Há um par de dias perguntava uma amiga e comentadora deste blogue quando eu fiz um qualquer reparo mundano: Mas tu já estás na fase de ler essas coisas?
Por essas coisas entendam-se as revistas de referência do universo socialaite como as Caras, Flash, Lux, Nova Gente (repararam que usei a ordem alfabética para não ferir susceptibilidades?) e mais as outras 27 que vendem mais do que qualquer jornal diário com excepção – talvez – do Correio da Manhã.
Mas claro que leio! E não cheguei a essa fase, nunca saí dela desde os trempos ingénuos da Crónica Feminina materna até aos delirantes momentos de leitura colectiva da Maria no barco a caminho de Lisboa para me licenciar em coisas históricas, com preferência para as mentalidades e quotidianos.
E o mais estranho – ou não – é que acho com toda a sinceridade que cada episódio da vida amorosa (?!) da Elsa ou encontro frustrado da Rita com o Angélico tem mais impacto no povo do que qualquer debate sobre a lei que autoriza o casamento daquele conhecido apresentador de televisão com o seu companheiro de há n anos.E o que falar nos boob-jobs da Alexandra? Ou nas recauchutagens da Asteca? Ou nos peelings, face-lifts e buttocks-up de metade das moçoilas mais ou menos frescais, balzaquianas ou lilis? Ou nos amores passageiros – quiçá contratualizados – de merchenárias com cristãos com o coração ao nível do baixo ventre.
Nesse aspecto acho que o único político genuinamente português sempre terá sido o saudoso Santana – paz à sua alma desde que se converteu em respeitável pré-senador – com sua badana em cruzeiro rodeado de moçoilas louras, alouradas ou louríssimas!
O que querem?
Acho emocionante que esta gente se permita desnudar tudo e mais alguma coisa nas primeiras páginas das revistas e nos permitam acompanhar as novelas folhetinescas em primeira mão, desde os encontros secretos em que os secretos encontrantes sorriem para as câmaras que eles não sabiam lá estar, até aos intelectuais de esquerda (ou conservadores de direita) que vendem direitos sobre a sua privacidade como qualquer talão acastelhanado de sobrecenho alçado. Ou exibam a sua descendência à mistura com conversa que indigenta mesmo o bestunto mais curto, para não falar em disputas coscuvilhentas que antigamente se resolviam aos puxões de cabelos na via pública e não nas páginas de revistas e sessões de tribunal.
Acho mesmo comovente que o rebelde Zé Pedro, ao sentir o fígado dissolver-se e a vida a passar-lhe de trás para a frente, escreva uma amorosa carta à sua dilecta – já antes relacionada com ess’outro rebelde Miguel – que acaba a servir de matéria de primeira página de uma revista como aquelas que o próprio Zé Pedro queimaria há não muito tempo como subproduto desta sociedade de consumo e alienada.
Assim como sinto como titilante, embora anti-extático, que aqueloutra personalidade e autora de artigos por vezes novaiorquinos se exiba em fotos orgásmicas com o seu parceiro a elogiar-lhe os êxtases sorridentes e de olhos abertos, quando as fotos conhecidas (aqui, aqui ou aqui) são sempre de olhos fechados e algo doloridos.
E eu acho que são estes falsos pequenos fenómenos – na opinião dos mais sérios analistas das lutas e da justiça social e etc – que acabam por dar colorido à vida desse povo que tantos evocam mas mal parecem conhecer nas suas paixões e humores, a lidar com a sombra do desemprego, a crise que veio para ficar, a ânsia pelo novo telemóvel com 5G ou o elecêdê que é pior que uma televisão convencional mas que fica tão bem ali encostadinho à parede.
Deixemo-nos de hipocrisias ou então não escondamos a realidade atrás de mantos e vèus: a luta dos professores conseguiu durante estes anos competir nas primeiras páginas dos jornais com muita outra coisa, conseguiu a proeza imensa de não ter ainda alienado a opinião pública por se ter sabido conter sem grandes disparates.
Ao menos eu sei de onde vim e o que faz ainda, para o bem e o mal, o húmus deste bom povo português, que quantas vezes me irrita mas do qual faço parte.
As vanguardas por vezes esquecem-se disso.
Eu não.
E agora vou ali, porque dizem-me que o casamento do pequeno elfo atravessa a 56ª crise mediática dos últimos anos. E há uns tempos que não actualizo a minha galeria de gente disponível para amar, vulgo, estou aqui sózinha (tão bonita e perfeitinha), e um cake dava-me um jeito do caraças por causa da pele, isto para não falar da falta de car(í)ências.
Janeiro 10, 2010 at 3:26 pm
Aproveita Paulo, excelente
Janeiro 10, 2010 at 3:27 pm
😆 😆 😆
Janeiro 10, 2010 at 4:02 pm
Sem quaisquer pretensiosismos, aquilo que parece uma “fraqueza” é, afinal, um texto de grande lucidez. Ou, tendo como alvo a galeria bem pensante da classe, mas assaz preconceituosa, o direito (conquistado ao longo do tempo) a dizer que o rei vai nu.
Janeiro 10, 2010 at 4:03 pm
eheheeh..gostei!
🙂
Janeiro 10, 2010 at 4:12 pm
A Justiça portuguesa gosta do Réveillon
João Miguel Tavares
http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=21E8023D-11E1-488F-B043-BBB49B33FE93&channelid=00000093-0000-0000-0000-000000000093
Janeiro 10, 2010 at 4:13 pm
Justiça pagou 800 mil euros em cheques falsificados
http://www.dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1466113
Janeiro 10, 2010 at 4:17 pm
Deviam era ver a minha cara (de incrédula, estupefacta e provinciana) ao ver as fotos da Clarinha…
Nunca me pára de surprender esta mulher desde que “dançou” no programa da RTP Dança Comigo”.
Ver em: http://www.youtube.com/watch?v=4r6hTS4DxJc
Janeiro 10, 2010 at 4:22 pm
Nestas coisas deve ser mais interessante vivê-las do que lê-las.
Janeiro 10, 2010 at 4:27 pm
eheheheh
qualquer dia lês o Diabo e o Incrivel, o que eu ria com aquilo….
Ainda existem??
Janeiro 10, 2010 at 4:28 pm
“meditações profundas de um atarde de neve e um domingo à lareira”
🙂
também não me importava nada de ter aqui uma “holas”, umas “caras” ou até umas “marias” mas não há pachorra para as ir comprar…por causa da neve, claro e não por causa da sua “menoridade”…
Janeiro 10, 2010 at 4:36 pm
#9
Não compare o Diabo com o Incrível. Para quem tem memória (e idade para a ter, claro), o Diabo já foi um grande jornal. Bastante mais “limpo” do que certos jornais ditos de referência.
Janeiro 10, 2010 at 4:38 pm
Também leio/ vejo (embora não compre)… e tenho saudades da “cónica fimina” que a minha mãe lia!..
Belo texto!E, como alguém comentou, uma grande análise sociológica do povo português!
A Milú deve estar cheia de inveja…uma socióloga tão “in” e tão afastada das Lilis!
Janeiro 10, 2010 at 4:42 pm
Para além do texto do Paulo hoje no Umbigo, este excerto de Lídia Jorge merece a pena ler:
É por isso que este acordo histórico ainda não terminou. Ele só ficará selado quando Isabel Alçada verificar a que professores, durante estes dois anos, foram atribuídas as notas de excelente, e tirar daí as suas conclusões. Talvez resolva anular os seus efeitos. É que os professores duma escola constituem uma família. Experimentem criar um escalão de avaliação entre os membros duma mesma família que se autovigia. Sobre os métodos de avaliação desejo a Isabel Alçada e aos sindicatos muitas noites de boa maratona.
Lídia Jorge (escritora e ex-professora)
Janeiro 10, 2010 at 4:43 pm
Queria dizer :”..o texto do Paulo no Público ….”
Janeiro 10, 2010 at 4:44 pm
Se o objectivo é manter a “luta” dos professores na capa a par com as mamas da Merche então talvez seja a estratégia indicada. Mas as manifestações que causaram impacto foram organizadas pelos sindicatos e não consta na população que o Nogueira siga a estratégia que você preconiza. Repare que não defendo os sindicatos; limito-me a contestar um pouco a sua análise.
Janeiro 10, 2010 at 4:44 pm
ehhhhhh……..
Se continuamos com posts destes, não tenho tempo para preparar as aulas.
ehhhh………
Confesso que não leio isto, não por preconceito, mas simplesmente porque não gosto. Nem nos consultórios. Tenho mais interesse pelas revistas de decoração de interiores/exteriores.
Mas a História passa também por aqui.
E para quem tem esta profissão,lidando com jovens de todas as idades, dá um certo jeito não estar completamente “out”.
Janeiro 10, 2010 at 4:45 pm
pronto, está tudo estragado.. agora que se sabe que o PG gosta de ler a Nova Gente como é que pode sobrar um pingo de credibilidade intelectual ao Umbigo…? No limite às lideranças vanguardistas Portuguesas é permitida uma paixoneta clubistica (apesar de que pelo Sporting é sempre suspeito…)… agora frivolidades sociais??? Imagine-se o destino do M. Nogueira se ele confessasse semelhante coisa… Agora só mesmo um enfático desmentido é que pode salvar a coisa! Caso contrário já estou a ver a 1ª pag de todos os magazines de esquerda: “Choque e pavor: afinal o Umbigo lê a Nova Gente ! O embuste finalmente revelado!”
Janeiro 10, 2010 at 4:46 pm
#13
Queria ler esse texto da Lídia, onde está?
Janeiro 10, 2010 at 4:48 pm
#15,
A ironia escapa-se-lhe?
Janeiro 10, 2010 at 4:49 pm
Um dos trabalhos que fiz na Faculdade foi a análise da literatura “light” feminina.
Deu-me um prazer enorme fazer todas aquelas entrevistas e inquéritos.
Lembro-me de termos elaborado uma novela, seguindo os moldes vigentes, mas com outros conteúdos. Com a ajuda de um namorado de uma colega, um óptimo designer…….
Xi, já lá vão tantos “ianos”……..
Janeiro 10, 2010 at 4:55 pm
#18
A opinião de Lídia Jorge aqui:
http://www.publico.clix.pt/Educação/o-futuro-do-sistema-educativo-portugues-na-ressaca-do-conflito-com-os-professores_1417065
Janeiro 10, 2010 at 4:56 pm
#15
‘Il est une ironie élémentaire qui se confond avec la connaissance et qui est, comme l’art, fille du loisir.’ Jankélévitch, L’ironie, Champ philosophique, Flammarion
Janeiro 10, 2010 at 4:56 pm
#21
Muito obrigada, colega.
Janeiro 10, 2010 at 4:56 pm
Naaa. O caso é que, por vezes, V. Exas não se apercebem que não estão a ser irónicos, antes estão a ser sinceros. A classe é mesmo assim e por vezes as formas mitigadas de o ser são as mais perigosas para a sua autopreservação.
Janeiro 10, 2010 at 4:57 pm
# 15 a falta de sentido de humor, além de ser reveladora de outras coisas, é irritante!
Janeiro 10, 2010 at 4:59 pm
Jank não percebia que aquilo com que se confunde não é o conhecimento mas sim com a própria arte. Não é de admirar pois passou a vida a fazer confusões.
Janeiro 10, 2010 at 5:01 pm
Vou almoçar!
Não sei porquê, mas os fins-de-semana são cada vez mais curtos.
Apetecia-me ver 1 filme, ler qualquer coisa, mas tenho de preparar aulas……
Ai!
Janeiro 10, 2010 at 5:45 pm
Ah, ah, ah!!! As coisas que se aprendem no Umbigo!! Gostei de saber estas novidades.
Só me actualizo quando vou ao cabeleireiro e nem sempre tenho tempo de ler tudo.
Gostei da análise do Paulo.
Janeiro 10, 2010 at 5:55 pm
😉 🙂 🙂 🙂
Gostei desta análise do nosso Portugal profundo. 🙂
A “esquerda-caviar” não tem esta capacidade. 🙂
Paulo, os orgasmos da Clara foram plagiados, como bem sabemos. 😉
Janeiro 10, 2010 at 6:05 pm
Pelos vistos, o Paulo Guinote tem vícios públicos e virtudes privadas.
Nem todos o confessariam.
Gostei de ler.
🙂
Janeiro 10, 2010 at 6:38 pm
Esta muito bem, mas ja chega de Marias e Holas!
E agora restituamos um pouco o ambiente intelectual aqui do blogue.
Janeiro 10, 2010 at 6:44 pm
#24,
Fosga-se que fiquei mitigado.
Leio e depois?
Acha que consigo ler só alta cultura os dias todos a toda a hora?
Caramba, já agora posso ver futebol?
Imaginem que via só filmes como os do #31 e não me divertia a ver coisas mais ligeiras como os Irmãos Marx?
Janeiro 10, 2010 at 8:52 pm
#32, ui, eu adoro os irmãos Marx! Adoro mesmo!
Por isso é que a minha palavra de ordem favorita, do Maio68, é : “je suis marxiste, tendence Groucho”.
🙂
Janeiro 10, 2010 at 9:43 pm
penso que não é boa ideia pendurar a cabeça quando se chega a casa cansado. Não foi feita para isso. Mas pode aprender técnicas de meditação.
Quanto ao futebol é um dos jogos estrategicamente mais complexos que a humanidade joga. O que não vale a pena é vê-lo jogado por maus praticantes em Portugal. Os Marx não são exemplo de futilidade, falta de inteligência ou mau gosto. Não percebo a comparação. Mas a leitura das revistas cor-de-rosa ou certas escolhas literárias de super mercado, bem como muitas das sugestões musicais que por aqui vejo são definitivamente sub-produtos da indústria de entretenimento.
espero ter sido de auxílio
Petronius
Janeiro 11, 2010 at 5:58 pm
De qualquer modo, cuidado com as opinioes dos intelectuais e dos criticos.
Bem me lembro nos anos setenta, como series de referencia da historia da televisao, como era o caso do Hill Street Blues eram consideradas “enlatados” pelos criticos de televisao que se queixavam de nao haver mais producao nacional.
Os deuses, para os castigarem satisfizeram os seus anseios, e agora temos imensa producao nacional, tipo, Morangos com Acucar e concursos varios.
Ora tomem la, que foram os intelectuais que pediram!
Janeiro 15, 2010 at 3:05 pm
Encontros felizes. Por acaso vim dar a esta página nesta tarde tão embrulhada como eu.
Gostei muito, muito mesmo, do artigo, tem coisas muito bem arrincadas.
Mas, perdoem-me, o que eu me diverti com os comentários (a maior parte nã entendi por não estar no contexto), mas que professores giros que esta miudagem tem agoar, falo de miudagem até aos 25/26 anos. E NÃO OS APROVEITAM, nem os miúdos nem o Governo(!!!)
Já tenho 55 anos mas recordo hoje como se fosse hoje a última aula de alguns, muito oucos, Professores que tive com esta veia. Bem hajam