulas em cenários de “sou apenas um orientador da vossa aprendizagem” qdo se sente que isso é treta?).
Só a experiência, a maturidade nos ensinam que, sem sermos nós próprios, não chegamos lá.
É bom ler, aprender o que dizem os pedagogos e, depois, esquecer as teorias, conservando apenas aquilo que se foi encaixando, dessas leituras e da nossa prática.
No entanto, há coisas que não se aprendem.
Pelo menos, já não se aprendem na idade adulta, julgo eu.
Por isso me parece que a nossa é uma profissão de vocação.
As crianças, os jovens lêem nas entrelinhas. Sabem se estamos ali de corpo e alma ou não.
É preciso gostar do que se faz…
Março 14, 2010 at 6:50 pm
#4
e eu gostava!
Agora…bem, agora odeio o que tenho de fazer, pq. o que agora faço, não tem nada a ver com o que fazia há 32 anos atrás!
Não me vou embora já pq. obviamente não vou aceitar para já ir com toda a penalização a que neste momento estou sujeita. Vou tentar “sobreviver” um ano de cada vez e vou fazendo contas.
Março 14, 2010 at 6:52 pm
4.
«As crianças, os jovens lêem nas entrelinhas. Sabem se estamos ali de corpo e alma ou não.»
E não perdoam…
Março 14, 2010 at 6:55 pm
#5-Gostei…
«Aqui,agora, neste momento»
Março 14, 2010 at 6:58 pm
No meu caso, faço agora muito melhor o que fazia há 32 anos.
Março 14, 2010 at 6:59 pm
#6, essa do “não perdoam” não era a conclusão que eu tiraria.
Numa fase como esta que estamos a passar, em que a violência contra alunos e professores está na ordem do dia, devemos unir as nossas energias para denunciar tudo o que sabemos e para propor/impor que a escola seja um lugar seguro e que as regras sejam cumpridas. Um adulto é um adulto, uma criança é uma criança.
Mas o Paulo tocou num outro aspecto que tb é relevante debater.
Se, em casa, andamos zangados, frustrados, deprimidos, como se sentem os nossos filhos?
Sem querer fazer uma comparação à letra ( os alunos não são nossos filhos), sabemos, no entanto que, se para nós dar aulas se tornou num frete, eles vão sentir isso…
Março 14, 2010 at 7:00 pm
Reb disse:
“É evidente que não basta ter sólidos conhecimentos científicos para se ser um bom professor (ainda que, sem os ter, não se pode ser professor).”
Minha cara acabou de cuspir na cara do Nuno Crato que sustenta, há anos, que a essência de um bom professor é a solidez do seu conhecimento científico. Depois existem um “pozinhos” que podem ser úteis mas nada mais do que isso.
“O problema está nas imensas correntes pedagógicas que nos formaram e nos impediram de encontrar um caminho próprio”
Se a impediram foi porque a deixaram. A minha orientadora de estágio estava sempre a dizer que todo o conhecimento que adquirimos até à altura sobre como ensinar, incluindo o que aprendemos no papel de alunos, devia ser visto como um instrumento que guardávamos numa espécie de caixa de ferramentas. Cada turma deveria ser encarada como um trabalho. Para o fazermos precisamos das ferramentas da nossa caixa (e às vezes, dizia, elas não estão lá, temos que as inventar) e de um conjunto de procedimentos (que também não estão todos estão codificados).
“É bom ler, aprender o que dizem os pedagogos e, depois, esquecer as teorias, conservando apenas aquilo que se foi encaixando, dessas leituras e da nossa prática.”
Concordo consigo, excepto num ponto. Só acredito em pedagogos com provas dadas, isto é, que me apresentem exemplos concretos das suas abordagens assim como da sua eficácia. O resto são tretas sem substância.
“As crianças, os jovens lêem nas entrelinhas. Sabem se estamos ali de corpo e alma ou não.É preciso gostar do que se faz…”
O problema começa por residir aí. Ser professor é difícil e duro. Mas torna-se uma profissão impossível de desempenhar caso não se goste do que se faz. E há muitos que não gostam e, acrescento, numca gostaram.
Março 14, 2010 at 7:02 pm
#5, Hope, qdo comecei a sentir-me um pouco como dizes, mudei de escola.
Recomecei tudo de novo.
Eu sei que aqui, em Lisboa, é mais fácil mudar de escola…
Mas é tão terapêutico. Às vezes, tb o ambiente das escolas se tornam desgastante…
Março 14, 2010 at 7:07 pm
10.
‘O problema começa por residir aí. Ser professor é difícil e duro. Mas torna-se uma profissão impossível de desempenhar caso não se goste do que se faz. E há muitos que não gostam e, acrescento, numca gostaram.’
Imensos: encostaram-se. Foi o que se conseguiu arranjar.
Março 14, 2010 at 7:08 pm
O pior é que ainda há quem acredite que para ser professor qualquer um serve.
Março 14, 2010 at 7:11 pm
#10, Kafkazul, não sei se é professor ou não, mas julgo que, pelo menos actualmente, não dá aulas.
Qdo afirmei que não basta ter sólidos conhecimentos científicos, não cuspi na cara do Nuno Crato. Pelo contrário. Li os livros dele e oiço-o sempre com muita atenção. Foi das pessoas que mais influência teve na minha actual postura como professora. Isto pq encontrei nele um eco do que vinha a sentir.
Não basta ter sólidos conhecimentos cientícos. É preciso gostar de os ensinar.
Só isto!
A respeito das correntes da pedagogia, como sabe ( julgo), fomos formados nas ditas “novas correntes” qdo ainda não tínhamos começado a ensinar ou, então, nos anos de estágio.
Não havia como fugir-lhes. A imaturidade levava-nos a considerar aquilo as “leis” científicas do ensino/ aprendizagem.
Qdo me lembro dos disparates que eram as minhas aulas pelos meus 23/24 anos sinto arrepios…
Há uns anos atrás, fiz o percurso inverso. Tentei esquecer aquelas metodologias e lembrar-me de como me tinham ensinado na escola alguns conhecimentos que nunca mais tinha esquecido.
Apliquei métodos diferentes. Passei a fazer traduções nas aulas de inglês ( por exemplo).
Os resultados foram surpreendentes. Os alunos começaram a perceber melhor e a interessar-se mais…
Março 14, 2010 at 7:18 pm
Hope, acabei de receber, por mail, o teu post sobre a Finlândia que o Paulo aqui pôs no Umbigo.
A tua informação já anda a circular. 🙂
Março 14, 2010 at 7:27 pm
Correntes da Pedagogia..só as palavras fazem lembrar algo sadomasoch!…
Aliás a própria palavra pedagogo e pedagogia têm origem em algo que por si só nos devia fazer reflectir..o escravo que ensinava o menino …ao menos no mercado de escravos era mais valioso que os demais…
As antigas pedagogias- arrrghhh.-resultavam porque existia respeito, pelo medo é certo mas existia…hoje faltando esses respeito pelo respeito em si mesmo e não havendo medo kaput…imaginem só se de repente as pessoas tivessem uma doença que as fazia perder o medo…já imaginaram o que seria…?
logo, quer seja respeito pelo respeito- a melhor via- quer seja respeito pelo medo , ele, o respeito, tem de existir…sem isso nada feito…Acho eu que não sou um filósofo, nem psicólogo, nem tenho o poder argumentativo de muitos que pululam por aqui e debitam escrita fluente e raciocínios elaborados para justificar isto ou aquilo…o real ultrapassa muitas vezes os chavões a todos os níveis…falo do que vivi e só isso..quando muito extrapolo…
Março 14, 2010 at 7:37 pm
Considerando que a inteligência emocional é uma ferramenta importante nas relações humanos, ela não pode ser vista como a panaceia para todos os males, incluindo os da Educação.
Vamos anadar eternamente a gerir emocionalmente a conflitualidade, que é cada vez maior e mais violenta, e deixamos o resto para trás?!
Precisamos de respeito e autoridade. E um destes dias até de força policial nas salas de aulas!!
Março 14, 2010 at 7:47 pm
#16
Realmente
“correntes”
“ferramentas”
Eis a razão instrumental no seu melhor.
Nesta perspectiva o docente não passa de um técnico que sabe ler instruções e usar técnicas para produzir um trabalho.
Março 14, 2010 at 7:59 pm
“Kafkazul, não sei se é professor ou não, mas julgo que, pelo menos actualmente, não dá aulas.”
Dou aulas há mais de 20 anos.
“Qdo afirmei que não basta ter sólidos conhecimentos científicos, não cuspi na cara do Nuno Crato. Pelo contrário. Li os livros dele e oiço-o sempre com muita atenção. Foi das pessoas que mais influência teve na minha actual postura como professora. Isto pq encontrei nele um eco do que vinha a sentir. Não basta ter sólidos conhecimentos cientícos. É preciso gostar de os ensinar. Só isto!”
Nuno Crato (NC) critica um tipo de ensino que ele julga que se pratica nas escolas portugueses e que se encontra estruturado no “eduquês” e no construtivismo radical (whatever that means…). Leu uns livros de uns autores que disseram disparates e concluiu, erradamente, que é isso que se pratica nas nossas escolas. Foi um ovo de Colombo. Se soubesse tinha eu escrito o livro. Acho que consegui reunir mais disparates do que ele ao longo de mais de duas décadas. Se aceitarmos o pressuposto de NC teremos que explicar a razão pela qual antes da invasão das Ciências da Educação (início da década de 80, mais ou menos) o nosso sistema educativo não conseguir produzir um ensino de excelência. Dava um mês do meu salário para saber quais os resultados do PISA ou outro tipo de avaliação semelhante caso ele tivesse sido aplicado em 1955, 1960, 1965, etc…
NC afirmou várias vezes (sim, eu também li o os livros dele) que o fundamento da boa docência era a sólida formação científica. Com isto eu concordo. Com o corolário seguinte é que não. Se a boa formação científica estivesse assegurada então o máximo que os professores necessitariam era de umas pinceladas da didáctica da área científica, et voilá, sai um professor. Não à sociologia da educação, à psicologia da educação e toda essa canga das ciências da educação que ele tanto fustiga.
“Não basta ter sólidos conhecimentos cientícos. É preciso gostar de os ensinar. Só isto!”
Não, não basta. Gostar de ensinar é muito importante, como disse atrás. Mas mais importante ainda é SABER COMO ENSINAR.
“A respeito das correntes da pedagogia, como sabe (julgo), fomos formados nas ditas “novas correntes” qdo ainda não tínhamos começado a ensinar ou, então, nos anos de estágio. Não havia como fugir-lhes. A imaturidade levava-nos a considerar aquilo as “leis” científicas do ensino/ aprendizagem.”
Fui também, em parte, formado nessa escola. Mas por um conjunto lato de circunstâncias (e aqui o papel da minha orientadora de estágio foi fundamental), sempre tive a noção de que a experiência, mais do que posturas ideológicas sobre a educação, deveria ser o maior determinante das minhas opções.
“Qdo me lembro dos disparates que eram as minhas aulas pelos meus 23/24 anos sinto arrepios…”
Quem nunca cometeu disparates que atire a primeira pedra.
“Há uns anos atrás, fiz o percurso inverso. Tentei esquecer aquelas metodologias e lembrar-me de como me tinham ensinado na escola alguns conhecimentos que nunca mais tinha esquecido.”
Pois eu também uso essa estratégia. Mas acrescentei outra: como é que eu gostaria que me tivessem ensinado. No início da minha carreira era muito experimentalista. Agora sou muitíssimo mais comedido. Por muitas boas intenções que eu tenha os meus alunos não são minhas cobaias. As mudanças devem ser muito graduais e adaptadas a cada turma. O que funciona bem numa pode ser um desastre noutra.
Março 14, 2010 at 8:03 pm
Já vi Kafka de onde tira as suas profundas reflexões..escusava de fazer um blog tão conventual…cogito logo debito em lápis lazuli…
Março 14, 2010 at 8:03 pm
Daqui…
http://quiosqueazul.blogspot.com/2008/08/retistuta-kafka.html
Março 14, 2010 at 8:12 pm
#19, se o Nuno Crato tivesse tido esse protagonismo que diz, era tido em conta na elaboração dos programas de Matemática.
Como sabe, a linha seguida é exactamente a oposta do que ele defende. A linha é a tal “eduquesa” da APM e do ME.
Não acha que já era altura para fazer um balanço dos resultados de 30 anos desta “linha pedagógica”?
Falei de Matemática por causa do Nuno Crato, mas a situação é igual em Português ou Inglês ( as minhas disciplinas).
Pode dizer-me que os jovens têm mais escolaridade agora. Não há dúvida. Já não temos analfabetos-puros!
Mas já experimentou ir ver as “competências” que tinha adquirido qdo andava na antiga 4ª classe e as que alguns alunos de 9º anos têm agora?
Olhe, nem é preciso vasculhar muito. Veja como eram as suas redacções: a caligrafia, a ortografia…
Compare!
Março 14, 2010 at 8:14 pm
#16, tens razão, Buli.
É preciso respeito e respeito implica ( num jovem) algum medo. Implica saber que a autoridade está do lado do adulto e os seus actos de indisciplina terão consequências.
O medo ajuda a organizarmo-nos, não é?
O medo não é o pânico.
Março 14, 2010 at 8:22 pm
Gostaria de pedir ao
Bulimunda para postar (p.F). Afinal ainda não consegui aprender como se faz.
Março 14, 2010 at 8:25 pm
Março 14, 2010 at 8:26 pm
Não sou tão engenhosa como o Bulimunda mas acho q consegui…
Março 14, 2010 at 8:26 pm
Outro link também para P. Zimbardo
Março 14, 2010 at 8:27 pm
Muito obrigada, caneta…
Março 14, 2010 at 8:29 pm
Março 14, 2010 at 8:31 pm
#23
Absolutamente de acordo.
Já me tenho referido, algumas vezes, a esse medo que é importante na estrutuação da nossa personalidade.
Março 14, 2010 at 8:35 pm
Não sei se as teses da Inteligência Emocional tem ou não fundamentação científica, mas que ela existe mesmo, existe – mesmo que com outro nome.
A tomada de consciência pode não conduzir à mudança de atitude, mas sem tomada de consciência não há mudança de atitude, a não ser pela força.
Em qualquer profissão só se é um óptimo profissional quando se tem vocação e se sente prazer no que se faz. Não é exclusivo dos professores nem lhes deve ser exigido a eles em exclusivo.
Vi e vejo muitas vezes desculpar problemas de indisciplina atribuindo-os à personalidade do professor que é deixado sozinho (quando não é olhado com um certo desprezo) sem ninguém se lembrar que é necessário ensinar aos alunos que toda a gente deve ser tratada com respeito – regra elementar.
Independentemente das características pessoais de cada um ou da sua vida pessoal todo o professor que cumpra as suas obrigações profissionais, seja honesto com ele próprio e com os alunos tem direito ao respeito de todos.
Os alunos também têm que aprender a conviver com a diferença e a aceitar que cada professor é diferente dos outros todos e tem o direito de o ser.
Sou contra todo o tipo de formatações e, por conseguinte, contra o “professor padrão” que nos querem impingir.
Não temos de encarar cada aluno como “único”?
Março 14, 2010 at 8:36 pm
reb escreveu:
“Não acha que já era altura para fazer um balanço dos resultados de 30 anos desta “linha pedagógica”?”
Por mim podem fazer todos os balanços que quiserem. Mas não faria somente do últimos 30 anos. Faria do último século.
Sugiro-lhe que leia as frases que António Nóvoa seleccionou sobre a decadência do sistema educativo em Evidentemente (ver http://www.wook.pt/ficha/evidentemente-historias-da-educacao-/a/id/39701). São verdadeiras pérolas. Veja estas:
“Em Portugal, o aluno sai da escola primária um verdadeiro ignorante.”
Albano Ramalho, 1909
“É manifesta a falta de preparação que os alunos dos liceus apresentam ao ingressarem nos estudos superiores; deficiências de conhecimentos científicos e de desenvolvimento mental.” Eusébio Tamagnini, 1927, Ministro de Instrução Pública de Outubro de 1934 a Janeiro de 1936.
Se ler o livro O Nível Educativo Sobe, de Christian Baudelot e Roger Establet, que se encontra publicado entre nós pela Porto Editora, encontrará frases parecidas com estas, adaptadas ao contexto francês, datadas de meados do século XIX!!
Março 14, 2010 at 8:36 pm
Março 14, 2010 at 8:39 pm
That’s the issue…
Março 14, 2010 at 8:42 pm
Março 14, 2010 at 8:44 pm
Quanto ao Tamagnini não restam dúvidas que o homem era um visionário…vejamos o que Ele disse como ministro da educação…ELE E OUTROS INTELECTUAIS DA PRAÇA NA ALTURA…
…escritora, Virgínia Castro e Almeida, num artigo publicado no Jornal “O Século” de 5 de Fevereiro de 1927 “(…) Que vantagens foram buscar à escola? Nenhumas. Nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os que esquecem e voltam à enxada. A parte mais linda, mais forte e mais saudável da alma portuguesa reside nesses 75% de analfabetos” (idem, p.67).
Nesta época, a poupança na Educação foi tão flagrante e o desinteresse, por este fundamental sector da vida nacional, foi tão malévolamente intencional, que o Ministro da Educação de então, EUSÉBIO TAMAGNINI (1934), procurando demonstrar uma actualização pedagógica identificada com as correntes mais modernas da pedagogia da Europa e do Mundo, não se coibiu de fazer uma interpretação sui generis e totalmente deturpada das ideias então em voga, dizendo que: “a população escolar pode e deve dividir-se em cinco grupos, a saber:
1º Ineducáveis, 8%;
2º Normais estúpidos, 15%;
3º Inteligência média, 60%;
4º Inteligência superior, 15%;
5º Notáveis, 2%” (ibidem, p.78), daí concluindo não ser necessário muito dinheiro para a Educação..
TIRADO DAQUI…
http://malhatlantica.pt/ecae-cm/Escola%20para%20todos.htm
Março 14, 2010 at 8:48 pm
#3,
Chamemos-lhe “instinto”, essa coisa indefinível que vai fazer o Kafkazul voltar a evocar a minha mania do “iluminismo”.
Março 14, 2010 at 8:50 pm
Oh Fritz the cat, esses videos são para a Música do Umbigo, vc ta-se a antecipar…já quer por a malta a dormir?
Março 14, 2010 at 8:51 pm
Em diagonal:
Citar o Veiga Simão é coisa que não lembrava a ninguém. Realmente o resultado que me vem à ideia é a extinção do Ensino Técnico Profissional…Deixou obra,de facto,bem negativa.
Março 14, 2010 at 8:53 pm
#32,
OK, mas essas são frases que, porventura no contexto português, terão sempre razão de ser quando estabelecemos comparações.
As teses de Establet e BAudelot vão um pouco mais longe do que um alinhavar de citações…
Março 14, 2010 at 8:53 pm
Não,não, Caneta, era apenas um relação que encontro relativa ao item em análise.
Março 14, 2010 at 8:57 pm
Ora cá tá! Bem q era preciso ETP. Há, na minha escola, u aluno do CEF (mauzinho como as cobras) q não faz nada e perturba a paciência de todos mas, segundo dizem os colegas, é optimo a arranjar fechaduras, u espert Agora pergunto: não era caso de este rapaz estar a aprender u oficio relacionado com aquilo q ele gosta.
Já o vi a reparar u fechadura, garanto-vos q tem a postura de u profissional, transfigura-se…
Março 14, 2010 at 9:00 pm
O narigudo do Paulo é delicioso. Quem foi o autor de desenho tao feliz?
Março 14, 2010 at 9:05 pm
Paulo Guinote disse:
“As teses de Establet e Buudelot vão um pouco mais longe do que um alinhavar de citações…”
Sim eu sei, mas tenho uma pilha de testes para corrigir e não tenho tempo para elaborar sobre o livro “O Nível Sobe”. Mesmo com mais de 20 anos o referido livro ainda vale a pena ser lido.
Março 14, 2010 at 9:11 pm
Caro Paulo Guinote, relativamente ao tópico em questão, eu só lamento que ainda se escrevam livros e se debatam teses sobre o óbvio da vida! Enfim, mas isto sou eu que sou de outro mundo.
Março 14, 2010 at 9:20 pm
O problema no sector da Educação em Portugal é que quem não gosta da sala de aula é quem manda. É vê-los nas dezenas/centenas de gabinetes, departamentos, nos serviços governamentais (acessores/aduntos disto e daquilo), nos serviços centrais, regionais e dentro das escolas – nos directivos, executivos durante anos e anos E AGORA com os caciques (perdão, directores) a coisa atinge foros de patologia geral.
Sendo a hierarquia no sector marcada por pseudo-professores é lógico que se sintam ameaçados pelos professores-de-sala-de-aula e que elogiem e reforcem o poder dos pseudo-professores nas escolas.
Enquanto esta situação não for invertida pouco ou nada se pode esperar da Escola.
Março 14, 2010 at 9:23 pm
Atente-se que tanto a Isabel Alçada como o A. Ventura começaram a sua carreira como professores. Mal lhes surgiu a oportunidade, fugiram.
Que autoridade têm eles para falar duma realidade da qual fugiram??????
Março 14, 2010 at 9:24 pm
#44,
Tenho a edição de bolso francesa, assim como fotocópias do seguinte “Allez les filles”, por razões que agora se tornam notadas em Portugal, ou seja, o predomínio eminino na Educação.
Março 14, 2010 at 9:30 pm
Pois, conheço alguns q começaram a dar aulas, mortinhos para dar o pulo. Foram para o ME. Alguns regressaram, por força das circunstâncias, depois foram para o Conselho Executivo (e esta gente num cenário de poder é perigosa), perderam as eleições para o segundo mandato, tentaram a Direcção. Perderam. Ninguém as/os aguenta. Odeiam dar aulas, é visível até na forma como olham os alunos.
Março 14, 2010 at 9:45 pm
# 49
Na escola há muito pessoal mortinho por papelitos, cargos e fantochadas. Consideram estar com o cú num gabinete e a dar ordens e tal é muito mais importante que estar na sala-de-aula a trabalhar com alunos (!)
Estes últimos anos foram excelentes para reconhecê-los, em plena acção (…) nas escolas.
Tristes figuras. Tristes personagens.
A pirâmide de mérito profissional está invertida. Não há volta a dar. A menos que surja uma revolução …
… uma «bomba» no ME e quejandos.
Março 14, 2010 at 10:24 pm
o psicodrama de maio 68 continua a dominar o imaginário de muita gente.
transportam as cinzas da ideologia do ressentimento.
são medíocres instalados, nos tribunais, nos escritórios de advogados, nas universidades, nos media, nos partidos, a praticarem um cerco moral aos cidadãos, na esperança de que a humanidade adopte os evangelhos que engoliram na sua juventude.
Março 14, 2010 at 11:29 pm
António Damásio, porque é uma figura incontornável neste domínio.
Março 15, 2010 at 9:06 pm
#10,
“E há muitos que não gostam e, acrescento, numca gostaram.”
E também há os que nunca gostaram tanto como agora, vá lá saber-se porquê.
Março 15, 2010 at 11:23 pm
Dois excertos de #52:
But the reason why they can’t choose is that they haven’t got this sort of lift that comes from the emotion. It is emotion that allows you to mark things as good, bad or indifferent, literarily in the flesh. (…)
What we remember from the previous situation (…) is not just the facts and not just the outcome that maybe good or bad. We also remember whether or not what we felt was good or bad, and this is something that people need to understand when you are making decisions any day of your life. And of course the options you make are going to produce a good or a bad outcome or something in between. You do not only remember what the factual result is but also what the emotional result is. And the tandem of fact and associated emotion is critical, and of course, most of what we construct as wisdom over time is actually a result of cultivating that knowledge about how our emotions behaved and of what we learned from them.
Março 15, 2010 at 11:24 pm
Dois excertos de #52:
But the reason why they can’t choose is that they haven’t got this sort of lift that comes from the emotion. It is emotion that allows you to mark things as good, bad or indifferent, literarily in the flesh. (…)
What we remember from the previous situation (…) is not just the facts and not just the outcome that maybe good or bad. We also remember whether or not what we felt was good or bad, and this is something that people need to understand when you are making decisions any day of your life. And of course the options you make are going to produce a good or a bad outcome or something in between. You do not only remember what the factual result is but also what the emotional result is. And the tandem of fact and associated emotion is critical, and of course, most of what we construct as wisdom over time is actually a result of cultivating that knowledge about how our emotions behaved and of what we learned from them.