O PROFESSOR POLIVALENTE
A intervenção do Paulo na TVI, certeira na crítica ao reatado separatismo sindical, e a navegar nas águas tranquilas do bom senso e da objectividade, sugeriu-me esta reflexão que gostaria de partilhar com o universo umbiguista.
O argumento que salta da boca de quem está fora do sistema educativo é o de que, “se nas empresas há avaliação selectiva, também na escola terá de haver…”.
Quem ousa comparar o sistema empresarial com o sistema educativo, talvez também não se importe de comparar “alhos com bugalhos”, fazendo da lógica gato sapato.
Senão vejamos:
Numa empresa (como, por exemplo, uma fábrica de queijo) há diversos grupos de trabalhadores, distintos por aquilo que fazem ( o grupo dos que recolhem a matéria prima -o leite; o grupo dos que transformam o leite no seu derivado – o queijo; o dos que colocam os diversos queijos em embalagens; o grupo que as vai distribuir; e, naturalmente, os grupos dos chefes ,subchefes e directores.). E é essa diferença de competências, que também se reflecte nos salários dos trabalhadores. É claro que , normalmente, o que acontece é os empresários fazerem com que se reflictam as várias competências dos trabalhadores nos diversos patamares salariais. Não há competências iguais, logo não há salários iguais. E assim se organizam os escalões remuneratórios numa empresa .
Na Escola ( Sistema edudativo), salvo o devido respeito, não é, nem deve ser, assim.
E porquê?
Por que na Escola não existe o grupo de professores que vai recolher o saber ( que é a matéria prima de que se servem para ensinar). É que esse trabalho, curiosamente, foi previamente feito por eles, os professores ( com custos pessoais , e sem retorno remuneratório);
Na Escola, também não há um grupo específico que transforme a matéria prima em derivados. Na Escola, ao contrário do que se passa numa empresa, são todos os professores que transformam o seu saber pessoal, no saber colectivo dos seus alunos;
Na Escola, não há um grupo restrito que distribua em “embalagens de saberes e de competências”, o trabalho feito por outros. Na Escola também é o professor que distribui o seu saber pelas turmas, pelos alunos.
O Professor é alguém que faz tudo. Um polivalente do mundo do trabalho. Por isso, o seu estatuto remuneratório deve ser específico tendo em conta a sua homogeneidade científica e pedagógica, sem esquecer que é uma classe profissional entre outras, devendo ser, por via disso, equitativamente integrado nas várias estruturas que formam o tecido laboral português. É o professor, e mais ninguém, que vai à origem do saber, buscá-lo (e demora anos nessa busca e nessa recolha); Depois, tem ainda o enorme trabalho de reelaborar essa recolha (ou aprendizagem) numa nova matéria (de ensino ); finalmente, distribui essa reconstrução por quem dela precisa (os seus alunos).
Não entender isto e ter responsabilidades políticas na avaliação, selecção e organização estatutária dos professores, é como organizar a volta a Portugal em bicicleta, fornecendo bicicletas a umas equipas, e motos ou triciclos a outras.
Cunha Ribeiro