… e só nos sobressaltamos quando o dramatismo chega ao cenário mediático.
Ontem uma criança desapareceu, por moto próprio ou acidente, alegadamente em virtude de brutalidade repetida por parte de colegas mais velhos.
Tenho sempre poucas certezas em relação a estes casos. Na televisão – RTP, esta manhã – eufemiza-se com desentendimento na escola. Quem parece conhecer os antecedentes relata outras coisas.
Uma das poucas certezas que tenho é que, havendo agressores e mesmo sendo agressores recorrentes, nada de significativo lhes acontecerá.
Teremos especialistas a explicar o caso na televisão ao longo do dia. Teremos um sobressalto epidérmico em relação a mais um fenómeno. Aparecerão os relativizadores. Os mesmo que se arrepiam com uma morte em Bagdad, em Havana ou em Guantanamo, neste caso relativizarão.
Tenho a quase absoluta certeza que, em nome de uma ideologia passadista, de uma juventude perdida que os trouxe para o poder instalado, ou para as suas franjas, dirão que não podemos dramatizar, que tudo é outra coisa se não aquilo que é. Que as escolas são seguras. Que não podemos alarmar as famílias. Com jeitinho, ainda alguém dirá que não se deverão alarmar as famílias dos alegados agressores.
Isto enoja-me. A sério que enoja.
Há alguns dias explicava a uma personalidade pública com a possibilidade de ter a descendência no ensino privado, aquilo que vi ao longo destes anos em pátios e corredores das escolas, o que por vezes sou mesmo obrigado a fazer e os riscos que corro ao fazê-lo porque não o consigo evitar.
Quase não acreditam, de tão incrível, mesmo para quem desconfia das escolas públicas.
Mas é o que se passa.
E cada vez mais nos isolamos disso, para nos protegermos, para conseguirmos resistir melhor a um quotidiano quantas vezes arrepiante.
Buscam-se, periodicamente, culpados, razões, soluções. Quase nunca se faz mesmo algo com interesse e muito menos com eficácia.
Culpados? Somos praticamente todos.
Vamos lá, por uma ordem que talvez vá do geral para o particular.
- Uma sociedade imbuída de uma ideologia que proclama e não pratica valores éticos ou quaisquer que sejam, dominada por varas & ruispedros depois dos outros se terem servido na década anterior. Uma ideologia servida à mesa por aqueles pseudo-libertários herdeiros de 68 que, na maior parte, só queriam ser eles a mandar e que mandam relativizar porque sabem que o seu trajecto não suportaria análise apurada. Proclamam-se inclusivos para que eles se possam incluir. De forma vitalícia.
- Um modelo de escola dita inclusiva que passou a misturar tudo e nada, servindo a todos e a ninguém, numa indiferenciação cheia de matizes burocráticos que nada distinguem, apenas servindo de corredores para um sucesso certificado. Uma escola onde se faz desaguar tudo, não percebendo que para isso são necessários espaços e pessoal técnico que não se pode resumir a funcionários e professores, mais um psicólogo para 1500 ou 2000 crianças e tomem lá um ou dois docentes do chamado Ensino Especial para se desenrascarem. Uma escola onde os professores são obrigados a fazer tudo e onde os directores são avaliados como excelentes se fizerem funcionar um par de CEF medíocres. Um modelo de escola que não tem fronteiras com nada, onde tudo cabe.
- Um número assinalável de responsáveis pela gestão da escola que mascaram activamente os números de ocorrências graves nas escolas para não terem problemas para cima. Que para isso são capazes de convencer docentes a não apresentarem queixas, a não as passarem a escrito, ou que as fazem desaparecer depois de apresentadas. Que preferem o diálogo, ou que têm a distinta lata de negar as evidências ou então de afirmar que não há provas. As provas que eles fazem o favor de filtrar para um ME que daí lava as suas mãos. Tudo com cobertura açucarada de especialistas em depurar estatísticas em nome da dificuldade em categorizar comportamentos ou aplicar conceitos.
- Um grupo alargado de docentes que, para sua própria defesa, muitas vezes optam por sobreviver no trajecto entre a sala dos professores e a sala de aulas ignorando o que se passa em seu redor, falando quantas vezes entre si, olhando-se nos rostos, para evitarem o mundo ao redor, para poderem dizer que não se aperceberam. Que muitas vezes já procuram sobreviver ele(a)s mesmo(a)s até à aula seguinte, ao dia seguinte, ao fim de semana. É a verdade num número muito vasto de escolas, não vale a pena mascararmos os factos reais com representações oficiais, feitas de números filtrados em vários patamares da cadeia de comando.
- Mas não esqueçamos as sacrossantas famílias ou o que resta delas, enredadas numa vida dura, igualmente sem grandes referenciais, mas que não justifica o absentismo moral ou ético na educação dos seus filhos. Que não pode revelar-se apenas quando um professor ou director de turma toma uma atitude mais firme. E não falemos apenas das chamadas classes perigosas de outros tempos. Há muito bom e aperaltado burguesinho que é tão ou mais besta quadrada quanto aqueloutro que ele despreza quando se cruza na rua. O que dizer daqueles que só aparecem na escola quando se levanta um processo disciplinar, em defesa do seu rebento que nada fez, de certeza que não foi ele, que a culpa é de tudo menos da educação e valores que não soube transmitir. O que dizer das famílias que têm como representante máximo alguém que nem tem filhos no ensino público, mas depois tem paradigmas para distribuir sempre que lhe colocam uma câmara ou microfone à frente?
E depois os miúdos nem se queixam? Claro que não se queixam. Eles são os primeiros a sentir na pele o medo e a inutilidade da denúncia.
Ahhhh… ia-me esquecendo: e tempo culpa a comunicação social quando só faz parangonas quando há mortes ou filmes. Aí já se fazem Prós e Contras e debates vespertinos para apelar ao sentimento. No resto do tempo, associa-se para o lado e enfileiram-se números ou casos dramáticos singulares.
Março 4, 2010 at 10:28 am
Também não consigo virar a cara para o lado, quando os corredores parecem campos de batalha e a cantina uma da ruas de Pamplona.
Os alunos acham que sou chata. Eu quero achar que sou atenta.
Março 4, 2010 at 10:33 am
Pois..o eterno dilema…o nosso fado…no fundo sabemos que temos razão…na realidade sabemos que para que tudo mude é preciso que tudo fique na mesma..um rotativismo insane absorve-nos vorazmente…as consequências serão inevitáveis…um buraco negro …PRESERVAMOS MAIS A SEGURANÇA DO QUE A MUDANÇA…leiam este texto formidável do Ramalho ORTIGÃO..ESTÁ LÁ TUDO…HOJE VOLTAMOS Á LEI DA SELVA..O DIREITO FICA CADA VEZ MAIS PARA TRÁS …E com isso o desiquilibrio social acentua-se…não augura grande futuro ao futuro…um destes dias ter filhos vai passar ser mais um acto de egoísmo do que de amor…Fui..Leiam….
http://bulimunda.wordpress.com/2010/03/04/a-base-da-civilizacao-os-conformistas-resignam-se-os-outros-lutam/
Março 4, 2010 at 10:45 am
Tudo certo. Eu não assobio para o lado e creio que, a maior parte das vezes, nem calculo bem os riscos que corro. Que se lixe, teria que voltar a nascer para ser diferente do que sou.
Março 4, 2010 at 10:48 am
E que podemos fazer Paulo? E que devemos fazer? E quem será responsabilizado por esta morte, de uma criança que escolheu esse destino muito antes de saber o que é a vida?
Diz-se que a Direcção sabia e escondia saber.
Que os professores sabiam, mas nada podiam fazer.
Que a polícia tinha queixas mas muito mais que fazer.
Que Deus está desatento.
Que porcaria de mundo este!
Também me “meto onde não sou chamado”. A minha Direcção não quer ondas. A Escola Segura aparece depois. As leis tornam-os inimputáveis. A falácia da “escola inclusiva” quer tudo ao monte e fé… na psicologia da auto-estima.
Poder-se-ia começar a acta com “De salientar [muito gostamos nós do estilo da saliência] que hoje morreu “voluntariamente” um dos nossos alunos”. E terminaríamos com o tradicional e enfadonho “E nada mais havendo a salientar…”
Que porcaria!!
Março 4, 2010 at 10:49 am
Paulo, uma vez mais tiraste-me as ‘palavras da boca’. Subscrevo, na totalidade, o teu post.
Março 4, 2010 at 11:00 am
Excelente texto.
Assumindo-me como paternalista: é “este tipo” de realidade que a sociedade devia discutir quando fala de Escola!
E enquanto os “pais minoritários” (aqueles que parecem assumir-se como pais) não exercerem a influência que, porventura, ainda tenham no sistema, este retrato ganhará cada vez maior verosimilhança ..
Março 4, 2010 at 11:17 am
mais uma vez:
“na mouche”!
Março 4, 2010 at 11:22 am
Estou de acordo com (quase) tudo o que escreveu sobre a questão do bullying e da violência em recinto escolar.
A questão é O QUE FAZER PARA ATALHAR ESTE DESCALABRO?
Março 4, 2010 at 11:25 am
O título do post bem poderia ser:
“A Escola que ajudámos a criar”
ou
“A paixão da educação mata”
ou ainda
“Os alunos também se abatem”
Quanto ao texto 100% de acordo.
Março 4, 2010 at 11:34 am
Em jeito de fuga para a frente aqui vos deixo um dos que considero mais responsável do que eu próprio…
http://porquemedizem.blogspot.com/2010/03/o-trucidador-implacavel-ii.html
Março 4, 2010 at 11:34 am
Pergunta cínica:
Nas célebres avaliações dos professores (neste caso auto) alguma vez algum professor se assumiu como negligente em relação ao clima de degradação e violência na escola e propôs, por escrito, medidas para combater este flagelo?
Ou isso não diz respeito ao exercício da função plena do que é ser professor?
Se existe plena mobilização para combater as ameaças dos “exterior”, porque é que não existe essa dinâmica para acabar com os problemas da violência no interior das escolas, que estão muito mais ao alcance dos agentes educativos que os vivem diariamente??????
Março 4, 2010 at 11:45 am
Subscrevo inteiramente, principalmente a parte do assobio para o lado… Infelizmente os nossos directores querem estar sempre bem com deus e com o diabo e depois dá nisto. acredito que os conselhos executivos são os principais culpados!!Os professores só podem actuar se tiverem as costas quentes. como quase nunca têm não se arriscam a arranjar problemas!
Março 4, 2010 at 11:52 am
Subscrevo na íntegra.
#6
Caro Renato, sou mãe, eduquei o meu filho nos valores que me foram imbuídos pelos seus avós e todos os professores elogiam o comportamento dele, o respeito que tem pelos professores e restantes funcionários, pelas regras da comunidade e pelos colegas. Creio poder afirmar, sem correr o risco de imodéstia, que cumpri o meu papel.
Fala numa eventual influência dos pais como eu. Mas qual influência? Se o meu próprio filho foi vítima de bullying, se sempre apresentei queixa e denunciei nas reuniões com os encarregados de educação, e se sempre fui olhada como extraterrestre por isso mesmo?
A solução tem de partir de dentro da escola, queira ou não se queira ver. Eu e os poucos como eu não temos força para isso e, afinal, os professores estão em maioria e podem organizar-se nesse sentido. Disciplina, autoridade, não podem ser simples palavras.
Nota última: para que não seja mal interpretada, devo dizer que nutro um profundo respeito pela profissão de professor e me solidarizo com todos aqueles que apenas o querem ser por inteiro.
Março 4, 2010 at 11:54 am
Finalmente, o “doido” que aqui escrevia em tempos e era ignorado e enxotado, tem o desgosto de ver os que o enxotavam a dizer o que ele dizia.
Preferia não ter razão. Preferia que fosse realmente doido quando dizia que o rei vai nu, e toda a gente finge que não vê.
Já foi morto um gaiato à catanada, na Casa Pia, e soube-se que a Direcção deixava entrar armas, devido à “legitimidade étnica da cultura de gangue dos descendentes de emigrantes marginalizados por causa da cor da pele”.
A menina no Montijo, duas horas a levar patadas na cabeça e a comer lama. Ninguém viu. Nem funcionários, nem professores, nem colegas, nem transeuntes, nem o motorista da camioneta. Os pais também se encolheram, que senão era pior.
A repugnante Fernanda Câncio, vinda directamente do Inferno, com as suas crónicas de “mata professor”, como a imortal “Como é, que é ó Setora?…”
O maio de 69, os isctes da vida, as muitas drogas na juventude, dão cabo de certas cabeças marxistas e anarquistas… O texto do PG é lapidar. É tudo o que ele escreveu e muito mais. Uma sociedade governada por tarados, varas, ruispedros, lurdesrodrigues, e outros que que mascaram a realidade com estatísticas forjadas e lei da rolha. À Estaline.
Enquanto o barco afunda, dança-se ao som das progressões na carreira e outras minudências. Ao pé do estado de guerra a que isto chegou, esses aspectos, conquanto importantes, são minudências.
Março 4, 2010 at 12:02 pm
Paulo, obrigada pelo teu texto. Há momentos em que as minhas palavras não me chegam, as tuas falaram também por mim.
Março 4, 2010 at 12:06 pm
Resposta cínica
Vou para o meio do magote separá-los, apanho facas e afins, agarro-os e vou metê-los nas salas, não lhes permito linguagem incorrecta, levanto os problemas ao invés de fingir que não existem, chamo sempre a atenção e corrijo em permanência as atitudes que observo nos pavilhões/ átrios e outros espaços, participo e vai já de secretaria, exijo punições e equaciono medidas,… nunca tive estômago para passar ao lado… aborreço-me, desgasto-me e envelheço… mas tenho estômago para levar com um setezinho no relacionamento com a comunidade (se ficasse quieta e caladinha, teria melhor relacionamento, estaria melhor integrada, sairia a ganhar…)
Março 4, 2010 at 12:09 pm
O principal problema deste país é a cobardia dos homens e mulheres que se ajoelham face ao Estado, ao Mercado, e seus “legítimos representantes.”
Março 4, 2010 at 12:15 pm
POIS …SE É ASSIM PORQUE NÃO DEIXAS O EMPREGO …DEIXAS DE COMPARA MUITA COISA INÚTIL..DEIXAS A CASA, FICAS SEM LIGAÇÕES A NADA NEM A NINGUÉM…TORNAS-TE NUM BOM.OU MAU-SELVAGEM..FICAS LIVRE E SOLTO DESTA GENTALHA E DESTE SSISTEMAS DECRÉPITOS…SE LÁ NUMA ILHA ALGURES EM JAVA…ISOLADA DE TUDO E DE TODOS..AÍ PODES SER FELIZ..E TODOS NÓS TAMBÉM…!
TORNAS-TE TALVEZ NUM ANTI LORD OF THE FLIES…TChi grandes…noat que não estou a gritar..tenho umas má realção com teclas…
Março 4, 2010 at 12:16 pm
Vou ao almoço..inté…
Março 4, 2010 at 12:18 pm
Eu tive uma experiência recente como voluntário numa escola da Amadora e fiquei aterrado. Miudos a serem agredidos no corredor com o auxiliar a fingir que não vê… a Professora ao meu lado a olhar em frente. Pior do que isso, o ambiente de medo na propria sala de aula. Pareceu-me que o objectivo central da Professora era chegar viva ao fim do dia. A experiêcia de estar em pé em frente a uma turma e de não ser ouvido, ser olimpicamente ignorado, marcou-me. Se isto foi a escola inclusiva que criámos, pois então que venha a escola exclusiva… e depressa. Eu troco já. Que se devolva a autoridade à escola, a capacidade de excluir quem tem de ser excluido, a capacidade de distinguir entre um caso de disciplina e um de polícia. Na turma à minha frente havia talvez 4/5 miudos verdadeiramente interessados, completamente engolidos pelos restantes 20… Humilhados quando faziam uma pergunta interessante, enxovalhados quando mostravam vontade de ir ao quadro escrever sobre as “pessoas que eu admiro no meu bairro”. Naquele momento, com o poder na minha mão, eu excluiria de boa vontade. Sem hesitação nem remorso. Para salvar aqueles 5 eu excluiria os outros. Se isso choca alguém lamento… Mas lamento ainda mais que não seja dado esse poder a quem está em frente a uma turma. Porque não me esqueço do medo que senti nos olhos da Professora ao meu lado.
Citando o camarada Medina:
“No princípio está a disciplina”… e sem isso não pode haver mais nada. Nem na escola nem na vida.
Março 4, 2010 at 12:21 pm
Olha estamos de acordo many…aleluia…lê…abraço..
P.S-Qandos fores veklhinho nada de encostanços..nem com bengala…eh…eh..
http://bulimunda.wordpress.com/2010/03/04/a-base-da-civilizacao-os-conformistas-resignam-se-os-outros-lutam/
Março 4, 2010 at 12:28 pm
Na mouche!
Há que tocar na ferida para a poder sarar.
E sem rodeios de nehuma espécie. Doa a quem doer.
Brilhante!
Março 4, 2010 at 12:38 pm
[…] Bullying: texto excelente de Paulo Guinote 4 03 2010 Sobre este fenómeno da violência verbal e física como forma de relacionamento nos recintos escolares e a “nossa indiferença”, a nossa culpa escreve Paulo Guinote um texto lúcido e acutilante que subscrevo inteiramente: Todos Temos Culpa Quando Fingimos Para (Sobre)viver […]
Março 4, 2010 at 12:50 pm
“Scholar’s School Reform U-Turn Shakes Up Debate
By SAM DILLON
Published: March 2, 2010
“School reform today is like a freight train, and I’m out on the tracks saying, ‘You’re going the wrong way!’ ” Dr. Ravitch said in an interview.
Dr. Ravitch is one of the most influential education scholars of recent decades, and her turnaround has become the buzz of school policy circles.
…
But Dr. Ravitch is finding many supporters. She told school superintendents at a convention in Phoenix last month that the United States’ educational policies were ill-conceived, compared with those in nations with the best-performing schools.
“Nations like Finland and Japan seek out the best college graduates for teaching positions, prepare them well, pay them well and treat them with respect,” she said. “They make sure that all their students study the arts, history, literature, geography, civics, foreign languages, the sciences and other subjects. They do this because this is the way to ensure good education. We’re on the wrong track.”
The superintendents gave Dr. Ravitch a standing ovation.
…”
http://www.nytimes.com/2010/03/03/education/03ravitch.html?pagewanted=1&em
Março 4, 2010 at 12:52 pm
20,
Voluntário?
Estou a hesitar no sorriso ou na gargalhada.
Março 4, 2010 at 1:02 pm
Uma boa tarde de trabalho para si, Paulo. 😉
Março 4, 2010 at 1:05 pm
Clap, clap, clap, os meus aplausos para o autor do post. Texto a descrever a realidade, impiedoso com a negligência e despertador de consciências.
Não creio que os Professores tenham de carregar com as culpas às costas porque as razões da ineficácia são sistémicas e disso não me pentencio. As crianças são inimputáveis até aos 16 anos (vejam só – 16 aninhos – quantas maldades serão feitas até aí). As queixas, mesmo quando dirigidas à PSP (Escola Segura), esbarram nessa inimputabilidade, nos remoinhos das CPCJ’s e no laxismo da sociedade. Não serão dias de suspensão das aulas que irão reduzir ou limitar as acções de buling. Provavelmente até as tornarão mais violentas e exercidas no exterior da escola, por implicarem a identificação de quem tenha sido o autor da queixa.
O voluntarismo de alguns Professores, ao exercerem uma autoridade para a qual não têm cobertura e deviam ter, correm riscos que o Paulo refere no post e, também posso dizer, entendo muito bem a que tipo de actuações se estará a referir e os riscos que indica correr. Mas, no meu entender, são eficazes porque exercidas no momento certo.
E este será o primeiro ponto para responder à interrogação do # 8. A oportunidade do exercício da autoridade.
Como 2º ponto direi que as punições deverão ser atribuídas pelos DT’s, para serem céleres numa primeira fase, com castigos que sejam do desagrado dos prevaricadores e do género – limpeza das salas de aula, das casa de banho, varrer os pátios, limpar carteiras, arrumar os refeitórios.
Como 3º ponto e havendo continuação de atitudes erradas, a punição seguinte já terá de ter reflexos sobre a própria família – suspensão, pelo mínimo de 6 meses, do abono de família. Bastando apenas, para isso se concretizar, o conselho executivo da Escola comunicar à SSocial esse pedido.
Certo, eu devo estar fora deste mundo. Mas creio que evitaria muito buling. E muito assobio para o lado.
Março 4, 2010 at 1:13 pm
Li a notícia/reportagem(?) do JN e enojou-me. Aquilo não é jornalismo. É uma aproveitamento despudorado da tragédia que aconteceu. Nem como artigo de opinião se aproveita. Abdica do papel importante que a comunicação social deve ter: averiguar com precisão os factos. Já não falo dos comentários.
Março 4, 2010 at 1:21 pm
20:
de acordo!
Março 4, 2010 at 1:35 pm
É isso, Paulo. Que nojo!
Março 4, 2010 at 2:13 pm
O Portugal pós Abril e a sua classe média cultural criou uma sociedade hipócrita e de falsos humanistas! Será esta a sociedade que queremos ter?
Março 4, 2010 at 2:17 pm
Não comreendo que alguns comentadores misturem os princípios da educação inclusiva com esters fenómenos, muito menos que a culpem pelos dislates dos que parasitam a sociedade portuguesa e nos governam. Uma sociedade justa só pode desejar educar todos e combater as desigualdades. Defender os princípios da educação inclusiva não é uma moda, é um designío, e pagaremos cara apenas a educação das elites. Mas a educação inclusiva exige trabalho e, sobretudo recursos, para que palavras como diferenciação pedagógica, igualdade de oportunidades no acesso e sucesso possam fazer sentido e ser uma realidade. Não basta falar de…é preciso fazer.
Março 4, 2010 at 2:36 pm
Março 4, 2010 at 2:39 pm
#32
A “educação inclusiva” é um conceito abstracto, ideológico, sem conteúdo programático ou pedagógico concreto.
Daí termos chegado a esta terra de ninguém nas escolas: o “desígnio” foi suplantado pela realidade.
Se não percebe, lamento, porque continua na terra dos princípios abstractos, dos sonhos, da mistificação política e das tragédias humanas, neste caso com disfarce “progressista” e de “novo paradigma”.
Por isso, continue agarrada aos seus princípios metafísicos, enquanto as crianças e jovens de carne e osso sofrem na pele e nos ossos a incúria dos adultos.
Já agora, em que é que uma educação de todos ao molho e fé em Rousseau tem ajudado, na realidade, a combater a injustiça e as desigualdades????
Março 4, 2010 at 2:52 pm
Não basta ter maior proximidade com a violência para parar com ela. Entregues a si próprios, contando apenas com algumas ideias gerais, os professores não conseguirão contê-la nem no recinto, muito menos fora do recinto das escolas. Os desenlaces irremediáveis de violência latente mas prolongada são precedidos de numerosos sinais que um especialista – no sentido rigoroso do termo – é capaz de distinguir e detectar, no meio de muitos outros comportamentos com menor grau de risco.
Março 4, 2010 at 2:59 pm
Uma pérola que já pesquei para o meu blogue.
Parabéns pela belíssima e acertada reflexão que deveria fazer parte da cartilha de qualquer político digno dessa função.
Março 4, 2010 at 3:02 pm
A Escola tem um papel muito importante: fazer interiorizar os valores socialmente aceites, os que a sociedade pretende prosseguir. Assim, penso não ser abusivo concluir que a sociedade portuguesa optou, definitivamente, por incluir os piores e excluir os melhores. Tal como o Paulo refere, os exemplos que vêm dos estratos superiores não deixam muita margem para dúvidas e o que se passa nas escolas também não.
Todos sabemos que a falta de disciplina, de rigor e de exigência tem como escopo a inclusão dos medíocres, mas prejudica os melhores. Assim, não é de estranhar que os pais mais atentos e com algum poder de compra defendam os legítimos interesses dos seus filhos (aliás, como lhes compete!) e lhes queiram oferecer uma educação de melhor qualidade e de maior segurança em escolas privadas.
Sim, somos co-responsáveis por este estado de coisas e pela desgraça em que caiu esta criança e a sua família, bem como a de muitos outros. Foi a indiferença de muitos que levou ao descalabro que se instalou nas escolas, porque muitos têm mais poder que poucos. O que sempre me causou muita impressão foi ver a indiferença com que a maior parte dos colegas encarava a desordem que se ia instalando nas escolas. Apesar de alguns presidentes de conselhos executivos se revelarem uns “mariconços” pareciam, no entanto, os grandes líderes das massas permanecendo no cargo anos a fio e, até, chegaram a directores. Os tais que têm medo que os meninos lhe risquem o carro ou que lhe façam uma espera e, por isso, dizem que o melhor é fingir que não se vê e que não se sabe; que, perante uma queixa de agressão, dão um grande raspanete aos alunos agredidos por terem provocado, de algum modo, os agressores. Os que dão palmadinhas nas costas dos colegas que não levantam ondas e sacaneiam os mais exigentes e intransigentes. Os que dizem que os alunos têm razão quando desrespeitam e espancam os professores…
Será que a maioria dos professores não tem sentido crítico e capacidade de antever o resultado das suas acções e omissões? Será que alguém os poderia impedir de manter uma certa coerência com a sua consciência? Como é que alguém poderia obrigar toda a classe a seguir a linha do menor esforço?
Só lamento que pague o justo pelo pecador!
Março 4, 2010 at 3:22 pm
e por isso aproveito para vomitar em cima do h5n1 por causa do post 11. É parvo ou faz-se?
E agora
A kitty tem toda a razão. O que não temos mesmo é uma “escola inclusiva”: apenas “armazéns de materiais indiferenciados”. Pessoas, poucas. E a avaliar pelo ponto em que nos encontramos, cada vez menos. Sem instrumentos sérios, os actos isolados não resolvem os problemas estruturais, são apenas a manifestação do saldo entre o decoro restante e o risco crescente. O que faço ou deixo de fazer enquanto professor, na escola ou fora dela enquanto tal – a pele não se despe – não é relevante, ainda por cima a minha escola é tranquila, o que retiraria valor às afirmações. As alterações têm que vir de quem tem efectivamente o poder. A avaliar pela forma como têm estado a usá-lo, podemos estar tranquilos… quanto ao futuro, quando é que os “cérebros” começam a construir escolas em condomínios fechados? O AA ainda não se lembrou dessa para poder mudar também de residência?
Março 4, 2010 at 3:34 pm
E já agora para ver se me desce a tensão, como é que os amantes das analogias castrenses, os tais dos generais, querem que uma pessoa seja bom militar num exército em que o passatempo dos comandantes é atirar sistematicamente contra os seus próprios soldados? (e já nem falo dos camaradas que nem sabem para que lado disparam…)
Março 4, 2010 at 3:36 pm
#38
Espero que seja um vómito de classe, incluído no pacote da jornada de luta…por “instrumentos sérios”…para resolver os “problemas estruturais”.
Março 4, 2010 at 3:36 pm
a última frase não tem mesmo vírgula depois do “que”, que isto das vírgulas, como sabemos, tem que se lhe diga.
Março 4, 2010 at 3:40 pm
Pois não é de classe, não senhor, é mesmo ranhoso. E estive a dar aulas toda a manhã, coisa que já faço há bem mais, bem mais, de trinta anos.
E também não sou director.
Março 4, 2010 at 3:43 pm
…a conversa do nojo e do vómito em cima de …também tem que se lhe diga.
Março 4, 2010 at 3:44 pm
#25
Voluntário inconsciente. Não se se ria se chore…
Março 4, 2010 at 3:47 pm
Também subscrevo e assumo a minha parte na culpa, mas há-de haver um responsável máximo, não?
Eu sei por que se finge (a acreditar que se finge)que na sua escola não há indisciplina…
Março 4, 2010 at 3:49 pm
Ainda ontem, a CNIPE emitiu um comunicado que até hoje nenhuma comunicação social deu provimento:
COMUNICADO DE IMPRENSA
Na sequência da morte do aluno do Agrupamento Luciano Cordeiro em Mirandela e perante as suspeitas do mesmo ter sido vítima do fenómeno de bullying, a CNIPE-Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação, afirma o seguinte:
1 – Lamentar profundamente o sucedido e transmitir votos de pesar aos seus familiares e a toda a comunidade Escolar do Agrupamento;
2 – Este tipo de fenómenos é a consequência de um Estatuto do Aluno, ERRADO e a necessitar urgentemente de alterações como a CNIPE já propôs na recente reunião que teve com os responsáveis do Ministério. Com o estatuto em vigor, os alunos prevaricadores dificilmente são punidos, já que a realização de um processo disciplinar é complexo, moroso e não visa prevenir e dissuadir eventuais prevaricadores.
3 – Por outro lado, neste momento e com todas as cartas educativas aprovadas, assiste-se a uma concentração dos alunos em espaços exíguos. Muitas das Escolas não possuem espaços de recreio que os alunos possam utilizar de modo a poderem saltar, pular, dar resposta às suas capacidades de energia. Só para se ter uma ideia, se um dia se testemunhar a saída dos alunos da sala de aula, parecem umas pequenas “bombas” a explodir.
4 – Neste momento, o rácio de assistentes operacionais por turma não satisfaz minimamente as necessidades escolares de modo a que estes possam acompanhar os alunos durante o tempo que estão na escola. Há escolas nos Agrupamentos em que não têm qualquer assistente operacional. Cabe ao professor esta tarefa. Suponhamos que um aluno sofre um acidente, o professor tem de deixar os restantes alunos sem ninguém.
5 – Por outro lado, os assistentes operacionais necessitam de obter formação que lhes permita prevenir todo o tipo de ameaças dentro de uma escola. Desde há muito que a CNIPE tem vindo a defender formação na área da gestão de conflitos em ambiente escolar.
6 – Defendemos igualmente a necessidade de serem criadas equipas multidisciplinares, com técnicos da área social, psicólogos e outros para prevenirem e evitar estas situações. Por um lado, ajudarem quem sofre e por outro quem pratica.
7 – Acresce a isto também a necessidade de alterar a legislação laboral, no que diz respeito ao direito que os Pais têm em acompanhar na escola mais de perto os seus educandos. Não basta pedir responsabilidades aos Pais, têm de dar-nos condições para podermos ir à escola mais tempo sem sermos prejudicados nos nossos postos de trabalho.
A CNIPE mais uma vez apela ao Governo, nomeadamente ao Ministério da Educação e aos partidos no Parlamento para que revejam e alterem a legislação de modo a prevenir situações graves decorrentes dos fenómenos de bullying.
A CNIPE pretende um ESCOLA MELHOR, um MELHOR FUTURO.
Março 4, 2010 at 3:56 pm
#46
Palavras de bom senso. Sabe bem ler.
Março 4, 2010 at 3:59 pm
#47
Clap,clap,clap!
Março 4, 2010 at 4:15 pm
INCRIVEL..
Março 4, 2010 at 5:08 pm
Manyfaces disse:
“Eu tive uma experiência recente como voluntário numa escola da Amadora”
Tiro-lhe o chapéu meu caro. A coisa mais importante que podemos dar aos outros é o nosso tempo. Porque uma vez gasto não o podemos voltar a ganhar.
Nunca estive em nenhuma escola em que existissem voluntários. Com uma única excepção que foi na escola pública do 1º ciclo que os meus filhos frequentaram. Aí algumas mães (nunca pais, curiosamente) voluntariaram-se para ajudar servir o almoço às crianças. A cantina era e é pequena, as crianças muitas e as auxiliares poucas. A ajuda das mães era preciosa para despachar a criançada no almoço.
Março 4, 2010 at 5:12 pm
infelizmente concordo com todas as tuas palavras, Paulo, até com as vírgulas!
Sinto-me farta destes governos de esquerdite que têm destruído gerações de jovens, só têm direitos os fortes, os outros é só deveres!
Pobre mãe agora calhou-lhe em rifa a pior dor que se pode ter em vida! Quando calhar a um ministro, pode ser que finalmente se mexam, para o lado certo.
Pobre mãe! O meu afecto a esta mãe e ao filho-menino.
Março 4, 2010 at 5:20 pm
43
como hoje estou p’raqui pergunto-lhe:
– enfim, a morte de uma criança sempre é mais aceitável do que esta linguagem “obscena”, não é?
também é dos (das) que acha “aborrecido” o que vai fazendo que não vê, “degradante” ter que se intrometer entre dois desaguisados… A sua literatura não andará excessivamente soft?
Já leu hoje os comentários que foram sendo escritos por essa impressa fora relativamentye à responsabilidade dos professores neste caso? já olhou para os olhos de um aluno, um pouco acima dos seus, a responder que sim, que é você mesmo(a) que o leva ao executivo, a pensar ao mesmo tempo que é a sua vida toda, TODA mesmo, que está em causa se ele responde “leve lá!”?
há sensibilidades que são dispensáveis em escolas “inclusivas”.
Há outras que NÃO.
Março 4, 2010 at 5:22 pm
A situação na Amadora deve ser muito grave…
Março 4, 2010 at 5:32 pm
Alienação alienados #38
“As alterações têm que vir de quem tem efectivamente o poder”
E quem é que lhe(s) confere esse poder?
Alienámo-nos do nosso poder e entregámos, completamente, a condução das nossas vidas a entidades que nos são exteriores? Será influência das nossas raízes judaico-cristãs, como se discutiu num post anterior?
Março 4, 2010 at 5:45 pm
Belíssimo e certeiro.
Parabéns.
Março 4, 2010 at 6:08 pm
Gostei do texto e infiro, de forma provocatória, que se somos todos culpados, não há culpados! O tema é demasiado sério mas creio que se poderá aplicar aqui a rábula do Ricardo Araújo: “Eles falam, falam, falam e não os vejo a fazer nada!”
Março 4, 2010 at 6:09 pm
#46, totalmente de acordo, CNIPE!
Finalmente, uma Associação de Pais ( e não de empregados do ME)!!
Março 4, 2010 at 6:10 pm
[…] problema tem várias faces e tem de ser analisado desta forma. Não creio que haja só um culpado. É uma […]
Março 4, 2010 at 6:11 pm
Tens razão, Paulo, somos todos culpados!
Tavez possamos começar a lutar contra a passividade…
Como?
A escrita e o resto.
Março 4, 2010 at 6:14 pm
#56,
Deves ter lido mal a frase.
Temos todos quando optamos pela diferença.
Quanto à parte rabulenta, aplica-se a quem fala e nada faz.
Não é bem isso que se tem passado comigo.
Há muito tempo atrás relembrei que numa escola onde estive, era eu que tinha o pelouro” dos processos disciplinares.
E só não faço mais pelos corredores porque, de quando em vez, faço por ir chamar quem de direito para observar o que se está a passar.
ou limito-me a perguntar ao ditoso adolescente porque está a pontapear uma bola contra a porta da sala mesmo ao lado da sala dos DT.
Já começam a parar sem ser preciso entrar na fase nº 2 da irritação.
Março 4, 2010 at 6:15 pm
O pior de tudo é que nada vai mudar nas escolas.
Março 4, 2010 at 6:25 pm
Quantas vezes já intervi porque não consigo ignorar… quantas vezes já me me em risco de também “levar nas trombas”…
A úçtima situação – ocorrida fora do portão da escola, talvez a 3 metros – o caso foi ao Director. Felismente este tomou a atitude certa e o aluno em causa chegou s vir falar comigo pedindo-me desculpa também pelo forma como me insultou no meio da confusão… Mas quantos casos são abafados? Quantos directores, em nome do “bom nome da escola” fecham os olhos alegando que não é nada de grave?
Neste caso concreto e de fim trágico, nunca saberemos se era do conhecimento da escola que o miúdo leva pancada dos colegas todos os dias?
Lamento profundamente…
Março 4, 2010 at 6:33 pm
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Março 4, 2010 at 6:41 pm
#62
felizmente
:opps:
Março 4, 2010 at 6:58 pm
Concordo
Março 4, 2010 at 7:31 pm
Marta 37, 54
Como perten(cemos)ço à classe dos privilegiados 🙂 posso remeter a correcção (lá se vai o acordo “horto gráfico”) dos testes para os dias de “descanso” (outro :-)).
Primeira discordância: a escola NÃO deve fazer interiorizar os valores socialmente aceites. Esses são os que os meios de comunicação “rentáveis” (raios, isto não tem bold nem itálico) disseminam de uma forma indiscriminada, acéfala e, mais grave, inculcam de forma inconsciente (já viu o jogo que Bulimunda postou?). Muito discutidas são, como sabemos, as funções da escola, mas neste ponto creio que será razoável aceitar como bom que os valores a fazer interiorizar devem passar pelo respeito pelo outro enquanto igual. E que isso implica limitações claras – mesmo repressão, não há que ter medo da palavra – ao exercício da vontade própria enquanto expressão de emoções básicas não conformes ao interesse comum.
Primeira concordância: a exclusão dos melhores na escola pública é significativa – as potencialidades de desenvolvimento pessoal são coarctadas ou restringidas de tal modo que todos vamos pagar muito caro por este desaproveitamento efectivo (ao contrário do que é apregoado) dos meios humanos – uma desolação diária entrever possibilidades mortas antes de os próprios se darem conta do que perdem.
Segunda discordância: os “piores” é uma categorização muito, mas muito problemática – um bom número deles não o seria numa escola, digo só escola (não sonhemos com transformações sociais impostas, que sabemos historicamente no que deram) em que as regras comportamentais fossem poucas e claras e suficientemente diferenciada em termos de percursos (pois, não vamos discutir isto agora).
Primeira semi-concordância: os exemplos de cima são execráveis, mas a sua visibilidade mais recente não pode justificar tudo, acrescentemos-lhe como factor relevante o “trabalho” legislativo do último governo e respectivas consequências (mea culpa – também votei ps, mas a resposta ao post 54 fica para o fim).
Se os factores de degradação fossem exclusivamente nacionais a solução seria bem mais simples, mas…
Segunda discordância: a finalidade não é a inclusão dos medíocres. Aqui o problema é sério: os medíocres, melhor, as crianças/adolescentes cujos resultados escolares não correspondem ou não podem corresponder, por questões de diversa ordem, às expectativas dos modelos sociais vistos como positivos, NÃO SÃO a grande preocupação dos (ir)responsáveis. Isso é o que se quer fazer passar para a opinião pública – acha que, entre outros, se está a fazer a inclusão das crianças ditas com NEE?
A minha opinião, que não tem obviamente nada de meu, significa apenas que a partilho com muitos outros, é que a primeira finalidade é evitar os brutais conflitos sociais que derivariam de uma multidão de adolescentes soltos na rua sem qualquer tipo de ocupação possível – nem de trabalho por questões legais, nem lúdicas por questões económicas e estruturais. E este escopo, como diz, também não é ele próprio condenável! O erro brutal foi pensar que era possível atribuir à escola todas as funções requeridas para um desempenho desta enormidade sem qualquer tipo de enquadramento teórico, legal adequado e obviamente, financeiro. Claro que os prejuízos vão ser económicos mas, tão ou mais grave do que isso, vão ser concomitantemente civilizacionais com outras espirais envolvidas!
Segunda semi-discordância: o medo é uma emoção inata e, instrumentalizado, um tenebroso instrumento de poder. Mas é legítimo sentir medo. Ilegítimo é usá-lo como técnica (esta palavra…) de opressão ou ocupar lugares em que se sabe antecipadamente ser necessário não poder manifestá-lo. Um director sabe que vai ter que “dirigir”. Os cagarolas não deviam ser admitidos só para se poderem sentir mais defendidos e – se calhar pensam que sim – até couraçados! Podemos dizer a alguém que quer ser professor hoje, que veja ao que vai, não é legítimo pedir aos que começaram quando o mundo era outro, que atirem fora a sua vida – têm o direito de sentir medo em situações para as quais não foram contratados, a segurança não é apenas um direito dos alunos. Mas os directores entraram ontem.
Não estão todos nas mesmas condições.
Relativamente à alienação diria apenas que não faria muito sentido obrigar todos a militar num partido político para não ser acusado de alienado. Participar enquanto cidadão na escolha dos governantes, de forma consciente, é o que se pode exigir como mínimo para não ser considerado alienado, repare que disse “de forma consciente”, o que é já uma tarefa hercúlea. Não podemos voltar aos tempos da Atenas clássica, que não há ágora que aguente. O que podemos fazer é o que estamos a fazer (também) aqui. Participar. Infelizmente não somos tão capazes como o Paulo. Já imaginou esta capacidade de intervenção multiplicada pelo número de visitantes?
(Ia terminar na interrogação anterior, mas tive um rebate: ainda bem que alguns dos visitantes não têm poder – não teríamos muito melhor destino.)
Março 4, 2010 at 7:35 pm
Nada tenho a acrescentar ao post do Paulo.
A nossa sociedade deixou de ter valores e sem eles não existe PIB que lhe acuda.
Tudo o que vem plasmado no post revela uma geração que apesar de ser contestatária no seu tempo, quer no fim de contas viver muito rapidamente e sem sacrifícios. Cada um olha pela sua vidinha… desde o director até ao funcionário auxiliar, desde o político até ao comum cidadão.
Portugal precisa urgentemente de uma revolução cultural, não à chinesa, para que comecemos a acreditar em nós próprios.
Temos de mudar de vida.
Hoje nos sítios que frequento daquilo que ouvi quem ficou a ganhar foi o ensino privado.
Quando é que a Escola pública deixará de dar tiros nos pés?
Março 4, 2010 at 8:21 pm
Paulo Guinote:
Tenho muita estima por si, leio com agrado aquilo que escreve no seu blogue, concordo com os argumentos enunciados neste post, mas não posso deixar de dizer-lhe que, no caso em apreço, a RTP cumpriu com isenção e rigor a sua função noticiosa. O desprezo pelos preconceitos e pelas verdades feitas não pode admitir excepções.
Março 4, 2010 at 9:14 pm
#66
Caro(a) colega,
O bold pode ser feito usando , escrevendo o que pretende e, depois, , mas sem deixar espaço entre os sinais > e <, que ficam imediatamente antes e depois do que quer sublinhar; o itálico segue as mesmas regras: … .
Como muito bem refere, a Escola já não é um dos principais agentes de socialização, os meios de comunicação de massas sobrepujaram-na e os valores e comportamentos por eles veiculados não serão os mais adequados para promover o respeito mútuo e o bem-estar geral. Aliás, são uma forma de estimular os “piores”, na acepção que eu quis imprimir ao termo.
Contudo, penso que a Escola nunca poderia ser vista como um meio de evitar “os brutais conflitos sociais que derivariam de uma multidão de adolescentes soltos na rua sem qualquer tipo de ocupação possível”, pois isso não é solução a médio/longo prazo. Com a crise económica e o crescente desemprego, só se está a adiar (e alimentar) convulsões muito mais graves.
Quanto à rápida degeneração do papel da Escola, atribuo-o, em grande medida, aos tais “cagarolas” que chegaram ao poder e que usaram artimanhas mil para intimidar os colegas (o tal medo enquanto estratégia para dominar), mas, quanto a mim, a grande responsabilidade recai sobre a maioria que se acobardou e, tal como disse, alienou o seu poder comportando-se como uma autêntica carneirada (por motivos que considero absolutamente mesquinhos: o horariozinho à medida e uns carguitos para aliviar o confronto e o trabalho com os alunos). A situação foi-se agudizando e, agora, a maior parte dos colegas, em certas escolas, tem medo do(a) director(a) e anda “de esquerda em linha”, sob a vigilância de colegas adesivados e de alguns funcionários (os outrora designados bufos). Podemos afirmar que, em muitas escolas, foi instituído o clima do terror (não o equilíbrio do terror!).
Concordo em absoluto que esta é uma excelente forma de exercício de cidadania (dou os parabéns ao Paulo, pelo seu notável trabalho, e agradeço a oportunidade de participação que nos concede), quem sabe, assim consigamos a força necessária para reivindicar o poder que nos quiseram (e querem) subtrair.
Quanto à sua última afirmação, prende-se com a mentalidade, pois todos estivemos (e estamos) sujeitos ao mesmo tipo de socialização secundária e, realmente, conseguir descolar da mentalidade dominante é uma tarefa hercúlea.
Março 4, 2010 at 9:17 pm
#66
Lamento a falha dos sinais:
no início da palavra ou frase que quer sublinhar deve colocar ou , conforme seja bold ou itálico;
no final, ou .
Março 4, 2010 at 9:23 pm
Isto está complicado.
Vou dizer por palavras:
no princípio, menor b maior e, no fim, menor barra b e maior, para bold; se for para itálico, substitua o b por i.
Março 4, 2010 at 10:26 pm
O Paulo há-de desculpar a utlização do blogue como aula de apoio…
(o outro nome serviu para utilização circunstancial)
Março 4, 2010 at 10:28 pm
funcionou! obrigado,
Março 4, 2010 at 10:41 pm
…Paulo,como é verdadadeira essa análise…
…todos o sabemos aliás…embora só alguns mostrem ter coluna vertebral…sobrevivência…
Março 4, 2010 at 11:21 pm
Olá Paulo, mais uma vez li o que escreveu, concordo inteiramente com o seu texto. Sinto exactamente o mesmo: escola inclusiva para cumprir o que manda a lei.SÓ! O resto que sejamos nós e os funcionários sem formação, mas sem qualquer tipo de culpa, a tapar os buracos que a lei deixa sempre a descoberto. QUE TRISTEZA!!!! Ao que isto chegou!!
Março 5, 2010 at 10:49 am
nas escolas há quem conviva com a banalização do bullying com a mesma naturalidade com q os porcos respiram.
o Leandro desistiu.
porque esgotou a sua capacidade de ser humilhado e magoado.
porque não compreendeu a “cegueira” dos adultos q, supostamente, deviam cuidar dele.
o Leandro desistiu dele e de todos nós.
o nosso eu-moral, agora envergonhado e ferido de morte, deve aprender esta lição, espiar a culpa, regenerar-se e erguer-se à altura do SER HUMANO.
a “cegueira” institucional n pode nublar a nossa visão nem limitar a nossa acção… sob pena de perdermos a nossa HUMANIDADE e passarmos à condição de porcos.
Março 5, 2010 at 12:38 pm
Numa certa escola k eu conheço, quando se fala em tomar medidas para travar a indisciplina e a violência, há responsáveis que, afogueados, pedem tento nas palavras. Que não há que confundir a árvore com a floresta e etc. Que não há que exagerar. Ou seja, há gente, que nas escolas continua a ver só uma árvore aqui, um arbusto ali. Eu, então, vejo uma grande e densa floresta de palavrões, falta de maneiras, berros e comportamentos impróprios. Mais vai ter que acontecer até que se tomem medidas para que as escolas não pareçam manicómios. Eu vou continuar a não fechar os olhos ao que se passa ao meu redor, mas se calhar não será por muito mais tempo. Cansei!
Março 7, 2010 at 4:49 pm
[…] causas são normalmente multifactoriais como escreveu, e bem, o PGuinote, e a solução passará por intervenções a vários níveis e com várias instâncias de […]
Setembro 10, 2014 at 5:54 am
I think the admin of this web page is in fact working hard in favor of his website, as here every stuff is quality based data.